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3.3 ESCOLA: AGÊNCIA DE LETRAMENTO 78

3.3.1 A aprendizagem permanente 103

A escola, como espaço de sociabilidade, pode beneficiar-se com ações que permitam ampliar a cognição do indivíduo, privilegiando habilidades e competências requeridas no campo das interações sociais por meio da internet e da convergência de mídias, e não só em momentos presenciais, pois a escola pode promover atividades educativas que continuam após o encerramento do horário letivo. Nessa direção, alguns autores chamam a atenção para a aprendizagem permanente, colocando em relevo o processo que se estabelece entre a escola e o mundo experienciado pelo aluno fora dela.

Moran (2007), por exemplo, apresenta a sala de aula como um espaço de início e finalização de atividades de ensino-aprendizagem. O meio desse processo será intercalado com momentos em que frequentamos outros ambientes físicos. Nesse modelo, a aprendizagem cerca-se de variadas situações, dentro e fora da escola. As mídias, por sua vez, encarregam-se de ampliar os espaços das interações socioculturais, tornando a presença constante, mesmo que distante fisicamente. O autor acrescenta ainda que a “mobilidade e a virtualização nos libertam de espaços e tempos rígidos, previsíveis e determinados. Na educação, o presencial se virtualiza e a distância se presencializa” (MORAN, 2007, p. 89).

Acerca desse tema, Libâneo (2001, p. 20) projeta a “escola como lugar de síntese entre a cultura experienciada, que acontece numa cidade, nos meios de comunicação e muitos outros aportes culturais, e a cultura formal”. O autor diz ainda que

[...] há hoje um reconhecimento de que a educação acontece em muitos lugares, por meio de várias agências. Além da família, a educação ocorre nos meios de comunicação, nas empresas, nos clubes, nas academias de ginástica, nos sindicatos, na rua. As próprias cidades vão se transformando em agências educativas por meio de iniciativas de participação da população na gestão de programas culturais, de

organização dos espaços e equipamentos públicos (LIBÂNEO, 1988, p. 26).

Caminhando na mesma direção de Moran e de Demo, Pablos (2006, p. 73) apontam o ensino bimodal como alternativa educacional para flexibilizar os processos de aprendizagem. Esse tipo de ensino trata da inclusão das interações midiáticas no processo de ensino-aprendizagem de cursos presenciais. Envolve também o fazer docente em integrar e combinar práticas das duas modalidades de ensino em uma abordagem de aproximação da disciplina com os alunos – apropriando-se da linguagem utilizada por eles; de flexibilização dos processos de aprendizagem – promovendo a personalização dos processos de acesso ao conhecimento; e de dinamização do ensino – estabelecendo a interações midiáticas e a autoria sem haver distinção entre o espaço físico e o virtual para que ocorram os processos de aprendizagem. Esse é um paradigma ainda a ser incorporado na escola.

Nesse sentido, Demo (2008, p. 1) defende que a expectativa mais profunda na era digital é a da “aprendizagem permanente (everytime, everywhere): como um direito de todos poderem aprender em qualquer lugar e tempo, mesclando presença física e virtual”. Embora, muitas vezes, o aluno só identifique o momento em que está fisicamente na escola como o de aprendizagem. Desse modo, visualiza a escola como um lugar desvinculado das práticas socioculturais que o cerca fora da escola.

A esse respeito, Santaella (2010, 2013a) explora o termo aprendizagem ubíqua para nomear um tipo de aprendizado aberto, que pode ser obtido em quaisquer circunstâncias, mediado pelos dispositivos móveis. A autora ressalta que esse tipo de aprendizagem é complementar as outras, já que todas têm suas limitações.

Nesse processo, a aprendizagem permanente faz parte da mudança cultural que mencionamos no início dessa reflexão, pois entendemos que práticas que estimulem a continuidade do processo de ensino-aprendizagem em outros espaços – físico e virtual – devam ser estimuladas pelos gestores e planejadas pelos professores com o apoio dos coordenadores pedagógicos.

Com um foco maior na exploração de conteúdos que convergem, a escola pode beneficiar-se da convergência de mídias para estimular e promover aprendizagens mais abertas e não ficar distante dessa oportunidade, por exemplo, com a proibição ou restrição do uso de tecnologias e mídias no ambiente escolar. Desse modo, a escola, ao abraçar o

letramento midiático, seja por evento26, seja por prática27, seja por projeto28, promove um processo de ensino-aprendizagem aberto e interdisciplinar ao conectar a escola e a vida, pelo conhecimento formal e informal.

Por sua vez, Livingstone (2011, p. 13) sugere que o conceito de “literacidade” comporta “um conjunto de habilidades básicas e avançadas relacionando aptidões individuais com práticas sociais, cruzando a fronteira entre o conhecimento formal e informal”. Entretanto, não é fácil romper as práticas tradicionais e fragmentadas de um currículo escolar dividido por disciplinas. Assim, para que a escola seja viva e aberta ao mundo, é necessário estabelecer uma conexão entre as atuais demandas socioculturais, as diretrizes curriculares oficiais, as linguagens e as mídias.

Já segundo Oliveira, Tinoco e Santos (2011, p. 33), “uma ação de letramento, envolvendo linguagem, só tem sentido se atender ao interesse do usuário e estiver vinculada a um fato relativo ao mundo social do qual ele faz parte”. As autoras acrescentam que “a aprendizagem funciona, então, como uma forma de construção do conhecimento que se instaura a partir de um processo dialético [relação do passado- presente-futuro; individual-coletivo; local-global]” (OLIVEIRA; TINOCO; SANTOS, 2011, p. 48).

Pensando na articulação de uma aprendizagem que seja permanente, indo além da sala de aula, sem que haja a separação e a fragmentação do processo de aprendizagem e que, ao mesmo tempo, privilegie o letramento midiático, sugerimos a aprendizagem transmídia como prática de ensino-aprendizagem na escola, em que os professores são agentes desse letramento.

Para tanto, antes de apresentarmos a aprendizagem transmídia, julgamos ser relevante para esta pesquisa, conhecer alguns dos processos de educação para as tecnologias e mídias a partir da educação formal. Por essa razão, no capítulo a seguir, apresentaremos alguns modelos de aprendizagem que têm privilegiado a interface entre a

26 O evento de letramento “corresponde a uma situação qualquer em que uma pessoa ou várias estejam agindo por meio da leitura e da escrita” (OLIVEIRA; TINOCO; SANTOS., 2011, p. 21).

27 As práticas de letramento são “formas culturalmente aceitas de se usar a leitura e a escrita as quais se realizam em eventos de letramento. Envolvem não apenas o que as pessoas fazem, mas o que elas pensam sobre o que fazem e os valores e ideologias que estão subjacentes a essas ações” (BAYNHAM, 1995, p. 39 apud OLIVEIRA, 2008, p. 102).

28 Projeto de letramento envolve a “prática social em que a escrita é utilizada para atingir algum outro fim, que vai além da mera escrita” (KLEIMAN, 2000, p. 238 apud OLIVEIRA; TINOCO; SANTOS, 2011, p.

mídia, a educação e a comunicação, bem como apresentamos as orientações pedagógicas para a aprendizagem transmídia.

4 A APRENDIZAGEM TRANSMÍDIA COMO UMA ABORDAGEM TEÓRICO- PRÁTICA DE ENSINO-APRENDIZAGEM

A forma como o professor planeja sua aula, ou seja, as estratégias de ensino que adota e a dinâmica de participação que propicia em sala de aula, pode resgatar o interesse dos alunos pela disciplina, mesmo para aqueles que relatam não gostar de uma ou outra matéria. Com o intuito de instaurar uma dinâmica mais interacional entre os alunos e o objeto de conhecimento, neste capítulo, apresentaremos as orientações pedagógicas para a adoção da aprendizagem transmídia como estratégia de ensino.

4.1 ABORDAGENS TEÓRICO-PRÁTICAS: TECNOLOGIAS E MÍDIAS NA