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A Biblioteca de Caráter Público segundo a Unesco

2 BIBLIOTECA DE CARÁTER PÚBLICO: instrumento de socialização

2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA A BIBLIOTECA NO BRASIL

2.1.1 A Biblioteca de Caráter Público segundo a Unesco

No que tange aos serviços para a biblioteca pública a Unesco patrocinou encontros para discutir políticas de serviços de biblioteca, criação de sistemas nacionais de bibliotecas, funções da biblioteca nos países em desenvolvimento, e também metodologia do planejamento dos serviços de documentação, bibliotecas e arquivos. Desses encontros foram criadas bibliotecas públicas em países em desenvolvimento e definidas diretrizes para os Sistemas Nacionais de Bibliotecas Públicas. O resultado dessas políticas, segundo Silva (1994), a Unesco realizou dentre outros:

 Seminário Internacional de Verão Unesco e International Federation of Library Associations (IFLA) para Bibliotecários; Inglaterra, 1948;

 Seminário sobre Bibliotecas e Educação Fundamental e de Adultos, realizado na cidade de Malmõ, Suécia, 1950;

 Seminários Regionais realizados na América Latina (1951); na África (1953); na Ásia (1955) e estados árabe (1959);

 Ciclo de Encontros Regionais em Quito, Equador (1966) Colombia, Sri Lanka (1967); Kampala, Uganda (1970) e no Cairo, Egito (1974);

 Conferência Intergovernamental sobre o Planejamento de Infra- estruturas Nacionais de Documentação, Bibliotecas e Arquivos para a America Latina, Ásia, África, Estados Árabes. 1975, Paris.

A Unesco desempenha importante trabalho nos países na linha da pobreza e nos países em desenvolvimento, perseguindo a idéia de melhoria da qualidade de vida do homem. A intervenção da organização nas questões sobre saúde, educação, cultura, lazer, trabalho entre outros, remete diretamente à questão da visão social de mundo orientado para a democratização do acesso à informação e do desenvolvimento do ser social.

A primeira versão do Manifesto da Biblioteca Pública, elaborada pela Unesco, em 1949, (Anexo A), destaca a atuação da biblioteca pública e sua função em relação ao ensino e caracterizando-a como centro de educação popular. Diz que:

Missões da Biblioteca Pública

1. Educar-se continuamente;

2. Manter-se a par dos progressos em todos os campos do conhecimento;

3. Manter a liberdade de expressão e uma atitude crítica construtiva em relação a todos as questões públicas;

4. Ser cidadãos melhores socialmente e políticamente do seu país e do mundo;

6. Desenvolver as suas capacidades criativas e de poder de avaliação em artes e letras;

7. Ajudar, em geral, o avanço do conhecimento;

8. Usar seu tempo de lazer para promover a felicidade pessoal e bem-estar social.

A segunda versão do Manifesto da Biblioteca Pública da Unesco publicada em 1972, (Anexo B) destaca como indicador as atribuições da biblioteca pública, a educação, a cultura, o lazer. Diz que:

Missões da Biblioteca Pública

1. Propiciar o livre acesso à informação;

2. Estimular a participação da população na vida nacional e na vida democrática;

3. Promover a difusão e a proteção das culturas nacionais, autônomas e de minorias, tendo em vista a formação da identidade nacional, como também o conhecimento e o respeito às outras culturas;

4. Formar o leitor crítico e seletivo;

5. Ser um instrumento de educação formal e não formal; 6. Ser o centro de comunicação e informação da comunidade.

A terceira versão do Manifesto da Biblioteca Pública da Unesco (1994) (Anexo C) enfatiza o compromisso da biblioteca pública com a democratização do acesso às novas tecnologias de informação e enumera as seguintes missões básicas relacionadas à informação, alfabetização, educação e cultura devem estar na essência dos seus serviços. Diz que:

Missões da Biblioteca Pública

1. Criar e fortalecer hábitos de leitura nas crianças desde a mais tenra idade;

2. Apoiar tanto a educação individual e autodidata como a educação formal em todos os níveis;

3. Proporcionar oportunidades para o desenvolvimento criativo pessoal;

4. Estimular a imaginação e criatividade da criança e dos jovens; 5. Promover o conhecimento da herança cultural, apreciação das artes, realizações e inovações científicas;

7. Fomentar o diálogo intercultural e favorecer a diversidade cultural; 8. Apoiar a tradição oral;

9. Garantir acesso aos cidadãos a todo tipo de informação comunitária;

10. Proporcionar serviços de informação adequados a empresas locais, associações e grupos de interesse;

11. Facilitar o desenvolvimento da informação e da habilidade no uso do computador;

12. Apoiar e participar de atividades e programas de alfabetização para todos os grupos de idade e implantar tais atividades se necessário.

Nos manifestos da Unesco, a educação e biblioteca são elementos inseparáveis. A ausência ou a pouca presença do Estado em traçar diretrizes e políticas públicas para esses segmentos, denuncia a negação e o silenciamento, trazendo conseqüências negativas para sociedade. Sabe-se que a oralidade, a leitura e a escrita são os pilares na educação de jovens e adultos quer seja no espaço físico da sala de aula, quer seja no espaço da biblioteca de caráter público (MILANESI, 2002).

É indiscutível que todos os homens possam aprender a ler e desenvolver suas capacidades de letramento; cada leitor é único; aprende em ritmo diferente e tem necessidades diferentes. ―O analfabeto não é por escolha, mas por determinações histórico-sociais que fazem-no conduzido‖ (MILANESI, 2002, p.34).

É o grande desafio proposto em 1994 no 3º Manifesto da Biblioteca Pública da UNESCO, alterando as regras da biblioteca pública, com o seguinte conceito:

A biblioteca pública é o centro local de informação, disponibilizando prontamente para os usuários todo tipo de conhecimento. Os serviços fornecidos pela biblioteca pública

baseiam-se na igualdade de acesso para todos, independentemente de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua, status social. (grifos nossos).

A biblioteca pública de qualidade gerada no seio do estado do bem-estar- social, não espelha uma realidade para os países de industrialização periférica como é o caso brasileiro. Caminhos posteriores a 1994 demonstram a implantação de mudanças lentas, embora alguns projetos renovadores, em algumas instituições, tenham sido postas em prática. É na percepção de que é necessário formar leitores

que sejam capazes de realizar transformações sociais mais amplas no país e que a Unesco busca a realização plena dos indivíduos:

Liberdade, prosperidade e desenvolvimento da sociedade e dos indivíduos são valores humanos fundamentais. Eles serão alcançados somente através da capacidade de cidadãos, bem informados, para exercerem seus direitos democráticos e terem papel ativo na sociedade. [...] A biblioteca pública, porta de entrada para o conhecimento, proporciona condições básicas para a aprendizagem permanente, autonomia de decisão e desenvolvimento cultural dos indivíduos e grupos sociais (Unesco, 1994).

É claro que o procedimento de fazer o leitor bem informado, coloca a necessidade de uma biblioteca pública equipada, estabelecendo melhores serviços de forma tradicional com a combinação de um conjunto de ações culturais e de serviços com o uso de elementos virtuais como a web e referência digital proporcionando serviços de forma mais rápida, de fácil acesso e com atividades de cultura e de entretenimento oferecidas nos locais. Como função cultural democrática, deve oferecer instalações adequadas, com rampas e mesas de tamanho e altura ajustáveis para cadeiras de rodas e para o público infantil. O passo seguinte será motivar o indivíduo para interpretar com propriedade a informação, para relacioná-la com a vida concreta e poder elaborar, a partir da informação, posicionamentos alternativos.

As políticas de informação e comunicação como expressões do direito à informação podem remodelar os significados das práticas sociais, porquanto interferem no grau de autonomia dos sujeitos, na forma de relação entre Estado e Sociedade, na ampliação dos canais de acesso e fazer emergir novas classes e hierarquias.