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8. Conclusão

1.4. A ascensão de Felipe III e o fim da União Ibérica

Na década de 20 ascendeu ao trono da Espanha Felipe III, o qual denominou como ministro o Duque Conde Olivares. As medidas tomadas pelo ministro foram voltadas para a retomada da guerra, de modo a pôr fim à paz com a Holanda. Com seu fim, alguns aspectos podem ser ressaltados: primeiro, com o retorno da guerra, incrementaram-se os ataques dos holandeses ao território espanhol; e segundo, para enfrentar a guerra, Olivares passou a aumentar as cobranças em relação às suas possessões de forma arbitrária. Parte da aristocracia portuguesa, com inúmeras perdas coloniais, viu a necessidade de se afastar politicamente da Espanha para não ter seu território colonial açambarcado.

Os espanhóis, devido ao longo período de enfrentamento, com as potências europeias (a Inglaterra, a Holanda e a França), tiveram que por diversas vezes recorrer a banqueiros com o intuito de se manter belicamente perante os países que o atacavam. Essa política econômica

implicou num endividamento da Coroa espanhola no momento da tentativa de ascensão dos anos 20 e 30. Parte da historiografia portuguesa interpretou que esse momento espanhol prejudicou os portugueses ligados a Coroa de Castela.

Nesse sentido, para Saraiva (1940), a União com a Espanha foi um prejuízo para Portugal. O autor segue uma linha interpretativa de cunho nacionalista português, que procurou interpretar as ambiguidades entre as nações ibéricas31. De maneiras às vezes diferentes, várias gerações de autores portugueses, procuraram culpar a Espanha pelos acontecimentos que perpassam a história lusitana do século XVII. Isto é, para eles, o fato de Portugal ter se unificado à Espanha, levou o seu império ultramarino a ser à mutilação.

A linha analítica que Saraiva (1940) adota é bastante popular na historiografia portuguesa, nela entende-se que as causas pelas quais se fizeram a restauração portuguesa estão relacionadas diretamente à atitude imperialista dos espanhóis, acima de tudo, no papel desempenhado por Olivares. Como a Espanha estava em guerra com os países europeus, acabou por impelir aos portugueses os ataques dos ingleses, franceses e holandeses, que dilaceraram o seu império, o que descontentou a população portuguesa. Os espanhóis, portanto, ao tratarem das causas de Portugal teriam sido visivelmente desonestos.Havia, também, sobretudo, a questão dos impostos, nos quais os espanhóis tomavam como desculpas, grosso modo, a guerra com a França, a luta contra os holandeses (em favor dos portugueses no Oriente), etc. para justificar as retiradas de dinheiro de Portugal (SARAIVA, 1940, p. 62 - 93).

Da mesma edição do evento em comemoração aos 300 anos da Restauração, Guimarães afirmou que a nobreza portuguesa tinha uma tendência natural anti-castelhanista (GUIMARÃES, 1940, p. 141). Carvalho mostrou que o nacionalismo português foi extremamente importante para a independência em 1640, prova disso foram as várias reedições (onze) de Camões entre 1580 – 1640 (CARVALHO, 1940, p. 157), medidas todas que teriam cimentado o nacionalismo português em detrimento da presença estrangeira dos espanhóis. Poderíamos continuar a explicitar as ideias de outros autores, o que seria desnecessário, na medida em que todas estão ligadas a estas. Em suma, houve uma linha historiografia portuguesa que procurou (e ainda procura) valorizar o caráter do nacionalismo do país em detrimento do caráter estrangeiro e prejudicial dos espanhóis no século XVII. Para essa historiografia, a União-Ibérica já nasceu predestinada à separação, uma vez que os espanhóis eram, deveras, usurpadores do trono português.

31 Muito dessa visão nacionalista da historiografia portuguesa pode ser resumida nos longos artigos do

António Manuel Hespanha, em uma série de textos, procurou repensar essas questões relativas à União Ibérica32. Segundo ele, o nacionalismo da geração que citamos acima apenas obscureceu a interpretação histórica do período: ―a história que se fez desde há séculos – por

vezes quase desde o momento em que os fatos se passaram – fixou no senso comum uma série de imagens que hoje estão tão enraizadas, que custa muito removê-las”(HESPANHA, 2001,

p. 117). No que se refere à questão da Restauração, sua história como discurso político começou a ser construída logo após 1640, pois os escritores dessa geração em diante se viram diante da necessidade de se ancorarem em um ponto que lhes pudesse dar argumentos e sentido para a construção de um discurso contra os espanhóis, já que a independência portuguesa apenas foi reconhecida em 1668. Parte desse discurso esteve (e em certa medida ainda está) presente na historiografia que concerne ao período filipino, isto é, a ideia de que no período da União Ibérica, os portugueses sempre se opuseram aos espanhóis. Essa é uma visão criada nas cercanias de 1640. No momento da união das Coroas não se possuía tal noção, visto que, segundo Hespanha, é possível encontrar testemunhos que datam do século XVI, nos quais os portugueses se mostram animosos perante a relação com os castelhanos e seu projeto de união. Apesar disso não houve problemas em relação à nacionalidade do Habsburgo, pois, antes, o que se dava valor era a legitimidade de sua ascensão (HESPANHA, 2001, p. 140 141). A população portuguesa, os nobres, o exército, os comerciantes, etc., em geral, não questionaram Felipe II porque sabiam que sua elevação à Coroa tinha sido legítima:

Nas primeiras quatro décadas de governo dos monarcas Habsburgos em Portugal, a questão central de organização do governo foi esta de garantir um fluente acesso ao rei. Procura garantir-se a residência em Portugal; sendo impossível, a de um seu parente próximo. Estabelece-se que o idioma de Governo seja, em Portugal, o português. Que as cortes sejam celebradas em Portugal e, continuamente, pede-se que o rei visite o reino e pagavam-se para isso somas avultadas (HESPANHA, 2001, p. 141).

O rei espanhol era, legitimamente, rei português. Há, dessa forma, uma importante mudança no foco analítico que implica mais dinâmica ao período final da União, assim, os últimos anos que decidiram o fim da União Ibérica. Para o autor português, a revolta de 1640 foi influenciada pelas camadas da sociedade portuguesa que não estavam de acordo com o rei

32 A tese não é original. Por exemplo, a mesma conclusão se observa em: (FRANÇA, 1997). A tese é de 1951.

Na tese o autor mostra que no momento da União Ibérica, ela foi bem vinda pela população portuguesa e que apenas depois se passou a questionar. Contudo, se destaca o texto de Hespanha pelo caráter revisionista e que procura romper com a historiografia tradicional.

espanhol, mas, isso apenas depois de 1630, no contexto da política de reestruturação de Felipe IV da Espanha, a qual descontentou de fato a população portuguesa.

Assim, o poder monárquico português do século XVII, em vários sentidos, se encontrava bastante preso ao passado. Devido à liberdade que Portugal tinha para resolver as questões de seu reino, as camadas dominantes mantiveram o status quo, continuaram com a mesma importância social. Quando Felipe IV entrou no poder, tentou ―modernizar‖ o poder em Portugal, desencadeando uma série de fatores que descontentou essas camadas tradicionais, entre elas, sobretudo, as medidas tomadas a respeito de uma reforma fiscal:

Há, evidentemente, a insatisfação perante a pressão fiscal, sublinhada numa longa série de estudos do maior especialistas da época, António Oliveira. Mas a luta antifiscal é, também ela, um fenômeno complexo, porque, atingido o fisco diferentemente os vários grupos sociais, as estratégias de reação de cada um deles é diferente, sendo até frequente que cada um procure lançar sobre os outros os impostos que não quer pagar. Ou seja, também aqui a estrutura particularista da ordem jurídica, baseada no privilégio, dificulta a organização de uma posição unificada, contribuindo, ao invés, para fragmentar e corporativizar as reações. (...) o povo pede a tributação da nobreza e da Igreja; esta insiste nos seus privilégios fiscais e sugere meios que recaíam apenas sobre os contribuintes tradicionais; os nobres procuram eximir-se por meio de serviços militares (...) os pobres apontam para as elites econômicas e para tributos sobre a riqueza, ou pelo menos, que repartam a carga ―com igualdade‖; as elites concelhias, por sua vez, apostam na finta sobre si repartidas, em que, naturalmente, os menos poderosos arcariam com o peso principal do tributo; os oficiais, para salvaguardar as suas pagas, querem que se limite a liberdade régia, sobretudo, de doações à nobreza; mas já não estão de acordo em que essa limitação atinja, também, as Tenças; os detentores de juros procuram graduar os seus créditos antes das Tenças; e entre estes surge uma férrea guerra quanto à precedência dos pagamentos (HESPANHA, 2001, p. 144 - 145).

Em suma, todos se preocupavam apenas com as questões ligadas à sua posição social, na medida em que eram atingidas diretamente. Segundo a historiografia tradicional, a avalanche fiscal da década de 30 em diante, se deveu à necessidade de cobrir os gastos espanhóis com sua guerra européia. Contudo, para o autor de Às vésperas do Leviathan, este ponto de vista é mais um equívoco historiográfico, uma vez que os gastos portugueses na guerra hispanoeuropeia teriam sido mínimos. As tributações, portanto, como dito acima, procederam da tentativa dos espanhóis de ―modernizar‖, a partir de 1630, o sistema tributário português, tanto da Espanha quanto em Portugal.

A partir disso, Hespanha enumera fatores que implicaram na necessidade dessa reforma, quais sejam: setenta anos de estabilização da Coroa; estancamento das receitas

comerciais no sentido de minimizar os déficits; o aumento progressivo e acelerado dos juros advindos de dívidas anteriores; e o aumento qualitativo dos custos com a guerra (HESPANHA, 2001, p. 162).

Ao tomarem medidas no sentido de melhorar a economia de Portugal, os espanhóis provocaram uma revolta que acabou levando à independência do país. Contudo, em longo prazo, os portugueses teriam desfrutado das mudanças, as quais não foram percebidas de imediato, sobretudo, pelo fato de se ter criado um idealismo contra os espanhóis. Dessa forma, os únicos aspectos que foram escritos da história da União são aqueles relacionados aos problemas que os espanhóis supostamente trouxeram para Portugal depois de 1580, isto é, os ataques dos países europeus às possessões portuguesas, o incremento fiscal devido às guerras, e, em suma, a queda do império ultramarino português.

Para nós os motivos que levaram os portugueses a se revoltarem contra os espanhóis foram, sobretudo, se devem às perdas sofridas nas colônias (o comércio com o Oriente, e a perda de Pernambuco em 1630) as quais juntamente dos fatores supracitados, influenciaram definitivamente a Restauração. A grandeza de Portugal estava, pois, em suas conquistas, como ressaltava Camões; não por acaso pulularam publicações de Os Lusíadas no contexto da independência.

O comércio das colônias sustentava parte da nobreza do país, e as diversas perdas irritaram profundamente a aristocracia ligada a esse comércio; isso, concomitante à atitude dos espanhóis em relação à administração lusitana, que a nosso ver entendeu-se como abusos dos espanhóis, levou a parte da sociedade de Portugal a se colocar contra a União.

A partir de 1630, aproximadamente, incrementou-se, portanto, a ideia de separação; passaram a conceber o rei espanhol como um intruso que apenas trouxe problemas, ainda que nem todos pensassem desse modo, o peso ideológico desse discurso foi muito grande, ao ponto de persistir historicamente.

Por outro lado, é inegável que o período da União foi positivamente importante para a colonização. Primeiro, porque permitiu o desenvolvimento do açúcar; segundo, porque com o Asiento espanhol, desenvolveu-se o tráfico de escravos33; e terceiro, porque a administração portuguesa sofreu mudanças importantes, principalmente, nas formas de cobrar as taxas e administrar os domínios coloniais. O maior exemplo dessa influência é o próprio

Conselho Ultramarino de 1643, órgão máximo das decisões coloniais e que tem uma

influência direta do Conselho das Índias, instituição espanhola. Outro ponto é a divisão do

Brasil em dois pólos, que data de 1621, em Estado do Grão Pará e Maranhão e Estado do Brasil. Em 1628 dividiu-se a arrematação dos dízimos por capitanias, ao contrário do que era antes por montante entre os Estados (CARRARA, 2009, p. 39). Apesar de não ter sido devidamente percebida pelos contemporâneos, a administração colonial espanhola se fez sentir diretamente nas colônias do império português e assim continuou depois da separação.

2. O fim da União Ibérica e a reorganização política do império

Depois que houve o fim da União Ibérica, a Coroa portuguesa entrou em uma profunda crise política. Primeiro, D. João teve que se manter no poder frente às investidas espanholas; segundo, assegurar suas colônias e se assegurar para não ser mais atacado pela Holanda; e, terceiro, ter a Coroa reconhecida pelos europeus.

Fazendo um balanço rápido da situação de Portugal, o país estava indefeso perante a enormidade das circunstâncias. Em relação ao assunto militar, os portugueses encontraram vários problemas: sua população não passava de 1,2 milhões de habitantes, entre os quais apenas cerca de 2000 homens estavam aptos para serem soldados, a marinha praticamente não tinha navios, as fronteiras estavam completamente desprotegidas, o exército não tinha armas, tampouco munição, e, consequentemente, o país não tinha dinheiro para custear uma guerra em defesa de seu território (PIRES, 2009, p. 339). No sentido de enfrentar os problemas militares, o rei criou em dezembro de 1640 o Conselho de Guerra, que buscou angariar meios de manter o exército (CAETANO, 1967, p. 40).

Como era impossível se assegurar no poder guerreando com a Espanha, a saída da nova Coroa teve que ser baseada em acordos diplomáticos que envolveram também a recuperação de Pernambuco e de Angola.

Com o intuito de se manter independente da Espanha, D. João teve que trabalhar em várias frentes diplomáticas, tanto na Europa quanto nas suas possessões ultramarinas. No reino teve que garantir a independência, trabalho não tão difícil tendo em conta a insatisfação dos portugueses para com as medidas tomadas pelo rei espanhol a partir de 1620 e o advento do visconde Olivares(HESPANHA, 2001, p. 144 - 145). Embora, tenha havido várias insurreições internas após 1640 (PERES, 1934, p. 14 15), principalmente, depois da morte de D. João a qual fez insurgir uma querela interna à Coroa pela sucessão ao trono.

Na Europa, os problemas foram mais complexos, na medida em que, mesmo em guerra com a Espanha, os países poderiam não reconhecer a independência portuguesa

impelindo os Habsbugos a retomar seus poderes, ou na pior das hipóteses, retalharem completamente o indefeso império português. Ao que concerne às possessões, o trabalho foi de assegurar que o sistema político-econômico continuasse, isto é, que os portugueses reinóis ligados à Coroa detivessem os privilégios de arrecadar seus tributos e poderes, legislando, aplicando a fiscalização, etc. Cada qual dentro das especificidades locais.

Tendo em vista a hostilidade militar do período, e em comparação às possibilidades dos portugueses nesse sentido, sobressai a capacidade que tiveram os lusitanos de sair da crise histórica que se encontravam, para isso a agilidade diplomática foi a saída de excelência. Teses em defesa da nova monarquia foram criadas e enviadas aos países europeus com intuito de os convencerem da legitimidade portuguesa (PERES, 1934, p. 20), tratada como simples revolta local. Nessa investida, após a Restauração fizeram-se constantes viagens a esses países com o intuito de fortalecer as relações diplomáticas estabelecidas e por estabelecer (BEIRÃO, 1940, p. 712 - 715).

Diante dessa nova forma de estruturação política fez-se necessário um levantamento de quanto se teria que arrecadar em homens e munições para enfrentar a guerra:

As cortes, abertas a 28 de Janeiro de 1641, tinham encarado de frente os problemas mais urgentes: a defesa das fronteiras, o fomento econômico do País em ordem de produzir matéria coletável, e simultaneamente a reorganização das finanças. Havia-se ajustado levantar um exército de 20:000 homens de infantaria e 4.000 de cavalaria. Fora computada em 1.800:00 cruzados a cerba necessária ao levantamento e municiamento desse exercito, soma que em breve se reconhecia dever ser elevada a 2.000:000. (PERES, 1934, p. 23)

Assim, organizaram-se as tropas portugueses dentro do território lusitano europeu, cuja formação era problemática, estruturalmente, mal organizadas e até então incapazes de defender o país de um ataque maciço (HESPANHA, 1994, p. 223 – 224). Por isso, a diplomacia foi um dos meios (talvez o principal) através do qual foi possível assegurar a independência portuguesa.

Logo após o 1 Dezembro, os espanhóis passaram a enviar soldados às regiões limítrofes, por isso, as viagens diplomáticas visaram buscar, acima de tudo, apoio militar para se defender dos ataques espanhóis(BEIRÃO, 1940, p. 712 - 735). Sem o auxílio externo, na visão da época, Portugal seria novamente anexado.

Em 1641, a França fez um acordo militar com Portugal, reconhecendo sua independência, não antes de propor um ajuste por parte dos portugueses com a Holanda. Tratado em torno do qual geraram muitas discussões, pois, estavam em disputa as regiões

recentemente conquistadas pelos holandeses. Desse modo, ao invés de um acordo de paz definitivo, houve tão somente e estrategicamente, de ambas as partes, uma trégua de 10 anos. Se por um lado os portugueses assinassem qualquer tratado de paz definitivo, teria com isso que reconhecer o status quo holandês nas Índias orientais e ocidentais. Por outro lado, os holandeses, em guerra com os Habsburgos, teriam como aliado temporário os portugueses. Por fim, decidiram que ambos se ajudariam mutuamente contra a Espanha e não se atacariam mais no ultramar pelo menos durante 10 anos estabelecidos em acordo.

Com os ingleses as negociações foram mais difíceis, sobretudo, pelo fato de ao saberem dos termos em que se deu a conciliação com os holandeses, (liberdade mútua de comércio), eles exigiram uma equidade aos batavos nas negociações. Mais especificamente, as maiores objeções foram: fretamento e compra de navios, liberdade de comércio e liberdade de culto, nas possessões ultramarinas, o que significaria uma abertura sistemática das colônias. O acordo foi firmado apenas em 1642, depois de muita discussão e de os portugueses oferecerem o posto de nação favorecida no comércio aos ingleses e de, futuramente, serem negociados mais privilégios. Os portugueses necessitavam do auxílio externo para se defender da Espanha, por isso, não tinha como exigir muito além do que pediam os ingleses. Em 1654 e 1661 se firmaram os principais acordos entre os países.

À Dinamarca foi Sousa Coutinho que teve sucesso firmando tratados de auxílio mútuo, com o envio de tropas, navios e armas a Portugal durante guerra de restauração. Apenas, e, sobretudo em Roma, os espanhóis, por pressão a Urbano III, venceram e a embaixada portuguesa teve que se retirar sem que o Papa a recebesse (PERES, 1934, p. 33 - 40).

De qualquer modo, com a conclusão da empreitada diplomática, Portugal se manteve independente e conseguiu enfrentar a Espanha, a duras penas, parou de ter seu território ultramarino dilacerado pela Holanda. O circuito Atlântico permaneceu a gerar riquezas, de forma limitada até 1654, pois, a América continuou a receber escravos e produzir, e, consequentemente, a pagar taxas, embora, sem os domínios de Pernambuco. Em 1648, Portugal com o auxílio do Rio de Janeiro, recuperou Angola das mãos dos holandeses, voltando a receber as vultosas taxas dos negreiros. Em 1654, depois de uma revolta sustentada por Portugal e pela aliança anglolusitana, recuperou-se Pernambuco, passando a receber os tributos, de novo, dessa capitania. Em 1661, Portugal ao fazer o casamento de dona Catarina com Carlos, o rei da Inglaterra rumou no caminho do reconhecimento da independência por parte da Espanha, que o fez em 1668, pondo fim a crise política iniciada em 1640.

Entre 1640 e 1660 a Restauração portuguesa foi encarada como uma revolta simples no império Habsburgo, tanto pelas nações europeias quanto, principalmente, pelo papado. Apenas em 1661 passa-se a criar acordos seguros dos portugueses com as principais nações europeias (CARDIM, 1998, p. 408). Esses acordos foram negociações realizadas durante 20 anos em que as colônias desempenharam papéis fundamentais, tanto no que se refere ao pagamento, quanto em relação às discussões em torno do comércio ultramarino, como o caso de Pernambuco. O negócio de Pernambuco esteve em pauta no âmbito político europeu, no qual Portugal arriscou-se com a finalidade de retomar a sua possessão, pagando bastante por isso.

Dentro do reino, depois da aclamação de D. João, a tensão política se avivava cada vez mais, sobretudo, com o falecimento do rei em 1656, acarretando em um processo de insegurança política:

D. João faleceu em 1656, e pouco tempo depois teve lugar o levantamento e aclamação de D. Afonso VI, numa altura em que as rédeas do governo