• Nenhum resultado encontrado

A Adoção do modelo de Organizações Sociais

6. O MÉTODO QUALITATIVO PARA A PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

7.6. A Adoção do modelo de Organizações Sociais

Há, atualmente, cinco instituições qualificadas como organizações sociais no campo da C&T no âmbito federal:

Associação Brasileira de Tecnologia Luz Síncroton (ABTLuS) Associação Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE)

Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM)

55

A partidarização da discussão pela nova Administração fica clara na referência do Professor Souza leição no Brasil e o

Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP)

As cinco instituições no âmbito federal qualificadas como OS têm o MCT como órgão supervisor. Cabe questionar porque as atividades de apenas cinco unidades desse ministério foram absorvidas por OS e as outras 1756 não.

Os depoimentos dos executivos do MCT encarregados da questão, os então Secretário- Executivo, Carlos Pacheco, e o Coordenador da SECUP, João Evangelista Steiner, convergem para a existência de dois critérios essenciais: clareza da missão da unidade e capacidade de seus dirigentes.

Expõe o Professor Pacheco (Pacheco, 2005:91) que:

Uma OS não serve para resolver problemas administrativos ou gerenciais. Uma instituição problemática, sem clareza do que faz, não deve ser transformada em uma OS, porque a clareza do órgão dirigente em relação à finalidade da instituição é a base de um contrato de gestão: é a métrica da avaliação de resultados. É preciso clareza quanto às finalidades e às missões que a OS vai cumprir. Se se tiver clareza e qualidade na direção dessa instituição, é possível transforma-la. Há um conjunto de requisitos para transformarem sucesso a gestão de uma OS.

para instituições excepcionais. Instituições com deficiências de missão ou de lideranças, em geral,

57 Já na entrevista em profundidade realizada, o professor Steiner complementa esta posição e reafirma:

OS é um modelo excepcional para instituições que também o sejam. Dois são os pilares de uma boa gestão e ambos têm que estar resolvidos e funcionar

56

Oito institutos de pesquisa, dois laboratórios nacionais, dois museus e cinco institutos ligados à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

57

, vol. 08, p.19.

bem: missão e liderança. O exemplo perfeito foi o IMPA, que tinha missão clara e liderança forte e competente. Para o Estado há então três perguntas: missão, liderança e capacidade de supervisão do Estado.

O modelo OS não conserta instituições que estiverem débeis; ele funciona bem se a instituição tiver esses dois pilares em boa condição. Então a instituição passa a ter um modelo de gestão com flexibilidade nos campos de administração de pessoas e de recursos. Se essa flexibilidade for dada a instituições viciadas, não haverá bom resultado.

Em verdade, não foram apenas esses os critérios adotados. As unidades vinculadas à CNEN, por exemplo, não podem ser convertidas em OS porque desenvolvem atividades estratégicas, consideradas típicas de Estado pela sua natureza, protegidas constitucionalmente58. Conforme prevê a Constituição Federal no inciso XXIII, do Art. 21:

(...)

XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:

a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;

b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)

c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)

58

O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) foi qualificado como organização social logo na edição da primeira medida provisória que criou o modelo em 199159. Depois foram qualificados como organizações sociais: o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e a Rede Nacional de Pesquisa (RNP). Em 2001, foi criado e qualificado como OS o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).

O processo de absorção das atividades de uma instituição pública por uma OS não é de aceitação fácil60. No caso das unidades de pesquisa do MCT houve um intenso processo de convencimento, em que a seletividade aplicada pelo MCT era um dos argumentos importantes. Ou seja, a absorção das atividades por OS era um prêmio concedido pelo Governo Federal a algumas poucas unidades consideradas excelentes, para que, pela flexibilidade maior, pudessem ser ainda melhores.

E vê-se, pela declaração de um diretor de uma das unidades de pesquisa do MCT em 2001, inicialmente renitente à proposta de organizações sociais, que houve um paulatino convencimento sobre a aceitação do modelo (VERONESE, 2006:120):

A organização social está prevista dentro do esquema de governo. Então, é uma das opções (...). Na realidade, agora, as organizações sociais são uma forma de organização, mas elas podem ser financiadas pelo governo (...). Mas, tendo um bom contrato [de gestão] (com cláusulas de salvaguarda) pode ser um avanço, sobretudo do ponto de vista da gestão. Você pode passar a ter uma gestão mais empresarial; não fica com as amarrações das Leis de Licitações e [das] Contratações; você flexibiliza. Sobretudo na área de pesquisa que é uma área que tem que ser flexível. Então isso pode ser uma solução desejável.

O mesmo diretor anteriormente mencionado, avaliando a possibilidade de sua unidade de pesquisa vir a ser gerida pelo modelo OS, disse (VERONESE, 2006:120):

Acho que a gente não deve ter medo da organização social. Realmente é uma forma bem bolada que está sendo pensada aí. Que traz vantagens. De repente,

59

1.648-1, de 23.4.1998. Publicada no DOU de 24.4.1998. MP originária: 1.591, de 9 de outubro de 1991.

60

traz até um orçamento maior, porque é um prêmio. De repente, eu até arriscaria.

No MCT foi montada uma comissão de avaliação para cada contrato de gestão. Isto se deu em virtude de que cada organização social trata de um tema específico, de modo que não se podem alocar os especialistas de um tema em outro. Embora haja representantes das áreas- meio do Governo em mais de uma das diversas comissões, os relacionados às áreas finalísticas são sempre diferentes.

Segundo Cristina Perez, uma dificuldade encontrada no MCT na formalização dos contratos de gestão com as OS da área foi a falta de pessoal especializado para avaliar os resultados atingidos pelas organizações qualificadas. Isso se deu e continua a existir, pois os técnicos de cada área seguiram para formar o corpo de pessoal das respectivas OS. Mesmo com a interdisciplinaridade das comissões de avaliação, ainda não existem técnicos qualificados que possam avaliar a meta em si e não somente o seu cumprimento.

Por decorrência, a formulação da política específica ficou primordialmente com a própria OS sua direção executiva, Conselho de Administração e, em alguns casos, conselho consultivo (por exemplo, Conselho Técnico-Científico). Posteriormente, foram alocados especialistas dos comitês do CNPq na composição das comissões de avaliação, o que tem contribuído para um melhor entendimento dos indicadores e das metas dos contratos.

Embora as instituições de Ciência e Tecnologia, segundo seus gestores, pudessem estar tecnicamente preparadas para serem Organizações Sociais quando assumiu o Ministro Bresser Pereira, elas ainda estavam inseguras sobre a definição e o acompanhamento das metas nos contratos de gestão.

preparados para sermos organizações sociais se formos avaliados segundo nossos conceitos e segundo nossos conteúdos será que o outro lado vai conseguir entender e especificar metas e

A apreensão quanto à mudança de postura na avaliação dos resultados das Organizações Sociais foi sinalizada pelo professor Sérgio Salles, em sua entrevista, quando afirmou:

A sensação é que o controle cada vez mais estrito continuará sendo requerido. Uma das saídas é o TCU e a CGU mudarem o seu comportamento, sendo necessário, para isso, capacitar esses órgãos a fim de que entendam as mudanças. Tem que se bater nessa tecla.

Um exemplo recente foi quanto à avaliação dos projetos do FUNTTEL61 pelo TCU. Ao surgir o tema do licenciamento de patentes, os jovens auditores do

a

Por outro lado, o professor Steiner em sua entrevista reforçou a importância da adoção do modelo e a consequente mudança positiva na relação do MCT com os institutos de pesquisa que passaram a ser geridos por OS:

A relação do MCT com as instituições mudou após passarem a ser

cotidiana. O fato de a relação ser cotidiana não é indicativo da qualidade da supervisão. Era uma relação de pendengas diárias e demandas permanentes, a maior parte das quais não atendida nem passível de atendimento. Isso fragilizava a posição do Estado. No novo modelo de OS, a relação se dá pelo contrato de gestão e se torna mais focada em questões estratégicas.

Ainda segundo o profe

Estado. É, por exemplo, o não cumprimento do aporte de recursos, mesmo que haja

61

O professor Carlos Pacheco ressaltou a necessidade de regulamentação da lei de OS, além de envolver os órgãos de controle em todas as etapas do modelo. Segundo o professor Pacheco:

critérios para a utilização do modelo. É importante envolver os órgãos de controle já na