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CAPÍTULO II – NO TOM DA INSPIRAÇÃO – Referencial Teórico

2.5 Motivação e Afetividade

2.5.2 A Afetividade na sala de aula

O meu encontro com os estudos sobre afetividade ocorreu quando eu era aluno especial do mestrado do PPGLA. Estudar sobre afetividade foi como dividir história de minha prática profissional entre o antes e o depois. Ao cursar a disciplina oferecida pelo programa, Abordagens de Ensino, deparei-me com a teoria de Krashen.

Por mais que hoje compreenda que algumas lacunas não foram preenchidas com as hipóteses de Krashen, o estudo de delas proporcionou mergulhar num novo universo de concepção de ensino. Foi exatamente a partir daí que a sala de aula assumiu uma nova perspectiva no meu fazer docente.

Por se tratar de um tópico importante em minha formação ao longo do mestrado, quero aqui dedicar essa parte da dissertação abordando sobre afetividade na concepção de Krashen, configurando-se também como aporte teórico.

Krashen (1987) formula sua teoria de aquisição composta por cinco hipóteses: a distinção entre aquisição e aprendizagem, a ordem natural, o monitor, o insumo e o filtro afetivo, sendo as duas últimas hipóteses consideradas por ele como causativas para que a aquisição ocorra.

[...] é inegável a influência do linguista norte-americano Stephen Krashen nos estudos e pesquisas referentes à aquisição/aprendizagem de segundas línguas . Suas principais obras foram publicadas há cerca de vinte anos e são ainda hoje amplamente debatidas, tanto por adeptos às suas ideias como também por seus críticos. Seu modelo teórico, conhecido como Modelo do Monitor , desempenha importante papel nas pesquisas sobre aquisição de línguas estrangeiras. (CALLEGARI, 2006, p. 1)

A influência da teoria de Krashen é um fator corroborado por outros autores, ela é tida como

[...] uma das teorias que exerceu uma influência marcante para que a área de ensino de L2 considerasse a afetividade foi a teoria de Krashen (1982), conhecida como teoria do monitor. Das cinco hipóteses principais que constituem o cerne do seu modelo – a distinção entre aquisição e aprendizagem, a hipótese da ordem natural, a hipótese do input,2 a hipótese do monitor e a hipótese do filtro afetivo –, essa última contribuiu muito para a conscientização da importância da afetividade na aprendizagem de L2. (LAGO 2007, p. 44)

A repeito da teoria de Krashen, Lago (2007, p. 45) também observa que, “a sua maior contribuição está em valorizar o papel crucial do domínio afetivo na aprendizagem de L2”.

No contexto das hipóteses, a hipótese relacionada à afetividade, segundo de Krashen (1987), é a do filtro afetivo. Para ele é o primeiro obstáculo com que o insumo se depara antes de ser processado e internalizado. A esse repeito,

[...] a hipótese do filtro afetivo, portanto, incorpora a visão de Krashen de que um número de variáveis afetivas tem um papel facilitador na aquisição de uma segunda língua. Estas variáveis afetivas incluem: motivação, autoconfiança e ansiedade. Aprendizes motivados, confiantes e com baixa ansiedade tendem a ser bem sucedidos no processo de aquisição de uma segunda língua. Esses aprendizes teriam um baixo filtro afetivo e absorveriam insumo com muito mais facilidade, enquanto que alunos tensos, ansiosos e com baixa estima, tenderiam a elevar o nível de seu filtro afetivo e a formar um tipo de bloqueio mental, diminuindo, assim, sua capacidade de absorção de insumo. (CITTOLIN, 2003, p. 1)

2. No campo de aprendizagem de LE, de acordo com Richards et al., (1992). “input refere-se às informações linguísticas que o aprendiz recebe, com base nas quais ele pode aprender.”

Desse modo, a percepção da afetividade no contexto da sala de aula se configura como elemento importante para que tanto o professor quanto o aluno possam desenvolver suas potencialidades e se compreenderem no espaço da sala de aula. Sobre esse tópico, segundo Lago (2007, p. 243)

[...] Faz-se mister, portanto, que, como professores, assumamos nossa responsabilidade de contemplar, além do domínio cognitivo, também o domínio afetivo de nossos estudantes, levando-os a reconhecê-lo. Essa consideração da afetividade pode levar os alunos a se aceitarem mais.

Segundo Dér (2004, p. 61), a afetividade, “além de envolver um composto orgânico, corporal, motor e plástico, que é a emoção, apresenta também um componente cognitivo, representacional, que são os sentimentos e a paixão”. Dessa forma, a afetividade envolve as vivências e formas de expressão mais complexas e humanas.

De outro modo, a dimensão afetiva se legitima porque tem sido o ponto central de teóricos e professores que corroboram os princípios da abordagem humanista. Ao falar de afetividade, cogita-se a relação com afetar, afetação ou afeto. Acredito que todos têm profunda relação com a afetividade, contudo, quero aqui lançar o foco na relação dela com o afeto pois, “o afeto está ligado a aspectos relacionados à emoção, humor, sentimento, atitudes que condicionam o comportamento”, asseveram Arnold e Brown (1999, p. 1).

De outro modo, acerca da afetividade, na perspectiva do aprendizado, Stevick (1980, p.4) afirma que “o êxito no aprendizado de uma língua estrangeira depende menos dos materiais, técnicas e análises linguísticas e mais do que ocorre dentro da e entre as pessoas”.

Segundo Krashen (1982, apud Lago, 2007, p.44 ),

dependendo do estado mental dos alunos, eles podem erguer uma barreira imaginária, um “filtro afetivo” que os impede de aprender advindo do input que recebem. Assim, estados e fatores emocionais como raiva, ansiedade, desmotivação e falta de autoestima podem elevar o filtro afetivo, limitando o que é compreendido e aprendido.

De acordo com Assis (2011), “a sala de aula de línguas estrangeiras onde a afetividade está presente, provavelmente, formará pessoas com

condições para lidar com autoestima”. Portanto, desse modo, entendo a afetividade não só como um dispositivo que coopera com a aprendizagem de LI, compreendo e percebo seu papel como construto identitário no contexto da sala de aula.

Por entender que a afetividade não é o único feixe que incide na identidade do aprendiz de LI, abordo a seguir outro tópico de muita importância na tessitura discursiva desta dissertação e que está contida em afetividade, a autoestima.z