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MARKS AND SCARS: the authoritarian education: when does it exceed the limits?

Mciry Arme Fontenele Martins2 Jútia Sursis Nobre Ferro Bttcher3

RESUMO: Este artigo se constitui numa reflexão teórica que procura estabelecer relações conceituais entre educação autoritária, maltrato infantil e violência física de pais contra filhos, salientando que é difícil estabelecer uma linguagem única, com definições claras e precisas para um fenômeno tão complexo e polêmico, permeado por contradições e sentimentos. Consultando os estudiosos ligados ao tema, consideramos que a educação autoritária e abusiva alicerçada nos castigos físicos e/ou psicológicos constitui a raiz do maltrato infantil, da violência física de pais contra filhos, permeada por variáveis como a luta pela sobrevivência, as relações de poder e a mu ltigeracional idade.

PALAVRAS-CHAVE: Pais-fílhos - Educação - Maltrato Infantil

j ABSTRACT: This study is made up of a theoretical thought which aims at setting up j conceptual relationships among authoritarian education, child abuse and physical ] violence from parents towards their children, by pointing out that it is very difficult to I establish a unique language with clear and accurate definitíons in relation to a so j complex and polemic phenomenon, pervaded by contradictions and feelings. Afler j asking for advice to the specialists linked to this subject, we consider that the j authoritarian and abusive education founded on physical and/or psychological j punishment gives an origin to the child abuse, the physical violence from parents ■í against their children, permeated by variables such as the fight for the survival, the j relations of authority and the considerable number of generations.

i) j K.EY WOR.DS: Parents-children - Education - Child Abuse.

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INTRODUÇÃO

Ao pesquisar e escrever acerca dos processos educativos em famílias nos j. deparamos com um fato: há pais que maltratam, agridem fisicamente e castigam seus : filhos em nome de uma educação para impor-lhes ordem, disciplina e respeito e até

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< ‘proteção’. E o que mais nos surpreende é que tal fato é visto como natural, tornou-se ; um hábito tão arraigado e frequente em nossa cultura, como se fosse algo que seja : necessário a educação de uma criança.

!- Parte integrante da Dissertação de Mestrado em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará Enfermeira, Mestranda em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará e bolsista CAPES

Psicóloga, MD, PhD em Ciências Familiares e Sexológicas, Pesquisadora Associada Sênior da Universidade de Brasília e proba titular da Universidade de Fortalez.»

I Entretanto, alguns índices apontam para o crescente aumento da violência urbana nos grandes centros urbanos. Segundo o IBGE (2001) na década de 1990 os índices de violência aumentaram, e a proporção de jovens do sexo masculino (idade de 15 a 19 anos) que morreram por causas violentas (homicídios, suicídios e acidentes de ; trânsito) subiu de 63% para 68%. A sociedade brasileira encontra-se alarmada devido a estes altos números da violência e a realidade é bem mais complexa, não estando a solução na construção de mais prisões ou a contratação de mais guardas policiais, com fim de garantir a segurança.

O Governo, a sociedade civil e instituições organizam-se e promovem campanhas pela paz. Fala-se muito em mundo mais pacífico, busca-se uma cultura de paz. Entretanto a nossa inquietação surge: como pensar em harmonia e paz, se amck em milhos lares a educação dos falhos está pautada no castigo físico e/on psicológico e os pais são hostis e autoritários? Quando a imprensa divulga um caso de espancamento de uma criança por sua mãe, isto aconteceu por quê? A mãe é pré-julgada pela sociedade, o filho separado da família e se instala um processo de investigação, quando a intenção da mãe era dar umas boas palmadas para que o filho lhe obedecesse.

A Associação Brasileira de Amparo e Proteção à criança (ABRAPIA, dados de 1/3/2000) recebe cerca de 1.400 denúncias por ano, nas quais a violência física é a que possuí maior índice, representando 29,6%, ficando em segundo lugar a violência psicológica, com 28,5% do total de casos. Aponta ainda que em 47,7% dos casos, a própria mãe é a agressora.

Ao observar estes índices e procurar a causa de tantas denúncias, tudo isto nos leva à perguntas até então pouco esclarecidas. É necessário entender o processo que culminou com a denúncia. Se nos utilizarmos da metáfora de uma árvore, veremos que os frutos, as folhas e o caule são os elementos que nos saltam aos olhos. Entretanto não temos a consciência clara e precisa de que a raiz é a responsável por esta estrutura, por manter, nutrir e fixar a árvore à terra. De maneira semelhante, quando vemos uma criança toda machucada, espancada por seus pais, ficamos aterrorizados e só intervimos quando o fato já ocorreu. Não enxergamos a raiz do problema. E qual seria?

Partimos do pressuposto que a raiz encontra-se nas relações familiares estabelecidas e construídas no cotidiano do sistema familiar. Na forma como os pais

entendem, compreendem e adotam uma educação restritiva, autoritária, extrapolando para agressões físicas e psicológicas quando percebe sua autoridade ameaçada ou uma ordem sua não é atendida.

Este ensaio busca, na revisão teórica, refletir acerca dos processos educativos autoritários empregados pelos pais, que se utilizam de métodos punitivos como instrumento de força, coação e manutenção da ordem e da disciplina. Qual a diferença entre bater para educar e bater para maltratar? Buscamos estabelecer relações entre os conceitos de educação autoritária, maltrato infantil, violência física doméstica, salientando que é difícil estabelecer uma linguagem única, definições claras e precisas para um fato tão complexo e polêmico, permeado por contradições e sentimentos.

Ressaltamos que, de forma alguma, procuramos esgotar o assunto, mas levantar algumas questões, indagações conceituais a fím de somar aos conhecimentos já produzidos e de tornar consciente que o ato de bater em crianças não pode ser visto de forma tão natural e comum. Os autores com os quais estabelecemos um diálogo apresentam diversos conceitos e pontos de vistas diferentes, não havendo uma uniformização destes, o que nos leva a crer que esta nossa tentativa possa servir de guia para clarear idéias de outros estudos futuros sobre este tema,