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1.2 – A atual estrutura de um sistema de televisão

Para entendermos quais são esses novos atores e papéis que serão desempenhados por novos agentes na produção da televisão, é necessário entendermos como esta produção está estruturada.

Arlindo Machado (2003) cita que a televisão, muito mais do que os meios que a antecederam, funciona segundo um modelo industrial e adota como estratégia produtiva as mesmas prerrogativas da produção em série que já vigoram em outras esferas industriais, sobretudo na indústria automobilística.

A necessidade de alimentar com material audiovisual uma programação ininterrupta teria exigido da televisão a adoção de modelos de produção em larga escala, onde a serialização e a repetição infinita da mesma fórmula constituem a regra. Com isso, é possível produzir um número bastante elevado de programas

diferentes, utilizando sempre os mesmos atores, os mesmos cenários, o mesmo figurino e uma única situação dramática.

Ainda para Arlindo Machado (2003), enquanto produtos como o livro, o filme e o disco de música são concebidos como unidades mais ou menos independentes, que demoram um tempo relativamente longo para serem produzidos, o programa de televisão é concebido como um conjunto que repete o seu modelo básico ao longo de um certo tempo, com variações maiores ou menores.

O fato da programação televisual como um todo constituir um fluxo ininterrupto de material audiovisual, transmitindo todas as horas do dia e todos os dias da semana, aliado ainda ao fato de que uma boa parte da programação é constituída de material ao vivo, que não pode ser editado posteriormente, exige velocidade e racionalização da produção.

Sob este ponto de vista, podemos dividir a produção de conteúdo audiovisual por meio da televisão aberta, a partir de quatro fases seqüenciais segundo o CPqD (2005). Elas são apresentadas em seqüência na figura 3:

ƒ Produção de conteúdo ƒ Programação

ƒ Distribuição e transmissão ƒ Consumo

Um conteúdo de televisão é produzido, armazenado, inserido em uma grade de programação, distribuído para as radiodifusoras de televisão e entregue, por radiodifusão, para que a população possa usufruir o conteúdo. Para que isto ocorra, em cada uma destas fases ocorrem etapas (em períodos distintos) que, por sua vez, agrupam papéis. Esses papéis são atribuídos a atores que, ao longo do tempo, desempenham atividades necessárias à consecução de seus objetivos.

Figura 3 – Estrutura geral de um sistema de televisão aberta analógica. (Adaptado de: CPqD, 2005)

Na fase de produção de conteúdo ocorre a transformação de uma idéia em um produto audiovisual a ser tratado pelo próximo ator desta cadeia. Essa fase é constituída pelas etapas de concepção (criação), de produção propriamente dita e de finalização (processamento) de conteúdos para a televisão. Dentro de cada uma dessas etapas, é possível relacionar diversos papéis, como, por exemplo, roteiristas, diretores e artistas.

A fase de programação define um dos papéis de maior destaque na organização da televisão aberta, o da programadora de televisão. Ela se encarrega da organização da grade de programação, distribuição dos programas e das inserções de anúncios publicitários (principal fonte de receita nesse mercado).

Nessa fase ocorrem as etapas de armazenamento do conteúdo e de organização da grade de programação. A grade de programação pode ser remontada após a sua distribuição para as radiodifusoras, com a inserção de conteúdos gerados ou adquiridos por radiodifusoras de alcance local.

A fase subseqüente abrange as etapas de distribuição da programação entre as radiodifusoras que integram a mesma rede e a radiodifusão dos conteúdos para fruição pelo usuário.

O esquema da figura 4 contém o detalhamento com as etapas constituintes da estrutura da televisão aberta. É importante notar que nem todas as etapas identificadas ocorrem nas situações usuais da radiodifusão. Por exemplo, nas transmissões ao vivo não ocorre nenhum tipo de armazenamento antes da distribuição e transmissão.

Figura 4 – Detalhamento com as etapas constituintes da estrutura da televisão aberta analógica. (Adaptado de: CPqD, 2005)

1.2.2 – Papéis e atores

Os papéis que integram as quatro etapas estão apresentadas na figura 5, a saber, produtora de conteúdo, programadora, distribuidora e radiodifusora de TV. No caso da TV aberta, o papel de distribuidora pode ser associado ao de prestadora de serviços de telecomunicações ou ao de repetidora, dependendo das particularidades de cada caso. Similarmente, o papel de radiodifusora pode ser associado ao de geradora – local ou não – e ao de retransmissora, dependendo da abrangência e da configuração da rede de radiodifusão.

É importante notar que cada papel é associado a uma parte da estrutura da TV aberta, porém um único ator pode desempenhar diferentes papéis, como é o caso das redes nacionais de televisão.

Figura 5 – Estrutura e papéis da TV aberta analógica. (Adaptado de: CPqD, 2005)

Observa-se que a televisão aberta no Brasil é bastante verticalizada, ou seja, os atores que formam as redes de televisão concentram vários dos papéis da cadeia dentro de suas organizações, participando das várias etapas.

Dessa forma, uma rede de televisão geralmente engloba um núcleo de atividades que se encarrega da produção do conteúdo, outro que decide a grade de programação e as radiodifusoras (geradoras, geradoras locais e retransmissoras) responsáveis pela difusão e transmissão do conteúdo.

A produção de conteúdo também pode se dar por meio da terceirização, ou seja, a rede de televisão permanece como a responsável pela concepção do conteúdo e uma produtora independente executa a produção propriamente dita. Outra forma de produção de conteúdo é a co-produção, realizada em um processo de parceria entre uma produtora independente e a rede de televisão, existindo um envolvimento da produtora, inclusive na etapa de concepção da produção. No entanto, essas formas de produção são pouco utilizadas.

Existe também a aquisição de conteúdos acabados que podem ser adquiridos tanto de uma produtora nacional independente da rede de televisão quanto de uma produtora internacional. Esta última geralmente apresenta um custo menor, pois a amortização do investimento já foi realizada no exterior. Em contrapartida, a produção nacional tem como vantagem a melhor identificação do conteúdo com o público nacional.

Na fase de produção de conteúdo para a televisão, identifica-se a presença de pelo menos três tipos de atores para o papel de produtora de conteúdo, quais sejam: núcleos de produção das redes de televisão, produtoras independentes e produtoras internacionais. Outros atores também podem atuar nessa etapa, assumindo papéis associados a um desses atores, estando, por exemplo, relacionados às atividades de criação ou processamento do conteúdo (roteiristas, finalizadoras, estúdios de dublagem, entre outros).

Ainda dentro da fase de produção de conteúdo, existe a produção dos comerciais de televisão, geralmente realizada pelas agências de publicidade, em função de demandas dos anunciantes por planos de comunicação. Frente a essas demandas, as agências propõem campanhas e formas de veiculação, negociam os preços de inserção de anúncios com as emissorase os da produção dos comerciais, quando contratados junto a produtoras independentes.

Na fase de programação, a programadora realiza as atividades referentes às etapas de armazenamento e de organização da grade de programação. Na organização (e reorganização) ocorre a inserção dos comerciais, como já dito antes é a principal fonte de receitas das redes de televisão abertas comerciais. Ao final da etapa de organização, encontra-se disponível o sinal para distribuição e transmissão para geradoras locais ou retransmissoras.

A transmissão para o usuário final (radiodifusão) é realizada pelas geradoras – locais ou não – e retransmissoras, que radiodifundem os programas para a recepção por parte dos usuários. Finalmente, dá-se a fruição pelo usuário, por meio de receptores de TV ou de videocassetes, que permitem armazenar o conteúdo e aproveitá-lo em qualquer momento após a radiodifusão.

1.3 – Novos papéis e atores com a introdução da TV Digital