• Nenhum resultado encontrado

4 AS REPRESENTAÇÕES DENTRO DO AMBIENTE ESCOLAR

4.1 A ESCOLA ESPECIAL ULISSES PERNAMBUCANO E A REPRESENTAÇÃO DA

O corte temporal desta pesquisa se dá entre os anos de 1952 até 1957. Lembrando que o ano de 1952 é sinalado como início por ser o momento de crescimento quantitativo das matriculas, decorrente do fato da escola salientar o trabalho e acolhida de alunos com problemas na fala e na escrita. Já o ano de 1957 é sinalado por demarcar o fim de um ciclo na direção da escola, a gestão de Noêmia de Araújo Varela, e o consequente retorno da professora Anita Paes Barreto.

Aqui vamos discorrer sobre as práticas das professoras e da gestão no período de Noêmia Varela e o impacto do retorno de Anita Barreto. Pretendemos analisar as distintas concepções, ideologias ou representações dentro de um mesmo espaço a depender de quem use o poder instituído.

A professora Noêmia Araújo Varela é reconhecida como precursora da Arte-Educação em Pernambuco e no Brasil, responsável pelos “primeiros cursos de formação inicial e continuada para arte/educadores realizados no Brasil” 89. Ainda radicada em Pernambuco,

realizou importantes atividades fora do estado. Posteriormente, se afasta da EEUP e vai para o

88 ROGER, Chartier. A história cultural: entre práticas e representações. Roger Chartier, tradução Maria

Manuela Galhardo. 2. Ed. Portugal: DIFEL, 2002. p. 17.

89MELQUIADES, Everson. A formação do arte/educador: um estudo sobre a história de vida, experiência e

identidade. 2010. 281 f. Tese de Doutorado - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE. Disponível em:

72

Rio de Janeiro impulsionar sua carreira na formação de arte-educadores. Ela é considerada por Everson Melquíades em sua tese de doutoramento intitulado “a formação do arte/educador: um estudo sobre história de vida, experiência e identidade” como sendo a representação, no sentido de ser em si a coisa representada, ou seja, estava nela presente o conceito de arte/educação, a considerando como “mãe” e marco da arte educação no Brasil.90.

É digno de nota a visão diferenciada que a professora Noêmia tinha da E.E.U.P e, por conseguinte dos alunos que lá estudavam. Sua prática parecia estar cercada de uma ideologia diferenciada do que se vivia até a época de sua posse como diretora interina da E.E.U.P, onde divergia da forma como os alunos eram tratados dentro do ambiente escolar e assim, criava um local mais propício a um trabalho que garantisse aos alunos o seu pleno potencial, acreditando que eles poderiam ser capazes de qualquer coisa, isso tudo através da arte.

Acerca de Noêmia Varela, Everson Melquíades comenta:

“Como símbolo significante, Noêmia Varela e Ana Mae Barbosa, vêm ao longo de décadas cuidando e cultivando o campo do ensino da arte, bem como formando e influenciando as novas gerações de arte/educadores. Desta forma, um símbolo significante não se estabelece a partir de um processo natural, antes, se constitui de uma construção social compartilhada”.91

Como dito, a professora Noêmia assume a direção da Escola Especial Ulisses Pernambucano diante do impedimento da professora Anita Paes Barreto, pois ela estava à disposição da Faculdade de Filosofia do Recife, como reza o Diário Oficial de Pernambucano, de março de 1951.

“Portaria n. 309

O secretário de Educação e Cultura no uso de suas atribuições resolve designar a professora Noêmia de Araújo Varela, professora da cadeira n. 463, 4ª entrância padrão <<F>>, localizada na Escola Ulisses Pernambucano da Capital para exercer interinamente o cargo de diretora - padrão <<J>> da referida Escola durante o impedimento da diretora efetiva, Ana Paes Barreto que se encontra a disposição da Faculdade de Filosofia do Recife, contando-se-lhe o exercício do dia 6 do corrente”.92

90 Op. Cit. pg 122

91 MELQUIADES, Everson. A formação do arte/educador: um estudo sobre a história de vida, experiência e

identidade. 2010. 281 f. Tese de Doutorado - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE. Disponível em:

<http://repositorio.ufpe.br:8080/xmlui/handle/123456789/3761>. Acesso em: 27 de agosto de 2016.

92 Diário Oficial de Pernambuco. Poder Executivo. Terça-feira, 13 de março de 1951. Cópia online no site da

73

Durante a gestão de Noêmia, nos parece que o ideal de criança era o de um ser apto, em todos os momentos, a aprender, a viverem as experiências da vida em sociedade, ou seja, crianças perfeitamente capazes do momento de aprendizagem.

Registra-se também a prática de estudos em grupo por parte das professoras, como pode ser visto, em 03 de março de 1956 (anexo C – DVD), quando a professora Raquel Crasto comanda um círculo de estudos, estando em pauta o estudo de um plano de aula para a classe “A” e “B”. “[...] Continuando a reunião com um círculo de estudo sob a direção da professôra Raquel de Crasto. Neste horário foi estudado um plano de aula para a classe A e B”93.

A prática de trabalho em grupo também se estendia à presença de alunos, como nas datas comemorativas onde chamavam as crianças para fazer parte e participar da organização das festas. Isso pode ser visto numa festa em comemoração ao dia da árvore, com a plantação de um coqueiro anão, doado por uma das professoras. A apresentação de um filme; uma exposição na biblioteca e um lanche dos alunos nas sombras das árvores da escola.

Seguindo esta prática participativa, em 14 de abril de 1956 (anexo C – DVD), na preparação das festividades do dia das mães, as professoras dizem que os alunos devem presenteá-las com os trabalhos feitos por eles dentro das suas possibilidades e deixando exposto no dia da comemoração na escola.

“[...]Os alunos deverão presentear suas mamães com trabalhos feitos por êles, de acôrdo com suas possibilidades, os quais ficarão em exposição no referido dia. [...]”94

Em 6 de outubro de 1956 (anexo C – DVD), houve a discussão sobre a festa de encerramento da escola e outras datas comemorativas como o descobrimento da América, o dia da criança e os dias das missões, comemorado, à época, no último domingo de outubro. Foi deliberado que haveria algumas atividades para os alunos cumprirem, como é caso de pescaria, um concerto de sanfona e um número de orfeão além de uma exposição. Foi combinado uma excursão durante a semana da criança para o aeroporto dos Guararapes e, para os pequenos foi feita a ida ao aeródromo.

Isso tudo nos mostra que havia na Escola Especial Ulisses Pernambucano uma concepção mais propositiva acerca do alunado.

93Documentos avulsos. Arquivo Escola Especial Ulisses Pernambucano. 94 Documentos avulsos. Arquivo Escola Especial Ulisses Pernambucano.

74

A professora Noêmia via na arte uma forma de conduzir esses alunos a um desenvolvimento, mostrando às mães, às professoras e aos psiquiatras que essa forma de educação era uma estratégia para aflorar o desenvolvimento dessas crianças.

Além disso, o corpo docente da escola, formado pelas professoras e sob a direção/presidência hierárquica da professora Noêmia Varela tinham um intuito de fazer com que os alunos saíssem da escola com uma profissão, daí a utilização de cursos de vime e a visita a olarias da região do Recife da época. Até aí, nada de novo, pois a literatura aponta que as escolas para “anormais” tinham esse viés de promover o trabalho dos alunos, para a inserção no mercado de trabalho e assim tornar aquele individuo produtivo, típico da visão capitalista de produzir. A aula de vime (anexo C – DVD) é recorrente nas reuniões, sendo bem planejadas e aguardadas. Em 01 de fevereiro de 1956 se tem:

“[...] b) aulas de vime

serão ministradas pelo snr. Antônio Gomes, industrial no ramo desse material, em nossa praça, no Horario e 10.00 as 1100 hs, em dias a serem previamente marcados pela diretora da Escola”.95

No dia 25 do mesmo mês a professora Nazira Rocha sugere que se faça uma excursão a um olaria, muito provavelmente para que os alunos tenham uma noção de como funciona a fabricação de objetos de barro, como tijolos e telhas, muito utilizados na época, onde os pré-fabricados e as famosas “telhas brasilit” ainda não tinha alcançado o ápice. Essa visita era na estrada de Paulista. “e) sugestão da professôra Nazira Rocha a uma excursão em uma olaria na estrada de Paulista”.96

As festividades da escola geralmente traziam consigo produções feitas pelas crianças, num apelo para que elas fossem independentes e fizessem de sua vida uma vida menos dependente de seus familiares. No dia 14 de abril de 1956, quando as professoras vão falar sobre as “comemorações das efemeridades” como o dia Pan-americano, dia de Tiradentes, independência do Brasil, Páscoa entre outras coisas, fala-se do dia das mães onde:

“[...] [para] o dia das mães [...] ficou determinado o seguinte:

Os alunos deverão presentear suas mamães com trabalhos feitos por êles, de acôrdo com as suas possibilidades, os quais ficarão em exposição no referido dia

[...]Concurso de sentenças sobre o dia das mães feita pelos alunos da oficina pedagógica I.

Realização, pelos alunos da Classe D, de um côro falado e dos convites para o dia da festa com o respectivo programa.

Realização de uma dança e um número de orfeão pelos alunos da escola, sob a responsabilidade da prof. Neide. [...]

95 Documentos avulsos. Arquivo Escola Especial Ulisses Pernambucano 96 Documentos avulsos. Arquivo Escola Especial Ulisses Pernambucano.

75

Confecção de um bolo pelas alunas das classes C e D, sob a orientação de Semira, c/ presente às mães. ”97

Em outro momento, os alunos são convidados, mais uma vez, a participar da festa de São Joao da E.E.U.P e também para outros momentos fora da escola como uma pescaria, uma excursão, por exemplo. Para animar mais os alunos, os trabalhos de pintura que eram produzidos por eles lá na escola foram expostos na vitrine de uma livraria em homenagem a semana da criança, que durou a semana toda, registrado na ata da reunião das professoras, no dia 06 de outubro de 1956.

“[...]

b) Dia 12 – exposição- conserto de Sanfona, número de Orfeão – lanche: contribuição do clube de mães, para as duas turmas. Pescaria no dia 10 para as duas

turmas separadamente.

c) excursão durante a “semana da criança”.

d) exposição dos trabalhos dos alunos da EUP na Vitrine da Editora Nacional durante a semana.”98 (Grifo nosso)

Chama-nos a atenção certa ideia de centralidade no aluno demarcando ações na EEUP, demostrando que, de histórias de vidas diferentes e limitações físicas ou motoras, se tentava praticar ações integrativas entre os alunos da escola. Lendo o apontamento das reuniões das professoras da E.E.U.P do dia 17 de setembro de 1955, podemos notar um registro de incentivo para que os alunos produzam e que se sintam mais à vontade na escola, como por exemplo no dia da árvore, onde os alunos iriam ter um contato maior com a natureza e eles fazerem a ação, ou seja, potencializar esse aluno (anexo C – DVD).

“[...]

a) dia da arvore: várias sugestões foram apresentadas, para comemorar a passagem do dia da arvore. Número de orfeão, projeção de filmes (colaboração de 1 professora para ir ao consulado americano, a fim de, arranjar filmes sobre o assunto. b) Exposição da biblioteca sobre as variedades de tipos de arvores.

c) Programa para ser executado 1) Inauguração da exposição às 9 horas 2) Projeção do filme

3) Lanche em baixo das arvores do pátio

4) Lanche salada de frutas

5) Plantio de um coqueiro anão pelos alunos da escola – oferta da professora Raquel Crasto. [...]”99 (Grifo nosso)

Dentro da E.E.U.P havia uma divisão de classes escolares para que atendessem a uma demanda de alunos que apresentassem uma situação assemelhada, dando a entender que poderia haver a mudança de uma classe para outra desde que atendessem a critérios subjetivos

97 Documentos avulsos. Arquivo Escola Especial Ulisses Pernambucano. 98 Documentos avulsos. Arquivo Escola Especial Ulisses Pernambucano. 99 Documentos avulsos. Arquivo Escola Especial Ulisses Pernambucano

76

elencados pelas professoras, mas que todos faziam os trabalhos juntos, com a ressalva de se “de acordo com suas possibilidades”. Em nenhum momento, dos discursos analisados, até aqui, ficou claro que houvesse rejeição dos alunos, até porque a escola foi feita para atender aqueles que não poderiam, à época, estudar em uma escola ou grupo escolar regular.

Assim, seja qual fosse a forma de deficiência, eram convidados a participar da escola, afinal, era ali o único lugar feito para atender aquele segmento de alunos, muitas vezes marginalizados pelo preconceito.

4.2 AS LUTAS SIMBÓLICAS EM TORNO DA REPRESENTAÇÃO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

Apesar de ter assumido interinamente em março de 1951, os registros encontrados só sinalam Noêmia exercendo a presidência das reuniões da escola a partir do dia 03 de setembro de 1955. Neste intervalo entre a publicação da substituição interina de Anita e presença de Noêmia na presidência das reuniões, foi ofertado, em 1953, um curso de formação de educadores de Crianças Excepcionais para o corpo docente da EEUP, em caráter emergencial.

Dentre as disciplinas ofertadas no curso emergencial100 (anexo C - DVD) estava

algumas oferecidas pela própria Anita Paes Barreto, pela professora Noêmia Araújo, José Lucena, Rodolfo Aureliano e Jarbas Pernambucano, filho de Ulysses Pernambucano. Todos estavam envolvidos com a psiquiatria infantil e vinham de diferentes estados do Brasil e nomes internacionais como Arnaldo Di Lascio, onde Alcides Codeceira Junior classificou como sendo “antes de tudo um nordestino da Paraíba, que teve no Recife sua terra adotiva”.101

Nomes ilustres para reforçar a busca pela melhor qualidade do ensino para as crianças “anormais” do Recife dos anos de 1950.

As disciplinas oferecidas orbitavam entre conhecimentos da Neuropsiquiatria e da Neuropsiquiatria infantil, Psicoterapia, técnicas educacionais apropriadas a infância excepcional e atividades artísticas para as crianças. Sobre os ensinamentos que a Neuropsiquiatria poderia trazer as professoras e que melhorariam a lida deles com os alunos “anormais” do Recife foi oferecida uma disciplina, ministrada pelo doutor José Carlos

100 Documentos avulsos. Arquivo Escola Especial Ulisses Pernambucano.

101 JUNIOR, Alcides Codeceira. In Memorian - Arnaldo Di Lascio. Acesso em 01/08/2016

77

Cavalcanti Borges, importante no cenário psiquiátrico do Recife, sobre a “organização e métodos psicológicos de exploração da personalidade”102.

Além dessa disciplina, o curso se enriquece com a matéria do professor Galdino Loreto - que em 1950 tirou o primeiro lugar para Médico Assistente da Assistência à Psicopatas obtendo nota máxima (10) em todos os quesitos avaliados (títulos, escrita e pratica-oral)103 e foi diretor da Colônia Ulisses Pernambucano em Monjope, no mesmo ano104

-, que versa sobre “higiene mental e assistência a infância excepcional”.

Ao que tange aos aspectos educacionais do curso, as disciplinas estavam concentradas em aspectos artísticos com a disciplina “atividades artísticas para criança” sob a supervisão do professor Augusto Borges Rodrigues. A professora Leopoldina Netto, ficou responsável pela disciplina “processos didáticos na aprendizagem escolar da criança retardadas” e teve a companhia da professora Olivia da Silva Pereira com suas “técnicas educacionais com adolescentes excepcionais”. A professora Edith Câmara Nogueira, ficou responsável pela disciplina “higiene mental e assistência a infância excepcional” e “desenvolvimentos e deficiências da linguagem”, pois em 1952 a escola começa a abrigar alunos que tem problemas com a linguagem, também.

As professoras, Anita Paes Barreto e Noêmia Araújo Varela, ficaram responsáveis por continuar disciplinas já ministradas por médicos, talvez numa tentativa de conferir ao curso um caráter mais educativo, mais pedagógico. Um fato que chama a atenção é que das vinte (20) disciplinas do curso, apenas sete (7) foram ministradas por professores e todas as outras por médicos ligados com a psiquiatria local, dando um grande indicio que essa educação estava perpassada, não por ideário pedagógico, apenas, mas por uma ideia de que deveria haver a intervenção médica dentro da escola, e essa doutrinação começava na educação do professor.

Percebe-se que havia uma clara divisão no método de trabalho de duas diretoras da escola, uma mais progressista, afeita ao “tratamento” através da arte, Noêmia de Araújo Varela, e outra muito menos progressista e mais ortodoxa, Anita Paes Barreto, que como já vimos, foi a pioneira no estudo de crianças “anormais” em Pernambuco, junto com o renomado médico Ulysses Pernambucano. Isso gera uma tensão dentro das muitas visões sobre como deveria ser balizada a educação da criança especial, gerando assim a formação de

102 A lista completa disciplinas se encontra nos anexos desse trabalho e no arquivo da Escola Ulisses

Pernambucano, situada à Rua Gouveia de Barros, s/n Recife, Pernambuco, Brasil.

103 Diário Oficial de Pernambuco. Poder Executivo. Vinte e um de fevereiro de 1950 104 Diário Oficial de Pernambuco. Poder Executivo. Cinco de abril de 1950.

78

polos de conflito: a tensão entre a visão médico-pedagógica e a visão lúdico-pedagógica, respectivamente, personificadas em Anita Barreto e Noêmia Varela.

O conflito entre essas duas concepções, suas práticas e suas respectivas representações de educação especial está registrado na última reunião presidida por Noêmia, conforme a leitura do extrato de ata de 24 de novembro de 1956. Reunião marcada por uma excepcionalidade: o psiquiatra lotado para a assistência médica da EEUP é convidado a se juntar ás professoras para opinar sobre o andamento da escola, fato que não ocorria, pelo menos, desde 1955.

A presença do Psiquiatra da Escola o Dr. Zaldo Rocha, na última reunião do ano de 1956 é peculiar, pois, havia, aparentemente, uma divisão de competências dentro do ambiente escolar, ficando as professoras com o papel de planejar as aulas, executar entre outras coisas; o Serviço Social, em acompanhar os alunos e suas famílias socialmente e os médicos de receitar e prescrever tratamentos aos alunos, basicamente.

Nesse dia, os segmentos mais ortodoxos da educação especial, representada pelo Dr. Zaldo Rocha, foram de encontro ao que vinha sendo desenvolvido pela professora Noêmia dentro do espaço escolar. Assim, foi sugerido que a escola precisaria ser mais ortodoxa, no sentido de avaliar os alunos e, a partir dos resultados, os que não tivessem capacidade de permanecer na escola deveriam ser expulsos, o que veio a acontecer em momentos posteriores.

“[...]de início foi estudada a situação de Maria dos Prazeres e Rosilda, ficando resolvido quanto à primeira que não sendo educável, não valeria a pena continuar

na escola e quanto à segunda que, sendo um caso esperançoso, a escola muito

poderia fazer por ela através de medicamentos e remédio, digo, trabalho. Quanto a certos outros casos, foi sugerido que se fizesse uma experiência de seis meses uma vez que a finalidade da escola é fazer bem e não recolher. Lembrando casos passados (Josilda e Clotilde) [...]”105 (grifo nosso)

E a diretora Noêmia sugere ter “paciência” em esperar o lento desenvolvimento e que não se desanime diante dos primeiros fracassos (Grifo nosso), pois cada criança tem seu tempo de desenvolvimento isso acontece com todas as crianças em diferentes níveis e até mesmo com os adultos a se adaptar as condições impostas pelo meio. Não satisfeito, o psiquiatra nos fala que (anexo C – DVD)

“ acha que a orientação deve ser feitas pelas probabilidades, estudando-se todos os lados, antes da palavra final sôbre a permanência na escola. Acha ainda que os

nossos programas na Escola Ulisses Pernambucano deveriam tomar um aspecto mais prático e utilitário, preparando realmente para a vida (bordado, cozinha, engraxate, encadernação, etc ), aspectos tão importantes que merece o

79

sacrifício de outras coisas. Pensando-se em economizar as verbas para melhor

atender a isto, foi sugerido que os alunos pagassem o material escolar. ”106 (grifo nosso)

Notemos que quando o psiquiatra fala em “não valaria a pena continuar na escola” estamos diante de uma visão da educação do “anormal” abandonando todo e qualquer tipo de potencialidades e de saberes anteriores trazidos pelos alunos para suas práticas e vivencias dentro do espaço escolar, como podemos citar como exemplo a ideia de que os alunos fizessem para trabalhos manuais em datas comemorativas.

Embora tenhamos uma frase com sentido positivo – “a finalidade da escola é fazer bem e não recolher” – dita pelo Dr. Zaldo, dentro dela está embutida uma afirmativa de que a escola não fazia bem, ou seja, estávamos com uma quantidade significativa de alunos enchendo a escola, assim, ele usa de uma crítica feita por muitos aos asilos de loucos, para criticar os métodos que empregados na escola até então. Diante disso, a diretora, em claro enfrentamento a suas ideias retrogradas, rebate dizendo que as crianças têm seu tempo e levam tempo para aprender a lida.

Mas, não satisfeito, o médico psiquiatra, ainda crítica mais os métodos utilizados na escola e coloca um relativismo na escolha dos alunos, onde os com uma forma mais aguda de

Documentos relacionados