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Após a coleta dos dados, de posse de todo material, transcrito e revisado, procedemos à analise qualitativa e redação final deste empreendimento, contribuindo para aumentar a bagagem de conhecimento acerca da educação e das relações entre pais e filhos, provocando debates, incitando novas propostas, idéias, hipóteses para pesquisa.

Tendo como pano de* fundo o construcionismo, nosso estudo está pautado na produção de sentidos por meio da análise das práticas discursivas. Segundo Spink & frezza (1999) a proposta de estudar a produção de sentido representa uma força poderosa e inevitável da vida em sociedade e, buscar entender como se dá sentido aos eventos do nosso cotidiano faz com que novos horizontes se abram e novas perspectivas possam ser consideradas.

Segundo Pinheiro (1999, p.193)

Vivemos num mundo de sentido conflitantes e contraditórios. Lidamos não com o sentido dado pelo significado de uma palavra ou conceito que espelham o mundo real, mas com sentidos múltiplos, o que nos leva à escolha de versões entre as múltiplas existentes. Lidamos com uma realidade polissêmica e discursiva, inseparável da pessoa que a

conhece.

As bases do construcionismo encontramos em Berger e Luckmann em seu livro A Construção Social da Realidade, publicado originalmente em 1966. É válido

ressaltar que utilizamos apenas algumas idéias e conceitos sobre esta teoria no processo de análise, não sendo, portanto, nossa pretensão aprofundar e utilizar á' linguagem especifica.

Desta forma, o construcionismo parte do pressuposto que a realidade é socialmente construída, apoiando-se em três conceitos principais: a tipificação, a institucionalização e a socialização, visto como processos.

No conceito de tipiíkação, estes teóricos propõem que a “sociedade é um produto humano”, sendo algo interativo á medida em que a “base da realidade da vida cotidiana são as Interações face-a-face em que o outro é apreendido a partir de

esquemas tipificadores”. No processo de instUiscionalização, estes esquemas tornam-se comuns, habituais com o decorrer “das gerações e, como hábitos, adquirem autonomia e institucionalizam-se”, como por exemplo não fato da educação dos filhos com punições físicas ser algo visto quase ‘natural’, algo que é socialmente aceito e compartilhado. Neste processo, a realidade torna-se subjetiva e é internalizada e compartilhada através da socialização primária e secundária, caracterizando o ser humano como um produto social em constante transformação, dinâmico e capaz de enfrentar rupturas, gerando novos processo de ressocialização e tornando o não familiar em familiar, habitual, comum. ( Spink & Frezza, 1999, p. 25-26).

Nesta perspectiva, “A investigação sócio-construcionista preocupa-se sobretudo com a explicação dos processos por meio dos quais as pessoas descrevem, explicam ou dão conta do mundo (incluindo a si mesmos) em que vivem”, ou seja, como as pessoas dão sentido ao mundo, à realidade vivida. (Gergen citado por Spink & Frezza, 1999, p.26).

E assim, as práticas discursivas constituem o foco central de análise na abordagem construcionista. Neste caminhar, as práticas discursivas caracterizam ações, seleções, escolhas, linguagens, contextos, entre outros aspectos que constituem uma variedade de produções sociais. Estas práticas possibilitam um caminho privilegiado para entender a produção de sentidos no cotidiano das pessoas, dos grupos, das famílias, nas relações país e filhos. “Podemos definir, assim, as práticas discursivas como linguagem em ação, isto é, as maneiras a partir das quais as pessoas produzem sentidos e se posicionam em relações sociais cotidianas.” (Spink & Frezza, 1999, p. 45),

Conforme Spink & Menegon (1999) dar sentido ao mundo é uma atividade desenvolvida nas relações que fazem parte do dia-a-dia, permeado por práticas discursivas construídas a partir de uma diversidade de vozes.

As idéias com as quais convivemos, as categorias que usamos para expressá-las e os conceitos que buscamos formalizar são constituintes de domínios diversos (da religião, da arte, da filosofia, da ciência), de grupos que nos são mais próximos (famílias, escola, comunidade, meio profissional, etc) e da mídia em geral, (p, 63).

Seguindo esta base teórica, daremos fundamento no processo de análise dos dados que obtemos, aliada à literatura específica dos processos educativos autoritários e da utilização de punições física contra crianças e adolescentes.

Em termos de operacionalização da fase analítica, tendo como referencial o rigor científico como a “possibilidade de explicitar os passos da análise e da interpretação de modo a propiciar o diálogo” e a interpretação, buscamos sistematizar o processo de análise das práticas discursivas utilizando os mapas de associação de idéias com o objetivo de dar visibilidade ao processo de interpretação.

Os mapas têm o objetivo de sistematizar o processo de análise das práticas discursivas em busca dos aspectos formais da construção linguística, dos repertórios utilizados nessa construção e da dialogia implícita na produção de sentidos.

(Spink &, Lima, 1999,p.107)

Cada entrevista foi organizada em sua íntegra num mapa de associação de idéias que teve como eixos:

O Tema gerador concebido como o assunto, a pergunta norteadora que deu

TEMA GERADOR ASPECTO

COGNITIVO ASPECTO EMOCIONAL IMAGINÁRIO SOCIAL UNIDADE DE SIGNIFICAÇÃO

início ao relato. No aspecto cognitivo inserimos a parte do diálogo que descreve, explica o fenômeno, como o fato é visto no discurso do sujeito. No aspecto emocional, selecionamos a parte da entrevista em que o informante caracteriza alguma expressão de sentimento, atribui ao fato algum julgamento de valor ou adjetivo. No imaginário social coube a parte da discurso em que o sujeito se utiliza de 'justificativas' presentes no meio social para explicar o fato. E na Unidade de sigmfkação é a tradução/nomeação do significado daquela explicação fornecida pelo sujeito em relação a sua realidade, às suas emoções.

Após a confecção dos 12 mapas de associação de idéias, além do mapa do grupo focal, classificamos as unidades de significação, após um mergulho, um contato de maior profundidade nos mapas. A partir dai foram construídos os diagramas de significação. Estes são a representação gráfica dos discursos, formados por trechos dos diálogos que visam ao entendimento das razões que norteiam as atitudes manifestadas pelos indivíduos, ou seja, as suas práticas discursivas frente a educação de seus filhos e os-maus-tratos físicos na infância.

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