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A atividade de mediação em museu de ciências

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CAPÍTULO 2 – A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA SÓCIO

2.2 A atividade de mediação em museu de ciências

Nesta seção, temos a intenção de evidenciar o papel da mediação nos museus de ciências, com foco: nos mediadores, nas atividades que realizam e nos saberes que são mobilizados nessa atividade. A mediação é aqui entendida, como o principal atributo, que designa os museus de ciências, como ambiente de intensa interatividade. Seja por meio de uma ampliação do diálogo entre os visitantes, seja ou pelo contato com os experimentos e exposições, ou ainda pela mediação da linguagem, que ocorre, principalmente a partir da interação entre os sujeitos que potencializam a experiência museal através da problematização, os mediadores.

Essa ideia de mediação se filia numa perspectivo sócio construtivista. “Nesse sentido mediar não é informar e fornecer respostas aos visitantes, mas promover diálogos que

possibilitem a todos avançarem naquilo que já conhecem, sempre com a ajuda de alguém que conhece mais” (MORAES, et al., 2007, p. 56). Mediar então é uma ação de um sujeito mais competente naquilo que é objeto de aprendizagem e por essa ação o “o aprendiz” progride no conhecimento do objeto. E isso torna o museu um espaço para compartilhar sentidos e ideias.

Bonatto, Mendes e Seibel (2007), nessa perspectiva, considera que entre as formas de linguagem, a fala assume um papel especial por ser uma das primeiras estratégias de comunicação sistematizadas. Neste sentido, os museus de ciências, podem ser considerados contextos privilegiados para a construção de diálogos compartilhados entre grupos, em função de estímulos oferecidos pelas exposições temáticas e experimentos. O uso adequado desse potencial, em certa medida, recai sobre a atuação do mediador.

Espera-se que o visitante, cada vez mais assuma uma postura ativa, marcada por questionamento, tornando a visita a esses espaços, ocasião para esclarecer curiosidades, construir novas e ter incites. Torna-se imperativo então, o reconhecimento por parte das instituições museais do visitante na sua individualidade, suas necessidades e interesses. Levando em conta esse formato de experiência museal, centrada no sujeito, surgem os chamados museus e centros interativos de ciência, como uma possibilidade a mais de aproximação entre a ciência e sociedade (MORA, 2007).

Neste novo perfil de museu, a atuação de um sujeito mediador, se diferencia daqueles de outros museus, nos quais se restringia a monólogos sobre conteúdos envolvidos nas exposições. Esse mediador deve adequar seu discurso para as distintas idades, conhecimentos e interesses de um público muito variado. O mediador lança mão de novas formas de leitura dos equipamentos exibidos e, por extensão, da própria instituição (MORA, 2007).

entendimento de Mora (2007), há principalmente três razões que parecem explicá-lo: que nem todos os museus de ciência compreenderam o papel fundamental que o mediador tem, de que contar com mediadores está longe das possibilidades econômica; a confiança que os chamados centros de ciência interativos têm de que seus equipamentos e objetos expostos são autossuficientes, em termos de comunicação.

Os poucos estudos desenvolvidos com visitantes casuais sugerem que os mediadores afetam positivamente a experiência vivida pelo público, ampliando o tempo de permanecia nas exposições e elevando o interesse pelos módulos. No estudo realizado por Cuesta et al. (2003), foi identificado que, o público reconhece os mediadores como peça chave para interação e compreensão das exposições, ratificando que são muito importante para construção de aprendizagem nesses espaços.

Para, além disso, os mediadores de museus cumprem diversas funções nos distintos museus. No Deutsches Museum de Munique (Alemanha) desenvolvem as diversas demonstrações de física, química, música, fabricação de papel, de plásticos, ou dirigem visitas explicando os processos científicos que ocorrem na indústria. Além dessas variadas modalidades de atender o público casual, continua sendo muito importante nos museus, quando do atendimento de grupos escolares (MORA, 2007).

A atuação do mediador vem se modificando ao longo do tempo e a partir da evolução da concepção educativa presentes nos museus. Assim, inicialmente, o monitor atuava como um transmissor de explicações das exposições, considerando o visitante um receptor de informação. Atualmente, sabe-se que o mediador deverá levar em conta as agendas e perspectivas dos visitantes quanto às temáticas abordadas nas exposições do museu. Na dizer de Mora (2007, p.25), “nos museus de ciência, não se objetiva a construção aprofundada de conceitos científicos, mas possibilitar o contato com os mecanismos da pesquisa, de exercitar outras maneiras de pensar e de entender o proceder da ciência”. Além disso, os mediadores lidam com a pluralidade de visitantes, no que se refere à faixa etária e interesse que demandam uma gama de saberes.

Assim, na perspectiva de delinear os saberes da mobilizados na mediação em museus de ciência, Queiroz et al., (2002) desenvolveram estudo, partindo da ideia de que se a prática docente convoca vários saberes no professor para o cotidiano em sala de aula, a atividade de mediação em museus de ciências também os mobiliza. Esses saberes docentes incluem: saber disciplinar, curricular, profissional ou das ciências da educação e da experiência e ainda o saber da ação pedagógica, aquele constituído pelos professores, testados, validados e tornados públicos por meio de pesquisas. Sabe-se que a realidade cotidiana conduzem os professores a desenvolverem um repertório de competências e habilidades como emoção cognitiva ou interpessoal, a criatividade e outros componentes fortemente ligados à arte. Diferente das competências do professor, ao mediador de museu de ciências: ‘‘É necessário ser um pouco ator, seduzir ou surpreender, suscitar o interesse ou uma reação qualquer ’’ (QUEIROZ, 2002 et al., p.27). Nesse sentido, os saberes da mediação foram identificados em três categorias: da construção do conhecimento, da ciência, e relativos ao museu (Figura 1), desde então outros estudos vem sendo realizados considerando esses saberes (QUEIROZ; GOUVÊA; FRANCO, 2003; MONTEIRO; MARTINS; GOUVÊIA, 2009; MONTEIRO, 2011; CARVALHO, 2012).

Figura 1 – Saberes mobilizados na mediação a partir de Queiroz et al. (2002)

Assim, os mediadores, educadores desses espaços, ocupam importante papel, visto que são eles que concretizam a comunicação da instituição com o público e propiciam o diálogo com os visitantes acerca das temáticas em exposição, dando-lhes novos significados. Assim, a universidade – por meio da Licenciatura -, a escola e os museus – ou os centros de cultura científica – constituem importantes parceiros na educação científica e, particularmente, na formação inicial de licenciandos-mediadores. Segundo Queiroz et al. (2002, p.78), “o mediador pode colaborar para tornar uma visita significativa, preenchendo o vazio que muitas vezes existe entre o que foi idealizado e a interpretação dada pelo público do que está exposto”.

Outrora “mediar é provocar diálogos entre visitantes e experimentos, interação presencial ou virtual capaz de promover novas aprendizagens nos visitantes” (MORAES et al., 2007, p. 57). Os autores dizem que tais “diálogos” podem ser estimulados pelos mediadores e também pelos experimentos interativos e demais objetos que integram a exposição. Nesse sentido, a mediação se aproxima do sócio construtivismo, pressupondo interações sociais como forma de potencializar aprendizagens. Para isso, a mediação fundamenta-se no uso intenso de diferentes linguagens, que podem ser faladas ou escritas. “Seja pela fala, seja pela escrita ou por outros modos de mediação semiótica, a linguagem está sempre presente nos processos de mediação” (p. 57). À linguagem é, portanto, atribuído papel fundamental, visto ser ela que possibilita a aproximação do público com a ciência divulgada nos espaços extraescolares, incentivando os visitantes no desenvolvimento de novas aprendizagens.

Para a autora “mediadores não são imprescindíveis e as exposições não podem depender deles para serem compreendidas. Por outro lado, talvez seja a mediação humana a melhor forma de obter um aprendizado correto dos conceitos abordados nas exposições” (MARANDINO, 2001, p. 397), reiterando o papel de museus e centros de ciências como locais de aprendizagem, os mediadores, neles atuam como parceiros mais capazes, que auxiliam o processo de aprendizagem (RODARI; MERZAGORA, 2007). Em sua prática diária, necessita improvisar, em resposta aos questionamentos dos diversos usuários (GOMES DA COSTA, 2007). Esses elementos, vivenciados no

cotidiano dos mediadores, contribuem para a construção da perspectiva, de que a experiência museal de cada usuário tem um curso único (FALK, 2013). Nessa direção, no próximo capítulo, apresentamos uma construção teórica que se propõem a balizar o estudo das aprendizagens desenvolvidas nas experiências vivenciadas por indivíduos em ENFAs, como museus de ciências, denominada Resultados Genéricos da Aprendizagem.

Os Resultados Genéricos da Aprendizagem consistem num arcabouço teórico que foi elaborado para avaliação da aprendizagem dos usuários de instituições culturais como museus, arquivos e bibliotecas. Trata-se de uma avaliação mais ampla de aprendizagem, para além da aquisição conceitual. Utiliza cinco grupos de resultados de aprendizagem de modo a categorizar a experiência de aprendizagem que os usuários dos museus vivenciam e descrevem (HOOPER-GREENHILL, 2007). Possibilitam assim, aferir aspectos como: prazer, inspiração, criatividade, aquisição de habilidades, ação, comportamento e progressão, atitudes e valores (Figura 2).

Figura 2 – As dimensões dos Resultados Genéricos da Aprendizagem

Fonte: Hooper – Greenhill (2007, p. 25, trad. nossa)

CAPÍTULO 3 – RESULTADOS GENÉRICOS

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