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5.4 – Inclusão e exclusão digital

No decreto que institui o SBTVD, a primeira de suas funções apresentadas é a de “promover a inclusão social, a diversidade cultural do País e a língua pátria por meio do acesso à tecnologia digital, visando à democratização da informação”.(ver anexo 2). Porém, a inclusão digital por si é uma realidade distante de tecnologias muito mais difundidas do que a TV Digital, como é o caso da internet por exemplo. Portanto, para um meio do qual pouco se conhece, torna-se uma utopia tratarmos deste tema principalmente desconhecendo os determinante tecnológicos que estão envolvidos.

Para entendermos a inclusão digital e a afirmação acima, precisamos partir do entendimento do programa Sociedade da Informação. Segundo Pretto e Bonilla (2001), este programa foi desenvolvido por diversos países, no mundo inteiro, com o objetivo de elaborar políticas de inserção neste mundo de conexões, tecnologias e globalização muito intensa. A idéia desses países sempre foi a de juntar um grupo de especialistas em diversas áreas do conhecimento para elaborar propostas iniciais em termos de educação, saúde, cultura, trabalho, transportes, governo eletrônico, política de desenvolvimento científico e tecnológico, entre outras, criando-se o chamado Livro Verde56 . Este livro, lançado pela Presidência da República no ano 2000, é a primeira etapa do processo para a constituição e direcionamento das políticas públicas no que tange à inclusão digital.

Dentro do contexto da Sociedade da Informação, ainda segundo Pretto e Bonilla (2001), a concepção de sociedade que tem predominado contempla exclusivamente a questão do mercado, pelo fenômeno da globalização. Nesta concepção, é a universalização do acesso às tecnologias de informação e comunicação que vai oferecer a infra-estrutura necessária à informatização e ao desenvolvimento da economia, o que trará, como conseqüência natural dessa visão de mundo, o desenvolvimento da sociedade como um todo, não sendo, portanto, prioritário investir em questões sociais.

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A história recente tem nos mostrado que essa lógica - primeiro o econômico e depois o social - não está conseguindo dar conta das crônicas desigualdades sociais no mundo todo. Segundo os mesmos autores, as questões econômicas e de mercado devem ficar subjacentes à questão social. E ainda, a questão da universalização do acesso é condição necessária, mas insuficiente.

Estamos em um país com 11,4% de analfabetos entre as pessoa acima de 10 anos de idade e com 50.7% da população recebendo até dois salários mínimos57,

Até que ponto o combate a essa exclusão digital seria importante diante de tantas carências?

Para entendermos melhor exclusão digital e contrapô-la à exclusão social, faz-se necessário o esclarecimento deste termo, exclusão digital. Segundo Silveira (2003), uma definição mínima passa pelo acesso ao computador e aos conhecimentos básicos para utilizá-lo. Atualmente. começa a existir um consenso que amplia a noção de exclusão digital e a vincula ao acesso rede mundial de computadores. A idéia corrente é que um computador desconectado tem uma utilidade extremamente restrita na era da informação e acaba sendo utilizado quase como uma mera máquina de escrever. Portanto, a inclusão digital dependeria de alguns elementos tais como o computador, o telefone (ou outro canal de acesso), o serviço do provimento de acesso e a formação básica em softwares aplicativos.

Ainda segundo este autor, é possível distinguir a inclusão digital como o acesso:

ƒ à rede mundial de computadores (computadores conectados a um provedor) ; ƒ aos conteúdos da rede (pesquisa e navegação em sites de governos, notícias,

bens culturais, diversão etc.);

ƒ à caixa postal eletrônica e a modos de armazenamento de informações;

ƒ às linguagens básicas e instrumentos para usar a rede (chat, fóruns, editores etc.);

ƒ às técnicas de produção de conteúdo (html, xml, técnicas para a produção de hipertexto etc.);

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Uma abordagem mais ampla desta situação é colocada por Barbosa & Castro (2005). Para tais autores, “a inclusão passa pela capacitação dos atores sociais para o exercício ativo da cidadania através do aprendizado tecnológico, do uso dos equipamentos, assim como pela produção de conteúdo e de conhecimentos gerados dentro da realidade de cada grupo envolvido para ser disponibilizado na rede. Passa ainda pela possibilidade de que estes mesmos grupos possam encontrar no ambiente digital um espaço de trabalho e renda”.

Sampaio (citado por BARBOSA; CASTRO, 2005) categoriza dois tipos de propostas de inclusão digital: uma restrita e outra ampliada. Na primeira, restrita, o aprendizado da população é dirigido ao uso de computadores e de aplicativos de utilização comum, como editores de texto, planilhas, acesso aos sítios internet de serviços governamentais, ao correio eletrônico e às diferentes páginas web, estimulando a criação de leitores e consumidores das informações disponíveis. Isto é, não promove a cidadania ativa. Já a inclusão social ampliada capacita a formação de pessoal com condições de participar como interlocutores e não apenas como receptores na discussão e construção de políticas públicas, sugerida no parágrafo anterior. Como bem afirmam Pretto e Bonilla (2001), para além do aprendizado e da oferta de serviços, informações e conhecimentos, a inclusão digital ampliada colabora para o estabelecimento de relações que promovam a inserção das múltiplas culturas nas redes, em rede. E se apresenta como um espaço de mercado potencial de trabalho para jovens e adultos,possibilitando reduzir a desigualdade social de forma sustentável.

Vamos retomar a definição mínima de inclusão digital, como a universalização do acesso ao computador conectado à Internet, para podermos ter uma noção da realidade brasileira neste contexto.

Segundo o IBGE, 13,63% dos domicílios possuem computador em um contexto em que aproximadamente 49,6% deles possuem telefone fixo 58. De acordo com um levantamento feito pela Network Wisards (disponível no site do Comitê Gestor da

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Internet), o Brasil possui o maior número de hosts59 da América Latina, sendo o 9º no mundo.

A pesquisa Internet POP, realizada pelo Ibope nas nove principais regiões metropolitanas brasileiras, em maio de 2001, indicou que apenas 20% de sua população estavam conectados à rede mundial de computadores. Dos conectados somente 8% navegam por banda larga, conexão de alta velocidade (Internet POP, out./nov. 2001).

Segundo o Censo Escolar 2000 organizado pelo Ministério da Educação, apesar dos esforços recentes de vários governos, somente 37% dos estudantes de ensino médio estudavam em escolas com acesso à Internet. O censo apontou ainda que 56% dos matriculados no ensino médio integravam escolas com laboratórios de informática. Esse quadro se agrava no ensino fundamental, uma vez que somente 22% das crianças (8 milhões de alunos) estudavam em escolas com salas de informática e apenas 19% acessavam a Internet. É importante lembrar que mesmo possuindo conexão e computadores várias escolas deixam esses equipamentos sem uso, em geral, pela falta total de formação dos professores e pela ausência de uma política educacional de uso da Internet como instrumento pedagógico e de reforço à pesquisa escolar. Muitas das salas de informática ficam trancadas e acabam sendo alvo de sucateamento e furto de equipamentos.

Esses dados dão um panorama superficial da realidade da inclusão digital no Brasil. E, para a o Governo Brasileiro a entrada da TV Digital no país alteraria esta situação. Esta expectativa pode se constatar tanto na Exposição de motivos do decreto que institui o Sistema Brasileiro de TV Digital, quanto o decreto 4901 de 2003 que propriamente o institui (ver anexos 1 e 2 respectivamente), que tratam da inclusão digital como “o meio mais eficaz e rápido de alcançar a inclusão social’. Nesta perspectiva, muito está se fazendo para se disponibilizar, qualquer que seja a solução adotada, um Set Top Box de baixo custo. Porém sem desmerecer esta preocupação fundamental para o sucesso da implantação da TV Digital no Brasil, deve-se atentar para o fato de que isto resolveria apenas o problema do acesso ao

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Hosts são servidores ligados permanentemente à Internet. Servidores são computadores que servem para conectar um

sistema, não necessariamente estariam capacitados para interagir com ele a ponto de realizar a “produção de conteúdo e de conhecimentos gerados (...) e disponibilizado na rede” (BARBOSA; CASTRO, 2005) Nesta abordagem reducionista do problema, não estão contemplados a alfabetização digital e, numa análise mais ampla, é necessário lembrar que a alfabetização digital não está desvinculada das demais alfabetizações - da língua, dos números, da ciência, da expressão corporal. “Ou articulam-se estes saberes intensamente ou a alfabetização será parcial, podendo gerar o analfabetismo funcional digital. Não há como simplesmente dizer que se vai qualificar um trabalhador ensinando rudimentos de informática, porque, desse modo, ele será, também, um profissional de segunda categoria” (PRETTO; BONILLA, 2005).

Mas dentro das questões relativas ao alfabetismo digital, outro ponto a ser colocado é que não se sabe ao certo dentro de quanto tempo a TV Digital possuiria recursos, conteúdo e ferramentas disponíveis para acessar e criar este conteúdo, como a Internet possui hoje. Ou se, através do protocolo TCP/IP (ou outro protocolo) a www60 seria acessada através destes Set Top Boxes.

E, partindo deste pressuposto de acesso a uma “rede de conhecimento” através da TV Digital, três outras questões surgem. São elas:

ƒ Que dispositivos de entrada de dados seriam utilizados além do controle remoto?

ƒ Como se daria a capacitação destes usuários na operação do equipamento?

ƒ Com base na pouca familiaridade da maioria da população brasileira com as TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação, quais seriam as diretrizes quanto à usabilidade das interfaces propostas?

Portanto, para se incluir os hoje se encontram excluídos desta sociedade onde o direito à informação tornou-se essencial. A educação tem papel fundamental em todos os níveis. Porém, para que a introdução da tecnologia digital no serviço de televisão terrestre colabore de alguma forma nesta área, haveria ainda um enorme

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caminho a ser percorrido. As aplicações em outros países se mostraram limitadas quanto a informação disponível ao usuário, permitindo que este apenas interaja localmente com um conteúdo pré-estabelecido. Podemos concluir então que para se formar uma “rede de conhecimento” na qual o indivíduo deveria se inserir e produzir conhecimento a partir dela, seriam necessárias algumas décadas até que a tecnologia se encontrasse em um outro patamar, diferente do que temos atualmente no mundo.