• Nenhum resultado encontrado

Mediação: um conceito

No documento Download/Open (páginas 73-78)

CAPÍTULO 2 – A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA SÓCIO

2.1 Mediação: um conceito

O conceito de mediação, aqui considerado se ancora na teoria histórico-cultural ou sócio histórica de Vygotsky, a qual consiste num conjunto de explicações, sobre como se caracteriza o desenvolvimento humano ao longo da existência histórica. Influenciado principalmente pelas ideias de Marx e Engels sobre sociedade e trabalho humano, o uso de instrumentos, a interação dialética entre o homem e a natureza. Foi a partir dessas perspectivas, que Vygotsky fundamentou a suas formulações sobre o desenvolvimento humano nas sociedades. Entretanto, apresentaremos aqui outras duas possibilidades teóricas de entendimento do conceito de mediação, com o objetivo de situar os encaminhamentos teóricos de construção do objeto de pesquisa.

Nos últimos anos, o conceito de mediação tem estado cada vez mais frequente no contexto educacional. Entretanto, o discurso, entre educadores nem sempre tem refletido numa apropriação conceitual. Na maioria das vezes, se relaciona a mediação, como um sinônimo da atividade laboral do professor. Assim, a partir dessa falta de apropriação do significado da mediação, tem-se erroneamente atribuído o conceito de mediação como uma ação exclusiva de docentes, quando desde sua origem, deve ser entendida como um processo inerente a qualquer totalidade complexa.

CAPÍTULO 2 – A MEDIAÇÃO DA

APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA SÓCIO

HISTÓRICA CULTURAL

Desse modo, encontramos em Nascimento (2007), uma breve discussão a cerca das origens do conceito de mediação. A autora faz uma retomada conceitual a partir das culturas grega e romana, demonstrando os diferentes modos de apropriação discursivas do termo.

Mediação é um conceito nômade entre o grego mesou e o latim mediato. No pensamento grego, a mesou visa à ideia de totalidade, ou seja, na verdade não está fragmentada na parte, mas na compreensão do todo de dentro do qual ela se insere. A mediação é, logo, uma relação estática entre um dado e outro, nada mais que o finito reportado em ele mesmo ao infinito. Assim, ele repousa sobre a antologia de identidade, servindo estritamente de ponte entre os objetos, assegurando uma função intermediária denotativa entre eles (NASCIMENTO, 2007, p.31-32).

Pensar nessa perspectiva, sugere que a mediação é inerente ao sujeito, como sendo condição necessária à apreensão do objeto. Assim, é a partir da relação com os objetos que compõem os contextos nos quais estão inseridos, que se dá a construção de saberes. Além disso, implica no entendimento de que a apreensão do objeto se dá pela mera relação, que o sujeito seja capaz de estabelecer. No caso dos museus de ciências, pode se pensar que os objetos e modelos dispensam a ação de um sujeito mediador.

Com relação à utilização do conceitual pelos Romanos, a partir de Nascimento (2007), a mediação é atribuída um significado jurídico. Em situações, que uma terceira pessoa promove a conciliação entre duas partes não consensuais. Nas palavras de autora (p.32) “A mediação envolve então a neutralidade, imparcialidade, não autoritarismo do mediador que é o facilitador da comunicação entre os disputantes.”.

Assim, a autora, surge outro modo de entendimento da mediação, com o estabelecimento de um elemento intermediário. A mediação, nesse contexto, propõe uma ontologia de continuidade entre a natureza dos objetos e o ser humano. As identidades e diferenças são integradas em um conjunto orgânico, unificado, compacto, sem dar parte ao processo interativo, entre o sujeito e os objetos.

homem sobre a natureza. O trabalho humano consiste na produção de meios de subsistência a partir de objetos socialmente elaborados. Esses meios de produção podem ser entendidos como prolongamento da ação consciente do homem e são agentes de mediação entre o ser humano e a natureza. Além disso, é através do trabalho social, que o homem se qualifica socialmente, atuando sobre si e no contexto social para constituição do sujeito histórico. Desse modo, são inseridos novos mecanismos de mediação, através da vida cotidiana, do trabalho e da linguagem para conhecer o real (NASCIMENTO, 2007, p. 132).

Zanolla (2012), a partir de uma abordagem sociocultural, discute o conceito de mediação a luz de Vygotsky e Adorno. Entende que mediação suscita uma discussão fundamental, tanto para a psicologia educacional quanto para a psicologia social. O conceito de mediação se assenta na dialogicidade entre indivíduos, que se concretiza no compartilhamento de significados. Os estudos de Vygotsky (2007) evidenciam a complexidade do conceito de mediação, com ênfase nas possibilidades de aquisição do conhecimento advindas da elaboração do conceito de zona de desenvolvimento proximal, ou seja, o aprendizado se processa a partir da interação com o ambiente e com pessoas que tenham diferentes níveis de entendimento daquilo que é o objeto de aprendizagem.

2.1.1 O processo de mediação da aprendizagem na teoria sócio histórica cultural

Buscando uma compreensão mais ampla da mediação, tornou-se imperativo localizar, as bases filosóficas que dão sustentação aos estudos desenvolvidos por Vygotsky, que encontrar-se em Marx e Hegel, portanto a uma perspectiva marxista. Para tanto, também é pertinente explicitar no escopo desta pesquisa, que a mediação compõe a complexidade das relações sociais que tem no trabalho, a sua concretude.

A Teoria Marxista, como já mencionada, teve papel fundamental no pensamento de Vygotsky. De acordo com Marx, mudanças históricas na sociedade e na vida material produzem mudanças na “natureza humana” (consciência e comportamento). Embora,

essa proposta geral tivesse sido repetida por outros, Vygotsky foi o primeiro a tentar correlacioná-la a questões psicológicas concretas. Nesse esforço, elaborou de forma criativa as concepções de Engels, sobre o trabalho humano e o uso de instrumentos como os meios pelos quais o homem transforma a natureza e, ao fazê-lo, transforma a si mesmo (VYGOTSKY, 2007).

Vygotsky viu nas ideias Marxistas, a solução dos paradoxos científicos fundamentais com que se defrontavam seus contemporâneos. Um ponto central desse método é que todos os fenômenos sejam estudados como processos, em movimento e em mudança. Em termos do objeto da psicologia, a tarefa do cientista seria a de reconstruir a origem e o curso do desenvolvimento comportamento e da consciência. Não só todo fenômeno tem história, como essa história é caracterizada por mudanças qualitativas (mudanças na forma, estrutura e características básicas) e quantitativas. Vygotsky aplicou essa linha de raciocínio para explicar a transformação dos processos psicológicos elementares em processos complexos (VYGOTSKY, 2007).

Vygotsky avança sobre outras teorias da aprendizagem ao pensar o desenvolvimento a partir das possibilidades históricas e culturais. Na medida em que visualiza nesses aspectos possibilidades para a formação de conceitos para além da maturação biológica (VYGOTSKY, 2009).

Na teoria histórico-cultural de Vygotsky (2009), o conceito de mediação ocupa um lugar central, pois o desenvolvimento humano se dá por meio do processo em que o mundo passa a ser significado, que vai se que vai se tornando um ser cultural, a partir das relações com o outro. A relação do homem com o mundo não é direta, mas essencialmente mediada, necessitando da presença de um elemento mediador, sendo a linguagem o signo principal. A significação medeia esse processo, sendo o outro o detentor das inúmeras configurações de significação.

Dessa maneira, é importante destacar que a teoria histórico-cultural, apresenta a superação do esquema: sujeito-ação-objeto, pela tríade sujeito-mediação cultural -

objeto social. A superação de um processo simples de estímulo-resposta, para um processo mais complexo, passa necessariamente pela incorporação, neste último, de elementos mediadores como os instrumentos e os signos.

Vygotsky evidencia que, a mediação ocorre por meio dos instrumentos, ferramentas e signos. As funções psicológicas como memória, atenção e percepção, inicialmente têm um funcionamento não mediado e, com o emprego dos signos, alteram-se qualitativamente, configurando-se como funções superiores ou culturais. Assim, é na relação com o outro que nos constituímos ao longo de nossa existência, na relação com os vários outros: professor, aluno, amigos, sociedade, conhecimento.

Nesse sentido, defendemos que outras experiências, além das vivenciadas no contexto formal de aprendizagem, contribuem conjuntamente para a constituição do profissional professor e para definição de perspectivas de ensino. Interessa aqui realçar que o processo de formação, inclusive de professores se dá também, por meio de intercâmbios ocorridos no ambiente profissional; com outros modos de práticas sociais e outros contextos sócios culturais, que os indivíduos possam vivenciar.

A teoria de Vygotsky constitui um avanço para psicologia, a partir de uma abordagem que possibilita descrever e explicar as funções psicológicas superiores (FPS). A presença de elementos mediadores nas relações dos homens com o meio e destes entre si tem tornado essas relações mais complexas, e o que se observa ao longo do desenvolvimento dos indivíduos é que as relações mediadas se sobrepõem às relações diretas (REGO, 1995).

Entre os elementos mediadores, Rego (1995) analisa que, Vygotsky destacou os instrumentos e os signos. Os instrumentos têm a função de regular as ações sobre os objetos, e por ampliar a possibilidade de intervenção na natureza é considerado provocador de mudanças externas, facilitador da atividade humana. Os Homens não apenas são capazes de fabricarem seus instrumentos para atividades específicas, mas são capazes, diferentemente dos animais que também podem fabricá-los, de conservá-

los, de ensinar o seu uso aos demais semelhantes, de produzir novos, de recriá-los. Segundo Oliveira (1993), a importância que Vygotsky atribui aos instrumentos na atividade humana está assentada na ideia de trabalho contida nos postulados marxistas, pela qual o homem transforma a natureza e cria a cultura e histórias humanas. Pelo trabalho, o homem desenvolve as relações sociais, cria e utiliza instrumentos.

Os signos exercem a função de reguladores das ações sobre o psiquismo, auxiliam a atividade interna do indivíduo, na resolução de situações cotidianas como: lembrar, comparar coisas. É, portanto um meio da atividade interna, de controle do próprio indivíduo. Os signos estão presentes nos grupos sociais através da linguagem. Através da linguagem, se tem a possibilidade de nomear os objetos e ações do mundo exterior, qualificar objetos, estabelecer relações entre estes. Esse sistema de signos, é que promove o intercâmbio entre os indivíduos, pela partilha do sistema de representação da realidade (REGO, 1995). Desse modo, a linguagem, é entendida como representação da realidade, que em conjunto com outros modos de comunicar, como o sistema de números e a escrita, medeiam à comunicação entre os indivíduos.

No documento Download/Open (páginas 73-78)