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1. INTRODUÇÃO

2.2. O processo de alfabetização científica

2.2.2. Conhecimento científico

O conhecimento científico é adquirido através dos questionamentos, da experimentação e da explicação das razões dos fenômenos e dos fatos. É a ciência de quem não se submete às verdades ditas como imutáveis. É a ciência dos inquietos, dos que querem saber e conhecer mais.

Para Köche (1997), ele é um produto resultante da investigação científica, ou seja, da necessidade de alcançar um conhecimento seguro, que responda de forma consistente e justificável às questões e problemas que surgem. Por isso, esta forma de conhecimento necessita da experimentação, o que lhe confere segurança e confiabilidade em seus resultados, e maior consciência dos limites de sua validade, relacionando-se de forma coerente às leis e teorias.

Neste sentido, o conhecimento científico é um conhecimento em constante processo de construção. Ao longo da história foi se estruturando e definindo-se em métodos diferentes, que identificam as mais diversas linhas de raciocínio.

Segundo Lakatos e Marconi (1991), nos primórdios da humanidade a explicação da natureza era atribuída a forças espirituais e sobrenaturais. Aos poucos, este pensamento mitológico foi sendo superado pela busca da natureza das coisas, pela preocupação em elaborar teorias racionais. Destacam-se: o modelo platônico voltado às ideias, ao conhecimento racional intuitivo, desenvolvido pela intuição dos princípios universais, análise e síntese. Para Platão, o real é o pensado e intuído. Aristótoles supera as ideias de Platão, e caracteriza a ciência como o produto de uma elaboração do entendimento em relação estreita com a experiência sensível. Para ele, o conhecimento verdadeiro se estrutura na certeza e na coerência lógica de suas afirmações com os princípios universalmente aceitos (KÖCHE, 1997).

A partir do século XVI, inicia-se um processo de explicação dos acontecimentos, através da observação científica, aliada ao raciocínio (LAKATOS; MARCONI, 1991). Destacam-se, neste momento histórico, Galileu e Bacon, que rejeitaram as concepções gregas e o dogmatismo religioso, introduzindoo método científico, com a experimentação, a qual modificou radicalmente a concepção de ciência e de conhecimento (KÖCHE, 2005).

O método científico de Bacon se estruturou nos seguintes passos: experimentação, formulação de hipóteses, repetição, testagem das hipóteses e formulação das generalizações e leis. Já Galileu propôs um método experimental das hipóteses para validar o conhecimento, seguindo os passos: observação dos fenômenos, análise, indução de certo número de hipóteses, verificação das hipóteses, generalização do resultado e confirmação das hipóteses. Newton vem assegurar que as hipóteses precisam ser extraídas da experiência pela indução, através da experimentação e da observação, podendo ser validadas ou refutadas (KÖCHE, 1997).

Com o passar do tempo muitas modificações na maneira de pensar e conceber o conhecimento foram feitas e surgiram outros métodos científicos, em destaque os métodos indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico (LAKATOS; MARCONI, 1991). Em enfoques distintos, os diversos métodos científicos procuram explicar a realidade e sistematizar o conhecimento. Contudo, todo o conhecimento é verdadeiro, enquanto seus critérios de validação se mantiverem. Uma vez modificados os critérios, especialmente com o avanço tecnológico, que permite novas descobertas, o conhecimento antes aceito, passa a ser passível de mudança e reformulação, isto é, de falseabilidade.

O atual período da Ciência compreende o momento, no qual o conhecimento é considerado um processo de construção, que pode ser modificado e refutado a qualquer momento (KÖCHE, 1997). Da mesma forma, há pesquisadores que seguem as mais diversas linhas de conhecimento, comprovando que não há um método imutável de se fazer ciência e tampouco, há um único método seguro de validar ou não um novo conhecimento. Dependendo do interesse do pesquisador, sempre há um elemento a ser explorado e melhor investigado. O conhecimento não é limitado, também não são limitadas as formas de obtê-lo.

Não existe um modelo com normas prontas, definidas, pelo simples fato de que a investigação deve orientar-se de acordo com as características do problema a ser investigado, das hipóteses formuladas, das condições conjunturais, da habilidade crítica e da capacidade criativa do investigador. Praticamente, há tantos métodos quantos forem os problemas analisados e os investigadores existentes (KÖCHE, 1997, p. 68).

A partir desta maneira de compreender o conhecimento, é possível identificar a liberdade que o pesquisador tem ao escolher um método de pesquisa que contemple seu objeto, fato ou problema a ser investigado. Porém a pesquisa precisa ser aceita e passível de questionamento, passando pelo teste da “intersubjetividade” da comunidade científica e pela “falseabilidade” que a mesma realiza.

Sendo assim, a alfabetização científica pode se constituir em um método de construção do conhecimento científico nas escolas, tendo presente sempre a realidade social, intelectual, religiosa e ecológica.

Para Vasconcellos (2002, p. 79):

O professor, de forma intencional, dispõe certas condições da realidade para que o aluno construa seu conhecimento. Para esta compreensão da realidade, uma mediação básica é o conhecimento científico e filosófico, incorporado naquilo que se consagrou chamar “os conteúdos escolares” [grifos do autor].

Sendo assim, como propõe Piaget e Vygotsky, a alfabetização científica com os conteúdos escolares, precisam estar ligados aos problemas da vida, ao questionamento das verdades ditas como reais e que em determinado momento elas não se efetivam. A alfabetização científica, nas suas diversas formas de pesquisa, com suas hipóteses para resolver problemas, são vinculadas à realidade do estudante, agregando-lhe aptidões e conhecimento crítico, para questionar a realidade sócio-histórico-cultural e agir com sabedoria diante das situações adversas que surgem. Por isso, os conteúdos escolares, podem ser reestruturados e adaptados segundo os níveis evolutivos que possibilitam a construção do conhecimento.

Diante desta realidade a alfabetização científica é necessária à educação, especialmente no Ensino Fundamental, pois é neste momento que os estudantes iniciam seu processo de construção do conhecimento científico.

Ao trabalhar a educação científica com as crianças e adolescentes, especialmente na disciplina de Ciências Naturais, utilizando o recurso da horta escolar, busca-se romper com o ensino de repassar apenas as conclusões dos cientistas, mas de contribuir na formação de novos cientistas e de novos cidadãos. Como afirma Chassot (2001, p. 46): “[...] uma alfabetização científica mais significativa [...] deve começar a ocorrer no ensino fundamental, como novas exigências na seleção de conteúdos”.