• Nenhum resultado encontrado

A mudança na estrutura etária mundial suscitou às autoridades governamentais maior foco de atenção à saúde do idoso, exigindo, principalmente, o delineamento de estratégias de prevenção e tratamento das doenças crônicas não transmissíveis e suas complicações, no intuito de evitar incapacidades e perda de autonomia (CHAIMOWICZ, 1997).

Nesse contexto, o Brasil, nas últimas décadas, tem conquistado importantes avanços na área da atenção à saúde do idoso, coincidindo com a própria criação do Sistema Único de Saúde (SUS). O processo de construção do SUS propõe uma reforma no modelo assistencial que vai de encontro ao modelo biomédico e hospitalocêntrico, voltando-se para a potencialização da Atenção Básica, complementada pela rede de serviços especializados e hospitalares (SILVESTRE; COSTA NETO, 2003).

Visando reestruturar o primeiro nível de assistência no país, o Ministério da Saúde assumiu, a partir de 1994, a Saúde da Família que se fundamenta em uma nova ética social e cultural, com vistas à prevenção de doenças, à promoção da saúde e à qualidade de vida das pessoas, famílias e comunidades (BRASIL, 2001).

Os cuidados primários prestados pelas equipes de Saúde da Família buscam oferecer aos idosos de sua área de abrangência uma assistência integral, concernente às suas particularidades (LEMOS; SOUZA; MENDES, 2006).

Dessa forma, é necessário realizar inquéritos e diagnósticos de saúde populacionais, pois os mesmos poderão subsidiar o planejamento de ações que visem à eliminação de fatores de risco relacionados com a capacidade funcional da população atendida. Além disso, contribuirá para o estabelecimento de ações de promoção da saúde e de reabilitação que possam estar presentes em programas sociais que facilitem a formação de grupos de idosos, estimulando a autonomia e

Fatores associados à qualidade de vida de idosos adscritos no Distrito Sanitário Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais

37

manutenção do convívio familiar e social saudável (LEMOS; SOUZA; MENDES, 2006; PILGER, 2010; SILVESTRE; COSTA NETO, 2003).

Concomitante ao processo de criação e regulamentação do SUS, verificou-se gradativa reestruturação na concepção das políticas de previdência e saúde que visem especificamente a melhoria ou manutenção da qualidade de vida da população idosa (COSTA; CIOSAK, 2010; GARCIA; RODRIGUES; BOREGA, 2002; LITVOC; BRITO, 2004; NUNES, 2004; REIS, 2000).

Segundo o Ministério da Saúde, é função das políticas de saúde relacionadas ao envelhecimento contribuir para que mais pessoas alcancem idades avançadas com o melhor estado de saúde possível, sendo o envelhecimento ativo e saudável, o principal objetivo. Se considerar saúde de forma ampliada, torna-se necessária alguma mudança no contexto atual em direção à produção de um ambiente social e cultural mais favorável para os idosos (BRASIL, 2010).

Para tanto, a partir de uma retrospectiva histórica, tem-se que a Política Nacional do Idoso promulgada pelo Projeto de Lei n. 8.842 em 1994 e regulamentada pelo Decreto n. 1.948 em 1996, foi o passo inicial no reconhecimento e importância desse segmento populacional. Esta Política foi criada devido às crescentes demandas que surgiram a partir do aumento da expectativa de vida das pessoas e teve como objetivo assegurar os direitos sociais dos idosos, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade (BRASIL, 1994, 1996a).

Ainda, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria n. 1.395 em 1999, implantou a Política Nacional de Saúde do Idoso, que estabelece diretrizes primordiais para o direcionamento ou redirecionamento dos planos, projetos, programas e atividades pautadas de acordo com as normas nela estabelecida. Essa Política assumiu um dos principais problemas que impactam os idosos que consiste na perda de sua capacidade funcional (BRASIL, 1999).

No ano de 2003, foi aprovado o Estatuto do Idoso, que tem como objetivo regular os direitos assegurados aos idosos. O capítulo IV do Estatuto traça diretrizes para o cuidado e manutenção da saúde da pessoa idosa de forma integral (BRASIL, 2003).

Em 2006, por meio da Portaria n. 399, o Ministério da Saúde divulgou o Pacto pela Saúde que possui três eixos: o Pacto pela Vida, o Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão do SUS. O eixo Pacto pela Vida tem como prioridades responsabilidades que abrangem a população idosa (BRASIL, 2006a).

Por sua vez, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) foi instituída pela Portaria n. 2.528 em 2006, como uma das prioridades do Pacto pela Vida e tem como finalidade promover, manter e recuperar a saúde e autonomia dos idosos pautados nos princípios que regem o SUS. Tal política reforça a Atenção Básica como porta de entrada para a atenção à saúde do idoso no SUS e a referência para a rede de serviços especializados de média e alta complexidade (BRASIL, 2006b).

Mediante os avanços políticos conquistados na área da saúde do idoso, é importante que os profissionais da Atenção Básica estejam capacitados em termos de conhecimentos, habilidades e atitudes para elaborar e operar protocolos para ações programáticas específicas às necessidades dos idosos de maneira integrada com as demais práticas da rede de cuidado social (BRASIL, 1999).

Porém ainda há escassez de equipes multiprofissionais com formação específica nessa área (BRASIL, 2006c), sobressaindo a desinformação sobre a saúde do idoso e as particularidades e desafios do envelhecimento populacional para a saúde pública no contexto social, o que é confirmado por alguns estudos (BRAGA et al., 2011).

Portanto, nos dizeres de Martins et al. (2007a), observa-se que o grande desafio da equipe de Saúde da Família passa a ser a construção do cuidado integral à pessoa idosa; um novo modo de ser e agir em saúde vislumbrando a multidimensionalidade do ser que envelhece e do processo de envelhecimento humano.