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2 BIBLIOTECA DE CARÁTER PÚBLICO: instrumento de socialização

2.3 BIBLIOTECA COMUNITÁRIA

O desenvolvimento de programas voltados para o incentivo à leitura amplia as possibilidades e as necessidades de ações mais imediatas, e assim, a biblioteca comunitária surge na América. A cultura anglo-saxônica compreendeu que era preciso permitir ao povo o acesso à informação, ou como um organismo criado com base nos fundos da coletividade. Tanto na Inglaterra, como nos Estados Unidos da América, essas bibliotecas, geridas pelos poderes locais, são independentes do poder central.

Na Europa, os movimentos cooperativistas, que datam do século XIX, também registram a criação de bibliotecas comunitárias para atender as demandas das famílias cooperadas.

No Brasil, a biblioteca comunitária, atende a demanda das comunidades de bairros periféricos. Neste contexto, o livro deve ser levado até onde estão as pessoas que precisam dele, acolhendo qualquer ação que contribua para o fortalecimento de políticas de leitura e possibilite sua articulação em rede de esforços compartilhados.

Fundamentando-se na comunicação social e nos fenômenos da leitura e do livro, Escarpit (1918-2000), afirma que a persistência de uma avidez pelo conhecimento em muitas partes do mundo tem estimulado crescentes esforços para satisfazer os desejos, o acesso à leitura sendo vital a organização das instituições governamentais e também privadas nesse processo com o intuito de melhorar a qualidade do serviço prestado pela biblioteca.

O termo biblioteca comunitária é citado em artigo pela primeira vez na literatura brasileira por Carminda Ferreira em 1978, ao discutir o tema biblioteca pública e biblioteca escolar. Nele a autora faz a distinção entre os dois sistemas de biblioteca, citando uma experiência sócio-comunitária americana do início do século passado.

Para Machado (2008) o termo biblioteca comunitária é mais apropriado para identificar a biblioteca como um empreendimento social que surge do desejo e da necessidade de um determinado grupo de pessoas em ter acesso ao livro, a informação e à prática da leitura, resultantes da intervenção educativa sócio- comunitária que tem por objetivo proporcionar subsídios que favoreçam a construção da autonomia e a transformação social.

O conceito de Machado (2008, p. 64), entende a biblioteca comunitária como:

Um projeto social, que tem por objetivo estabelecer-se como uma entidade autônoma, sem vínculo direto com instituições governamentais, articuladas com as instâncias públicas ou privadas locais, liberadas por um grupo organizado de pessoas com o objetivo de ampliar o acesso a informação, à leitura e ao livro, com vista a sua emancipação social.

A importância da inserção do conceito sobre as bibliotecas comunitárias neste trabalho, deve-se ao fato de muitas delas possuírem uma estrutura cujo alicerce é capaz de absorver e elevar a um nível cultural e econômico a todos os indivíduos, principalmente aqueles que integram as classes de baixa renda. O seu histórico está atrelado ao conceito de biblioteca popular (ALMEIDA JUNIOR, 1997).

As bibliotecas comunitárias organizam-se, atualmente, nas regiões mais remotas, segundo os métodos mais diversos. Cite-se a Associação Vaga Lume, ONG criada para levar o livro e a leitura para as comunidades rurais da Amazonas. Outras bibliotecas têm parceria com órgãos públicos e dispõem de serviço a exemplo de biblioteca ambulante, que fica a cargo do Estado do Amazonas

Outro exemplo significativo de ações voluntárias voltadas para o estímulo à leitura é realizado no município de Campanha (sul de Minas), pela Associação Civil, ONG Sebocultural, organizando bibliotecas em pontos-chave da cidade de acesso público ininterrupto como rodoviárias, delegacias, etc. Na rodoviária, por exemplo, a

biblioteca fica em uma sala sem portas, facilitando assim o acesso irrestrito não apenas da comunidade, mas também de viajantes que usam o terminal.

As ações voluntárias realizadas pelas associações não governamentais têm prestado relevante campanha pelo prazer da leitura, crescimento das interações humanas – pessoais, mentais e institucionais –, um sentimento de responsabilidade para os nossos semelhantes. Elas podem ser o embrião em torno do qual ocorrerão mudanças na educação, a exemplo da introdução da leitura no contexto da prática cultural.

Para, Milanesi (2002, p.75) o desafio dos serviços informacionais não está atrelado ao aperfeiçoamento tecnológico da rede de computadores, mas à ação local no bairro, na cidade, na escola.

A participação da comunidade na gestão da biblioteca, seja ela comunitária ou pública, é entendida de maneira a buscar o conhecimento do que cada comunidade necessitaria. A formação do acervo das bibliotecas comunitárias, é feita geralmente por promoção de campanhas visando à doação de livros, não há critério de seleção para a constituição de um acervo atualizado e compatível com os interesses da comunidade. A doação, principalmente de livros, por parte da comunidade, é uma das formas utilizadas para enriquecer quantitativamente o acervo. As técnicas de organização do acervo, dentro dos modelos da biblioteconomia, não são tão importantes.

O lado positivo e o negativo das bibliotecas comunitárias, apontado por Machado e Vergueiro (2010, p. 9):

[...] apesar de algumas bibliotecas comunitárias apresentarem bom desempenho no estímulo à leitura, como as bibliotecas da região norte do país, elas não conseguem chegar a um nível de especialização que permita trabalhar a informação pública. Isto nos faz concluir que, apesar do trabalho com a leitura, são poucas as bibliotecas comunitárias que conseguem avançar na gestão e transferência da informação pública.

Neste sentido, a importância do bibliotecário, como mediador nesse ambiente é essencial para que a biblioteca comunitária possa proporcionar de forma sistemática o acesso à informação, função maior da biblioteca. A produção do conhecimento somente ocorre quando o objeto estiver relacionado a um contexto,

ou seja, na medida em que a informação estiver conectada a um sentido mais amplo. Para que este profissional possa desempenhar bem o seu papel na sociedade, são necessárias políticas públicas que incrementem as bibliotecas para o povo, sejam elas públicas, comunitárias ou especializadas, com o propósito de que, num esforço comum, Estado e cidadão, reúnam aspirações que tornem possível um Brasil com um significativo número de leituras e leitores.

Para entender melhor a diferenciação entre biblioteca pública e comunitária, Andrade (1989, p.13) define a primeira como aquelas ―voltadas para os interesses das classes subalternas, expressando uma proposta política antagônica aos interesses das classes dominantes‖. Já Almeida Júnior (1997, p.93) as bibliotecas comunitárias ―compartilham muitas das características das bibliotecas públicas, inserindo-se ambas na categoria de Bibliotecas destinada a cobrir as necessidades de informação de uma determinada comunidade‖.

Machado (2008, p.64), traz um quadro comparativo das características entre as BP e BC, sinalisando algumas diferenças entre elas são aqui consideradas substanciais (Quadro 1):

Quadro 1: Comparativo entre Biblioteca Pública e Biblioteca Comunitária

Fonte: MACHADO, 2008, p.64