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3 OS MODELOS E AS PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO E DA CAPACITAÇÃO DOS

3.2 A avaliação da conceção, desenvolvimento, funcionamento e impacte dos SIG e IDE

3.2.2 A avaliação das componentes e dos processos na implementação de IDE

Os elevados custos inerentes ao desenvolvimento de IDE em paralelo ao número e importância reconhecidos a cada componente determina a necessidade de avançar nos modelos, métodos, instrumentos e ações de avaliação destas infraestruturas digitais (Diaz et al., 2012), a partir de projetos ou estádios de desenvolvimento das infraestruturas existentes ou das metodologias de avaliação desenvolvidos. A evolução das metodologias de avaliação aconteceu em paralelo à evolução geracional das tecnologias e da organização das IDE (de Kleijn et al., 2014; Nushi e van Loenen, 2014; Yalcin, 2014). Os conceitos e as metodologias de natureza formal publicadas apresentam perspetivas relevantes (Crompvoets et al., 2008b) mas ao mesmo tempo, apresentam âmbitos e objetos de avaliação parciais e neste sentido, redutores quando comparados com os métodos que consideram as IDE de forma holística (Grus et al., 2010a). Mesmo assim, existe um conjunto de abordagens, modelos e instrumentos publicadas para a avaliação de IDE (Grus, 2010). Estes processos de avaliação permitem reconhecer os resultados, obter os avanços no conhecimento mas também, as melhorias nas propostas a realizar (Crompvoets et al., 2008a; GPCGroup, 2014).

A análise de sistemas sociais, de informação ou de sistemas territoriais incluem a avaliação da respetiva constituição e funcionamento (Ostrom, 2009). Neste contexto, a consideração do carácter difuso e variável do comportamento e das representações humanas implica um nível de complexidade de análise acrescido (de Man, 2006). Estes aspetos remetem para a opção de avaliações de natureza parcial que se concentram em parte nos processos e sistemas (Grus et al., 2010a). Em particular, a avaliação de SIG e IDE focam-se normalmente na componente técnica e tecnológica e na identificação de produtos, eventualmente intermédios (Dessers et al., 2012), mas acima de tudo, de produtos, resultados e impactes finais (Williamson et al., 2006) dos projetos.

A avaliação dos impactes do desenvolvimento e funcionamento das IDE apresenta uma dificuldade considerável (Georgiadou et al., 2006, 2005). Mesmo assim existem trabalhos com objetivos e âmbitos diferentes que mostram as vantagens e a utilidade destes exercícios e dos respetivos resultados na gestão das diversas componentes das IDE (Almirall et al., 2008; Lance et al., 2006). A dinâmica atual e previsível na construção de referenciais e instrumentos no quadro da interoperabilidade, da partilha de dados e serviços de dados apresentam desafios e implicações ao nível da investigação, da inovação, do ensino, das tecnologias e dos respetivos impactes em termos sociais e económicos. A continuidade necessária de evolução dos WEBSIG e IDE obrigam ao desenvolvimento de soluções e um contexto político, legal, institucional, organizacional e tecnológico facilitador bem como, um forte compromisso, motivação de equipas e de liderança (Masser, 2009).

A evolução e a adaptação constante e contínua entre as diversas componentes de IDE acontecem, muitas vezes, de forma não linear e imprevisível, muito dependente dos comportamentos dos indivíduos e dos grupos, o que implica recolher dados para comparar estados através de métricas dirigidas numa ótica de monitorização. No início do século atendia-se, particularmente, à caracterização dos conteúdos e do funcionamento de clearinghouses (Crompvoets, 2009) que avançaram para modelos teóricos que exploram e enfatizam a componente organizacional e socioeconómica (Delgado-Fernández et al., 2005; Rodriguez- Pabon, 2005) e o forte défice de avaliação dos processos de desenvolvimento e impactes das IDE, nomeadamente de IDEL (Carrera e Ferreira Jr, 2007; McDougall, 2006).

No desenvolvimento das IDE tem-se valorizado: i) as tecnologias (Craglia, 2006); ii) a produção, a qualidade, a disponibilidade, a acessibilidade e a utilização, a qualidade e a quantidade dos dados ou serviços de dados (Schäffer et al., 2010); iii) a aplicação e a operacionalização das tecnologias de informação geográfica (Craglia e Johnston, 2004; Craglia e Nowak, 2006b; Crompvoets, 2007; Delgado- Fernández et al., 2005; Grus, 2006; Grus et al., 2008b); iv) a usabilidade e a capacidade de resposta de geoportais (He et al., 2012); e v) modelação dos dados (INSPIRE, 2003). Ainda neste quadro verifica-se, nestes últimos anos, algum esforço para construir modelos de desenvolvimento e avaliação de IDE, em particular ao nível: i) das IDEL (Bulens et al., 2006; Carrera e Ferreira Jr., 2006; Latre et al., 2005; Lucà, 2006; Riecken, 2006; Söderberg, 2005); ii) do impacte socioeconómico, do investimento e promoção económica, retorno económico e modelos de financiamento (Almirall et al., 2008; Dinechin, 2005; Giff e Coleman, 2002; Samborski, 2006); iii) da difusão do conhecimento e da articulação e cooperação institucional (Dutton et al., 2006; Evans, 1997; Harvey e Tulloch, 2006; Kok, 2005; Williamson et al., 2006); mas também, iv) na importância e nas condicionantes da capacitação humana e organizacional das entidades envolvidas (Borrero, 2005; Carrera e Ferreira Jr, 2007; Masser, 2006b; McDougall et al., 2005; Rajabifard e Williamson, 2004).

Os elevados custos e os potenciais retornos referem a importância dos modelos de desenvolvimento e avaliação de IDE relativos ao impacte socioeconómico (Krek, 2004a, 2003, 2002), da potencial promoção económica e dos modelos de financiamento (Almirall et al., 2008), da difusão do conhecimento, da articulação e da cooperação institucional (McDougall et al., 2009; Williamson et al., 2006). O acompanhamento e a experiência das IDE em fases avançadas de implementação mostram a importância da dimensão social e organizacional quando comparadas às questões e aos processos de natureza tecnológica (Borrero, 2005; Carrera e Ferreira Jr, 2007; Craglia e Campagna, 2010; Masser, 2006b; McDougall et al., 2005; Rajabifard e Williamson, 2004).

As comunidades de avaliação, embora em forte crescimento, apresentam ainda no conjunto um forte défice de avaliação dos processos e dos impactes das IDE (Craglia, 2006; Georgiadou et al., 2006; Masser, 2006a), nomeadamente no desenvolvimento de IDEL (Carrera e Ferreira Jr, 2007; McDougall, 2006), nos percursos de evolução dos SIG enquanto unidades operativas de construção das IDE (Câmara et al., 2006; Salvemini, 2004), na capacitação de indivíduos, das instituições e territórios locais (Kurvers, 2008). Atualmente, as necessidades de investigação relacionam-se com a gestão e a agilização tecnológica das redes digitais, com o desenvolvimento de novos produtos e serviços, a promoção de economias digitais

mas também, na definição e capacidade de aplicação de normativos (inter)nacionais (Díaz et al., 2011). Neste sentido, esperam-se e solicitam-se melhorias nas abordagens, métodos e processos de avaliação que considerem o papel das entidades humanas e sociais na conceção, implementação e manutenção das IDE (Poore, 2011).

O número de projetos desenvolvidos ou em curso, os investimentos realizados, os atuais e potenciais impactes bem como, a necessidade de desenvolver referenciais práticos mostram a importância dos exercícios de avaliação de SIG e IDE (Grus, 2010; Masser, 2009). Estas experiências representam um enorme potencial replicativo e orientador para a diversidade das atuais e potenciais IDEL (Harvey e Tulloch, 2006; Holland et al., 2010). Os processos de avaliação permitem recolher elementos para orientar periodicamente ou conduzir, em contínuo, as opções de natureza estratégica (Rodriguez-Pabon, 2005) assim como, as ações de natureza operativa e funcional (Bregt e Meerkerk, 2007).

Na avaliação das IDE verifica-se por norma, muita atenção aos sistemas tecnológicos no enquadramento político, na definição e normativo ao nível global e nacional (Masser, 2006a). O mesmo autor explora os impactes das inovações nas TIC, incluindo as TIG, sobre a natureza e difusão das IDE, as mudanças concetuais na natureza evolutiva e adaptativa na implementação das IDE no contexto de governança multinível e dos sistemas de gestão e inovação territorial (Masser, 2009). Neste sentido, entende-se que os desenvolvimentos das IDE são processos marcadamente políticos, sociais e organizacionais num quadro de orientação em que se aprende fazendo, em oposição aos processos e projetos rígidos de inovação tecnológica (de Man, 2007; Moore e Parsons, 2011) entendidos simplesmente pelo acesso e potencialidades de aplicação das tecnologias. Masser (1999) e Onsrud (1998) realizaram o levantamento e caracterização de trinta IDEN para melhorar o modelo de avaliação e propuseram novas melhorias aos modelos e processos de avaliação.

Nas condições de fronteiras administrativas o desenvolvimento das IDEL assume uma maior complexidade, especificidade e um maior potencial de retorno de conhecimentos e produtos (Alonso, 2007; Gallego et al., 2007). Estas experiências nestes espaços representam um enorme potencial replicativo e orientador para o planeamento e a continuidade das atuais e potenciais IDE (Alonso et al., 2008). Um conjunto de diversos projetos-piloto de IDEL transfronteiriças a nível europeu mostra ainda os resultados e os contributos das IDE na integração e coesão territorial (Söderberg, 2005) (Alonso, 2007).

Os referenciais globais e comunitários mas em particular, a experiência dos projetos transfronteiriços e da administração central (Alonso et al., 2008) devem apresentar uma articulação com o desenvolvimento de projetos WEBSIG na administração regional e local. Em Portugal, destaca-se a importância da implementação dos SIG (inter)municipais ou de outras entidades de nível regional ou local de acordo com a hierarquia e a organização administrativa e política (Sheridan e Riley, 2006). Normalmente, a avaliação é considerada em diferentes fases, seja na fase preparatória (ex-ante) ou na fase final (ex-post) ou mesmo na tentativa de identificar o nível de prontidão (Delgado-Fernandez, 2005) ou maturidade (on-going) (Makela, 2012) numa perspetiva de monitorização e dimensão evolutiva (European Commission, 2009). Em particular, verifica-se uma tendência para ganhar expressão os modelos de análise multidimensionais centrados na capacidade de resposta efetiva aos utilizadores finais (Guo et al., 2010), bem como na

eficiência dos processos de análise e processamento de informação por metodologias de conceitos e operacionalização simples (Crompvoets et al., 2008c).

As metodologias de Análise Custo-Benefício (ACB) e Retorno do Investimento (ROI) mostram que os benefícios políticos, técnicos e sociais dos SIG e IDE interagem com outros projetos paralelos, mesmo de uso e exploração de informação geográfica (Trapp et al., 2012). Em termos de resultados e impactes, segundo (Genovese et al., 2009a), os benefícios intangíveis são tão ou mais importantes do que os benefícios tangíveis. Os primeiros normalmente não afetam diretamente a análise financeira mas influenciam a perceção, a representação e a confiança dos utilizadores em cada fase de desenvolvimento do sistema (Rak et al., 2012). A subvalorização dos benefícios intangíveis determina uma menor tendência para o investimento e uma diminuição do retorno do investimento realizado (Trapp et al., 2012).

Wishart (2007) tentou esclarecer a dimensão e a distribuição dos encargos mas também, os resultados e impactes sobre cada conjunto de participantes. Este autor verificou a necessidade de quantificar a geração de valor económico ao longo de toda a cadeia de produção e uso dos dados espaciais. O desenvolvimento de SIG e IDE resulta em: i) ganhos de valor pela reunião de recursos tecnológicos e de dados e de eficácia e eficiência nos processos; ii) experiência e motivação individual e institucional; mas também, iii) vantagens inerentes a decisões rápidas e fundamentadas (Samborski, 2006); e iv) confiança entre utilizadores e destes com os serviços e impactes transversais sobre novas economias ou reforço dos recursos ativos dos utilizadores envolvidos. Neste âmbito, destacam-se os custos, os resultados, os benefícios, o valor dos serviços e os impactes tangíveis e intangíveis, de curto e médio prazo, em particular os ganhos de capacitação para todas as entidades envolvidas (Castelein et al., 2010; Janssen e Crompvoets, 2010). Nos últimos anos, desenvolveram-se de forma considerável, as metodologias de utilização holística (SADL, 2011) que integram perspetivas e os métodos parciais anteriores (Grus et al., 2011) e que podem ser ajustados ao âmbito e objeto de aplicação. A avaliação de IDE é tendencialmente centrada em avaliações

ex-ante como justificação para a viabilidade da opção do investimento. A avaliação enquanto consciência,

compreensão e aprendizagem visam planear, intervir e melhorar resulta por sua vez numa base para fundamentar o plano de desenvolvimento das IDEs (Grus et al., 2011).

Por vezes não se considera a devida importância às dimensões de capacitação individual da organização coletiva ao desenvolvimento e adaptação institucional (Alonso et al., 2007a; Carrera e Ferreira Jr, 2007; Masser, 2004) e à importância do posicionamento do indivíduo relativamente aos processos em causa (Nedović-Budić et al., 2011b), nomeadamente o conhecimento e as limitações atuais e futuras de enquadramento e moldura legal (Janssen et al., 2008). Alguns autores consideram a evolução dos aspetos legais (Onsrud, 2010), a liderança (Giuliani et al., 2011) o acompanhamento de programas (Lance et al., 2011), na avaliação de processos de implementação de IDE a partir das intervenções dos projetos SIG (Câmara et al., 2006; Kurvers, 2008). Normalmente estas avaliações apresentam uma avaliação de natureza exploratória e formativa que favorece o planeamento estratégico em opções de médio e longo prazo (Lance et al., 2011). A avaliação e capacitação interagem e contribuem para a instalação e animação de redes de conhecimento (académicas) e trabalho (técnico-políticas) contribuintes para o desenvolvimento das IDE (Perenya, 2006).