• Nenhum resultado encontrado

Se utilizarmos a idéia com enfoque na televisão (LEMOS citado por MONTEZ; BECKER, 2005), interatividade nesse meio é classificada em cinco níveis de interação baseados na evolução tecnológica dessa mídia.

ƒ Nível 0: é o estágio em que a televisão expõe imagens em preto-e-branco e dispõe de um ou dois canais. A ação do espectador resume-se a ligar e desligar o aparelho, regular volume, brilho ou contraste e trocar de um canal para outro.

ƒ Nível 1: a televisão ganha cores, maior número de emissoras e controle remoto -o zapping vem anteceder a navegação contemporânea na web. Ele facilita o controle que o telespectador tem sobre o aparelho, mas, ao mesmo tempo, o prende ainda mais à televisão.

ƒ Nível 2: alguns equipamentos periféricos vêm acoplar-se à televisão, como o videocassete, as câmeras portáteis e os jogos eletrônicos. O telespectador ganha novas tecnologias para apropriar-se do objeto televisão, o que o possibilita agora, também ver vídeos, jogar; gravar programas e vê-los ou revê- los quando quiser.

ƒ Nível 3: já aparecem sinais de interatividade de características digitais. O telespectador pode então interferir no conteúdo por meio de telefonemas (como foi o caso do programa "Você Decide", da Rede Globo de Televisão), fax ou correio eletrônico.

ƒ Nível 4: é o estágio da chamada televisão interativa em que se pode participar do conteúdo a partir da rede telemática em tempo real, escolhendo ângulos de câmera, diferentes encaminhamentos das informações etc.

Apesar dessa definição de Lemos, no nível 4, o telespectador ainda não tem controle total sobre a programação. Ele apenas reage a impulsos e caminhos predefinidos pelo transmissor. Isso ainda não é TV interativa, pois contradiz a característica do "não-default”, definida por Lippman. No estágio 4, a TV ainda é reativa, sendo necessários pelo menos mais três níveis de interatividade para torná-la pró-ativa, como vimos no conceito de Reisman.

Para isso, Montez e Becker (2005) propõem mais três níveis:

ƒ Nível 5: o telespectador pode ter uma presença mais efetiva no conteúdo, saindo da restrição de apenas escolher as opções definidas pelo transmissor. Passa a existir a opção de participar da programação enviando vídeo de baixa qualidade, que pode ser originado por intermédio de uma webcam ou filmadora

analógica. Para isso, torna-se necessário um canal de retorno ligando o telespectador à emissora, chamado canal de interatividade.

ƒ Nível 6: a largura de banda desse canal aumenta, oferecendo a possibilidade de envio de vídeo de alta qualidade, semelhante ao transmitido pela emissora. Dessa forma, a interatividade chega a um nível muito superior a simples reatividade, como caracterizado no nível quatro, de Lemos (1997).

ƒ Nível 7: neste nível, a interatividade plena é atingida. O telespectador passa a se confundir com o transmissor, podendo gerar conteúdo. Esse nível é semelhante ao que acontece na internet hoje, onde qualquer pessoa pode publicar um site, bastando ter as ferramentas adequadas. O telespectador pode produzir programas e enviá-los à emissora, o que rompe monopólio da produção e veiculação das tradicionais redes de televisão que conhecemos hoje.

De forma sintética, a colocação de Kristof e Satran (citado em GOSCIOLA, 2003), propõe um outro enfoque a esta situação através da seguinte equação:

Interatividade = comunicação + escolha

Neste mesmo sentido, Laurel (citado em GOSCIOLA, 2003) diz que a interatividade ainda pode ser definida pelas variáveis de freqüência (com qual freqüência há interação), alcance (quantas escolhas são disponíveis) e significância (o quanto as escolhas afetam os conteúdos).

Com base nas colocações de Kristof e Satran, Laurel e todas apresentadas anteriormente, propomos para este trabalho a divisão da gradação proposta por Lemos e por Montez e Becker nas seguintes categorias:

Níveis 0 a 2: Interação com o aparelho televisor. Não é interatividade, pois segundo os conceitos apresentados, não existe uma interface e um sistema digital. Nos casos dos videogames, a interatividade existe com o jogo e não com a televisão.

Nível 3: Interação com o programa. Ainda não podemos tratá-la de TV interativa pois não existe a interface digital e, apesar de haver alteração do conteúdo (limitando-se a duas ou três opções pré-determinadas de finais para os programas), esta não se dá através da televisão. Há a necessidade de um outro meio para que o conteúdo seja alterado.

Nível 4: Interatividade baixa ou local. Nela, já existe a interface digital, porém as escolhas se restringem a opções pré-determinadas pelo programa de TV Digital. Ou seja, o usuário não altera a mensagem, ou não influencia realmente o conteúdo do programa que lhe é apresentado. Esse nível diz respeito à interatividade circunscrita na comunicação eletrônica/digital entre o controle remoto e o aparelho receptor.

Níveis 5 a 7: Interatividade alta ou plena. Partindo do critério de significância, o telespectador influencia no programa ao participar de seu conteúdo e de sua forma através da interface.

Portanto, teríamos somente dois níveis de interatividade: uma local (ou baixa), fraca e limitada e uma interatividade alta, ou plena, que Primo (1998) chama de reativa ou mútua, com o mesmo sentido.

Interface

Como vimos, a interatividade se dá por meio de uma interface. Portanto, ao tratarmos aqui de interface, estamos falando em seu sentido mais simples, da interface digital, situada no contexto dos softwares que dão forma à interatividade entre homem e computador. Será adotado para este estudo o conceito de interface como “uma espécie de tradutor, mediando entre as duas partes, tornando uma sensível para a outra. Em outras palavras, a relação governada pela interface é uma relação semântica, caracterizada por significado e expressão.” (JOHNSON, 2001)

Por tudo o que foi colocado, faz-se necessário lembrar novamente Montez e Becker (2005) que afirmam que quando tratamos de um sistema de televisão que seja digital e interativo não estamos tratando de uma simples junção ou convergência entre a internet e a TV, nem a evolução de nenhuma das duas, estamos tratando de uma nova mídia que engloba ferramentas de várias outras, entre elas a TV como conhecemos hoje e a navegabilidade e interatividade da internet.