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As IDE no desenvolvimento de sociedades e comunidades espacialmente habilitadas

2 AS IDE NO DESENVOLVIMENTO DE SOCIEDADES E COMUNIDADES ESPACIALMENTE HABILITADAS

2.4 As IDE no desenvolvimento de sociedades e comunidades espacialmente habilitadas

Atualmente os SIG, mas principalmente as (ciber)infraestruturas de dados espaciais (IDE) apresentam-se como base para a formação das sociedades e governos espacialmente habilitadas (Spatially Enabled

Government and Society - SEGS) (Rajabifard e Eagleson, 2013b; Rajabifard et al., 2010a; Yee e Khoo,

2010), onde se desenvolvem e exploram as enormes possibilidades implícitas ao governo eletrónico no quadro da governança digital dos territórios inteligentes e inclusivos (Piro et al., 2014). Estas dinâmicas relacionam-se com as potencialidades de inovação, a capacidade de atratividade e adaptação dos territórios associadas às oportunidades para a geração de novas economias do conhecimento e fortes contributos para a sustentabilidade territorial (Onsrud e Rajabifard, 2013). A disponibilidade de dados espaciais e a facilidade em gerar, distribuir e aceder ao conhecimento, deve resultar numa maior motivação e facilidade para a Investigação, Desenvolvimento e Inovação (I&D+i), maior fundamentação das opções técnico-científicas, maior envolvimento político, científico e técnico, da participação e responsabilização dos utilizadores finais, de regulação social, inclusão, participação e transparência dos processos (Clift, 2003; Craglia e Granell, 2014).

As IDE integram e interagem de forma crescente com outros SI e TIC, sejam sistemas de gestão ou sistemas de informação organizacionais, que incluem muitas vezes som e imagem e computação distribuída em plataformas on-line por serviços. Alguns autores referem a atual disposição e práticas do desenvolvimento de (ciber)infraestruturas de dados espaciais (C)IDE (Spatial Data Cyberinfrastructure) (Wright e Wang, 2011). As (C)IDE pretendem resolver problemas extensos e complexos através de manipulação e análise de bases de dados em quantidades massivas e heterogéneas, tal como tirar partido do benefício da partilha de dados de forma flexível e segura (Pearson, 2011). Neste âmbito, desenvolvem- se e utilizam-se procedimentos automatizados de análise espacial de forma distribuída, em oposição à computação local, sobre redes computacionais de elevado desempenho, que integram redes de sensores e capacidades avançadas de tecnologias de informação para transformar esses dados em conhecimento acessível e útil em processos de comunicação e decisão.

Os desafios à implementação das (C)IDE implicam investigação colaborativa e cooperativa necessária para: i) abordar a heterogeneidade social, as questões e desafios (geo)espaciais associados; ii) analisar os dados, fluxos e o processamento de informação necessário para resolver os problemas identificados; iii) utilizar redes semânticas para suportar a criação de conhecimento e o desenvolvimento de semânticas em ferramentas futuras; iv) desenvolver computação geoespacial distribuída para fornecer serviços intermediários e suportar a evolução dos mesmos para os utilizadores interessados; v) avançar nas Ciências Sociais que permitam compreender a abertura do ciberespaço ao público e a participação individual; vi) e melhorar a computação geoespacial em nuvem (Trilles et al., 2014). A agenda de investigação e o desenvolvimento deve abordar estas necessidades através de processos cooperativos e

colaborativos incluindo as agências governamentais, as organizações não-governamentais, a indústria, a academia, o público e os utilizadores finais (Yang et al., 2010).

Masser (2009) considera a influência das inovações das tecnologias da informação e da comunicação sobre a natureza, as mudanças concetuais na natureza evolutiva e adaptativa na implementação das IDE no contexto de formação e evolução dos conceitos de governança digital multinível. Para este autor, existe a perceção de que o desenvolvimento de IDE e de implementação é muito mais um processo social em que se aprende fazendo, do que processos rígidos próprios dos projetos de inovação tecnológica. O desenvolvimento das IDE acontece com incrementos graduais, de processos não lineares e com alguma incerteza, em processos estocásticos influenciados pelo comportamento dos indivíduos e das comunidades de práticas. A continuidade de desenvolvimento implica um plano pragmático e assumido, a avaliação constante e a capacidade de adaptação própria dos sistemas complexos. Estes pressupostos exigem sistemas de avaliação e governança exigentes, claros, coerentes e percetíveis que evoluem e melhoram de acordo com as necessidades e as práticas de avaliação (Díaz et al., 2012).

Os avanços na virtualização dos dados, nas tecnologias e nos dados geográficos para desenvolver processos de melhoria social, ambiental e económica estabelecem uma maior capacidade de compreensão e de gestão da realidade de forma transversal a toda a sociedade com a articulação, envolvimento, e responsabilidade de todos os agentes socioeconómicos. Esta recolha de dados, organização da informação e gestão do conhecimento promovem a participação e a colaboração com impactes na relação entre o público e o privado, na promoção do governo eletrónico, na transparência, na inclusão e democratização, seja na melhoria das atividades atuais ou na geração das novas economias do conhecimento (Steudler e Rajabifard, 2012).

A instalação e a operacionalização de instrumentos e processos de compreensão de gestão da complexidade dos sistemas territoriais podem ainda promover a inovação e a adaptação às mudanças e desafios. Neste âmbito, a avaliação de natureza contínua (Harvey et al., 2012) e a capacitação individual e institucional (Alonso e Julião, 2013; Masser, 2004; Rajabifard e Williamson, 2004) revelam-se de importância central, estruturante e condutora da eficácia, eficiência na implementação e sustentabilidade do funcionamento destas infraestruturas digitais de informação (Davis Jr et al., 2009). Embora a dificuldade em avaliar os impactos do desenvolvimento e o funcionamento das IDE (Kok e van Loenen, 2005), existem vários trabalhos realizados com âmbitos e objetivos diferentes que mostram os resultados positivos sobre cada e conjunto das componentes (Craglia e Johnston, 2004) (Infraestructura de Dades Espacials de Catalunya (IDEC), 2012).

Os processos de avaliação do desenvolvimento de projetos SIG e IDE mostram que os produtos, os impactos diretos e de natureza tangível e de curto prazo são relativamente fáceis de identificar e quantificar. Por outro lado os impactos de natureza indireta, intangível e de longo prazo apresentam, possivelmente, uma dimensão e valor consideravelmente maior mas com menor interesse e possibilidade de quantificação pelos utilizadores e especialistas (European Commission and Institute for Environment and Sustainability (IES), 2006). Embora os benefícios intangíveis não afetem diretamente a análise financeira, estes podem ser mais importantes do que os benefícios tangíveis (Genovese et al., 2009b; Krek, 2006). O desenvolvimento de SIG e de IDE são espaços e processos de aprendizagem que exigem e reforçam a capacitação, a formação e a habilitação individual ou coletiva. Os desafios de natureza política, legal, organizacional, tecnológica e, mesmo, social, obrigam a reunir recursos e a experimentar soluções que

aumentam obrigatoriamente os conhecimentos, as aptidões ou melhoram a atitude dos utilizadores, dos grupos ou territórios (Yee e Khoo, 2010).

Wishart (2007) tentou encontrar uma abordagem sistemática e prática para identificar e quantificar através de métricas, todos os benefícios (in)tangíveis no desenvolvimento de SIG e IDE. Neste âmbito importa quantificar a geração de valor económico ao longo da cadeia de produção e uso da informação geográfica, seja das bases de dados como ativos, seja dos produtos ou serviços facultados (Krek, 2006). Os benefícios da natureza (in)tangível incluem de acordo com benefícios para: i) o cidadão (maior acesso à informação, governança mais transparente e responsável; melhoria da capacitação e participação dos clientes e cidadão; satisfação dos utilizadores, e promoção da qualidade de vida); ii) o governo (governo eletrónico e governança digital, Geografia da Informação, melhor colaboração com outras partes interessadas dentro e fora da Administração, maior legitimidade política; melhor tomada de decisões; melhorias nos serviços de situações de emergência, segurança pública, promoção da atenção sobre as questões ambientais e desenvolvimento sustentável, silvicultura, agricultura, planeamento urbano e rural, gestão da terra, militar, segurança e serviços de saúde); iii) as empresas (aumento da inovação e do conhecimento, novas oportunidades de negócios e aplicações, criação de emprego e expansão do mercado, Economias do Conhecimento) (Craglia e Nowak, 2006a).

As sociedades espacialmente habilitadas são um cenário de sociedade que aproveita as potencialidades inerentes à dimensão espacial dos dados para compreender e gerir os sistemas e realidades de complexidade crescente e intensas mudanças. A criação de riqueza económica, a estabilidade social e a proteção ambiental podem ser alcançadas através do desenvolvimento de produtos e serviços baseados em informação espacial recolhida por todos os níveis de governo (Steudler e Rajabifard, 2012) e entidades privadas (B Baranski et al., 2011). Estas metas e objetivos podem ser facilitados através do desenvolvimento de uma sociedade, onde a localização e a informação espacial são consideradas como bens e ativos comuns disponibilizados aos cidadãos e empresas, para incentivar a criatividade e o desenvolvimento de produtos e governos habilitados espacialmente (Rajabifard, 2010b). Estes propósitos requerem dados em quantidade e qualidade em tempo oportuno, com acesso simples (Kumi-Boateng e Yakubu, 2010), confiáveis e abertos a todos os utilizadores que apresentam uma cognição, habilitação e interpretação espacialmente consciente (Masser, 2004).

Neste quadro, as IDE são contextos e plataformas facilitadoras para melhorar o acesso, a partilha e a integração de dados e de serviços de dados que criam um ambiente adequado para a efetivação destes objetivos (Olfat et al., 2012). No entanto, ainda existem muitas questões e desafios para uma completa melhoria da operacionalidade e funcionalidades destas plataformas totalmente. Estes conceitos e tendências de sociedades e governos habilitados espacialmente encerram desafios e problemas associados de (re)engenharia do desenho e arquitetura da atual IDE, como uma plataforma de habilitação para apoiar a nova visão do governo e da sociedade. A reengenharia dos processos, a (re)organização dos utilizadores ou do funcionamento territorial implicam atividades planeadas e suportadas politicamente segundo uma programação, resultados e impactes esperados (Dessers et al., 2010).

Atualmente discute-se a necessidade de modelos mais inclusivos de governação e o desenvolvimento de modelos e sistema de governança. A implementação da IDE deve envolver um grande número de partes interessadas de todos os níveis da Administração, do setor privado e academia. Em simultâneo, promove- se a partilha entre os diferentes através: i) do estabelecimento de plataformas habilitadas para permitir o

acesso a dados espaciais e a distribuição de dados relacionados a serviços; e ii) de mudanças que estão a ocorrer na natureza dos utilizadores de informação geográfica nos últimos anos (Steudler e Rajabifard, 2012). No lugar dos pioneiros destes desenvolvimentos, um número crescente de utilizadores sem conhecimentos necessitam de formação em cognição, raciocínio, representação e análise espacial para formar utilizadores mais capazes. No conjunto devem-se reunir novas capacidades, definir estratégias e empreender tarefas de implementação para as sociedades e comunidades espacialmente habilitadas (Williamson et al., 2006).

O desenvolvimento de uma sociedade e de comunidades espacialmente habilitadas implica: i) a coordenação eficaz e transparente dos atores para produzir dados, distribuir informação e gerar conhecimentos de forma transversal a todos os elementos da sociedade; ii) instalar plataformas de partilha de dados; iii) a habilitação ou capacitação para o uso dos dados e tecnologias espaciais de forma transversal à sociedade; e iv) desenvolvimento de capacidades institucionais e territoriais para a governança das IDE. A capacidade ou a habilitação espacial requer a criação de atividades e de processos para a instalação de plataformas facilitadoras de instrumentos institucionais. Este desenvolvimento deve considerar as questões técnicas e jurídicas para a partilha de dados como parte integrante das políticas e das opções da sociedade para a governança digital (Rajabifard, 2007). Neste sentido, as sociedades espacialmente habilitadas incluem iniciativas de governo eletrónico e promovem a governança digital e a economia do conhecimento para a construção de territórios inteligentes (Tao, 2013) (Fig. 2.18).

Fig. 2.18 – Componente e relações dinâmicas entre sociedade, a administração e as componentes das IDE no quadro das sociedades espacialmente habilitadas (adap. de Steudler eRajabifard, 2012).

A implementação de IDE, de sociedades e comunidades espacialmente habilitadas visam: i) a criação de riqueza económica através do desenvolvimento de produtos e serviços baseados em informação espacial

Sociedade

Governo

ORGANIZAÇÕES (departamentos governamentais) PESSOAS (cidadãos, empresas e academia) TECNOLOGIA (sistemas técnicos, em particular, IDE)

Entidades envolvidas na Habilitação Espacial

Governo

recolhida por todos os níveis de governo; e ii) a manutenção da sustentabilidade ambiental através da monitorização regular e repetida de uma ampla gama de indicadores espaciais, distribuídos por todo o país como um todo (Fig. 2.19).

Alguns autores indicam que existe algum exagero nas potencialidades, mas acima de tudo, nos resultados práticos e efetivos de aplicação das IDE (de Vries, 2008; de Vries et al., 2011). Entre uma teoria e uma retórica verifica-se uma diferença considerável em particular, na distribuição transversal dos impactes positivos sobre todos os indivíduos e grupos da sociedade (Crompvoets et al., 2010). Como em qualquer processo de inovação e desenvolvimento importa identificar e gerir os potenciais elementos de exclusão seja de grupos, setores ou territórios.

Fig. 2.19 – As componentes, processos e objetivos do uso das IDE em sociedades espacialmente habilitadas.

A implementação de capacidades, mas acima de tudo de hábitos que visem a produção, a mobilidade, a partilha, o acesso e a utilização de serviços de dados espaciais entre entidades, implica, segundo (Bregt e Meerkerk, 2007), a articulação, a coordenação e a regulação de atores e projetos. A interoperabilidade de sistemas deverá facilitar a criação de um ambiente de informação conectado e dinâmico que identifique e ajude os decisores, os técnicos e os utilizadores finais na gestão das tendências ambientais e socioeconómicas, no apoio à fundamentação e à coordenação das intervenções (Tóth et al., 2012). Esta capacidade de proposta/resposta deve visar a resiliência e a sustentabilidade do território, o aumento da produtividade, de maior eficiência e a geração de economias, em última análise da promoção do bem-estar, da qualidade de vida e do ambiente (Craglia et al., 2012; Craglia e Granell, 2014).

Governo Industria

Produtividade

Plataforma de ligação e catálogo;

Ambiente colaborativo para o desenvolvimento de projeto; Melhoria de analise;

Melhorar o trabalho e produtividade do capital Integrar o uso da terra e infraestrutura Melhorar a eficiência da infraestrutura urbana

Cidadãos

Habitabilidade:

Visualização do uso da terra - melhor desenho urbano e estrutura; Analisar o impacto da estrutura sobre o bem-estar das comunidades; Melhoria da análise do tipo de uso do solo;;

Fonte de informação para gestão de áreas de jurisdição. Melhorar a acessibilidade e reduzir a dependência de veículos particulares Apoio da comunidade para o bem-estar

Sustentabilidade

Gestão de novas RRRs;

Fornecer informações para indústrias relevantes por exemplo gestão de risco e proteção civil;

Proteger e sustentar os nossos ambientes naturais e construídos Reduzir as emissões de gases de efeito estufa e melhorar a qualidade do ar Gerir os recursos de forma sustentável

Aumentar a resiliência às alterações climáticas, situações de emergência e desastres naturais Eficiencia Valor Monetário Inovação Adaptabilidade Resiliência Acessibilidade Equidade Subsidiariedade Integração

Melhorar o planeamento e gestão das nossas cidades Simplificar os processos administrativos Avaliar o progresso

Compromisso

3 OS MODELOS E AS PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO E DA