• Nenhum resultado encontrado

O auxílio acidente, tratado no capítulo anterior, é devido ao segurado que sofre redução da sua capacidade laborativa em razão da ocorrência de um acidente de trabalho ou acidente de qualquer natureza. Os acidentes de qualquer natureza têm fatores múltiplos e abrangem os infortúnios originados fora da relação de trabalho, porém não são regulados pela Lei de Benefícios. Já os acidentes do trabalho são aqueles ocorridos em razão da atividade laboral do segurado que por sua vez são regulados pela legislação previdenciária. Nesse passo, necessita-se abordar alguns temas específicos sobre os acidentes do trabalho.

64 SANTOS, 2009, p. 80.

65

Ibid., p. 105.

3.4.1 Acidente do trabalho típico

O conceito legal de acidente do trabalho típico está previsto no art. 19 da Lei 8.213/91:

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho67. Segundo Castro e Lazzari, este conceito serve apenas para indicar quem são os segurados que têm direito à proteção acidentária, isto porque a definição legal não é suficiente para explicar, de fato, o que é um acidente do trabalho68.

A ocorrência de um acidente do trabalho se caracteriza a partir da conjugação de quatro fatores, quais sejam, a exterioridade da causa do acidente, a violência, a subtaneidade e a relação com a atividade laboral69.

Sendo assim, “dizer que o acidente de trabalho decorre de um evento causado por agente externo significa que o mal que atinge o indivíduo não lhe é congênito, nem se trata de enfermidade preexistente70.”

Outrossim, a violência caracteriza-se quando resulta em lesão corporal ou perturbação funcional e decorre de um evento súbito, mesmo que seus efeitos possam ocorrer tempos após71.

Por fim, Castro e Lazzari afirmam que:

(...) a caracterização do acidente de trabalho impõe tenha ele sido causado pelo exercício de atividade laborativa. Exclui-se, portanto, o acidente ocorrido fora do âmbito dos deveres e das obrigações decorrentes do trabalho. Não é necessário, neste aspecto, que o fato tenha ocorrido no ambiente de trabalho, mas tão-somente em decorrência do trabalho. Daí se conclui que os acidentes de trajeto e os sofridos em trabalhos externos também devem ser considerados como integrantes do conceito72.

Além desses fatores que caracterizam o acidente do trabalho, “se extraem os três elementos básicos que identificam o infortúnio trabalhista: a causa, o efeito imediato e o efeito mediato73.” Segundo Gonçalves, a causa é o próprio desempenho da atividade laborativa que origina o acidente, o efeito imediato decorre da lesão corporal ou perturbação

67 BRASIL. Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L8213cons.htm>. Acesso em: 22 mai. 2011. 68 CASTRO; LAZZARI, 2008, p. 492. 69 Ibid. 70 Ibid. 71 Ibid. 72

CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 491. 73 GONÇALVES, 2005, p. 196.

funcional enquanto o efeito mediato ocorre com a morte ou redução da capacidade laborativa74.

3.4.2 Doenças ocupacionais

Também são consideradas como acidente do trabalho as doenças ocupacionais, “valendo-se do conceito oferecido por Stephanes, são as que ‘resultam de constante exposição a agentes físicos, químicos e biológicos, ou mesmo do uso inadequado dos novos recursos tecnológicos, como os da informática75’”. As doenças ocupacionais se subdividem em doenças profissionais e doenças do trabalho de acordo com os incisos I e II do seu art. 20 da Lei 8.213/91:

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas:

I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;

II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I76.

A doença do trabalho é aquela decorrente das condições especiais a que o trabalhador está exposto, porém não está diretamente ligada com a atividade profissional do sujeito77. “Na doença do trabalho há que se perquerir sobre o nexo entre a lesão constatada e o exercício do labor, pois ela pode ter origem diversa78”.

“Classifica-se como doença profissional aquela decorrente de situações comuns aos integrantes de determinada categoria de trabalhadores79”, ou seja, “é aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade80”.

Uma das características que diferenciam as doenças ocupacionais dos acidentes típicos é a violência e subtaneidade, os quais não precisam necessariamente ocorrer quando se trata de doença, já que podem ser previsíveis81.

74 GONÇALVES, 2005, p. 196. 75 CASTRO; LAZZARI, 2008, p. 494. 76

BRASIL, 1991.

77 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 494/495; GONÇALVES, op. cit., p. 197. 78 GONÇALVES, op. cit., p. 197.

79 CASTRO; LAZZARI, op. cit., 494. 80

GONÇALVES, op. cit., 197.

Importante esclarecer que a MP n. 316/06 convertida na Lei n. 11.430/06, alterou significativamente a equação do ônus da prova, em relação às doenças ocupacionais. Referida lei acrescentou o art. 21-A na LBPS, segundo o qual presume-se a existência do nexo causal entre a doença e o trabalho desempenhado, sempre que houver relação da atividade da empresa com o infortúnio82.

3.4.3 Acidente do trabalho equiparado

Além dos acidentes do trabalho típicos e das doenças ocupacionais, a lei especifica algumas situações que são equiparadas a estes (art. 21 da LBPS), eis que o conceito de acidente de trabalho delineado pelo art. 19 da Lei de Benefícios não é suficiente para cobrir todas as situações de acidente de trabalho, sendo então necessários outros dispositivos atrelados aos conceitos doutrinários e jurisprudenciais.

Interessa destacar a concausa, que, segundo o inciso I do art. 21 do Plano de Benefícios, é o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a eclosão da lesão incapacitante. A lei adota o que a doutrina denomina teoria da equivalência dos antecedentes causais, ou seja, serão considerados causa do acidente todos os eventos que tenham contribuído para a minoração da capacidade de trabalho do segurado, mesmo que, por sisos, não tenham o potencial de produzi-la. O acidente, pois, não é a única causa, mas contribui eficientemente para a produção do resultado lesivo83.

As concausas podem ser anteriores, simultâneas ou posteriores ao acidente, contudo, se efetivamente comprovada, é irrelevante para o recebimento de benefício previdenciário decorrente de acidente do trabalho84.

Os incisos II, III e IV do art. 21 da LBPS ainda elencam outros casos equiparados a acidente do trabalho, como o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conseqüência de ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; ato de pessoa privada do uso da razão; desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho na execução de

82 CASTRO; LAZZARI, 2008, p. 497. 83

GONÇALVES, 2005, p. 198. 84 CASTRO; LAZZARI, loc. cit.

ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado e no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção.

Os fatos acima elencados são auto-explicativos, merecendo somente algumas considerações a cerca do acidente in itinere.

O acidente in itinere, também conhecido por acidente de trajeto, é aquele ocorrido fora do ambiente de trabalho, no deslocamento do trabalhador entre sua residência e o local de trabalho e vice-versa. A jurisprudência traça os nortes em relação ao assunto, sendo que esta não exige que o segurado tenha percorrido o caminho mais curto para deslocamento, tampouco desconsidera o acidente de trabalho em razão de pequenos desvios85. “O que importa é que a modificação do trajeto ou alargamento do tempo estejam devidamente justificados, dentro de uma margem de razoabilidade86”

Documentos relacionados