• Nenhum resultado encontrado

IDSM Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

6. O MÉTODO QUALITATIVO PARA A PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

7.8. As OS de Ciência e Tecnologia

7.8.3 IDSM Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

As entrevistas foram realizadas com Hélder Queiroz, Diretor Técnico Científico em 2007, atualmente Diretor Geral, e Cristina Perez, do MCT.

O questionário em meio eletrônico foi respondido pela equipe do Diretor Hélder Queiroz.

7.8.3.1. Histórico

A entidade (na época, Projeto Mamirauá) não sabia o que era uma OS. Segundo seus membros, a reforma do estado era algo incipiente e pouco conhecido até então. A única coisa que se sabia é que o projeto precisava ser institucionalizado após cerca de 10 anos de bons resultados, para garantia de sua continuidade e para expansão de suas atividades. O então presidente do CNPq, Dr. José Galizia Tundisi, acenou ao então coordenador geral, Dr. José Márcio Ayres, com a possibilidade de institucionalizar o projeto, mas não como um instituto ligado diretamente ao CNPq ou ao MCT, da administração direta (o que foi algo considerado muito positivo por todos os membros naquela época - cerca de 1998/99). A ideia era criar uma instituição sem os vícios e entraves característicos dos institutos mais tradicionais.

E isso foi também muito bem visto por todos. A proposição de criação de uma Organização Social surgiu neste momento, quando Dr. Tundisi trouxe para as discussões uma série de técnicos do CNPq que estavam ligados à criação de OS's naquele momento.

Aos poucos os representantes do Projeto Mamirauá foram tomando conhecimento da ideia/conceito e do seu significado. A ideia foi aceita pelo Dr. Ayres e em 1999 os primeiros procedimentos para se criar a instituição nestes moldes foram iniciados.

Certamente a entidade não existiria hoje se não estivesse estruturada como uma OS. Existem inúmeros desafios na construção e consolidação de uma instituição de pesquisa e extensão no interior da Amazônia. Estes vão dos mais complexos (como construir uma equipe altamente

qualificada e motivada), enfrentados por qualquer instituição de pesquisas no mundo moderno, até os mais prosaicos, como construir um plantel de fornecedores de bens de consumo para garantir o funcionamento da instituição.

Estes problemas só podem ser enfrentados com alguma chance de sucesso se uma série de facilidades administrativas for disponível. Por motivos alheios a administração pública brasileira tem uma regulamentação que impede ou mesmo inviabiliza uma instituição que se encontre em um local remoto, sem as facilidades de uma capital, ou de uma cidade pequena ou média no sul ou sudeste.

Foi assim, gozando das flexibilidades que a lei oferecia às OS (e que aparentemente estão sendo lentamente canceladas), que o IDSM conseguiu formar-se e iniciar seu processo de consolidação.

7.8.3.2. Impactos do Modelo OS sobre os Resultados da Entidade

Os principais indicadores de desempenho pactuados com o MCT giram em torno da produção científica e da melhoria da qualidade de vida das populações humanas atendidas de maneira a minorar os impactos ambientais sobre o meio em que vivem, garantindo geração de renda por meio do uso adequado da biodiversidade. Isto proporcionou a criação de modelos muito bem sucedidos de manejo de recursos naturais, hoje disseminados para várias partes da Amazônia.

7.8.3.3. Relacionamento Institucional

A entidade, criada como uma OS, vinda de um projeto ligado diretamente à presidência do CNPq, foi assim instituída sem a devida independência institucional para optar pela construção de seu próprio modelo, já que sua situação anterior era precária (como um projeto dentro do CNPq que não tinha personalidade jurídica própria).

Segundo Hélder Queiroz, independentemente deste fato, a relação com o MCT é muito boa, a parceria é muito construtiva e produtiva.

Já as poucas relações com os outros órgãos de controle, nas poucas instâncias em que estas relações ocorrem, passam a impressão de que aqueles órgãos não conhecem o modelo de

gestão de uma OS. Não sabem do que se trata e tem inúmeras ideias pré-concebidas e erradas a respeito. Isso, aparentemente, tem maior relação com a forma pela qual os órgãos de controle encaram a administração pública, e não as OS em particular. Aparentemente, mesmo aqueles que sabem o que é uma OS, e conhecem a legislação pertinente, encaram os administradores da coisa pública como pessoas não dignas de confiança, como malversadores de recursos aprioristicamente.

7.8.3.4. Flexibilidade Operacional

As OS dão uma maior liberdade para a gestão da instituição, principalmente em dois aspectos cruciais. O primeiro deles é a execução descomplicada dos orçamentos. O segundo deles é a maior facilidade de contratar, monitorar, avaliar e terminar contratos com os funcionários (empregados, no modelo OS).

Estes dois fatores parecem os mais atrativos, e os pontos mais fortes do modelo. Como pelo menos o primeiro deles tem sido questionado atualmente pelos órgãos de controle, e tem perdido muito dos seus benefícios, então parece que o modelo está enfraquecendo rapidamente.

Há que se ressaltar, no entanto, como principais pontos fracos na discussão da performance da instituição o comitê de avaliação semestral/anual formado por pessoas que não possuem formação nem atuação na área. A ausência de um comitê externo de avaliação formado por cientistas de atuação e competência comprovados na área atrapalha a avaliação dos resultados alcançados pela entidade.

Bem mais importante que os anteriores, a indefinição do status do modelo OS dentro da administração pública é fator crucial em seu desenvolvimento.

Aparentemente não existe conhecimento ou reconhecimento entre os administradores a respeito da lei das OS, nem dos princípios que a caracterizam. E uma grande má vontade dentre muitos daqueles que detém este conhecimento. Na opinião dos dirigentes do IDSM, esta má vontade tem duas principais motivações: a primeira é que o modus operandi de muitos controladores e administradores é de que tudo deve estar sob o mais estrito controle (aqueles que acreditam que "os administradores são desonestos até que se prove o contrário").

Pe

acentuado. A segunda é de natureza ideológica. São pessoas que acreditam que o papel do Estado deve ser mais amplo, e que certas funções não devem ser repassadas a instituições privadas. São pessoas que acreditam que as OS deveriam ser transformadas em instituições convencionais, da administração direta. Esta falta de conhecimento por um lado, e este desacordo/desagrado por outro, geram grande instabilidade na consolidação do modelo, deixando transparecer que o modelo tem perdido terreno na administração pública brasileira, e corre riscos reais de ser extinto muito proximamente.

Neste contexto, segundo os dirigentes do IDSM, a uma instituição na área de C&T, que pretenda a qualificação de OS é recomendável que aguarde mais algum tempo até que esta "tempestade jurídica" termine, e somente ai tome uma decisão final, quando souber que o modelo vai ou não sobreviver às mais recentes exigências da Controladoria Geral da União (com ou sem concordância do TCU).