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A análise e interpretação dos dados e informações

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA A

2.2. A dialética materialista como fundamentação teórico-metodológica

2.2.2. A análise e interpretação dos dados e informações

A análise e a interpretação dos dados e das informações foram realizadas com base nos pressupostos do método de abordagem dialético-materialista e com base na estratégia de elaboração de pesquisa exemplificada por Frigotto (1997)9 e nas sugestões para uma pesquisa

8 Segundo definição de microrregiões geográficas do IBGE.

9 Frigotto (1997) elenca os cinco momentos fundamentais como estratégia de elaboração de uma pesquisa conduzida pelo método materialista dialético. São eles: i) Na definição da problemática da pesquisa deve aparecer a postura do pesquisador. Jamais, segundo Frigotto, iniciamos uma pesquisa num patamar “zero” de conhecimento, partimos de condições que já foram postas, existentes de uma prática anterior. Essa postura possibilita o delineamento de questões básicas de investigação; ii) No trabalho de investigação da pesquisa, uma primeira atividade é a de realizar um resgate crítico da produção teórica já produzida sobre a problemática em questão; iii) Após esse resgate e levantamento de informações é preciso definir um método de organização e exposição do material coletado. Trata-se de discutir conceitos e categorias analíticas para orientar a análise e explicação da realidade investigada; iv) Posteriormente, através da análise dos dados e informações são estabelecidas conexões, mediações e contradições entre objetos, fatos e fenômenos que constituem a problemática pesquisada. Nota-se, nesse momento, as primeiras impressões sobre a problemática são superadas, passando-se “ao concreto que expressa o conhecimento empreendido da realidade” (FRIGOTTO, 1997, p.89), o concreto pensado; v) O último momento da estratégia é a elaboração da síntese, é “a exposição orgânica, coerente, concisa, das ‘múltiplas determinações’ que explicam a problemática investigada” (FRIGOTTO, 1997, p. 89). Aqui, também, além de se explicitar as questões pendentes, se discutem eventuais redefinições de categorias e as implicações para a apreensão da realidade concreta.

na linha dialética de Triviños (1987). Desse modo, a caracterização do procedimento realizado se resume em três partes:

A primeira parte, compreendeu a contemplação do fenômeno, envolvendo o resgate da produção teórico-metodológica já produzida sobre a problemática estudada, como também, levantamentos iniciais, agrupamentos e sistematização de dados sobre o tema da pesquisa.

Nessa primeira parte da pesquisa, atribuímos, também, atenção para a determinação de categorias analíticas específicas, entendidas como fundamentais para a apreensão da realidade e para a construção do conhecimento sobre a temática estudada.

 Com esse entendimento, tomamos a totalidade como categoria de análise que possibilita a compreensão da realidade de uma forma ampla e complexa, visto que possibilita a apreensão do conjunto de relações existentes entre os objetos, os fatos e os fenômenos de forma a transcender a soma destes e das suas individualidades. Dessa forma, a totalidade, como explicou Caio Prado Junior (2001, p. 24), “é sempre mais que a simples soma de suas partes”, ou seja, a totalidade só é apreensível através da consideração dos sistemas de relações nos quais as partes estão inseridas. Isso porque o significado – a essência – das partes não é o mesmo, se considerado independentemente do conjunto e sistema de relações.

 Por conseguinte, compreendemos a contradição como categoria analítica capaz de fornecer subsídios, com base na teoria marxista e no método dialético materialista, para a compreensão da realidade. Isso, pois, a contradição expressa uma relação de conflito, de coexistência de forças opostas, uma “tensão entre o já sido e o ainda-não [...] que possibilita o surgimento e implantação do novo, pois penetra no processo, do começo ao fim, no desenvolvimento de todas as coisas” (CURY, 2000, p. 31, grifo do autor). A categoria contradição revela, desse modo, o processo de oposição contrastante entre duas forças, que se fundem, gerando uma nova realidade, a síntese. Pode ser compreendida, portanto, como propulsora do movimento de desenvolvimento dialético da realidade.

 Compreendemos a mediação como a categoria que exprime “relações concretas, [vinculando] mutua e dialeticamente momentos diferentes de um todo” (CURY, 2000, p.43). Assim, ao entendermos que há uma articulação e conexão dialética

entre tudo que existe na realidade agrária, através dessa categoria foi possível expressarmos as relações em sentidos diversos e opostos entre os objetos, os fatos e os fenômenos que compõe a totalidade.

 Também entendemos a historicidade como categoria explicativa do movimento constante do desenvolvimento da sociedade no espaço-tempo, possibilitando, desse modo, a compreensão dos fatos e fenômenos na complexidade dialética da história.

 O território, por sua vez, compreendido como expressão da territorialização (seja física ou simbólica) do espaço pela sociedade, mediante a materialização, diacrônica e sincrônica, das relações econômicas, políticas, culturais e sociais, também foi tomado como categoria analítica específica da pesquisa.

Na segunda fase metodológica da pesquisa, denominada de análise do fenômeno, apreendemos a dimensão abstrata dos conceitos e tipologias utilizadas na caracterização da estrutura agrária e fundiária no Brasil, bem como do contexto histórico, político e econômico no qual estas tipologias foram criadas e/ou modificadas. Essa segunda fase metodológica se configurou no que Marx denominou de apreensão do concreto (a materialidade da realidade) e sua representação no pensamento (o concreto pensado).

Assim, buscamos estabelecer conexões e mediações do processo de criação e/ou modificação dos conceitos e tipologias de interpretação da estrutura agrária e fundiária com o contexto histórico, político e econômico brasileiro e com a própria realidade agrária do Brasil.

Procuramos, portanto, através do embasamento teórico realizado e através das informações coletadas e sistematizadas, a produção de uma análise teórica-crítica, alicerçada em informações qualitativas e quantitativas, para que pudéssemos apreender além das determinações aparentes, as múltiplas relações (no espaço e no tempo) entre as partes constituintes da totalidade, representando-as mentalmente por meio de ideias e interpretação de conceitos.

Na terceira fase metodológica, denominada de realidade do fenômeno, avançamos na parte interpretativa da pesquisa, etapa em que visamos a exposição da síntese. Ou seja, a terceira fase metodológica da pesquisa foi caracterizada pelo momento de transformarmos o abstrato em concreto novamente. Momento em que refizemos “a viagem no sentido inverso”, tendo, dessa vez, um “rico conjunto de determinações e relações complexas” que possibilitaram a interpretação da realidade concreta analisada, para além da simples aparência

dos fatos. Assim, nesse processo, realizamos a descrição das múltiplas relações, mediações e contradições (sincrônicas e diacrônicas) existentes entre as partes que constituem o processo de construção, desconstrução e reconstrução de conceitos e tipologias de interpretação da estrutura agrária e fundiária no Brasil, de modo que, acreditamos, estarmos produzindo novas sínteses no plano da realidade, ou seja, estaríamos produzindo novos conhecimentos.

3. A APROPRIAÇÃO DA TERRA NO BRASIL – DAS CAPITANIAS