• Nenhum resultado encontrado

A alfabetização científica no desenvolvimento de habilidades e competências

1. INTRODUÇÃO

2.2. O processo de alfabetização científica

2.2.5. A alfabetização científica no desenvolvimento de habilidades e competências

Ao pensar um ensino voltado ao desenvolvimento das habilidades e competências, pensa-se em uma proposta de ensino que atenda às necessidades do momento atual e que prime por qualidade. Deffune e Depresbiteris (2000, p. 43) afirmam que: “As habilidades são atributos relacionados não apenas ao saber-fazer, mas aos saberes (conhecimentos), ao saber- ser (atitudes) e ao saber-agir (práticas no trabalho)”. Esta ideia é reforçada por Paviani (2003, p. 29), que argumenta: “O conhecimento enquanto conjunto de informações é necessário, porém não é suficiente. [...] O conhecimento torna-se eficaz quando se transforma em habilidades, sejam elas manuais ou intelectuais”.

O ser humano vai moldando habilidades desde a infância. Uma habilidade vai estruturando novas habilidades mais sofisticadas e complexas que nos permitam agir no mundo físico e social. Qualquer profissional precisa ter conhecimento teórico e também dominar a técnica de sua atividade, além é claro do exercício da responsabilidade social. (PAVIANI, 2003).

Já o termo competência é definido por Perrenoud (1999, p. 7) “[...] como sendo uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles [grifos do autor]”. Fica claro que competência é saber utilizar os conhecimentos e as habilidades eficazmente na resolução de problemas, o que requer uma metodologia de trabalho por parte do professor, que por vezes não é contemplada na educação escolar voltada a repassar informações. Como argumenta Bordoni (s/d), a excessiva ênfase na compartimentalização em disciplinas dificulta o desenvolvimento de competências, tanto no ensino fundamental quanto no médio, os quais têm tradição de repassar conteúdos, em outras palavras, ao pensar em competência na educação escolar, o ensino tradicional costuma carregar no conteúdo.

Apenas a quantidade de conteúdo repassada aos estudantes, não garantem maiores chances de sucesso escolar e profissional. Percebe-se que esta ideia é erroneamente aceita pela sociedade, que muitas vezes questiona a existência ou não da escola, tendo em vista que,a humanidade vive um momento forte de acesso à informação.

Ao pensar em um ensino escolar que faça a diferença, que seja identificado como algo necessário à melhoria das condições de vida dos estudantes, é preciso acrescentar algo especial, próprio do ambiente escolar, a construção intelectual munida das ações que validam esta construção.

Um aspecto que precisa ser melhorado na escola é o diálogo entre as áreas de conhecimento. O Referencial Curricular do Projeto Lições do Rio Grande (RIO GRANDE DO SUL, 2009) reforça e preconiza que as áreas do conhecimento deveriam ser integradas por três eixos fundamentais: representação e comunicação; investigação e compreensão; contextualização sociocultural. A partir deles buscou-se desenvolver prioritariamente, as competências básicas de leitura, produção de textos e resolução de problemas.

De fato, a escola precisa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da comunidade onde ela está inserida. Precisa estar mais próxima da realidade dos estudantes.

[...] do ponto de vista educacional, a escola deveria oferecer às pessoas múltiplas possibilidades de construir sua polivalência, por meio de percursos personalizados nos quais o tempo, as estratégias de formação, os currículos fossem mais flexíveis. Com esse tipo de visão educacional talvez possamos contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e democrática, que integre e não exclua seus cidadãos. (DEFFUNE; DEPRESBITERIS, 2000, p.23).

A afirmação de Moretto (2010, p. 79): “[...] competência não se alcança, desenvolve- se”, aponta um caminho que a escola pode percorrer e que pode auxiliar na motivação e na melhoria do processo de aprendizagem.

Neste sentido, ao propor um ensino voltado ao desenvolvimento de habilidades e competências, deve-se levar em conta um planejamento mais elaborado e detalhado das ações dos professores, que incluam as competências relacionadas às áreas do conhecimento, na compreensão e realização das tarefas. Estas competências são identificadas pelo INEP (2011), como competências do sujeito:

As competências do sujeito são eixos cognitivos, que, associados às competências apresentadas nas disciplinas e áreas do conhecimento do Ensino Fundamental e Médio, referem-se ao domínio de linguagens, compreensão de fenômenos, enfrentamento e resolução de situações-problema, capacidade de argumentação e elaboração de propostas (INEP, 2011, s/p)5.

Para a área das Ciências Naturais do Ensino Fundamental o INEP (2011) descreve trinta habilidades, em nove categorias, que vão desde a identificação, descrição, relação, análise dos fenômenos, a história dos acontecimentos e os problemas da atualidade.

Na obra Lições do Rio Grande, as principais habilidades relacionadas à área de Ciências da Natureza são: observar, coletar e organizar, planejar e executar pesquisas, elaborar projetos, realizar experiências, analisar criticamente, debater temas polêmicos e atuais, levantar hipóteses, apresentar resultados, generalizar, trabalhar cooperativa e solidariamente. Estas habilidades devem estar vinculadas as diversas atividades escolares e se espera que os estudantes desenvolvam ao longo de sua vida (RIO GRANDE DO SUL, 2009).

As habilidades podem ser listadas e objetivadas no planejamento de uma disciplina. Porém é notável que, uma vez apropriadas pelo estudante, serão perceptíveis em todas as outras, pois o estudante precisa utilizar o conhecimento que transpassa os limites da disciplina, dos conteúdos pré-determinados e fazer as relações pertinentes na resolução de problemas.

Outro aspecto importante é que ao elaborar um plano de ação, o professor precisa conhecer a realidade de seus estudantes, suas necessidades, suas dificuldades e lacunas na

5 A descrição dos eixos, competências e das habilidades da área de Ciências Naturais do Ensino Fundamental

(Matriz de Competências – Ciências da Natureza e suas Tecnologias) está disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/encceja/matriz-de-competencias>.

aprendizagem, para organizar uma estratégia que tente suprir as habilidades ainda não desenvolvidas e necessárias à sua formação cognitiva.

Sendo assim, o desenvolvimento de habilidades objetiva competências para a resolução de problemas, pessoais, sociais, familiares, profissionais e de cidadania (MORETTO, 2010; LIÇÕES DO RIO GRANDE, 2009).