• Nenhum resultado encontrado

A ALIANÇA PELO CLIMA E O NOVO FÔLEGO DA FOIRN (1993-1996).

Em 1992 Pedro Garcia retornou a Yauareté para assessorar a UNIDI, pois estavam ocorrendo muitos conflitos entre os próprios indígenas por causa da demarcação em áreas reduzidas e cercadas por florestas nacionais. Até 1995, dividia o seu tempo lecionando e colaborando com as associações do distrito. A FOIRN começou a ter visibilidade em alguns países europeus com a visita, em 1988, da neta do antropólogo alemão Theodor Kosch- Grunberg ao Rio Negro com o objetivo de refazer o itinerário percorrido pelo seu avô e comparar a situação dos povos indígenas descrita por ele no início do século XX com a aquela vista por ela. Pedro Garcia e sua esposa a conduziram durante 25 dias no rio Içana até Tunuí, no rio Vaupés até Yaureté, e no rio Tiquié até São Domingos, acima de Pari- Cachoeira, com todas as despesas pagas por aquela senhora. Ela ficou impressionada com a forte presença militar, era o auge da implantação do PCN, e com a preocupação dos militares diante da sua presença. Ao retornar para a Suíça ela fez um relatório sobre a viagem e divulgou na Europa.

[...] Logo depois da viagem da neta do Kosch-Grunberg chegou uma outra...

Clarita Goltemberg, se não me engano, uma alemã, professora da Universidade de Kas. Então essa idéia de aliança pelo clima, vamos defender o ar e tal, essa idéia começou da Alemanha. Então os países europeus quase todos: a Áustria... Ela chegou para conhecer o Amazonas: o desmatamento, como viviam os povos indígenas... Falou da Aliança pelo Clima, tinha interesse em trabalhar junto com os povos nativos, já trabalhava em outras regiões do mundo, e grande parte era a preservação das matas, das florestas, dos rios, dos lagos... Aí negociamos com ela. Fiz uma viagem com ela, até Tunuí e depois até Ipanoré, depois até Pari- Cachoeira, Taracuá. Mostrei para ela qual era o alimento básico, o que a gente plantava, as dimensões do nosso roçado, a forma de utilização, quanto tempo. Ela gostou e eu falei que se a gente tivesse financiamento, alguma ajuda, poderíamos melhorar o regime alimentar mesmo sem acabar com a natureza, com a mata,

mata, ao contrário, sempre preservamos. E que ultimamente com essa idéia de criação de gado tinha aumentado o desmatamento para o plantio de pastos, mas a comunidade já viu que não dava certo, acabaram com isso, e continuavam pensando em outras coisas (criação de peixes e outros animais menores, ou até espécies silvestres mesmo). [...] (Pedro Garcia, entrevista. Op. cit.).

A conexão dos problemas locais dos povos indígenas do Rio Negro com os interesses dos cidadãos do primeiro mundo pela preservação das florestas tropicais forneceu a FOIRN o capital simbólico que foi convertido em parcerias institucionais com organizações ambientalistas estrangeiras.

[...] A partir daí ela conseguiu fazer uma campanha na Alemanha e quem

comprou foi a Áustria, a Aliança pelo Clima da Áustria ganhou a parada. Na época foram apresentadas propostas de projetos. Foi quando o Bráz foi fazer a primeira viagem como presidente da FOIRN para a Áustria [1993], fazer a campanha, e com isto depois da viagem dela aqui e a do Brás consolidou. A gente vendeu algumas propostas de projetos e lá eles fizeram o projeto, e o Brás foi lá fazer a campanha em cima do projeto. Conseguiu recursos e a partir daí a FOIRN despencou, cresceu de forma muito rápida, muitos compromissos... [...] (Pedro Garcia, entrevista. Op.

cit.)

[...] Então resolvemos fazer um mega-projeto, mesmo sem assessoria, sem

nada, vamos escrever o que a gente pensa. Esse projeto acabou rolando pelas agências internacionais de direitos indígenas, inclusive naquele mesmo período estava sendo criada a Aliança pelo Clima [...] Como a FOIRN estava sediada em plena selva amazônica tinha tudo para participar desta aliança, só que teríamos que ter o aval da COICA. Foi por isso que o nosso projeto foi bater lá na Aliança pelo Clima e veio uma senhora chamada Clarita, representando a Aliança, para conversar com a gente. Andou pela região. Ela veio duas vezes e orientou como

Áustria. Foi quando eles começaram a ter uma ligação com os programas que tínhamos elaborado mesmo sem muita técnica. [...] (Bráz França, entrevista. Op.

cit.)

No final de 1992 foi aprovado pela Broerdelijk Delem o plano trienal de atividades (1993/1994/1995) apresentado pela FOIRN no início deste mesmo ano, cujo orçamento total era de U$ 47.000,00, liberados em três parcelas anuais de U$ 19.000,00 (1o ano), U$ 16.000,00 (2o ano) e U$ 12.000,00 (3o ano). Tais recursos destinavam-se a um núcleo de ações e condições consideradas essenciais: manutenção do escritório, despesas com pessoal, viagens às sub-regiões e cursos de capacitação. O plano voltado para a infra- estrutura foi enviado para a COICA a fim de conseguir o aval institucional necessário para ter acesso aos fundos dos municípios europeus envolvidos na Aliança Pelo Clima.1 Uma comissão do Instituto de Cooperação Intenacional da Áustria/IIZ fez uma excursão pelo Rio Negro em maio de 1993 junto de representantes do CEDI e da FOIRN, cujo resultado foi a assinatura de um protocolo de cooperação entre as três entidades para planejar e executar projetos no âmbito da rede ambientalista “Aliança Pelo Clima”, incluindo também fundos do governo austríaco.2 Alguns meses depois Bráz França visitou os municípios europeus envolvidos na campanha da Aliança Pelo Clima, sacramentando a inserção do movimento indígena do Rio Negro na campanha européia em defesa do equilíbrio ecológico do planeta.3 O eixo da estrutura de apoio (política, administrativa, financeira, logística, científica, técnica, etc.) da FOIRN deixou então de ser o CIMI/Broederlijk Delen e passou a ser o CEDI/IIZ. CEDI e IIZ assumiram de forma mais regular e permanente a assessoria e

1 Correspondência da Diretoria da FOIRN para a Aliança Pelo Clima. Documento sem assinaturas e data. 2 O Protocolo de Cooperação FOIRN/IIZ/CEDI expressa os termos básicos de referência para a cooperação

entre as três entidades para 1993 e 1994, como resultante do diagnóstico da situação atual e projetos de futuro da própria FOIRN e das associações locais a ela filiadas. Em termos gerais, dentro do programa, cabe à FOIRN e associações apresentar e executar projetos de acordo com seus objetivos fundantes, cabe à IIZ avaliar esses projetos nos marcos de referência da “Aliança Pelo Clima”, repassar e prestar assessoria técnica à realização dos trabalhos e, finalmente ao CEDI, prestar serviços de assessoria técnica nas áreas de sua competência. (Relatório Narrativo de Atividades da FOIRN em 1993. Federação das Organizações

Indígenas do Rio Negro. Assina: Bráz de Oliveira França, presidente).

3 No qual a conservação das florestas tropicais e em particular da Amazônia é considerada estratégica (por sua alta capacidade de absorção de CO2 e de emissão de Oxigênio) para a redução do efeito estufa (aquecimento global) provocado pela poluição da atmosfera.

se o núcleo de ações e condições para o fortalecimento institucional da FOIRN, comparado ao plano aprovado pela Broederlijk Delen, incluindo-se outras frentes de ação antes consideradas como projetos específicos.4 Todavia, nem sempre o IIZ conseguia captar integralmente os recursos solicitados ou aprovava todos os itens dos planos anuais apresentados pela FOIRN e por isso foi preciso preservar ou restabelecer contato com aliados antigos (CESE, PROPICA, Misereor, Manos Unidas, Pão Para o Mundo) e atrair novos (Amigos da Terra, SSL, Universidade Federal do Amazonas) para suprir os enormes compromissos que se apresentavam.5 O leque de parceiros tornou-se então mais diversificado, englobando agências religiosas, órgãos governamentais, ONGs nacionais e estrangeiras e centros universitários de pesquisa e ensino.6

Cabe destaque neste período para a criação do Instituto Socioambiental em 22/04/1994, pois esta ONG constituirá o sistema perito essencial para a permanência da FOIRN na agenda do ambientalismo globalizado. O ISA originou-se num duplo movimento tanto de autonomia do Programa Povos Indígenas no Brasil/PIB do CEDI/SP, coordenado por Carlos Alberto Ricardo, como de fusão com o Núcleo de Direitos Indígenas/NDI, coordenado por Márcio Santilli, de Brasília. Resultou da iniciativa de vários profissionais e militantes dotados de larga experiência nas arenas indigenista e ecologista. É uma ONG de porte considerável, considerando o volume de recursos materiais, humanos e financeiros que mobiliza. Sua capacidade de captação de recursos (no país e no exterior, públicos e privados) vem aumentando cada vez mais desde a sua

4 Assim além da manutenção do escritório, gastos com pessoal, articulação e formação foram incluídos transporte e comunicação, censo populacional indígena autônomo do Rio Negro, visita à Federação Shuar, construção da sede e do centro cultural, apoio básico às associações filiadas e estudo de mercado.

5 Correspondência de FOIRN para CESE. São Gabriel da Cachoeira, 17 de Agosto de 1995. Assina: Bráz de Oliveira França, presidente.

6 Veja a lista de parceiros da FOIRN em 1995: Amigos da Terra – FOE, Rio de Janeiro; Broederlijk Delen, Bruxelas; Comitê de Apoio Rio Negro, Zurich; Conselho Indigenista Missionário – CIMI Norte I, Manaus; Comitê Inter-Igrejas para a Cooperação – ICCO, Zeist; Coordenadora Ecumênica de Serviço – CESE, Salvador; Diocese de São Gabriel da Cachoeira; Fundação da Universidade do Amazonas – FUA, Manaus; Fundação Nacional de Saúde – FNS, Brasília; Fundação Nacional do Índio – FUNAI, Brasília; Instituto Socioambiental – ISA, São Paulo e São Gabriel da Cachoeira; Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, Manaus; Instituto para a Cooperação Internacional – IIZ/Aliança para o Clima, Viena; Ministério da Educação – MEC, Brasília; Programa Regional de Apoyo a Pueblos Indígenas del Amazonas – FIDA/CAF, La Paz; Saúde Sem Limites – SSL, São Paulo (Relatório Geral das Atividades da FOIRN no Ano de 1995. São Gabriel da Cachoeira, 25 de Março de 1996. Assinam: Bráz de Oliveira França, presidente, e Maximiliano Menezes, secretário).

muito maior (mais de 600%) do que a receita proveniente de outras fontes; como as doações nacionais (mais de 300%), aplicações financeiras (9,3% negativos); só perdendo para as vendas de produtos e serviços que cresceram mais de 1.000%.7 Nos seus poucos anos de existência (1994-2001) o ISA montou um leque amplo e diversificado de colaboradores e financiadores, composto por 70 entidades; congregou aproximadamente 150 especialistas, mais ou menos permanentes, de áreas diversas8 em torno de mais de 80 projetos9.

Sua sede localiza-se em São Paulo, onde se concentra quase todo o seu pessoal administrativo (19), mas possui também duas outras unidades de apoio; uma em Brasília/DF e outra em São Gabriel da Cachoeira/AM, onde trabalham duas pequenas equipes administrativas compostas por quatro e por três funcionários respectivamente. Suas áreas de atuação são as seguintes: produção e divulgação (em suportes áudio visuais, impressos e digitais) de dados sobre a temática sócio-ambiental, incluindo a produção e difusão de informações cartográficas e desenvolvimento de sistemas de informação geográfica; elaboração de diagnósticos sócio-ambientais para subsidiar propostas de desenvolvimento sustentável regional; monitoramento sobre as áreas protegidas (Terras Indígenas, Unidades de Conservação e outros tipos de terras públicas) do Brasil; monitoramento, análise e intervenção sobre legislação e políticas públicas que interferem de algum modo em direitos coletivos e difusos sobre o meio ambiente; monitoramento, análise e intervenção sobre formas de uso dos recursos naturais na Mata Atlântica; promoção de projetos de desenvolvimento sustentável e afirmação cultural junto a

7 Aproximadamente 80% das receitas do ISA provêm da cooperação internacional: 40,1% de ONGs estrangeiras; 15% de órgãos públicos estrangeiros; 13,8% de instituições multilaterais e 11,5% de fundações estrangeiras. As participações das fontes nacionais de receita são as seguintes: 7,4% de fundos públicos administrados pelo governo federal; 3,8% de empresas privadas; 2,0% da venda de produtos; 1,9% ONGs; 1,8% de fundos públicos administrados pelo governo estadual; 1,2% recuperação de despesas; 0,9% instituições de pesquisa; 0,5% de rendimentos de aplicações financeiras; 0,05% de sócios contribuintes; 0,01 venda de serviços (Instituto Socioambiental. Relatório Financeiro 2001. Plano Trienal 1999-2001. Encarte do Relatório de Atividades 2001).

8Administradores, contabilistas, produtores gráficos, jornalistas, documentalistas, programadores, administradores de rede, técnicos de suporte, geógrafos, advogados, biólogos, arquitetos, engenheiros florestais, engenheiros de pesca, agrônomos, antropólogos, sociólogos, pedagogos, ecólogos, botânicos, geneticista, demógrafos, historiadores, físicos, lingüistas, matemáticos, compositores musicais, pintores, fotógrafos e enfermeiros.

cumprir esta agenda o ISA se estrutura em setores de serviços permanentes, ou seja, que constituem a sua base de sustentação administrativa, financeira e logística (administração, comunicação, informática, desenvolvimento institucional e geoprocessamento), e de programas (ações de âmbito nacional e regional), projetos (ações de âmbito local e de consolidação institucional do ISA), grupos de trabalho (participação em fóruns de debate e redes de cooperação e de intercambio de informações com outras agências da esfera sócio- ambiental), temas (compilação, sistematização e divulgação de dados sobre questões específicas), e campanhas (produção e análise de dados sobre uma realidade sócio- ambiental para subsidiar propostas de intervenção).11

O Programa Rio Negro (PRN), coordenado por Carlos Alberto Ricardo, é uma das plataformas de ação mais importantes do ISA em termos do contingente profissional que mobiliza e do volume dos recursos financeiros alocados. O PRN visa proporcionar as condições para a formulação de um Projeto Regional de Desenvolvimento Sustentável Indígena no Rio Negro, costurado a partir de um conjunto de pequenos projetos demonstrativos. Seus componentes são: pesquisa, documentação e mapeamento (formas de uso dos recursos e de ocupação da terra, condições sanitárias, nutrição, demografia, doenças, etc.); experiências de manejo sustentável dos recursos naturais; educação, valorização cultural e afirmação étnica; e consolidação institucional da FOIRN e associações filiadas. Dentro desta linha de atuação estão: a Estação experimental de piscicultura no alto Tiquié; as escolas indígenas Baniwa/Curipaco no alto Içana, Tuyuca no alto Tiquié e o centro cultural Tariana no alto Vaupés; e a produção e comercialização de cestaria de arumã Baniwa no alto Içana. Está envolvido na consecução das metas do PRN o maior contingente de profissionais (40), aproximadamente 25% de todos os especialistas envolvidos em todas as atividades do ISA. A maior parcela do orçamento do Instituto é

10 Vide também o site: www.sociambiental.org, acesso em 03/05/2003.

11 Os programas são os seguintes: Brasil Socioambiental, Direito Socioambiental, Mata Atlântica, Rio Negro e Parque Indígena do Xingu. Os projetos são: Panará, Xikrin, Capacitação em Gestão para Organizações Parceiras Locais, Rede de Cooperação Alternativa e Avaliação Institucional. Os grupos de trabalho: Avaliação e Identificação de Ações Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade da Amazônia Brasileira; e Rede Amazônica de Informações Socioambientais Georreferenciadas. Os temas: Povos Indígenas no Brasil e Biodiversidade. A campanha e a seguinte: Diagnóstico Socioambiental da Bacia do Xingu.

somente a distribuição de despesas nas atividades fim (programas, projetos, temas, campanhas e grupos de trabalho).12

A estrutura administrativa da FOIRN cresceu devido ao novo contexto de gestão de montantes cada vez maiores de recursos financeiros e materiais e à necessidade de registrar, arquivar e processar informações referentes ao planejamento, execução, avaliação e divulgação de um conjunto crescente e complexo de tarefas e demandas. Também se investiu na logística de transporte e comunicação (embarcações e motores, sistema de radiofonia) requerida para vencer os obstáculos geográficos que dificultam a aproximação e sintonização políticas da Federação com as associações filiadas e comunidades indígenas.13 Outras agências de fomento (Misereor da Alemanha e Manos Unidas da Espanha) colaboraram para suprir algumas organizações locais com meios de transporte para desenvolverem tanto suas atividades políticas nas comunidades e sítios quanto para a melhoria das condições de comercialização da produção local (farinha, piaçava, artesanato, etc.). O sistema de radiofonias também foi ampliado com o apoio de outros parceiros como da organização Amigos da Terra.

A construção da nova sede e do centro cultural também recebeu uma injeção maior de recursos oriundos do Protocolo de Cooperação. Além da primeira parcela recebida da

12 O orçamento do Programa Rio Negro em 2001 chegou muito perto de um milhão e meio de reais (R$ 1.499.490,91). Instituto Socioambiental. Relatório Financeiro 2001. Plano Trienal 1999-2001. Encarte do Relatório de Atividades 2001.

13 Em janeiro de 1997 o patrimônio da FOIRN alcançava a cifra de R$ 978.409,00, computados tanto os bens móveis e imóveis lotados na sede (R$ 739.639,00) quanto os equipamentos (de escritório, transporte e comunicação) destinados para as associações filiadas (R$ 238.770,00). Uma grande parte deste valor (R$ 692.000,00) correspondia ao investimento nos dois imóveis onde se situa a sede da organização: um terreno de 27 metros de frente por 54 de fundo, no qual foram construídos um prédio de alvenaria com três pisos (no primeiro piso: cozinha, dois banheiros, sala de artesanatos; no segundo piso: uma loja de artesanato, seis salas de serviços e arquivo, uma sala de reunião, copa e banheiro; no terceiro piso: dois apartamentos, duas salas de serviços e sala para alojamentos) e uma maloca de 17 x 24 metros, e outro terreno de 24 x 30. Em móveis e equipamentos a sede estava bem provida de três aparelhos telefônicos, um de fax, uma copiadora xerox, dois micro-computadores, duas máquinas de escrever (uma manual e uma elétrica), um aparelho de radiofonia, escrivaninhas, armários de aço, cadeiras, ventiladores, estantes de madeira, etc. A FOIRN tinha então sete funcionários: um no setor de finanças, um na secretaria, um encarregado de serviços gerais, dois vigias noturnos e um operador de rádio. A sede contava com uma pequena frota composta por quatro motores de popa (três de 25 hp e um de 40 hp) e três botes de alumínio (dois de 8,40 m e um de 6,40 m). Distribuídos para as associações locais foram: oito barcos com motor de centro, oito motores de popa, um motor rabeta e quatro botes de alumínio (Relatório Geral de Atividades. Período de 01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 1996).

complexo formado pela sede e pelo centro cultural, que além de um local para as atividades de secretaria, administração e documentação serviria também para a realização de encontros, conferências, cursos, assembléias, biblioteca, exposições, artesanatos, eventos culturais, etc. Outros objetivos estratégicos eram imprimir no espaço físico da cidade de São Gabriel da Cachoeira a marca da presença e da força dos povos indígenas e da sua luta em defesa de seus direitos constitucionais assim como a autonomia do movimento indígena frente à estrutura material, institucional e valorativa salesiana.14 O CEDI encarregou-se da assessoria de um arquiteto enquanto as associações em contrapartida incumbiram-se de fornecer materiais e mão de obra para a construção. Foram solicitados recursos ao FIDA/CAF/PROPICA para o transporte de materiais (madeira e palhas) das comunidades para São Gabriel e para alimentação durante os trabalhos de mutirão.15 No caso das malocas indígenas do alto Tiquié contribuíram com seu conhecimento sobre a arquitetura e a simbologia das antigas casas comunais. Algumas comunidades do alto Tiquié e alto Vaupés se animaram com este movimento de reinvenção de tradições e construíram nos povoados antigos as antigas casas comunais, às quais foram atribuídas novas funções como realização de assembléias, dabucuris, festas, apresentação de danças, etc. A sede e o centro cultural/maloca foram inaugurados em abril de 1995 junto às comemorações do dia do índio.16

14 Com o aumento considerável das atividades da FOIRN, e considerando que o problema de infra-estrutura

sempre foi o grande desafio do movimento indígena do Alto Rio Negro por sempre depender das estruturas da Igreja Católica ao longo de sua trajetória passada para realizar seus encontros, assembléias e cursos ou outros eventos, desde os anos anteriores veio se discutindo alternativas para o problema. Não que a igreja esteja negando atualmente o apoio neste sentido, mas a necessidade de ter ambientes para desenvolver livremente suas programações coletivas na cidade que é o centro irradiador e cultural da luta indígena que foi sempre um sonho de todos, ter este espaço na cidade de São Gabriel da Cachoeira. [...] (Relatório

Narrativo de Atividades da FOIRN em 1993. Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. Assina: Bráz de Oliveira França, presidente). Sabemos que os salesianos simbolizaram a supremacia e grandeza do seu poder no Rio Negro através da edificação dos grandes monumentos arquitetônicos das sedes missionárias. 15 Correspondência da FOIRN para Jorge da Silva Terena, FIDA/CAF/PROPICA. São Gabriel da Cachoeira, 10 de Dezembro de 1993. Bráz de Oliveira França, presidente, Gersen Luciano, vice-presidente, e Maximiliano Menezes, secretário; e Correspondência da FOIRN para Jorge da Silva Terena, FIDA/CAF/TCA. São Gabriel da Cachoeira, 07 de Fevereiro de 1994. Bráz de Oliveira França, presidente. 16 Relatório Geral das Atividades da FOIRN do Período de Maio a Setembro de 1995. São Gabriel da