• Nenhum resultado encontrado

As diversas formas de violência, que englobam homicídios, suicídios, violência doméstica, acidentes de trânsito, se constituem um problema que atravessa diversos setores da sociedade e do Estado, dentre eles, podemos citar a ação social, a educação, a segurança, a defensoria pública, a justiça, as associações de proteção e amparo à infância, incluindo também, o setor saúde.

É uma problemática que se projeta na saúde, e, nos últimos anos tem merecido uma preocupação da saúde pública por conta dos elevados índices de morbimortalidade e por elevar os custos da atenção terciária, incluindo o atendimento pré, trans e pós-hospítalar, já que muitas vezes as vítimas necessitam de reabilitação por conta de sequelas causadas pela violência. >:

Segundo a OPAS (1995), a violência adquiriu um caráter endêmico e se converteu num problema de saúde pública por conta do número elevado de vítimas e da magnitude de sequelas emocionais que produz.

0 setor saúde constitui a encruzilhada para onde confinem todos os corolários da violência, pela pressão que exercem suas vitimas sobre os serviços de -urgência, de atenção especializada, de reabilitação física, psicológica e de assistência sociaL(OP&S, 1995),

Diante disso, a função tradicional da saúde perante a esta problemática tem sido diagnosticar e cuidar dos agravos físicos e emocionais, focalizando-se no paradigma curativo. .Azevedo & Guerra (1989) consideram que para se diagnosticar como abuso físico devemos ter em mente quatro elementos: a intencionalldade do agressor, as consequências do ato abusivo a curto e longo prazo, o julgamento de valor de um observador e a fonte de critérios para o julgamento.

A referidas autoras explicam que a violência doméstica contra crianças e adolescentes apresenta as seguintes características:

1) É interpessoal, permeando todas as classes sociais, sem discriminação de cor ou sexo.;

2) É um abuso do poder disciplinador e coercitivo dos pais ou responsáveis; 3) É um processo de vitimização que muitas vezes se prolonga por meses e até

anos, aprisionando a vontade e o desejo da criança ou do adolescente;

4) É um processo de maus-tratos à vítima, mantendo sua completa objetalização e sujeição;

5) É uma violação direta dos direitos fundamentais da criança e do adolescente como seres humanos, e, portanto, uma negação de valores essenciais como a vida, a liberdade, a proteção, e a igualdade;

6) “Tem na família sua ecologia privilegiada. Como esta pertence à esfera do privado, a violência doméstica acaba se revestindo da tradicional característica de sigilo”, fazendo com que as próprias vítimas sejam cúmplices do seu agressor, num pacto implícito de silêncio.

Analisando a atual Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências, lançada em 2001 pelo MS, percebemos que dentre as sete diretrizes fundamentais desta política, apenas uma envolve a implementação de estratégias para a promoção e prevenção à violência. Enquanto que as outras dão enfoque maior às estratégias que condizem com o paradigma curativo, ou seja, estas diretrizes estabelecem a assistência, monitorização e estruturação do atendimento voltado às vítimas de violência.

Destacando a violência física doméstica, já que se constitui alvo do nosso estudo, trazemos o trecho em que a política propõe medidas para combater esta situação:

Em relação à unidade familiar, as medidas estarão voltadas tanto para o reconhecimento quanto para a redução da violência doméstica envolvendo um conjunto de ações iniersetoriais, tendo em conta o caráter multifatorial para a sua determinação, principalmente com as áreas da justiça e da segurança pública. Assim, o desenvolvimento pautar-se~á pela tipificação da violência sofrida, considerando que os comportamentos violentos acontecem num contexto relacionai em que os sujeitos estão implicados ora como vítimas, ora como sujeito das agressões, e que as pessoas envolvidas nestas situações tendem a repeti-las, perpetuando a cadeia de agressões em que estão inseridas. (Portaria MS/GM 737, p.27-

28).

No Ceará, observamos também, o acompanhamento da mesma política, com uma implementação destas medidas já em andamento, se observarmos que em abril deste ano, a Secretaria de Saúde do .Estado - SESA, lançou em 2002 o prontuário único familiar para as equipes de saúde da família, contendo, entre muitos formulários, uma ficha para a notificação de maus-tratos, como forma de detecção precoce deste agravo.

Entretanto, percebemos que estas políticas trazem em sua essência, a demanda de recursos para a fase de diagnóstico precoce, tratamento e reabilitação das crianças vítimas de violência. Consideramos que tal política promove em maior grau as aÇões da atenção secundária e terciária, em detrimento das ações de promoção, prevenção da violência.

Minayo e Souza (1997, p.523) consideram que o setor saúde precisa buscar uhrapassar este enfoque apenas curativo e definir uma maior quantidade de estratégias preventivas destes agravos, tendo por base o conceito ampliado de saúde, num aspecto não só individual, mas também coletivo. As autoras destacam ainda, a importância da epi(jemio!ogiíâ como fatia do conhecimento que tem contribuído bastante para entendimento da complexidade que é o fenômeno da violência. Trazendo a proposta de vigilância à violência, a epidemiologia propõe uma orientação mais ética, “ voltada para a prevenção do que pode ser evitado e não apenas para a intervenção no que é tolerado.”

3 - O PROBLEMA DA PESQUISA

Nessa ciranda de idéias, a história nos ensina a compreender de uma forma mais clara como a sociedade atual se comporta frente à educação autoritária e o abuso infantil. Percebemos que é socialmente aceito quando um pai puxa a orelha de seu filho, trazendo-o com força para dentro de casa, ou quando uma mãe bate na criança num ônibus para que ela fique quieta. Entretanto, a mesma sociedade rejeita, repudia quando uma criança é trazida para o hospital mutilada ou espancada e rompe-se com o complô do silêncio, revelando que o agressor fora seu pai ou sua mãe.

Uma hora o disciplinamenio corporal é aceito socialmente, outra, é considerado crime. O Estado e a sociedade civil preocupam-se e intervém quando as crianças vitimizadas por seus país sofrem risco real de vida. Entretanto, permitem a existência e a manutenção de uma pedagogia que utiliza as palmadas como forma de disciplinar jovens e crianças. E como podemos então, discernir a palmada que educa e a palmada que fere, que machuca? O que os pais pensam e como avaliam a educação que estão dando aos filhos?

4

-OBJETIVOS

'