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Atualmente, o incremento da população idosa brasileira não é mais um discurso distante, mas algo muito contemporâneo decorrente da rápida transição demográfica que vem acompanhada por mudanças epidemiológicas.

Esse maior prolongamento da vida foi determinado principalmente pela ação médico-sanitária do Estado do que pelas transformações estruturais que se traduziriam em melhoria na qualidade de vida da população: nas primeiras décadas do século XX, por meio de políticas urbanas com ênfase em campanhas sanitárias como vacinação e higiene pública, e a partir da década de 1940 pela ampliação e desenvolvimento tecnológico da atenção médica na rede pública (CHAIMOWICZ, 1997).

A acelerada mudança na estrutura etária no país pode ser ilustrada em números. Enquanto em 1960 havia três milhões de idosos, em 2008, essa cifra passou para 20 milhões - um aumento de quase 700,0% em menos de 50 anos (VERAS, 2009).

Segundo Camarano (2002), a mudança no padrão etário da população é resultado da elevada taxa de fecundidade no período de 1950 a 1960 e da diminuição da taxa de mortalidade entre idosos, o que ocasionou também no aumento da expectativa média de vida ao nascer. Posteriormente, a taxa de fecundidade caiu de forma sistemática a partir de 1970, o que fez com que a maior proporção de pessoas idosas surgisse nas décadas seguintes, visto que a reposição de jovens foi diminuindo.

Em relação à vida média dos brasileiros, dados do IBGE mostram que é superior à média global. Enquanto no mundo, a esperança de vida ao nascer foi estimada, para 2008, em 67,2 anos e, para 2045-2050, em 75,4 anos, no Brasil, a expectativa de vida em 1940, foi projetada para 45,5 anos, chegando a 72,7 anos, em 2008 (27,2 anos de vida a mais). Em 2050, espera-se alcançar o patamar de 81,29 anos, o nível atual de expectativa de vida na Islândia (81,8), Hong Kong, China (82,2) e Japão (82,6) (IBGE, 2008a).

Outro aspecto importante a ser destacado diz respeito à diferenciação da expectativa de anos vividos segundo o sexo. Em 2008, a média de vida entre

Fatores associados à qualidade de vida de idosos adscritos no Distrito Sanitário Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais

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mulheres e homens era de 76,6 e 69,0 anos, respectivamente, uma diferença de 7,6 anos (IBGE, 2008a).

Informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2002 a 2006 demonstraram taxa de crescimento populacional de 1,05% ao ano. Se continuar assim, a população do país deverá atingir o patamar de “crescimento zero” em 2039. A partir daí, serão registradas taxas de crescimento negativas e queda no contingente populacional (IBGE, 2008a).

O GRAF. 1 ilustra a transição da estrutura etária brasileira no período de 1980 a 2050, cujo formato tipicamente triangular da pirâmide populacional, com base alargada, cede lugar a uma pirâmide populacional com base mais estreita e alargamento do ápice característico de uma sociedade em pleno processo de envelhecimento (BRASIL, 2010).

Homens Mulheres GRÁFICO 1 - Composição absoluta da população, por idade e sexo, Brasil, 1980, 2000, 2010 e 2050 Fonte: IBGE, 2008a.

A partir do GRAF. 1, constata-se a tendência de menor participação relativa de crianças e jovens, acompanhada do maior peso proporcional de adultos e, particularmente, de idosos, esta última com predomínio do sexo feminino, em função de sua maior sobrevida (BRASIL, 2010; PINTO; SORANZ, 2004).

Além das transformações demográficas, o Brasil tem experimentado uma transição epidemiológica, com alterações relevantes no quadro de morbimortalidade. Observam-se complexas mudanças nos modelos de saúde-doença, que passou da predominância de doenças transmissíveis a uma maior prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (MENDES, 2012; TEIXEIRA, 2004).

Fatores associados à qualidade de vida de idosos adscritos no Distrito Sanitário Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais

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A PNAD de 2008 demonstrou o aumento das doenças crônicas à medida que a idade avança, de tal modo que 79,1% dos brasileiros de 65 anos ou mais relataram ser portadores de algum tipo de doença crônica (MENDES, 2012). Inclusive, é comum entre os idosos a presença simultânea de uma ou mais condições crônicas, associadas ou não à limitações de desempenho decorrentes dessas ou de suas sequelas (RODRIGUES et al., 2008).

Para alguns autores, doenças mais simples podem tornar-se mais complexas com o aumento da idade, visto que sintomas associados a essas doenças alteram com o envelhecer (FRIED; WALLACE, 1992), exigindo, portanto, o conhecimento do comportamento dos agravos que acometem este segmento populacional.

Em decorrência do aumento das condições crônicas de saúde, o perfil de mortalidade no país também mudou, como o previsto, e hoje acompanha a tendência mundial de morte por doenças crônicas não transmissíveis, principalmente de origem cardiovascular (CAMPOLIM, 2009).

Em 1930, as doenças infecciosas respondiam por 46% das mortes, decrescendo para um valor próximo a 5% em 2000; ao mesmo tempo, as doenças cardiovasculares que representavam em torno de 12% das mortes em 1930, responderam, em 2009, por quase 30% de todos os óbitos (MENDES, 2012).

Esse predomínio tende a aumentar em função da produção social de condições crônicas, a partir de uma prevalência significativa e, em geral, crescente, dos determinantes sociais da saúde ligados aos estilos de vida, como alimentação inadequada, tabagismo, sedentarismo, excesso de peso e consumo excessivo de álcool e outras drogas (BRASIL, 2008a).

Mediante a nova realidade social e epidemiológica que se impõe por meio da mudança do perfil demográfico e epidemiológico da população há necessidade de mudanças no paradigma na atenção à saúde. Se de um lado, um país essencialmente jovem, caracterizado pelo predomínio de doenças infectocontagiosas, possui como modelo de resolução o dualismo cura/morte, por outro lado, uma nação longeva tem o predomínio de doenças crônicas, o que se deve considerar a possibilidade de compensação/não compensação. Lembra-se que o modelo de não compensação da doença crônica inclui maior disfunção, dependência e quedas (NASRI, 2008).

Dessa forma, fica evidente que “o prolongamento da vida é uma aspiração de qualquer sociedade. No entanto, só pode ser considerado como uma real conquista na medida em que se agregue qualidade aos anos adicionais de vida” (VERAS, 2009, p. 549).