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CAPÍTULO 3 CRISE ECONÔMICAO ESTADO DO BRASIL E A

2.4. Falta de Moeda

Outra questão que recaiu sobre os moradores baianos da segunda metade do século XVII foi a falta de moeda. Segundo as interpretações da época, o entrave passou a dificultar bastante a produção e o comércio baiano. Nesse sentido destacamos um grande discurso em torno da problemática.

(...) daCa- /Mara uiperante Si todos os homens denegócio para ef[e]ito deserem n[o]tificados para não mandarem hir nenhum dinheiro deprata eouro para oReino prenabuco eRio dejaneiro pella / falta que Seesprementa deanão auer edeSenão busCar oCaminho para Senão deuertir dita / [moeda] emprejuizo de Sua alteza ebem deste pouo (...)77.

Observe, neste ponto, que os camarário reclamam ao rei afirmando que necessitam de moedas para o comércio nas capitanias. A questão é a seguinte, para ocorrer o trato entre o

76 (DHBN, 1950, LXXXIX, P. 252). 77 (DHAMB da Bahia, 1950, vol. 5, p. 257).

reino e a colônia passou a existir a necessidade de que os colonos comprassem os produtos em moedas, contrária à opinião de trocarem por produtos coloniais.

Entre as mais necessidades / que padesse este Povo He huma penúria da moeda pro- / sedido de que como as dro- / gas egeneros, que daqui se- / navegão para esse Reino res- / pondem com tanta perda / nos negociantes que querem / levar os Cabedaes em moeda / (Fl. 233) como levão antes do que em- / Fazenda, epor esta cauza qu- / ando selevantou amoeda, e / valia hum pezo seis centos re- / is pelo cunho se lhe acrescen- / tou aqui por estimassão ova- / lor de quarenta reis por ar- /bitrio deste Povo e authoridade do Governador mas não / foi bastante Senhor ovaler a / dita moeda aqui seis centos / equarenta reis valendo Ca / pelo Cunho aseis centos reis / para que anão levem toda / sem embargo da perda dos- quarenta Reis em cada mo- / eda porque assim poupão / ainda o muito que perdem / nos ditos gêneros pelos mui- /tos Direitos e pençoens que paga e daqui estamosja experimentando tam garnde / danno que se onão atalha- / mos com providentes remédios que Vossa Alteza espe- / esperamos virse puder one- gocio de mar ease impossibi- / litar otrato eComercio da Terra, / eabuscar damoeda / com que manearse nos gastos cotidianos que consideran- / do nos que oremedio desenão / levar amoeda para fora / olevantarse ovalor aqui es- / timadamente em trezentos / esessenta reis apataca que nes- / se Reino Val trezentos reis / esetecentos evinte reis / esetecentos evinte reis adobrada que La vai seis centos / reis pelo Cunho. Prostrados / aos Reaes Péz de Vossa Alteza / seja servido (...) Outro descaminho / que tem esta moeda pela / muita quantidade que os / Ourives desfazem que por es- / ta vir lhe não hade ser conta / o derretella efica remediada / ofuturo aperto em que consideramos esta Republica / Guarde Deos aVossa Alteza / muitos anos como avemos / mister Seus Vassallos Bª eCamara78.

A saída da Coroa foi, por diversas vezes, ―levantar a moeda‖, como consta o trecho acima. A medida consistia em elevar o seu valor extrínseco em cerca de 20%, pois, assim, as fazendas produzidas na Bahia seriam preferidas ao dinheiro. Ao saberem da medida da Coroa, os comerciantes aumentavam tão somente o valor dos seus produtos na proporção da elevação, não mudando em nada a situação. Os comerciantes, para levarem a moeda e não o açúcar, baixavam o valor das ofertas ao produto. Como observa Lima (2008)

De pronto, o problema maior era o endividamento dos produtores em relação aos comerciantes, que só aceitavam açúcar em pagamentos de dívidas a preços excessivamente reduzidos. Pelo menos desde 1626 a Câmara de Salvador encarregou-se de ―taxar‖ o açúcar, referendando os preços acordados por juntas formadas por produtores e comerciantes com este propósito específico, ou arbitrando um preço intermediário quando não havia concordância‖ (LIMA, 2008, p. 2).

Em 1679, o procurador Domingues Dantas de Araujo propõe a criação de uma moeda provincial como solução para os problemas baianos.

Agora fa- / zemos prezente a Vossa Alteza que nesta Frota vai para esse / Reino amaior parte dedinheiro que nesta Capitania havia sem- / que de nossa parte lhe possamos dar Remedio. Este só consiste - / te em Vossa Alteza mandar / defferir aquela proposta com- / breviedade ou mandar que / nesta Cidade aja Caza de Mo- / eda Provincial de quantida- / de depeza e Valor que Vossa Al- / Teza for Servido dar-lhe para / que não possa correr em ou- / tra parte pois sendo Este Es- / tado tam dilatado ecom one- / gocio tam frequente para este Reino cessará detodo seonão / ouver maiormente quan- / do no Estado da India tem / Vossa Alteza trez Cazas de moeda, em Goa, Rio, e norte, sem- / do que o negocio delle he me- / nos útil as Alfandegas de / Vossa Alteza ea sua Real Fa- / zenda do que odeste Esta- / do = Prostrados aos Reaes Péz / deVossa Alteza pedimos a aVos-/a Alteza por mercê mande / particular se sirva mandar / (Fl. 239 v.) mandar deferir aquella pro- / posta para que odinheiro, se cunhe, ou mandar que nesta / Cidade se bata moeda Provin- / cial pois são os únicos meios / da Consignação deste Estado/. A Real Pessoa deVossa Alteza / Guarde Deos muitos annos como todos os Vassalos de Vossa Alteza / Guarde Deos muitos annos como todos os Vassalos de Vossa / Alteza avemos mister Bahi- / a eCamara de Julho quinze / demil seis centos enove79.

Para além de dificultar na compra dos produtos coloniais, a pouca quantidade do dinheiro prejudicava diretamente nas vendas do açúcar, na medida em que os senhores se endividavam perante seus compradores e com isso dava margem para que eles escolhessem quanto queriam pagar pelo açúcar.

A queda nos preço do açúcar contribuía para o crescente endividamento dos produtores que, não podendo honrar suas dívidas em dinheiro de contado, estariam sendo forçados a pagá-las em açúcar, cujo preço era estabelecido pelos seus credores (mercadores) a valores abaixo daqueles que consideravam ―justos‖. Dessa forma os agricultores viam sua dívida aumentar, quer estivesse ela contratada em réis ou em ―açúcar a como valer em dinheiro de contado‖, como era a praxe (LIMA, 2008, p. 9).

A carência da moeda na Bahia era, de fato, um grande problema para o comércio colonial, pois ela passou a ter múltiplas funcionalidades para o Recôncavo, entre elas, sustentar a infantaria, o clero, o comércio local, etc.

Não foram somente os membros da Câmara que apontaram a falta da moeda como o grande problema baiano, Padre António Vieira, também afirmou que as causas da ruína do Recôncavo era a deficiência na circulação de dinheiro. ―A Ruína mais sensível e quási

extrema que este Estado padece, e sobre que se pede pronto remédio a S.M., é a total extinção da moeda, que sempre temeram os interessados mais zelosos, e prognosticaram os mais prudentes” (VIEIRA, 1928, p. 635).