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1. INTRODUÇÃO

2.1. Teorias de Aprendizagem que norteiam a pesquisa

2.1.2. Teoria de Vygotsky

Ivic (2010, p. 15) define a teoria de Vygotsky como “teoria sócio-histórico-cultural do desenvolvimento das funções mentais superiores”. Para Vygotsky, a interação social e cultural, com suas percepções e as abordagens do indivíduo diante das múltiplas situações, são pontos fundamentais à aprendizagem.

Um aspecto importante para a socialização da criança é a linguagem. Os signos além de serem importantes para a comunicação são os aportes para a organização e controle do comportamento individual. Neste aspecto, é fundamental o papel dos adultos como representantes da cultura no processo de aquisição da linguagem (IVIC, 2010). Sem assim, a cultura transmitida na convivência com os adultos fundamenta a organização do pensamento da criança e por consequência do jovem.

Uma competência que pode ser aprimorada na escola e que demonstra o grau de abstração está na capacidade de sintetizar, relacionar informações, descrever os fenômenos e expor suas ideias oralmente e de forma escrita. De fato, a expressão oral, seja na criança não alfabetizada ou nos estudantes, é fruto do raciocínio, das ideias e necessidades pessoais.

O meio onde o indivíduo está inserido é determinante para sua formação intelectual, para a estruturação de valores morais, afetivos e intelectuais. Por isso, Ivic (2010) aponta que o meio também é responsável por um desenvolvimento social negativo, contrário à organização social e até de patogenias sérias, justamente porque o indivíduo é fruto de suas relações familiares, sociais e culturais.

Outro aspecto que ressalta a importância da interação social está na abordagem de Reig e Gradolí (1998) sobre aprendizagem e desenvolvimento cognitivo. Estes autores abordam que a aprendizagem costuma estar associada ao nível evolutivo da criança e que um dos indicadores da sua capacidade está no que esta criança consegue realizar sozinha. Para Vygotsky, na relação entre processo evolutivo e aptidões de aprendizagem, existem dois níveis evolutivos. O primeiro é o nível real, ou seja, o quea criança consegue fazer sozinha. O segundo nível evolutivo, foi definido como zona de desenvolvimento proximal, no qual a criança pode chegar ao resultado esperado, com auxílio de outra pessoa.

Vigotski2 (1998, p.112) definiu como zona de desenvolvimento proximal:

[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes [grifos do autor].

A zona de desenvolvimento proximal fornece melhores elementos para a capacidade mental do estudante do que aquilo que ele já é capaz de fazer sozinho. Ele pode receber auxílio no fornecimento de pistas para a solução dos problemas, com o professor iniciando a solução e o estudante completando ou ainda com a colaboração de outros colegas, assim, o estudante vivencia o seu potencial de desenvolvimento (VIGOTSKI, 1998).

Por isso, a mediação é fator preponderante para a teoria de Vygotsky. Segundo Oliveira (2001, p. 56), “[...] a interação do sujeito com o meio se dá pela mediação feita por outros sujeitos”. Em outras palavras, a aprendizagem acontece em uma relação entre os indivíduos, por isso, os professores, os colegas de turma e tantas outras pessoas, possuem um papel muito importante para o aprendizado de qualquer criança.

Sendo assim, o professor precisa considerar a diferença no desempenho do estudante, trabalhando por si só e trabalhando em colaboração com o grupo (IVIC, 2010). O trabalho em pequenas equipes, grupos, é uma habilidade a ser desenvolvida na escola, que colabora diretamente para a formação escolar e profissional dos estudantes.

2.1.2.1. A escola para Vygotsky

A escola para Vygotsky é um espaço privilegiado para a aprendizagem. É o local da apropriação do conhecimento científico e da socialização das informações da comunidade científica.

Para Vygotsky, a convivência e a troca de experiências com os mediadores (que possivelmente serão outras crianças, os professores e inclusive os funcionários) são fundamentais para a criança construir seu conhecimento.

2

Na obra, VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. COLE, M. et al. (Org.). Tradução de José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. 6. ed. São Paulo: Martíns Fontes, 1998, a grafia de Vygostky está diferenciada, por isso, optou-se em manter a grafia da obra, nas citações referentes à mesma.

Oliveira (2001, p. 57-58) ressalta a importância da escola,

[...] ela é a instituição criada pela sociedade letrada para transmitir determinados conhecimentos e formas de ação no mundo; sua finalidade envolve, por definição, processos de intervenção que conduzam à aprendizagem. Diferentemente das situações informais em que a criança aprende por imersão em um ambiente cultural informador, na escola o professor (bem como outros agentes pedagógicos) é uma pessoa real, fisicamente presente diante daquele que aprende, com o papel explícito de intervir no processo de aprendizagem (e portanto de desenvolvimento), provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente [grifos do autor].

A realidade escolar e social onde os estudantes estão inseridos é um fator primordial para a aprendizagem, segundo Vygotsky (citado por IVIC, 2010, p. 32). De fato ao conhecer a realidade onde o estudante este inserido com os respectivos aspectos culturais desta realidade, o professor pode analisar e propor atividades que aproxime o estudante dos conceitos e o instigue a fazer relações com os fatos de sua vida.

Segundo Mello (2002, p.73):

Para Vygotsky, só há aprendizagem quando o ensino incidir na zona de desenvolvimento próximo do sujeito que aprende. Se ensinarmos para o sujeito aquilo que ele já sabe, não haverá nem aprendizagem e nem desenvolvimento. O mesmo acontece se ensinarmos algo que está muito além de suas possibilidades de aprendizagem, ou seja, para além daquilo que ele possa fazer com a ajuda de alguém – fora de sua zona de desenvolvimento próximo. O bom ensino garante nova aprendizagem e impulsiona o desenvolvimento: o papel da escola é dirigir o trabalho educativo para estágios de desenvolvimento ainda não alcançados pelo aluno, impulsionando novos conhecimentos e novas conquistas a partir daquilo que ele já sabe, desafiando-o para o que ele ainda não sabe ou só é capaz de fazer com a ajuda do educador.

O sucesso da aprendizagem está diretamente relacionado com a ação do professor, que precisa repensar e planejar as aulas, buscar técnicas e métodos que desafiem os estudantes e os estimulem a explorar os conceitos, tendo presente a sua realidade, os seus problemas, para desenvolver habilidades e competências, construindo um espírito crítico e investigativo.

Em meio a todo avanço tecnológico, onde os indivíduos em suas próprias casas possuem acesso às informações, muitas vezes mais atualizadas que na escola, parece que esta deixa de ter a importância social que merece. Com o advento da internet, há um livre acesso a uma grande quantidade de informações, como pode ser comprovado em qualquer pesquisa onde se utilizem sites de busca. A facilidade de comunicação nem sempre se transformam em

novos conhecimentos, tampouco acrescentam valores às vivências sócio-histórico-culturais em vista da construção do conhecimento científico e da cidadania.