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3 ALUNOS, PROFESSORES E ASSISTÊNCIA SOCIAL

3.1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL

O “Serviço Social da Escola”. O Serviço Social (S.S) da Escola Especial Ulisses foi forjado aos mesmos moldes daquele serviço criado por Ulysses Pernambucano com a finalidade de informar as pessoas e, de certo modo, no trazer as pessoas para o entendimento

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do que se acreditava ser “doença” mental a fim de proporcionar uma prevenção às novas doenças mentais, com palestra, visita a casa dos doentes e propaganda em jornais, chegando até a criar os Boletins de Higiene Mental que circulou até fins dos anos de 1940.

Essas publicações, como já foi visto, ocupavam-se, por vezes, de conselhos sobre como educar as crianças; quais os filmes deveriam ser vistos pelos infantis; conselhos de como os irmãos deveriam se comportar; a educação sexual no lar, correlacionando desejos sexuais com a imoralidade, um desvio perigoso, que pode levar a loucura. Há outras passagens em que é pedido uma quantia para construção de uma escola para anormais, na tentativa de abrigar aquelas crianças “excepcionais”.

Em 1937 no artigo publicado no mesmo Boletim intitulado “O Serviço Social na Assistência aos Psicopatas” muito tem a ver com o serviço prestado na E.E.U.P anos mais tarde. No artigo, os autores falam em quatro (4) competências para o Serviço Social nos serviços psiquiátricos – que nos parece ter influenciado a prática do SS na EEUP, já que essa lidava com crianças “anormais” e havia um psiquiatra tratando das crianças.

Na primeira competência, cabe ao S.S a reconstituição histórica do paciente para saber o que foi que ocasionou a desordem mental. Tal prática foi feita na escola e cada aluno tinha uma ficha onde estava escrita seu histórico médico-familiar atentando para os antecedentes hereditários e sociais, fichas contendo local onde mora, as condições sanitárias do local e as condições de harmonia na casa com seus pais e irmãos. Em segundo lugar, era deixar o ambiente familiar sadio para a recepção do egresso, no caso daqueles internos em manicômios – não era o caso da escola que foi constituída como um externato.

Em terceiro lugar deveriam o S.S tomar frente da direção e da vigilância para que o doente se readaptasse. O S.S adentrava as famílias e, através de suas práticas, tentava fazer com que o ambiente familiar ficasse mais solido e sadio para que o indivíduo – no caso o aluno da E.E.U.P – conseguisse entrar no mercado de trabalho e tivesse uma vida mais social. Na verdade, a escola agrupa a competência dois e três, fazendo um jogo de vigilância constante, como veremos mais a frente. Em último, competia ao SS remover todos os fatores que servissem como acelerador de novos surtos, como a falta de emprego e, por sua vez, falta de dinheiro, sendo, para os editores, um dos principais entraves para o pleno funcionamento do SS.

Abaixo transcrevemos as quatro competências do Serviço Social aplicado as instituições psiquiátricas:

“Cabe à assistente social nos serviços psiquiátricos: 1 – a reconstituição da história clinica e social do paciente com a consequente identificação das causas que

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favoreceram o surto mórbido – auxílios preciosos para o diagnóstico -; 2- a preparação do ambiente familiar para receber o paciente egresso; 3 – a direção e vigilância deste, para facilidade de sua adaptação familiar e social; 4– remoção dos fatores capazes de facilitar terem novo surto mórbido”.52

Mesmo depois de alguns anos passados da publicação do artigo, o S.S da E.E.U.P ainda seguia a mesma cartilha de evitar que novas doenças mentais surgissem pela profilaxia preventiva, fazendo um histórico médico-social dos alunos da instituição. Na pesquisa encontramos as Fichas de Observação que vão de 1941 a 1948. As fichas dão conta que até meados de 1940 essa era uma prática comum, investigar os antecedentes hereditários, pessoais e colaterais.

Essas Fichas de Observação da década de 1940 dão conta de uma investigação profunda da vida das crianças onde se perguntava o nome do aluno, a data de entrada na Escola, a Idade Real e a Idade mental do menor, o Quociente de Inteligência, a classe que iria ocupar, o sexo, a cor o nascimento, sua residência, a escola de origem e as frequentadas anteriormente, se fosse o caso. Além da filiação, a nacionalidade dos pais e a data que deixou a escola.

Essa era a primeira parte de investigação da vida do alunado e por consequência, da família. Em outro momento, eram vistos os antecedentes hereditários como o grau de parentescos dos pais, a idade deles quando do nascimento da criança, antecedentes mórbidos do pai e da mãe, se a mãe havia abortado ou tido partos prematuros e se havia alguma coisa a notar no comportamento dos pais.

Se junta a isso os antecedentes colaterais e pessoais onde se inquiria sobre a quantidades de filhos vivos, quantos faleceram e o motivo das mortes e se os que estão vivos gozam de boa saúde. Se a mãe sofreu algum traumatismo ou enfermidade durante a gestação e em que condições se deu o nascimento, quando apareceram os dentes e quando começou a vestir-se sozinho.

O Serviço Social da Escola Especial Ulisses Pernambucano, foi criado em abril de 1951, quando foram divulgados os estatutos da Escola Especial Ulisses Pernambucano. Podemos observar, baixo, o texto integral:

“Estatutos da Escola Especial ‘Ulisses Pernambucano’ Nome, sede e duração

Art. 1º - A Escola Especial ‘Ulisses Pernambucano’, fundada no ano de mil novecentos e quarenta e um (1941), tem a sua sede à Avenida Joao de Barros, n. 594 na cidade do Recife, cuja comarca lhe serve, também, de foro judicial.

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Art. 2º - A Escola funcionará por prazo indeterminado e o ano social coincidirá com o civil.

FINALIDADE

Art. 3º - A Escola é para anormais educáveis e deficientes da linguagem de quaisquer condições sociais.

Art. 4º - Para atender à sua finalidade, a Escola se compõe dos seguintes serviços: 1) – Reeducação pedagógica compreendendo:

a) Classes divididas em grupos mais ou menos homogêneos, segundo o nível intelectual e as características psico-patológicas dos educandos;

b) Assistência individual;

c) Reeducação dos deficientes da linguagem; d) Educação física

e) Canto orfeônico e recreação; f) Biblioteca; 2) – médico-social compreendendo: a) Um psiquiatra; b) Um pediatra; c) Um técnico de psicologia; d) Um assistente social [...]”53

Este serviço estava pautado no acompanhamento das famílias que tinham em seu interior pessoas que sofriam de algum tipo de problema mental, ou de alcoolismo, ou fosse sifilítico, enfim, havia uma tentativa de ajuda daquela população, gerando, de certa forma, um controle dessas populações e do próprio ambiente familiar. Dessa forma, o Serviço Social da E.E.U.P, capitaneado pela Assistente Social Carmém de Souza Cavalcanti, visava, em primeira instância, a criação de um inquérito preliminar dos estudantes, sendo compostos em fichas individuais, numeradas de acordo com as variações das observações, podendo ser bem extenso e detalhado.

Todas as fichas eram assinadas por Carmem e sempre começavam com uma entrevista geralmente fornecida por uma mulher, ora sendo a mãe do próprio aluno ora por uma tia ou avo, mas sempre uma responsável pelo aluno. Esse primeiro contato era feito na residência da família, a título de observar o espaço em que o aluno convivia e lá se informava da razão de ser do S.S da Escola e se fazia, quase sempre, o convite para fazer parte de alguma atividade que a escola fornecia; geralmente era pedida a matricula no grupo de mães que havia na escola.

Esse era o modo como todos as fichas de observação começavam o que nos permite inferir que o S.S da escola estava disposto a cuidar da família e dos alunos da escola principalmente, chegando a adentrar os problemas mais íntimos de cada família, sendo a forma como o S.S tinham de desempenhar o seu trabalho dentro da Escola.

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