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2 Novo paradigma tecnológico e implicações sociais

2.2 Exclusão Social Versus Exclusão Digital

A exclusão social pode ser considerada essencialmente como uma situação de falta de

acesso às oportunidades oferecidas pela sociedade aos seus membros. Dessa forma, a

exclusão social pode implicar privação, falta de recursos ou, de uma forma mais

abrangente, ausência de cidadania, se, por esta se entender a participação plena na

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sociedade nos diferentes níveis em que esta se organiza e se exprime: ambiental,

cultural, económico, político e social (AMARO, 2004).

Na origem da exclusão social podem estar factores económicos, ligados ao

funcionamento do sistema económico, às relações económicas internacionais, ao

sistema financeiro, etc. Dado o peso dominante da dimensão económica nas sociedades

industriais que marcaram a história da humanidade dos últimos duzentos anos, pode-se

deduzir que os factores económicos têm tido um peso decisivo, embora não único nem

por vezes suficientes, na explicação de grande parte das situações de exclusão social que

surgiram nessas sociedades ou por causa delas (AMARO, 2004).

A pobreza está intrinsecamente ligada à exclusão social, todos os dias inúmeros pobres

são vítimas de xenofobia por parte da sociedade, onde se tentam inserir sem sucesso.

Privação, falta de recursos ou, de uma forma mais abrangente, ausência de cidadania, se

por esta se entender a participação plena na sociedade, aos diferentes níveis em que esta

se organiza e se exprime: ambiental, cultural, económica, política e social, define-se

exclusão social.

Segundo, Rogério Roque Amaro (s.d.) a exclusão social exprime-se em seis dimensões

principais do quotidiano real dos indivíduos:

“A dimensão do SER, ou seja da personalidade, da dignidade e

da auto-estima e do auto-reconhecimento individual; do ESTAR,

ou seja das redes de pertença social, desde a família, às redes

de vizinhança, aos grupos de convívio e de interacção social e à

sociedade mais geral; do FAZER, ou seja das tarefas realizadas

e socialmente reconhecidas, quer sob a forma de emprego

remunerado

(uma

vez

que

a

forma

dominante

de

reconhecimento social assenta na possibilidade de se auferir um

rendimento traduzível em poder de compra e em estatuto de

consumidor), quer sob a forma de trabalho voluntário não

remunerado; do CRIAR, ou seja da capacidade de empreender,

de assumir iniciativas, de definir e concretizar projectos, de

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inventar e criar acções, quaisquer que elas sejam; do SABER,

ou seja do acesso à informação (escolar ou não; formal ou

informal), necessária à tomada fundamentada de decisões, e da

capacidade crítica face à sociedade e ao ambiente envolvente;

do TER, ou seja do rendimento, do poder de compra, do acesso

a níveis de consumo médios da sociedade, da capacidade

aquisitiva (incluindo a capacidade de estabelecer prioridades

de aquisição e consumo) ”.

Efectivamente, podemos assim considerar que a exclusão social acaba por não permitir

aos indivíduos a realização de algumas destas dimensões apontadas pelo autor,

anteriormente.

Assim, encontramos os factores da exclusão social que estão inevitavelmente associados

às dimensões em que ela se exprime, deste modo há factores ambientais, culturais,

económicos, políticos e sociais na origem das diversas formas de exclusão social, que

podem ser divididos em três grandes grupos, como explica Rogério Amaro (s.d.):

“Os factores de ordem macro são de natureza estrutural, na sua

grande maioria, e estão relacionados com o funcionamento

global das sociedades: tipo de sistema económico, regras e

imposições do sistema financeiro, modelo de desenvolvimento,

estrutura

e

características

das

relações

económicas

internacionais, estratégias transnacionais, valores e princípios

sociais e ambientais dominantes, paradigmas culturais,

condicionantes do sistema político, atitudes e comportamentos

face à Natureza, modelos de comunicação e de informação,

processos de globalização, etc.

Os factores de ordem meso são frequentemente de natureza

estrutural, mas também podem resultar de incidências

conjunturais. São normalmente de âmbito mais local, situando-

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se no quadro das relações e das condições de proximidade que

regulam e interferem no quotidiano dos indivíduos.

Podem ter origem em áreas tão diversas como: políticas

autárquicas (se discriminatórias, no sentido negativo),

características do mercado local de trabalho, modelos de

funcionamento localizado dos organismos desconcentrados da

Administração Pública, preconceitos sociais e culturais, normas

e comportamentos locais, estratégias de exclusão de actores

locais (incluindo as associações e outras organizações), etc.

Os factores de ordem micro situam-se ao nível individual e

familiar e dependem de lacunas e fragilidades experimentadas

nos percursos pessoais, de capacidades frustradas ou não

valorizadas, de incidências negativas, etc.

Enquanto que os dois primeiros tipos de factores (macro e

meso) se referem às oportunidades oferecidas (ou negadas) pela

sociedade, o último centra-se nas capacidades e competências

individuais e familiares”.

Finalmente, Almeida et al., (2002) afirmam que é “...a escassez de recursos

económicos, isto é, a pobreza, o principal factor de exclusão social nas sociedades

modernas...” atribuindo assim a responsabilidade aos governos que não atribuem os

montantes necessários para a integração destes indivíduos nas sociedades, situação que

se verifica em Portugal.

Assim, a exclusão digital pode ser vista por diferentes ângulos, por um lado o facto de

alguns cidadãos, os mais pobres ou pessoas com uma posição económica

despriveligiada não conseguirem ter um computador com acesso à Internet, ou por não

saber utilizá-lo, ou ainda por falta de um conhecimento mínimo para manipular as

tecnologias que nos rodeia no nosso dia-a-dia são excluídas digitalmente.

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“As condições prévias necessárias para participar na Sociedade

da Informação são a disponibilidade de TIC a preços acessíveis

e a capacidade dos indivíduos para as utilizar. Ainda hoje, há

muitas pessoas que não têm a possibilidade de beneficiar

plenamente das possibilidades das TIC pelo facto de não

estarem cumpridas essas condições prévias”.

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A exclusão social e a exclusão digital são mutuamente causa e consequência. Os

cidadãos que se enquadram num ou mais tipos de exclusão social vistos anteriormente,

podem ser inibidos de acompanharem a evolução tecnológica, passando para uma

condição de integrantes da exclusão digital. Em contrapartida, cidadãos excluídos

digitalmente por falta de empenho ou por opção própria, passam a fazer parte de um ou

mais tipos de exclusão social.

As pessoas que também devido ao analfabetismo, as baixas qualificações académicas ou

baixos rendimentos salariais por norma não utilizam ferramentas tecnológicas. Portanto,

passam a ser consideradas excluídas digitalmente. Já aquelas pessoas que, apesar de

terem uma condição financeira favorável e alguma formação escolar, são resistentes às

mudanças e não se envolvem com as novas tecnologias, ficam desactualizadas e

tornam-se membros da sociedade da exclusão digital e consequentemente da exclusão

social, visto que passam a ter maiores dificuldades em conseguir empregos, desenvolver

as suas carreiras, realizar pesquisas escolares, etc.

Os dois problemas, exclusão social e digital, têm que ser tratados juntos, analisando-se

as características sociais que possam contribuir num processo de inclusão digital.