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As pesquisas com os Resultados Genéricos da aprendizagem

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CAPÍTULO 3 – RESULTADOS GENÉRICOS DA APRENDIZAGEM

3.4 As pesquisas com os Resultados Genéricos da aprendizagem

No contexto das instituições culturais, a aprendizagem é um processo de envolvimento ativo com a experiência, é aquilo que as pessoas fazem quando querem entender e criar significados para o que as rodeiam. Essa visão reflete o pensamento contemporâneo sobre a educação museal, diferente de acumular de informações passivamente (RENNIE; JOHNSTON, 2007). A aprendizagem se desenvolve pela participação ativa dos sujeitos envolvidos, converte-se em ganhos duradouros para a vida (CLAXTON, 2005). Nesse sentido, podemos dizer que, o arcabouço teórico, interpretativo dos resultados genéricos de aprendizagem RGA é baseado em teorias construtivistas e socioculturais.

Com relação às ações educativas dos museus, autores como Marandino (2006) e Nascimento e Ventura (2005), têm problematizado seus estudos no sentido de delinear uma pedagogia museal, considerando aspectos como: local, tempo, objetos, sujeitos envolvidos e a transposição de saberes que ocorrem nesses espaços. O foco desses pesquisadores está voltado para a apropriação por parte dos usuários, da experiência museal. Entretanto, inferir como se dá essa apropriação tem se constituído um desafio para os profissionais e pesquisadores desse campo, na busca por referenciais teóricos e metodológicos que se prestem a avaliação de uma aprendizagem de natureza tão peculiar. Assim, os RGAs foram elaborados buscando superar essa dificuldade no campo da educação museal.

necessidade de referenciais teórico-metodológicos específicos para balizar os estudos dos processos de aprendizagem que ocorrem em instituições culturais como museus, frente às peculiaridades contextuais, como: tempo, sujeitos, objetos (RENNIE; JOHNSTON, 2007).

Em virtude da juventude dos RGAs, ainda são insipientes pesquisas que envolvem seu uso. Diante disso, identificamos quatro trabalhos, que foram localizados pela busca das palavras-chave: “Resultados Genéricos de Aprendizagem” e “Generic Learning Outcomes”, no ICOM; Cadernos de Sociomuseologia; Universidade de Antioquia e Pinacoteca do Estado de São Paulo. Desse modo, tomamos como parâmetro os aspectos metodológicos das pesquisas: como tipo de estudo, contextos, instrumentos de construção de dados, sujeitos e as principais conclusões explicitadas pelos pesquisadores.

Os RGAs foram acunhados por uma definição de aprendizagem ampla, de modo a contemplar as experiências oferecidas por essas instituições. Desde então, são feitos estudos que fazem uso dessa teoria para analisar atitudes e comportamentos, os valores e opiniões. Apresentamos a seguir alguns aspectos de pesquisas que utilizaram os RGAs. A primeira foi desenvolvida em Portugal, num conjunto de museus; a segunda pesquisa foi desenvolvida na Colômbia e a construção dos dados ocorreu mediante realização de oficinas; o terceiro estudo foi realizado em um Museu da Escócia e a quarta experiência, vem sendo desenvolvida, através do setor educativo da Pinacoteca do Estado de São Paulo desde 2009, conforme quadro 11.

Melo (2007) desenvolveu sua pesquisa utilizando os RGAs para avaliação de qualidade de instituições museais em Portugal. A questão norteadora da pesquisa consistiu em verificar se os RGAs seriam úteis aos museus portugueses enquanto ferramenta de autoavaliação, com vista à adoção e desenvolvimento de práticas inspiradas na qualidade e que vão ao encontro as necessidades de aprendizagem das pessoas. Para tanto, realizou traduções e adaptações da estrutura conceitual à realidade portuguesa, aplicando-a a quatro museus de diferentes tutelas. O estudo foi dirigido às equipes dos

serviços educativos dos museus, contemplando intervenção que envolveu a abordagem de conceitos e princípios do RGA. A coleta dos dados ocorreu por meio de entrevistas, questionário e grupo focal. Entre as conclusões explicitadas, destacaram que o RGA, não só foi apropriado para os museus portugueses, por refletir ações cotidianas dos museus pesquisados como foi suficientemente flexível e capaz de operar leituras e avaliações, através da elaboração de novas grelhas, categorias e indicadores para captar a especificidade do fazer museológico e dos seus impactos.

Quadro 11 – Aspectos metodológicos dos estudos que utilizaram os RGAs Trabalh

o

Tipo de estudo

Contexto Sujeitos Instrumentos Conclusões

Melo (2007) Pesquisa de intervenção Quatro museus portugueses Equipe do setor educativo dos museus Cheklist Entrevista Questionário

*Apropriado aos museus portugueses;

*Flexibilidade para novas categorias; *Especificidade do fazer museológico. Fuchs (2007) Estudo de caso. Abordagem quantitativa e qualitativa Museu de arte. Usuários adultos Questionário; Entrevista; Observação da permanecia na exposição. *Conhecimento e compressão; *Limitação para identificar atitudes e valores. Cano Vera et al. (2009) Pesquisa de intervenção/ experimental Oficina temática sobre interações ecológicas em museu universitário Três turmas do 9º ano da educação básica. História Escala de Likert *Impacto positivamente nas atitudes;

*Maior frequência nas atitudes de: interesse, espírito crítico; *O ganho conceitual, semelhante às atitudes. Aidar e Chiovatt o (2011) Estudo de usuários Museu de arte Grupos em vulnerabilidad e social; responsáveis pelo grupo educador do museu. Relatório e dois tipos de questionários. *Validade para delineamento dos instrumentos. *Trabalhos de análise em andamento.

Fonte: Elaborado pela Autora (2014).

Outra utilização dos RGAs foi o trabalho de Fuchs (2007). No artigo foi apresentado um estudo de caso, qual o RGA foi tomado para desenhar e avaliar uma exposição no Museu Nacional da Escócia, destinada ao público adulto. A exposição retratava a arte islâmica, com cerca de 200 obras de arte. Os instrumentos foram estruturados considerando os resultados esperados para exposição a partir dos RGAs e incluiu um

questionário de autopreenchimento, com 200 visitantes, antes e pós-visita; entrevistas com 20 visitantes, e também gravação do tempo de permanência na exposição. No geral, 40% dos entrevistados disseram que sua percepção da arte islâmica tinha mudado, dando feedback sobre alguns dos resultados de aprendizagem como: conhecimento e compreensão. 39% dos entrevistados foram inspirados a saber mais sobre a arte islâmica, pesquisar na internet, na biblioteca, ou visitar museus, comprar livros, viajar ou visitar uma mesquita. Entretanto, com relação a essas atitudes e valores a autora considerou que elas não foram efetivamente comprovadas, o que em seu olhar exigiria um acompanhamento em longo prazo, fato que foi colocado como meta para a continuidade da investigação.

Cano Vera; Ospina Giraldo; Hoyos Duque (2009) pesquisaram o impacto sobre atitudes para a aprendizagem de ciências a partir de uma intervenção que envolveu uma oficina em museu. O estudo quantitativo foi desenvolvido no contexto do ensino fundamental, no qual uma turma foi tomada como experimental por vivenciar oficina temática sobre interações ecológicas. No quadro teórico o escopo central foi a da metacognição, da mudança conceitual e também das atitudes. Os RGAs foram considerados tanto para desenho da oficina, como para a construção dos instrumentos de coleta dados que focaram exclusivamente as atitudes, através da escala de Likert. As autoras concluíram que a vivência da oficina impactou positivamente o desenvolvimento de atitudes para aprendizagem de ciências. .As mais evidentes foram: interesse, espírito crítico frente ao trabalho em grupo e criatividade. Observou-se ainda que, o ganho conceitual, também apresentou os índices próximos ao desenvolvimento das atitudes.

No contexto do Brasil, identificamos que a Pinacoteca de São Paulo vem fazendo uso de elementos dos RGAs, em um Programa de Inclusão Sociocultural (PISC), que visa promover o acesso qualificado aos bens culturais de grupos em situação de vulnerabilidade social. Para Aidar e Chiovatto (2011), as reflexões feitas a partir dos RGAs vêm possibilitando elaborar instrumentos dirigidos aos educadores do museu, os participantes e aos responsáveis pelos grupos. Um sistema triplo, que resulta em relatórios de caráter descritivo e analítico redigido pelos educadores do museu, e dois

questionários, sendo um deles para os participantes e o outro para os educadores e/ou responsáveis pelos grupos. Um dos maiores desafios para a concepção dos instrumentos avaliativos foi o de contemplar a variedade e a subjetividade das experiências e aprendizados envolvidos nas dinâmicas. As autoras afirmaram que o desafio constante tem sido gerar instrumentos avaliativos capazes de abranger a variedade de experiências em museus. Nenhuma conclusão foi apresentada frente à aplicação dos instrumentos delineados a partir dos RGAs.

Com este trabalho foi possível traçar um panorama das possibilidades de utilização dos RGAs, a partir a diversidade dos percursos metodológicos adotados. Observamos que em todos os estudos apresentados houve uma conjunção de instrumentos de coleta de dados que se complementam entre si. Identificamos também que a oficina e as exposições, citadas nos trabalhos foram delineadas considerando os RGAs, ideia que corrobora com a perspectiva de que as situações de aprendizagem são articuladas às estratégias de avaliação.

Evidenciamos a flexibilidade desse arcabouço, diante das releituras apresentadas, frente à diversidade de contexto, instrumentos e sujeitos. Ressaltamos ainda a relevância, da presente pesquisa, na medida em que proporcionou contato com os diferentes desenhos metodológicos, na perspectiva de construção de instrumentos balizados pelos RGAs para avaliação da aprendizagem de mediadores em museu de ciências.

Na literatura nacional, identificamos que a Pinacoteca de São Paulo faz uso dos RGAs para avaliação institucional (AIDAR, 2012). Sendo importante para nós o conhecimento da metodologia utilizada por essa instituição, bem como os resultados encontrados. Assim, o recente trabalho de Aidar e Chiovatto (2011), apresenta um panorama das ações educativas, entre as quais destaque as pesquisas de público e avaliação realizadas pela instituição.

educativas a partir das obras do acervo e as apresentadas em exposições temporárias; promover a qualidade da experiência do público no contato com as obras; garantir a ampla acessibilidade ao museu e incluir e transformar em frequentes, públicos não habitualmente frequentadores. Partindo da busca por processos avaliativos compatíveis com essa proposta educativa, somados reflexões sobre as experiências avaliativas realizadas no Reino Unido, por meio dos Generic Learning Outcomes (Resultados Genéricos de Aprendizagem), que propõem a ampliação dos modelos de avaliação para além da aquisição de conhecimento formal, incluindo também as formas de aprendizagem mais subjetivas, tais como o desenvolvimento de habilidades, de atitudes e valores, a promoção de prazer, inspiração e criatividade e a transformação de comportamento.

Nesse sentido, a avaliação das ações educativas da Pinacoteca, veem elaborando instrumentos que permitem dar voz aos envolvidos diretos nas ações, que são: os educadores do museu, os participantes e os responsáveis pelos grupos. Desenvolvemos assim um sistema triplo, que consiste em relatórios de caráter descritivo e analítico redigido pelos educadores do museu, e dois modelos de questionários, sendo um deles para os participantes e o outro para os educadores e/ou responsáveis pelos grupos. Um dos maiores desafios para a concepção dos instrumentos avaliativos foi o de contemplar a variedade e subjetividade das experiências e aprendizados envolvidos nas dinâmicas, uma vez que as ações propostas pelo Programa ultrapassam os conteúdos artísticos linguísticos, formais, técnicos e contextuais, na busca da valorização da experiência interpretativa e subjetiva do indivíduo no contato com a cultura.

Todas as ações educativas da Pinacoteca são avaliadas por meio de instrumentos

próprios e – a título de exemplo - podemos citar que as visitas educativas são

avaliadas por amostragem em avaliação tripartida preenchida pelo educador do museu, educador do grupo visitante e por um visitante do grupo; sendo analisadas em conjunto. Também são desenvolvidas para as ações formativas de educadores

pedagógica, principalmente no sentido de aprofundar as maneiras de perceber e difundir as questões ligadas ao patrimônio, arte e cultura (CHIOVATTO, 2010).

Também são construídos relatórios sistemáticos pelos educadores de processos inclusivos, no sentido de perceber, ao longo do tempo, as ações desenvolvidas e seus impactos nos grupos e indivíduos participantes. Também realizamos, de maneira eventual, avaliações por observação externa, que complementa as percepções dos participantes dos processos educativos desenvolvidos. É uma busca constante gerar instrumentos e métodos avaliativos capazes de abranger a variedade de experiências e conhecimentos envolvidos, no processo educativo em museus. Desta forma, tem-se entre as referências RGA, sistema desenvolvido no Reino Unido que propõem indicadores avaliativos de aprendizado ampliado, incluindo aspectos mais subjetivos, tais como desenvolvimento de habilidades sociais e atitudinais, promoção de criatividade, transformação de comportamento, entre outros (CHIOVATTO, 2010).

Também, encontramos a utilização dos RGAs na perspectiva da avaliação de qualidade de instituições museais em Portugal. Trata-se de um trabalho de dissertação de mestrado intitulado “contributos para uma autoscopia museal – exercícios de autoavaliação em serviços educativos” Melo (2007). Nessa dissertação o objetivo foi contribuir para a discussão em torno das valências dos sistemas de gestão da Qualidade quando aplicados ao campo museal, com enfoque particular para os serviços educativos dos museus, procurando avaliar os seus processos e resultados através dos instrumentos teóricos e metodológicos da Qualidade. Parte da premissa de que os museus que aplicam os Sistemas da Qualidade nas suas práticas museais estão mais aptos a inspirarem e apoiarem as necessidades de aprendizagem de seus usuários.

Melo (2007), se apoia na ideia de que a utilização dos RGAs pode contribuir para o incremento na qualificação das experiências museais proporcionadas, possibilitando que as ações educativas museais sejam mais eficazes, a partir do momento que se torna possíveis reconhecer aspectos favoráveis e militados da instituição. Mais importante ainda, o museu pode finalmente afirmar, baseado em evidências, a sua

natureza intrinsecamente social. Porque ele é fórum, porque promove a reflexão, o diálogo e o encontro, não só do indivíduo, mas também da humanidade. Valores fundamentais para a museologia contemporânea.

Assim, no próximo capítulo será descrita a construção metodológica para elaboração desta pesquisa, buscaremos situar nossas escolhas com base nas perspectivas teóricas que foram explicitadas.

Esta tese se insere no bojo de diferentes investigações, cujos objetivos incluem a análise e compreensão de uma dada realidade, nos contextos onde elas ocorrem. Nesta direção, encontramos na abordagem qualitativa, subsídios para nortear o desenvolvimento desta pesquisa. Para Gatti e André (2011), essa abordagem, é comumente empregada em investigações que buscam reconstruir contextos particulares e, por esta razão os dados são predominantemente descritivos e levam em conta o significado que as pessoas atribuem aos fenômenos estudados.

Na revisão da literatura, sobre o tema museu de ciências, identificamos a ocorrência de pesquisas com abordagem quantitativas e qualitativas. Marandino et al. (2009) deram conta de que as pesquisas quantitativas, comumente se voltam à avaliação de resultados obtidos pelo museu, como: número de visitantes, estatísticas de uso, ocupação dos espaços e as avaliações da compreensão de temas pelos visitantes. Já as pesquisas qualitativas, se voltam a compreensão dos processos envolvidos na experiência museal, como: significados atribuídos a objetos e exposições, discurso expositivo e as interações entre grupos visitantes.

Partindo desse entendimento, buscamos com a abordagem qualitativa (ALVES- MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2002) contribuir para a compreensão da experiência museal de mediadores. Neste sentido, a pesquisa do tipo etnografia tem se prestado a investigações com esse enfoque (ANDRÉ, 2005), pois esse tipo de pesquisa envolve a reconstrução de situações vivenciadas em contextos particulares. Gatti e André (2011), consideram que a construção do conhecimento de uma realidade se dá a partir de um mergulho nas situações interacionais, nas quais os sentidos são produzidos. Ou seja, são os sentidos que possibilitam aproximações do real, mais condizente com as formas humanas de representar; pensar; agir e situar-se.

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