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2 Novo paradigma tecnológico e implicações sociais

2.7 A Acessibilidade

"Se o lugar não está pronto para receber TODAS as pessoas, então o lugar é

deficiente"

Thais Frota

Jacob Nielson, um dos mais conceituados especialistas de desenho Web acessível diz:

“Aqueles de nós que planeiam estar vivos mais alguns anos

também têm razões pessoais para promover a acessibilidade

pois, ao envelhecermos, ficamos sujeitos a mais deficiências.

Segundo as estimativas, apenas 14 por cento das pessoas com

menos de 65 anos têm algum tipo de incapacidade funcional, em

comparação a 50 por cento daqueles acima de 65 anos.

[Nielson, J. “Projectando Websites”]

A World Wide Web tornou-se rapidamente a ferramenta mais utilizada na comunicação

e na difusão de informação. A WWW combina texto, ligações de hipertexto, imagem,

vídeo ou som e é um repositório de recursos disponíveis para as mais variadas áreas.

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Imaginemo-nos sentados em frente a um computador, a visitar uma página Web, a ler as

notícias ou a comprar algo e imaginemos que de repente ficamos sem rato e o ecrã fica

preto. Para os invisuais ou para as pessoas com limitações físicas (por exemplo,

incapacidade de utilizar as mãos) este tipo de situações não são imaginárias mas bem

reais. Estas pessoas – com necessidades especiais – começam a reivindicar um espaço

na concorrida World Wide Web querendo aceder à informação e aos serviços em

condições adequadas.

O entendimento mais comum para o conceito de acessibilidade, nomeadamente na Web,

é associá-lo imediatamente a soluções para pessoas com algum tipo de deficiência, no

entanto, a melhoria da acessibilidade vai responder às limitações dos utilizadores em

termos de capacidades cognitivas, visuais, auditivas ou físicas (Clark, 2004) mas

também irá beneficiar todos os outros (Nielsen, 2002; Slatin & Rush, 2002; Thatcher et

al., 2006; Pearrow, 2007). Assim sendo a acessibilidade na Web ganha uma importância

reforçada e é sinónimo de oportunidade de todos acederem e navegarem de forma igual

num site.

De acordo com a World Wide Web Consortium’s (W3C) acessibilidade significa que

“pessoas com deficiências possam usar a Web”, ou seja, “percebam, naveguem e

interajam com a Web” (Pearrow, 2007:120). Para Tim Berners-Lee, o director da W3C

e o criador da WWW, “o poder da Web é a sua universalidade. O acesso por todos

independentemente de ter ou não algum tipo de deficiência é um aspecto essencial”

(W3C, 2008a).

A acessibilidade na Web entrou para o lote das preocupações para quem desenha

páginas depois do W3C, World Wide Web Consortium, ter fundado a WAI, Web

Accessibility Initiative em 1997. A W3C lançou a WAI na tentativa de expandir o

acesso à Web a pessoas com deficiência. A WAI percorre a acessibilidade da Web

principalmente através de cinco áreas de trabalho: linhas de orientação tecnológicas,

ferramentas, educação e difusão, investigação e desenvolvimento. De acordo com a

WAI, "A acessibilidade da Web significa o acesso à Web por todos, independentemente

da deficiência " (Brewer et al., 2003).

As recomendações desenvolvidas pela WAI do W3C para promover a acessibilidade na

Web e algumas das suas especificações técnicas fundamentais são:

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• Authoring Tool Accessibility Guidelines (ATAG), cujo objectivo é que o software

usado para criar páginas Web seja acessível, independentemente das deficiências

dos seus “autores”. Este software deve produzir conteúdos acessíveis por defeito e

deve encorajar e incentivar o autor na criação de conteúdos acessíveis (Treviranus

et al., 2000);

• Web Content Accessibility Guidelines (WCAG) é um conjunto de documentos

que explicam como fazer o conteúdo da Web acessível para pessoas com

deficiências (Pearrow, 2007);

• User Agent Accessibility Guidelines (UAAG) acessibilidade para software

utilizado para aceder a conteúdo na Web– “including desktop graphical browsers,

text browsers, voice browsers, mobile phones, multimedia players, plug-ins, and

some software assistive technologies used in conjunction with browsers such as

screen readers, screen magnifiers, and voice recognition software” (Chisholm et

al., 1999).

Para Figueiredo (2004:198) a acessibilidade é cada vez mais importante e difundida na

Web e define-a como sendo “os meios postos à disposição dos utilizadores que lhe

permitem o acesso independentemente das suas limitações físicas”.

Nielsen (2002) considera que os conceitos de usabilidade e de acessibilidade

confundem-se um com o outro. Ao tornar um site mais acessível para pessoas com

deficiências estamos também a melhorar a usabilidade para todos os utilizadores. Uma

das relações estreitas entre os dois conceitos reside na importância de tornar o site fácil

de usar, fácil de aprender e agradável de utilizar para todos os utilizadores

independentemente da sua condição e ao desenhar um site tendo em atenção as questões

de acessibilidade estamos a fazer com que todos os utilizadores beneficiem com isso.

Esta visão, partilhada entre os dois conceitos, é defendida por outros autores. Krug

(2006:109) refere que “a menos que você tome uma decisão geral de que as pessoas

com deficiências não façam parte do seu público, realmente não pode dizer que seu site

é usável a menos que seja acessível”. Na mesma linha de raciocínio, Pearrow

(2007:117) refere que usabilidade e acessibilidade são “domínios do mesmo

especialista”.

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Para Henry (2007) acessibilidade quer dizer que pessoas com deficiências possam

utilizar um produto. Mais especificamente fazendo com que as interfaces sejam

perceptíveis, operáveis e compreendidas por pessoas com necessidades especiais, por

outro lado e na mesma linha de raciocínio de Krug (2006) e Pearrow (2007), reconhece

que outros também podem beneficiar porque o design para limitações funcionais cobre

parte do design para limitações situacionais.

A mesma opinião tem Hull (2004), ao referir-se à Web, reconhece que o conceito deve

ir para além de possibilitar o uso por pessoas com algum tipo de deficiência.

“In short, the Web should be usable by everyone. Anyone using any technology for

browsing the Web should be able to visit any site, obtain the information it provides,

and interact with the site as required.” (Hull, 2004:38)

Por outro lado, Pearrow (2007) menciona que acessibilidade e usabilidade não são a

mesma coisa, no entanto, são conceitos que se relacionam. O mesmo autor refere que

muitas vezes a acessibilidade de um site Web é associada unicamente a pessoas com

algum tipo de deficiência, no entanto, considera esta uma visão “míope” do conceito de

acessibilidade. Pois quem desenha um site Web tendo em mente a acessibilidade está “a

beneficiar todos e não só aqueles que têm alguma deficiência”.

De uma maneira geral, acessibilidade significa acesso à Web por todos. Logo, a

preocupação com aspectos da acessibilidade é uma condição indispensável à utilização

de páginas Web, permitindo que todos possam usufruir da informação, da convivência e

do conhecimento que a Web nos proporciona pelos milhões de páginas, de conteúdos e

de aplicações aí existentes. Podemos afirmar que a usabilidade e acessibilidade estão

intimamente relacionadas, senão vejamos, ao falarmos de eficiência, eficácia, satisfação,

utilidade de uma página Web não estamos a circunscrever estes objectivos da

usabilidade a utilizadores sem deficiência mas sim para todos independentemente se são

ou não deficientes. Páginas desenhadas tendo em consideração as questões da

acessibilidade não são necessariamente páginas enfadonhas, feias ou aborrecidas.

“It´s a huge and utterly untruthful myth that acessible Websites must be boring, text-

heavy, and ugly. Many are, but that´s a failure of imagination on the authors ‘part. The

good news is that, in the vast majority of cases, a skilled developer can make Websites

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accessible without any changes to the look of your Website.” (Thatcher et al.,

2006:xxxv)

Sabemos que ao melhorarmos a acessibilidade estamos não só a melhorar a interacção

de pessoas com deficiência mas também de todas as outras e a melhoria na

acessibilidade não modifica necessariamente o aspecto do site mas transforma-o num

local para todos.

Por isso, para a maioria das pessoas a tecnologia torna a vida mais fácil. Para uma

pessoa com necessidades especiais, a tecnologia torna as coisas possíveis.

A utilização de um computador e o acesso à Internet permitem a estes cidadãos (sem

dúvida aqueles que são confrontados com os maiores obstáculos, tanto físicos como de

ordem social) acederem a um conjunto imenso de fontes de (in)formação, estabelecerem

contactos e trocarem informações, exercerem uma actividade, encontrarem formas

alternativas de lazer e de divertimento, aumentarem as suas relações de amizade, em

suma, construírem uma vida com significado.

Por exemplo se a presença dos Jornais diários na Internet, é para a maioria das pessoas

mais uma forma de aceder ao conteúdo informativo, para uma pessoa cega é a única

forma de consultar as notícias do dia em tempo real e útil. Nenhum meio até hoje

inventado lhe disponibilizou a informação de forma tão imediata e de tão fácil consulta.