2 Novo paradigma tecnológico e implicações sociais
2.1 Divisão Digital
“A capacidade de criar, difundir e usar conhecimento e
informação é cada vez mais o principal factor para o
crescimento económico e a melhoria da qualidade de vida”;
“Os países estão crescentemente integrados numa economia
global, através de fluxos internacionais de bens, serviços,
investimento, pessoas e ideias”.
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Numa época de violentos contrastes e de verdades antagónicas, deparamo-nos com
formas de estar distintas, valores desiguais, relações geopolíticas diferentes, tecnologias
recentes e novos modos de comunicação. Nos últimos anos, descobertas importantes,
inovadoras e contínuas na área das Tecnologias de Informação e Comunicação,
conjuntamente com uma célere evolução das redes globais de informação e
comunicação (como por exemplo a Internet) alteram significativamente “negócios e
mercados” (Digital Opportunity Trasforce, 2001), acrescentaram novas formas e
diferentes métodos de ensino e “partilha de conhecimento, geraram fluxos de
informação globais” (Digital Opportunity Trasforce, 2001).
Ao mesmo tempo, estabeleceu-se novas formas de “governação”, e criou-se riqueza
significativa e crescimento económico” (Digital Opportunity Trasforce, 2001), em
determinados países.
No entanto, divisões religiosas, sociais, económicas e digitais acentuam-se, e não
constituem propriamente novidade para as pessoas, mas a divisão digital, por ser mais
recente, ultimamente tem sido “bem documentada” (ORBICOM-ITU, 2005) por vários
indivíduos e organizações. Muitas dessas divisões de hoje não são independentes umas
das outras, e é “inegável que o mundo está no centro de um conjunto de mudanças
profundas” (Digital Opportunity Trasforce, 2001) abundante de oportunidades, mas
igualmente recheados de desafios. “Precisamente porque a revolução digital tem o
poder de transformar” (Digital Opportunity Trasforce, 2001) a sociedade, porque as
Tecnologias de Comunicação e Informação constituem o “motor” (eEurope Advisory
Group, 2005) dessa revolução, e a “magnitude” (ORBICOM-ITU, 2005) da divisão
digital ainda é “enorme” (ORBICOM-ITU, 2005) é pertinente para esta dissertação
explicar o que é a divisão digital.
Segundo o eEurope Advisory Group (2205) “a divisão digital” permaneceu tão grande
hoje como estava no final da década de 1990”.
A divisão digital marca assim claramente um fosso entre os que beneficiam da
tecnologia digital e os que não têm acesso aos seus benefícios, entre os que participam
plenamente da Sociedade da Informação e os que ficam de fora.
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É importante destacar que a divisão digital resulta de um processo evolutivo desigual
que, como defende Jakob Nielsen
3, tem três fases: económica, de usabilidade (ou de
literacia) e de empowerment (ou de participação).
Estas três fases, que na realidade são mais três vertentes da divisão digital, na medida
em que coexistem simultaneamente, têm diferentes níveis de percepção suscitando por
isso também diferentes níveis de intervenção.
Assim, enquanto a vertente económica é fácil de entender e tem sido por muitos
considerada, de forma restrita, como a única vertente da divisão digital, levando que as
políticas para a ultrapassar se tenham centrado muito nas componentes de hardware,
que são mais facilmente mensuráveis e, portanto, politicamente mais atractivas, tais
como o número de computadores por mil habitantes, a penetração da internet nas
habitações ou nas empresas, ou mesmo outros indicadores mais actuais como o número
de acessos de banda larga, fixa e móvel.
Já a vertente de usabilidade, torna-se mais difícil de uma percepção imediata na medida
em que, na realidade, estamos a falar de uma vertente essencial da divisão digital, que se
prende com os níveis de literacia e que são um elemento essencial para ultrapassar a
divisão digital. Como podemos compreender, não é suficiente dispormos de
computadores e de ligações à internet se os seus utilizadores não souberem como tirar
benefícios desses instrumentos e acessos.
A vertente de empowerment apresenta ainda um maior desafio, uma vez que a
desigualdade de participação cria um fosso que não é fácil de ultrapassar, na medida em
que depende de cada um. Depende do acesso aos meios, do conhecimento e das
competências de cada um, mas também da vontade, disponibilidade e motivação para
ultrapassar o fosso e reduzir a divisão digital.
Para a construção da Sociedade da Informação deve ser respeitada a matriz democrática
cujos princípios e regras fundamentais estão definidos na Constituição da República
3
Digital Divide: The Three Stages, Jakob Nielsen's Alertbox, November 20, 2006 Http://www.useit.com/alertbox/digital-divide.html