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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.2 A PESQUISA-AÇÃO

3.2.1 A Sequência didática: instrumental de coleta de dados

Nessa seção, em um primeiro momento discutimos sobre a definição da sequência didática (doravante SD), em seguida, refletimos sobre a aplicação dos

métodos da SD (como desenvolver as ações propostas), para melhor entendermos os caminhos a serem trilhados para o trabalho com o plano de texto.

Nessa direção, seguimos os postulados teóricos e metodológicos de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004). Para esses autores, a “sequência didática é um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004, p. 82). De acordo com essa definição, desenvolvemos ações de ensino planejadas e sistemáticas, conforme o gênero escolhido.

Esses autores discutem e mencionam que a SD tem o propósito de “ajudar o aluno a dominar melhor um gênero de texto, permitindo-lhe, assim, escrever ou falar de uma maneira mais adequada numa dada situação de comunicação” (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004, p. 83). Seguindo essa orientação, a SD se propõe a ter funções bem definidas, conforme as necessidades de comunicação exigidas pela atividade proposta e pelo gênero a que se propõe trabalhar em sala de aula.

De acordo com esses autores, a SD deve:

Criar contextos de produção precisos, efetuar atividades ou exercícios múltiplos e variados: é isso que permitirá aos alunos apropriarem-se das noções, das técnicas e dos instrumentos necessários ao desenvolvimento de suas capacidades de expressão oral e escrita, em situações de comunicação diversas. (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004, p. 82)

A partir da função da SD como método para a realização de atividades de fala e escrita reais de comunicação, podemos desenvolver, articulada e tecnicamente, as diversas atividades com os gêneros de discurso em sala de aula, seguindo um plano de produção fundamentado na realidade dos alunos.

Assim sendo, a SD é um procedimento que pode ser seguido para a obtenção dos resultados esperados, no que se refere ao ensino com os gêneros de discurso e seus respectivos planos de texto.

Para trabalhar com os gêneros de discurso, devemos, também, levar em conta alguns requisitos básicos: a intenção comunicativa, o leitor, o local de circulação do gênero, o tipo de texto adequado e o momento da produção, etc. Para cada situação interativa, há diferentes formas de produção, há também diversos tipos de leitores que receberão esse texto. É preciso planejar tanto a estrutura quanto a organização das ideias a serem distribuídas ao longo do texto.

Dolz, Noverraz e Shneuwly (2004) representam a estrutura da SD por meio de um esquema resumido, capaz de mostrar as diversas etapas de sua realização, conforme apresentamos a seguir:

Figura 05: Esquema da sequência didática

Fonte: Dolz, Noverraz e Shneuwly (2004, p. 83)

No que concerne às etapas da SD, esses pesquisadores, de forma clara e objetiva, definem cada uma das etapas, como a seguir explicitamos.

Na primeira etapa, descrevemos as ações a serem executadas para situar os alunos sobre a proposta de produzir um gênero de discurso. Dessa forma, segundo esses autores, as ações desenvolvidas devem facilitar para o aluno planejar seu texto.

Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 84-85) afirmam que: “Devem-se dar indicações que respondam às seguintes questões:

 Qual é o gênero que será abordado [...];

 A quem se dirige a produção [...];

 Que forma assumirá a produção [...];

 Quem participará da produção [...]”.

Devemos explicar os conteúdos de forma clara e objetiva, os quais ajudarão para a constituição da estrutura e distribuição das ideias ao longo do texto dos alunos. Essa etapa de apresentação é de fundamental importância, pois tem como meta explicitar as ações para a produção do gênero escolhido, esclarecendo as formas de ensino e as expectativas de aprendizagem por parte dos alunos.

a) A primeira produção do gênero

Na primeira ação de elaboração do texto, o aluno revela para si e para o professor em que nível se encontra no tocante aos conhecimentos linguísticos, textuais e organizacionais, referente ao gênero proposto.

Como defendem Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 87), a apresentação e a primeira escrita do gênero são: “momentos privilegiados de observação, que permitem refinar a sequência, modulá-la e adaptá-la de maneira mais precisa às capacidades reais dos alunos de uma dada turma”. Trata-se do momento em que o aluno apresenta o que já conhece do gênero e o que é necessário adequar: destinatário, suporte de circulação, tema abordado, intenção interativa, estrutura do gênero, organização das ideias, etc..

b) Os módulos

A terceira etapa de descrição da SD é o momento de propormos os módulos com os exercícios e as atividades para adequação textual do gênero. É por meio desses módulos que propomos orientações com atividades e exercícios diferenciados, de acordo com os problemas e níveis de aprendizagem apresentados pelos alunos na primeira versão do texto.

De acordo com Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), este é o momento de trabalhar as dificuldades apresentadas na primeira versão (estrutura organizacional ou semântica, em grupo ou individual), fornecendo os instrumentos necessários para superação das problemáticas e o estabelecimento da textualidade referente ao gênero escolhido, o que denota:

Representação da situação de comunicação. O aluno deve aprender a fazer

uma imagem, a mais exata possível, do destinatário do texto [...], da finalidade visada[...], de sua própria posição como autor ou locutor[...], e do gênero visado[...];

Elaboração dos conteúdos. O aluno deve conhecer as técnicas para buscar,

elaborar ou criar conteúdos. Essas técnicas diferem muito em função dos gêneros [...];

Planejamento do texto. O aluno deve estruturar seu texto de acordo com um

plano que depende da finalidade que se deseja atingir ou do destinatário visado; cada gênero é caracterizado por uma estrutura mais ou menos convencional [...];

Realização do texto. O aluno deve escolher os meios de linguagem mais

eficazes para a escrever seu texto [...]”. Dolz, Noverraz, Schneuwly, 2004, p. 88)

Algumas atividades devem ser pensadas, cuidadosamente, para obtenção dos resultados esperados, individualmente, especificando dificuldades apresentadas por determinado aluno. A partir daí, buscar atividades diversificadas de acordo as dificuldades apresentadas pelo referido aluno.

O último módulo, antes da produção final, deve apresentar o que foi aprendido e os momentos de superação na aquisição dos conhecimentos referentes à produção e adequação da primeira versão do gênero trabalhado. Sendo assim, este módulo deve ser de avaliação de todas as etapas realizadas, momento onde o professor decide (baseado em critérios avaliativos coerentes com a produção do gênero) se os alunos já estão preparados ou não para a produção final. Caso não estejam, é conveniente que o professor desenvolva ações para a superação das dificuldades apresentadas.

c) A produção final do gênero

Essa é a etapa final da SD, momento em que o aluno demonstra os conhecimentos adquiridos nos módulos com o processo de escrita e adequações do gênero (o plano de texto adotado). Nesta etapa, o aluno põe em prática todo o conhecimento exercitado, seguindo os critérios e as limitações do gênero para o estabelecimento da textualidade, diante da função social exercida pelo gênero.

Em vista disso, essa etapa é, também, de avaliação das atividades de ensino do professor, quer dizer, é o momento reflexivo de toda prática de ensino por meio da SD, como também a aplicação e certificação prática dos elementos constitutivos da textualidade daquele gênero.

Por fim, este método proposto pelos autores acima, não só auxilia o planejamento das atividades escolares idealizadas pelo professor, mas também faz com que o aluno veja a escrita como um processo todo articulado com etapas de produção. Com o método de escrita planejada, o aluno aprende a dominar não especificamente a produção de um texto, mas todo um processo de textualidade necessário à produção de um gênero de discurso, o que possibilita o uso desse conhecimento noutras produções semelhantes ou aproximadas.