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INTEGRAÇÃO REGIONAL DA AMÉRICA DO SUL

4.1. Primeiras tentativas de integração da América do Sul

4.1.1. A ALALC e a ALAD

Sobre a base de um anteprojeto elaborado pela secretaria da CEPAL466, foi elaborado em Montevidéu, em 18 de fevereiro de 1960 o convênio constitutivo da Associação Latino Americana de Livre Comércio (ALALC), dirigido a formar uma zona de livre comércio na América Latina467. A ALALC era formada pela Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai.

Os idealizadores da ALALC estavam persuadidos de que a integração econômica regional constituía um dos principais meios para que os países da América Latina pudessem acelerar seu processo de desenvolvimento econômico e social, de forma a assegurar um melhor nível de vida para seus povos468.

Entretanto, no âmbito da ALALC, não houve cessão de soberania a um organismo dotado de poderes autônomos para levar adiante o processo de integração. Pelo contrário, optou-se pelo modelo intergovernamental, ficando o desenvolvimento da ALALC desde o início sujeito a vontade expressa de reuniões sucessivas, em um ambiente de instabilidade política, onde os governos autoritários da época rejeitavam qualquer projeto de médio ou largo prazo469.

Nesta situação de fraca autonomia da nascente estrutura institucional, o espírito continental da ALALC teve que conviver com os desenvolvimentos e agrupamentos sub-regionais. Nesse sentido criou-se o Mercado Comum Centro-Americano (MCCA), em 1960470, a Associação de Livre Comércio do Caribe (CARIFTA), de 1965 e o

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Sobre a influência da CEPAL na formação da integração regional sul-americana, ver: DEMBICZ, Katarzyna. La CEPAL y la Integración Latinoamericana. In RILA – Revista de Integração Latino- Americana. Santa maria, RS, n. 03, p. 47-58.

467 ARROYO, Diego P. Fernandes. Derecho Internacional Privado Interamericano. Evolución y

perspectivas. Buenos Aires: Rubinzal-Culzoni Editores, p. 65.

468 SEITENFUS, Ricardo. Manual das Organizações Internacionais. 4 edição. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2005, p. 279.

469 ARROYO, Diego P. Fernandes. Derecho Internacional Privado Interamericano. Evolución y

perspectivas. Buenos Aires: Rubinzal-Culzoni Editores, p. 65.

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Surgiu em 1960 na tentativa de promover a paz na região, afetada por graves conflitos bélicos. Em 4 de junho de 1961 foi assinado o Tratado de Integração Centro-Americana com o objetivo de criar um mercado comum nessa região. Na mesma época foi criado o Parlamento Centro-Americano (PARLACEN) e a Corte Centro-Americana de Justiça, que ainda não possui caráter permanente. Hoje, os Estados-Membros do MCCA designaram um grupo de trabalho para preparar o processo de constituição da União Centro-Americana, nos mesmos moldes da União Europeia. O bloco reúne uma população de 33,7 milhões de habitantes, possuindo um PIB de US$ 59,2 bilhões, com exportações no valor de US$ 18,0 bilhões e importações alcançando os US$ 24,3 bilhões.

Mercado Comum e Comunidade do Caribe (CARICOM), em 1973471. Todas essas iniciativas surgiram para implementar acordos de preferência alfandegária, a mesma tarefa pretendida, e não cumprida, pela ALALC.

Ainda devido ao pouco desenvolvimento da ALALC, foi firmado o Tratado da Cuenca do Prata, celebrado em Brasília, em 1969, que reuniu Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, com objetivos muito mais concretos e limitados472. Em 1978 foi firmado em Brasília o Tratado de Cooperação Amazônica entre Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guyana, Peru, Suriname e Venezuela473.

Essa situação de imobilidade perdurou até 1980 quando o Tratado de Montevidéu, de 1980, renovou o processo de integração latino-americano e estabeleceu objetivos e mecanismos compatíveis com a realidade da região. Assim, foi realizada uma reforma estrutural da ALALC, criando a Associação Latino Americana de Integração e Desenvolvimento (ALADI), que existe até hoje. A ALADI busca a participação efetiva de um maior número de países e modificou certos aspectos substanciais, como a facilitação de acordos parciais, entre alguns Estados-Membros, sem necessidade da intervenção dos demais474.

Conforme o artigo primeiro do seu tratado constitutivo, a ALADI tem como objetivo o estabelecimento, gradual e progressivo, de um mercado comum latino- americano. Até o presente momento foram cinco os acordos regionais firmados no âmbito da ALADI, sobre os seguintes temas: abertura de mercados; preferência tarifária regional; cooperação científica e tecnológica; cooperação e intercâmbio de bens nas áreas cultural, educacional e científica; e o acordo-quadro com a promoção do comércio, mediante a superação de barreiras técnicas ao comércio.

Observa-se o caráter essencialmente econômico e comercial da ALADI, que não deixava muito espaço para transcender as questões econômicas e abarcar a unificação jurídica, por exemplo. Assim na ALALC-ALADI não houve qualquer tentativa de implementar uma política regional de cooperação jurisdicional. Isso porque sequer a área de livre comércio foi implementada, não aumentando sobremaneira a circulação de

471 O Mercado Comum e Comunidade do Caribe foi estabelecido em 1973. É um bloco de cooperação

econômica e política formado por 14 países e quatro territórios. Em 1998, Cuba foi admitida como observadora. Maiores informações em: <http://www.caricom.org/>. Data do acesso: 20 dez. 2009.

472 Tal documento pode ser consultado na íntegra em:

http://untreaty.un.org/unts/1_60000/25/15/00048729.pdf. Data do acesso: 20 dez. 2009.

473 A íntegra do documento está disponível em

<http://www.cnrh-srh.gov.br/camaras/GRHT/itemizacao/Tratado_cooperacao_Amazonica.PDF>. Data do acesso: 20 dez. 2009.

bens e produtos e o número de fatos jurídicos com conexão internacional, capazes de demandar apreciação jurisdicional.

Os desenvolvimentos jurídicos tentados pelos organismos integrados foram, em geral, infrutíferos. No caso da ALALC-ALADI, houve tentativas, sem êxito, de se regular conjuntamente os setores de seguros, marcas e patentes, transportes e arbitragem comercial internacional.

Embora a ALADI tenha sido criada em função do fracasso da ALALC475, ela não foi capaz de superar as suas deficiências, tais como a falta de transferência de soberania a um órgão com determinada capacidade legislativa e a ausência absoluta de uma vontade integradora por parte dos Estados nacionais.