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3.6 – A biblioteca escolar: cooperação e trabalho em Rede

Tendo em conta que a BE é a “pedra basilar do sistema de informação nacional sendo hoje um elemento fundamental tanto do sistema educativo como do sistema bibliotecário dos países desenvolvidos” (Calixto, 1994, p.57), um dos principais eixos de relações deve estabelecer-se com outras bibliotecas. Em Portugal temos o exemplo da Rede de Bibliotecas Escolares, cujos objectivos já enunciámos anteriormente e,

partindo do pressuposto de que cada escola tem uma biblioteca, estar em rede “permitirá racionalizar custos e fomentar o alargamento e o intercâmbio de recursos, a realização de iniciativas conjuntas de divulgação, animação e formação e, ainda, a abertura à comunidade” (Veiga et al., 1996, p.54). Recorde-se que o Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares, em Portugal, é o organismo que coordena o desenvolvimento de bibliotecas escolares já existentes ou a criação de novas.

Em suma, trabalhar em cooperação com outras bibliotecas escolares, trocar experiências, actividades e documentos consistirá sem dúvida numa mais valia para os seus utilizadores. De salientar que este trabalho de cooperação pode providenciar outro tipo de serviços como o empréstimo inter bibliotecário, a referência ou criação de bibliotecas digitais, tendo como base os modernos programas de computadores para gestão dos catálogos, trabalho facilitado mormente pela existência dessa ferramenta tão fantástica que é a Internet. A IFLA /UNESCO (2002, p.9 e 10) defendem que a existência de um catálogo de acordo com as normas bibliográficas internacionais facilita:

“their inclusion in wider networks. In many places around the world, school libraries within a local community benefit from being linked together in a union catalogue. Such a collaboration may increase the efficiency and quality of book processing and make it easy to combine resources for maximum effect”.

As bibliotecas escolares são as primeiras a intervir na criação de hábitos e ferramentas pessoais no âmbito das literacias em crianças e jovens, as quais lhes permitirão, um dia mais tarde e por motivos diversos, usufruir dos serviços prestados por outras bibliotecas.

Esta noção de trabalho em rede foi desde logo apresentada na primeira versão do Manifesto da UNESCO sobre a Biblioteca Pública (1949) onde podia ler-se: “é essencial que as Bibliotecas cooperem entre si para que a totalidade dos recursos nacionais possa ser utilizada e posta ao serviço dos leitores”. Na versão mais recente, de 1994, lê-se o seguinte:

“para assegurar a coordenação e cooperação das Bibliotecas, a legislação e os planos estratégicos devem (…) definir e promover uma rede nacional de Bibliotecas, baseada em padrões de serviço previamente acordados. A rede de Bibliotecas públicas deve ser concebida tendo em consideração as Bibliotecas nacionais, assim como as Bibliotecas Escolares e Universitárias”.

Assim, o trabalho de cooperação só pode trazer bons frutos tal como o professor investigador Ross Todd (2001, p.13 e 14) defende:

“there are benefits to students when school and public libraries communicate and cooperate more effectively. Evidence suggests that students who are active school library users are more likely to have more positive attitudes to public libraries and using those libraries”.

A cooperação entre biblioteca escolar e biblioteca pública pode passar pela construção de catálogos colectivos e assistência técnica em geral, ao empréstimo inter bibliotecário, à promoção das bibliotecas e do seu acervo, à realização de actividades de promoção de leitura e de índole cultural, troca de experiências, etc.

Com o intuito de “rentabilizar e coordenar os recursos biblioteconómicos a nível nacional e local” (Veiga et al., 1996, p.55 e 56) foi criado em Portugal o Serviço de Apoio Às Bibliotecas Escolares (SABE), consignado no programa de lançamento da Rede de Bibliotecas Escolares. Este serviço, a criar nas Autarquias a partir das Bibliotecas Municipais, deve coordenar localmente o desenvolvimento de redes concelhias de bibliotecas escolares, sendo-lhe ainda atribuídas as seguintes funções:

“- apoiar as bibliotecas Escolares, estimulando a sua criação onde não existam ou acompanhando o desenvolvimento das existentes; - promover a articulação das Bibliotecas Escolares com as outras bibliotecas do concelho, procurando formas de cooperação e rentabilização de recursos; - fornecer recursos físicos e de informação às bibliotecas (…) nomeadamente às Escolas de menor dimensão, e apoiar projectos específicos; - prestar colaboração técnica às escolas no domínio da organização, gestão e funcionamento (…); - participar na formação contínua dos profissionais envolvidos no serviço de Bibliotecas Escolares; - fornecer recursos suplementares aos existentes nas Escolas, seja através do empréstimo prolongado, seja por empréstimos pessoais para projectos específicos; - apoiar o uso eficaz dos recursos, através do aconselhamento na selecção dos recursos ou no desenvolvimento do serviço de Biblioteca” (Idem, Ibidem).

Evidentemente que a criação deste serviço e a sua proficiente actuação pressupõe a existência de uma Rede de Bibliotecas Públicas estabelecida e promovida com o apoio dos poderes públicos, nacionais e locais. Embora em Portugal exista a

Rede de Bibliotecas Públicas, encontramos municípios que ainda não estabeleceram os

protocolos necessários com o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (IPLB) o que certamente vai constituir um factor de restrição para que este trabalho de efectiva cooperação possa acontecer. A população-alvo do nosso estudo, que apresentaremos na

segunda parte do nosso trabalho, reside num concelho cuja Biblioteca Municipal não está integrada na Rede de Leitura Pública. No entanto, compete-nos reforçar uma vez mais as relações positivas que devem ser estabelecidas entre as diferentes bibliotecas, sendo que, no caso das bibliotecas escolares, o professor bibliotecário vai uma vez mais ser um dos elos de ligação fundamentais, para alcançar esse fim maior que é a educação, onde a leitura e a promoção das literacias são sem dúvida a tónica dominante.