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8. Conclusão

2.3. Iniciativas do desenvolvimento do comércio colonial

Em 1643 criou-se o Conselho Ultramarino, que visava tratar dos negócios do império. O Conselho, longe de decidir por si mesmo, fazia consultas e passava ao rei que decidia o que fazer. A criação do conselho esteve inserida no bojo do processo de reorganização de D. João durante a Restauração, tendo em vista que a organização das

37PROVISÃO SOBRE OS ESCRAVOS DE ANGOLA (21-4-1649) IN: BOLLETIM DO CONSELHO

ULTRAMARINO, Lisboa, 1867, vol. I, p. 262-263. Transcrito do Livro de Regimento, do Conselho Ultramarino. (MMA, 1965, vol. X, p. 341)

colônias tinha por finalidade enfrentar as guerras contra os países europeus. Para organizar os negócios coloniais, colocaram a frente dos negócios homens com experiência para aglutinar meios de se recuperar dos ataques advindos dos holandeses e de adquirir recursos para organizar a defesa das colônias (BARROS, 2008).

Outra iniciativa, supostamente advinda do Padre António Vieira (BOXER, 2008), foi a criação da Companhia Geral de Comércio do Estado do Brasil em 1649, para fomentar o comércio colonial abalado pelo ataque holandês, recebendo o monopólio particular do comércio. Para Leonor Freire Costa a iniciativa da companhia foi uma ideia generalizada no reino e não uma posição diferenciada de Vieira (COSTA, 2000, p. 42). Sendo Vieira (ou não)38 o criador da ideia de deixar a Companhia geral do Brasil nas mãos dos cristãos-novos, o fato é que em 1649 criou-se a Companhia que acabou por receber privilégios comerciais com os quais pode surgir a libertação de Recife. Recebeu muitas críticas pela incapacidade de fornecer os gêneros estancados. Outro seguimento muito crítico da Companhia foram os religiosos já que não pagava o dízimo e era formada por cristãos-novos. Em 1657 teve seus direitos suprimidos e com isso foi incorporada à Junta de Comércio em 1662. Todavia, o surgimento da Companhia tem como mote a tentativa da Coroa organizar melhor suas colônias dentro do quadro de recuperação político-econômica posterior a 1640.

Ligado à companhia de comércio, também se criou um sistema de frotas com a finalidade de se proteger as cargas de açúcar. Sistema de frotas que esteve nas mãos de particulares, numa tendência atlântica de comércio. O trabalho de Leonor Freire Costa mostra uma importância muito grande no comércio de açúcar em relação às outras mercadorias que chegavam aos portos de Portugal, pois, correspondia a cerca de 40% dos produtos (COSTA, 2002). Por muito tempo se defendeu a Companhia e o sistema de frotas, contudo por sua inabilidade perante o comércio, foram extintos.

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Portanto, se conclui que as iniciativas da Coroa de reestruturar a política central ocorreram por meio do incentivo em relação ao comércio. Alguns estudos tendem a mostrar que o comércio colonial atuava em forma de redes (POLÓNIA & BARROS, 2012) que transplantavam as bandeiras dos países. Longe de determinar o comércio, a Coroa procurava, dentro de suas possibilidades, organizar da melhor forma os meios de alavancar o

38 Já em 1643 o Padre António Vieira propunha deixar o comércio às mãos dos cristãos-novos (VIEIRA, 1951. p

enriquecimento do comércio para usufruir de seus benefícios. Em outras palavras, quanto melhor se fazia o circuito Atlântico, mais faturavam as rendas da Coroa (ALENCASTRO, 2006). Os comércios de açúcar e de escravos têm um papel diferenciado nesse meio, pois, dentro do quadro econômico da Coroa e dos negociantes, exercem o papel principal. De forma lógica, não deixamos de conceber as variadas redes de comércio que interligava todo o império português, com o comércio de especiarias, de panos e diversos outros produtos (FRAGOSO& GOUVÊA, 2010). Mas, no Atlântico sul, o comércio, embora coexistisse com outros produtos, era principalmente voltado para o tráfico de escravos e para a produção e venda do açúcar.

3. Conclusão

O século XVII foi palco de uma grande crise econômica que se arrastou por décadas e influenciou diversos países europeus. Além desse problema de ordem econômica, desde o século XVI os países se enfrentavam com a finalidade de se orientarem politicamente. Os Países Baixos se rebelaram contra a Espanha que exercia um papel hegemônico até então. Acompanhado deles estavam a Inglaterra e também a França que passaram a atacar e dilacerar todo o império ibérico, tanto no Oriente quanto no Ocidente. Tal política de hostilidade entre os países passou a ser chamada posteriormente de Mercantilismo: política de extremo protecionismo entre eles, com um mercado fechado visando uma balança comercial positiva39.

Muitos podem ser os vieses explicativos para a guerra entre eles, mas, ressaltamos que desde o século XV os ibéricos passaram a criar um império colonial, seja organizando o comércio com as Índias, ou com os africanos, ou ainda posteriormente com o desenvolvimento de colônias da América. Portanto, como resultado dessa expansão territorial ibérica, esteve à reação bélica de alguns países europeus que, principalmente no caso espanhol se sentiram ameaçados com a política expansionista dos Habsburgos. Isto é, passaram a enfrentar e atacar o Império Habsburgo e, depois de 1580, com a União das Coroas, o império português também.

39 Não se adota aqui uma ideia clássica de mercantilismo, exacerbando a noção de protecionismo. Não obstante,

sem os exageros correntes, houve certa proteção em relação aos países. Os Atos de Navegação Ingleses, a política bulionista da França, os textos de Duarte Ribeiro de Macedo em Portugal representam uma noção de mercado voltada para a proteção e desenvolvimento comercial interno. Não é nossa intenção discutir a validade do mercantilismo nos textos de história. Embora, se inicialmente se pecava por excesso sobre a noção de proteção mercantilista, não se pode por outro lado, opostamente, exacerbar tentando negar a existência do mesmo.

Como resultado desse enfrentamento, França, Holanda e Inglaterra se tornaram novas potências coloniais. A Holanda açambarcou dos portugueses quase toda organização do comércio com as índias, temporariamente Bahia, Pernambuco e Angola também foram deles. As Antilhas espanholas foram, parcialmente, tomadas pelos três países que desenvolveram um grande comércio de açúcar e tabaco, cujo efeito foi a quebra do monopólio exercidos pelos portugueses. Igualmente, o mercado africano, que por muito tempo foi explorado principalmente pelos portugueses, passou a ser palco de disputas entre os países, que derivou na concorrência pela compra de escravos.

A Coroa portuguesa, depois de 1640, teve que se enquadrar nesse contexto de enfrentamento mundial, no qual passava a necessidade de defender suas principais fontes de renda, que eram as colônias. Além disso, agora quase que limitado ao comércio do Atlântico Sul, os lusitanos tiveram que sofrer com a concorrência de outras colônias bem como o fechamento de mercados que antes apenas eles negociavam. No caso do açúcar, o auge do problema foi entre as décadas de 70 e 90, quando o seu preço caiu demasiadamente.

Como resultado do período de guerras, o Ocidente estava reorganizado na segunda metade do século, com um mundo colonial mais complexo e voltado para o comércio. Para realizá-lo, inúmeras foram as companhias de comércio criadas. Portugal, em meio a isso, reagiu como pode: criou um conselho especializado na colonização, companhias de comércio, um sistema de frotas, tentou de todos os modos encontrar ouro, etc. A segunda metade do século XVII português foi, portanto, um momento de crise de formação, de recolocação política dentro do contexto mundial. Uma recolocação em segundo plano político, que levou, por algum tempo, às suas colônias perderem espaço econômico.