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2 Novo paradigma tecnológico e implicações sociais

2.4 Situação histórica de práticas de inclusão de Cidadãos com Necessidades Especiais

2.4.4 Elementos de caracterização da população com deficiências

Ao nível da caracterização das pessoas com deficiências, as duas grandes referências a

nível nacional são o Inquérito Nacional às Incapacidades Deficiências e Desvantagens

(INIDD), desenvolvido no Projecto Quanti entre Setembro de 1993 e Junho de 1995 e o

Recenseamento Geral da População e Habitação de 2001.

Estes dois instrumentos apresentam algumas disparidades entre os resultados obtidos,

pelo que é da sua análise em conjunto que se obtém uma noção mais próxima da

realidade da população com deficiências. No quadro que é apresentado de seguida estão

patentes os principais resultados ao nível da caracterização deste grupo de pessoas

obtidos nos dois estudos. É de ressalvar que com este quadro não se pretende fazer uma

comparação entre os resultados dos dois inquéritos (até porque têm princípios

orientadores

diferentes),

mas

simplesmente

apresentar

duas

importantes

“caracterizações” nacionais das pessoas com deficiências.

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Censos 2001 INIDD

Percentagem de pessoas com deficiências Num total de população residente de 10,3 milhões

de pessoas, existiam cerca de 634.408 pessoas com deficiências – 6,13%.

Num total de população residente de 9,8 milhões de pessoas, existiam cerca de 905.488 pessoas com deficiências – 9,16%.

Sexo Incidência das questões da deficiência nos indivíduos do sexo masculino (52,63%). No entanto, a partir da faixa etária dos 65 anos denota- se o predomínio de indivíduos do sexo feminino.

Preponderância de indivíduos do sexo masculino.

Idade A idade média da população com deficiência é de 53 anos (população envelhecida).

Aumento progressivo do número de pessoas com deficiências à medida que aumentam as faixas etárias. Até aos 16 anos a taxa de incidência é de 2,18% ao passo que no grupo dos indivíduos com mais de 64 anos o valor é de 12,5%.

Aumento gradual do número de pessoas com deficiências à medida que os escalões etários iam aumentando, com especial incidência nos homens a partir dos 15 anos.

Na faixa etária das pessoas com mais de 75 anos, denotavam-se valores bastante acentuados de pessoas com deficiências, principalmente ao nível dos indivíduos do sexo feminino, possuindo 200,34 em cada mil pelo menos um tipo de deficiência.

Tipo de Deficiência Distribuição da população com deficiência por tipo

de deficiência: Auditiva – 13,2% Visual – 25,7% Motora – 24,6% Mental – 11,2% Paralisia cerebral – 2,4% Outra deficiência – 23%

Metade do total das deficiências relacionava-se com deficiências motoras e visuais, com uma maior incidência da deficiência motora nos indivíduos do sexo masculino comparativamente com os do sexo feminino

A deficiência visual foi a única com uma maior incidência nos indivíduos do sexo feminino (91 homens para 100 mulheres).

Sobre-representação masculina em todas as restantes deficiências (115 homens para cerca de 100 mulheres na deficiência mental, paralisia cerebral e outras doenças).

Pessoas com deficiências por cada mil pessoas, por tipo de deficiência: Deficiência psíquica – 12,87 Deficiências sensoriais – 22,18 Deficiências físicas – 57,82 Deficiências mistas – 2,56% “Nenhuma em especial” – 4,28

Grande incidência das deficiências físicas, que possuíam valores mais expressivos que as restantes deficiências em todos os escalões etários, acentuando-se nos superiores.

Distribuição das várias deficiências de uma forma geralmente igual entre os sexos (ainda que com uma ténue preponderância de indivíduos do sexo masculino), com excepção das deficiências físicas onde era notório um maior número de indivíduos do sexo feminino.

Distribuição geográfica Valores mais elevados no Centro do país seguido

da Região de Lisboa e Vale do Tejo, encontrando- se no extremo oposto as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

Percentagens mais elevadas de pessoas com deficiências nos distritos de Viana do Castelo, Vila Real, Castelo Branco e Leiria. No extremo oposto encontra-se o distrito de Aveiro, a Região Autónoma dos Açores e o distrito de Setúbal. Estado Civil

Distribuição da população com deficiência segundo o estado civil:

Casados com registo – 49,3% Solteiros – 31%

Viúvos – 13%

Separados/divorciados – 3,5%

Nos vários tipos de deficiências consideradas neste estudo denotava-se uma preponderância de indivíduos casados, à excepção dos indivíduos com deficiências psíquicas que, na sua maioria, eram solteiros (62,06%).

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Casados sem registo – 3,2% todos os tipos de deficiência eram os que correspondiam a indivíduos viúvos ou divorciados. Qualificação académica

Cerca de 37% da população com deficiência não sabia ler nem escrever ou se sabia ler e escrever, não possuía nenhum grau académico.

Incidência das maiores percentagens ao nível do 1ºciclo do ensino básico.

Predomínio em todos os tipos de deficiência de indivíduos que não sabiam ler nem escrever (não frequentaram nenhum nível de instrução), seguidos pelos que possuíam o 1º ciclo do ensino básico. Condição perante a actividade económica

Vinte e nove por cento (29%) das pessoas com deficiências com 15 ou mais anos eram economicamente activas, encontrando-se empregadas cerca de 90,5%.

Os indivíduos do sexo masculino que desenvolviam uma actividade económica possuíam uma proporção quase dupla face aos indivíduos do sexo feminino.

Setenta e um por cento (71%) estavam inactivos. Entre esses, 59,5% estavam aposentados/ reformados ou na reserva; 26% eram incapacitados permanentes para o trabalho; 4,5% eram estudantes; 4,9% eram domésticas.

Maiores percentagens de emprego ao nível das deficiências sensoriais (visual e auditiva).

O INIDD apresenta poucas variáveis relacionadas com a condição perante a actividade económica das pessoas com deficiências. Apenas indica a distribuição percentual de pessoas por deficiência e por actividade principal ao nível dos três sectores da actividade económica, não sendo uma informação muito relevante para a elaboração deste quadro.

Quadro 2: Caracterização da população com deficiências9

Deste quadro é importante salientar alguns pontos:

• As grandes diferenças entre os dois estudos centram-se no número total de

pessoas com deficiências, nas tipologias utilizadas para classificar os vários tipos

de deficiência e nas diferentes linhas de orientação tidas em consideração para a

análise dos dados;

• A percentagem total de pessoas com deficiências apresentada pelo INIDD (9,16%

do total da população) encontra-se bastante próxima do valor apurado em estudos

realizados noutros países da União Europeia e dos valores estimados a nível

internacional para a população com deficiências;

• Nos dois estudos é consensual que há maior incidência da deficiência à medida

que as faixas etárias aumentam. Para esta evolução contribui não só o aumento da

esperança média de vida e o facto das deficiências poderem ser adquiridas ao

longo da vida, como também a detecção de anomalias e a intervenção precoce,

9 Este quadro foi construído com base nos resultados definitivos dos Censos 2001 (consultados em www.ine.pt/censos2001); no documento Enquadramento Familiar das Pessoas com Deficiência: uma análise exploratória dos resultados dos Censos 2001; no Inquérito Nacional às Incapacidades, Deficiências e Desvantagens; e nos dados de caracterização dos Censos 2001 apresentados no documento Formulação de Propostas de Concepção Estratégica das Intervenções Operacionais no Domínio da Inclusão Social – Relatório Final.

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que reduzem o número de nascimentos de crianças com deficiências congénitas

(Capucha et al., 2004).

Tendo como referência os Censos 2001, e analisando os dados obtidos para o total da

população residente em Portugal em comparação com os resultados obtidos para as

pessoas com deficiências (referidos no Quadro 2), denotam-se algumas especificidades

na caracterização das últimas. Segundo os Censos, cerca de 56,8% do total da população

residente estava casada com registo, seguida pelos indivíduos que se encontravam

solteiros (28,5%), viúvos (7,5%), casados sem registo (4,2%) e separados/divorciados

(3%). Por sua vez, os dados obtidos para a população com deficiências apresentam uma

diminuição dos indivíduos casados com registo (49,3%), denotando-se percentagens

superiores ao nível dos indivíduos solteiros (31%) e viúvos (13%). No que se refere à

qualificação académica, cerca de 26,4% da população residente não sabia ler nem

escrever ou se sabia ler e escrever, não possuía nenhum grau académico. Essa

percentagem elevava-se para os 37% no caso das pessoas com deficiências (ainda

assim, em ambos os casos, os maiores valores percentuais incidiam no 1.º ciclo do

Ensino Básico). Comparativamente, as especificidades mais acentuadas registam-se ao

nível da condição perante a actividade económica., Todas estas questões em torno

destes dois instrumentos de caracterização das pessoas com deficiências realçam a

escassez de dados existente no nosso país, o que resulta no desconhecimento do número

e tipologia efectivos de pessoas com deficiências e respectiva evolução. Os dados

obtidos através do INIDD, apesar de ser um estudo fiável, já se encontram

desactualizados (1994), e os Censos, sendo mais recentes, suscitam muitas dúvidas ao

nível da fiabilidade dos dados recolhidos, como foi referido.

Nos últimos anos têm sido desenvolvidos outros estudos quantitativos direccionados

para as pessoas com deficiências. No entanto, têm assumido um carácter bastante

restrito. Exemplo disso é o estudo de 2004 “Os Impactos do Fundo Social Europeu na

Reabilitação Profissional de Pessoas com Deficiência em Portugal” (Capucha et al.,

2004) e o “Estudo de Avaliação da Qualidade e Segurança das Respostas Sociais na

Área da Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência” (CIES/IESE, 2005).

Apesar da natureza extensiva das metodologias utilizadas, estes estudos não têm um

carácter de levantamento estatístico da população, o qual, portanto, continua por fazer.

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