• Nenhum resultado encontrado

3.8 – A biblioteca escolar no contexto da Sociedade de Informação Hoje vivemos numa sociedade em que a informação transformada em

conhecimento é o factor determinante do desenvolvimento de nações, comunidades, que apoiadas nas novas tecnologias, moldam progressivamente a sociedade de amanhã.

Somos sem dúvida actores de uma sociedade diferente, em que a digitalização da informação operou nas últimas décadas uma revolução profunda no mundo da comunicação; esta revolução foi marcada em particular pelo aparecimento de dispositivos multimédia e pela Internet, que progressivamente vão penetrando em todos os níveis da sociedade, transformando-a e fazendo-a evoluir. (Delors et al., 2003, p55). Ao mesmo tempo, foram essas “profundas mudanças sociais e tecnológicas (…) que conduziram a um tipo e sociedade que hoje é consensualmente designada por Sociedade de Informação” (Calixto, 1996, p11).

“uma sociedade onde a componente da informação e do conhecimento desempenha um papel nuclear em todos os tipos de actividade humana em consequência do desenvolvimento da tecnologia digital, e da Internet em particular, induzindo novas formas de organização da economia e da sociedade.”

Para Azevedo (1998, p.7), a Sociedade de Informação caracteriza-se essencialmente pelas:

“imensas capacidades das telecomunicações derivadas da aplicação de novas tecnologias, que reduzem o planeta a um pequeno lugar, pleno de acontecimentos, dobrado sob o peso de informações ininterruptas. Falamos da maravilha que é dispormos de enormes quantidades de informação em casa, comodamente sentados. Mas também falamos da robotização da indústria, da automatização dos escritórios, da edição electrónica, dos recursos de ensino à distância e do software educativo multimédia, das compras e dos negócios realizados por meios electrónicos, dos novos meios de tratamento da imagem.”

Ou seja, ao falarmos de Sociedade de Informação, referimo-nos a uma sociedade em que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) desempenham um papel fundamental na vida dos cidadãos, na medida em que colocam à sua disposição uma infinidade de meios de acesso e manuseio da informação. Hoje, a utilização das TIC é uma pratica comum e factor determinante para a integração da pessoa, não só no mundo do trabalho mas também no seu ambiente social e cultural.

Uma outra questão que importa abordar prende-se com a necessidade de, paralelamente ao uso e eficiente manejo das TIC, saber lidar com a informação, que nos chega constantemente em doses excessivas, muitas vezes dificilmente compreensível para a maioria dos cidadãos, caracterizada pela efemeridade e pela instantaneidade. Esta necessidade dos cidadãos tem, obrigatoriamente, de passar por mudanças nos sistemas educativos e na educação em termos gerais.

Delors et al. (2003, p.59) no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, recomendam que “os sistemas educativos devem dar resposta aos múltiplos desafios das sociedades da informação, na perspectiva dum enriquecimento contínuo dos saberes e do exercício de uma cidadania adaptada às exigências do nosso tempo”. Aos sistemas educativos é solicitado que formem cidadãos aptos a estes novos desafios, quebrando algumas barreiras e encetando mudanças. Ross Todd (2001) afirma que“The best way to predict the future is to work

although we respect and are informed about our past, we also have the courage and determination to think and act divergently”.

Desta forma, é necessário que os currículos, a formação de docentes, a dinâmica das aulas, a rentabilização dos recursos e equipamentos existentes, as opções e linhas de acção delineados no âmbito do Projecto Educativo tenham em conta esta nova realidade, “de maneira a formar crianças e jovens capazes de aprender autonomamente e de responder às múltiplas solicitações de um mundo em constante mutação” Nunes (2005). Paralelamente, também será o sistema educativo responsável pela criação de condições para oferecer aos adultos de hoje, muitos deles filhos de uma realidade bem diferente, o acesso a estas novas ferramentas, a esta nova forma de lidar com a informação, numa perspectiva de educação permanente.

Na obra já referenciada, sob a coordenação de Jacques Delors (2003, p. 164-165) é introduzido um excerto do trabalho resultante da Mesa Redonda dos Industriais

Europeus (1994) sobre a temática “Une éducation européene. Vers une société qui apprend” que reforça o papel das TIC na educação, onde pode ler-se o seguinte:

“Ensinar é uma arte e nada pode substituir a riqueza do diálogo pedagógico. Contudo a revolução mediática abre ao ensino vias inexploradas. As tecnologias informáticas multiplicaram por dez as possibilidades de busca de informações e os equipamentos interactivos e multimédia colocam à disposição dos alunos um manancial inesgotável de informações:

- computadores de qualquer capacidade e complexidade; - programas de televisão educativa por cabo ou satélite: equipamento multimédia; - sistemas interactivos de troca de informações incluindo correio electrónico e acesso directo a bibliotecas electrónicas e a bancos de dados; - simuladores electrónicos: - sistemas de realidade virtual a três dimensões.

Munidos destes novos instrumentos, os alunos tornam-se investigadores. Os professores ensinam aos alunos a avaliar e a gerir, na prática, a informação que lhes chega. Este processo revela-se muito mais próximo da vida real do que os métodos tradicionais de transmissão do saber. Começas a surgir nas salas de aula novos tipos de relacionamento.”

Em suma, é necessário que se implemente uma nova forma de educar: já não basta que os professores ensinem os alunos a aprender; têm também de os ensinar a buscar e a relacionar entre si diversas informações de forma crítica, pois só assim se podem tornar cidadãos autónomos que se comportam em sociedade como indivíduos livres e esclarecidos.

Este novo paradigma que alicerça o sistema educativo pressupõe a existência de bibliotecas “construídas como ambientes informacionais, bem apetrechadas e desenvolvidas em estreita ligação com a escola no seu todo” (Nunes, 2005).

Para Ross Todd (2001)“information is the heartbeat of meaningful learning in

schools”, mas no entanto, “information is not power. It is human understanding and knowledge that is power, and information is how you get it”. O autor reclama assim que “the school library is about empowerment, connectivity, engagement, interactivity, and its outcome is knowledge construction”, sendo o lugar privilegiado para desenvolver a

literacia de leitura e todas as outras que lhe estão inerentes e que, no fundo, constituem o ser humano emocional e inteligente, que pensa, actua, transforma informação em conhecimento.

As potencialidades da biblioteca escolar foram já enunciadas anteriormente e, desta forma, importa assinalar o modo como este recurso do sistema educativo pode, num sentido de reciprocidade, acompanhar os progressos tecnológicos disponíveis.

Numa perspectiva mais abrangente, para além do apoio ao desenvolvimento do currículo, como recurso fulcral na criação e consolidação de hábitos de leitura, como espaço informacional, à biblioteca é solicitado que crie estratégias para responder às exigências desta realidade em mutação constante. A novidade e a evolução tecnológica podem ser factor de desenvolvimento e de progresso e, por isso, importa providenciar a todos os cidadãos o acesso à informação, a qualquer momento e em qualquer lugar, na tentativa de evitar que se crie a divisória digital, tema de debate da comunidade científica. De facto, Furtado (2006) refere que apesar do termo ser utilizado por diferentes autores em sentido mais restrito ou mais lato, este pressupõe sempre uma dualidade entre dois tipos antagónicos: os cidadãos que têm acesso a equipamento e redes de comunicação e aqueles que não têm; aqueles que são capazes de usar as TIC e os que não são; aqueles que possuem bandwidth (rácio quantidade de informação / tempo) suficiente e os que não possuem.

Se as bibliotecas e as bibliotecas escolares em particular, dispõem à partida de equipamentos e recursos (computadores ligados à Internet) estas estarão aptas a prestar eficazmente os seus serviços, combinando as formas mais tradicionais com as modernas; independentemente do suporte impresso, as bibliotecas deverão providenciar serviços modernos em rede. Se por um lado colocam à disposição de todos a possibilidade de aceder de forma gratuita a essa fonte tão formidável que é a Internet,

por outro lado dispõem dos recursos humanos aos quais é solicitado que auxiliem na pesquisa, selecção e clivagem de informação, de acordo com os objectivos a que se destina essa pesquisa. Carol Kulthau (2001) sublinha que a aprendizagem através de um leque alargado de fontes é uma habilidade essencial a desenvolver, para responder às exigências da era da informação e desta forma“ the library is the key to learning how to

learn in information-rich technological environments”.

Ao mesmo tempo, o recurso à Internet “permite às bibliotecas cumprirem um dos seus sonhos mais antigos e mais difíceis de realizar, o de levar os livros, a informação, o conhecimento aos utilizadores, onde quer que eles estejam” (Nunes, 2003). Neste sentido, estamos já a entrar no campo da Biblioteca Digital, que designam:

“[ uma ] colecção estruturada e informatizada de livros, revistas, jornais, poemas, textos, fotografias, filmes, esboços, desenhos, plantas arquitectónicas, quadros, sons, músicas e muitos outros tipos de informação audiovisual, que podem ser apresentados isoladamente ou em conjunto, em duas ou três dimensões, de acesso livre ou mediante pagamento e noutros tipos de modalidade em alternativa” (Caldeira, 2003, p.19)

Estas bibliotecas são ainda caracterizadas por permitirem aos seus utilizadores, o acesso a um conjunto de serviços, catálogos informatizados, livros electrónicos (e-

books) e ainda acesso a documentos em formato impresso e digital.

Seria desejável que todas as bibliotecas escolares possuíssem um sítio Web de forma a aproximar a biblioteca e as suas potencialidades dos seus utilizadores, mesmo que estes não estivessem fisicamente na biblioteca, tendo em conta que esta era uma forma de oferecer:

“um conjunto diversificado de serviços, dos mais básicos que, de uma certa forma podem reproduzir, enriquecendo-o com as potencialidades do novo meio, os vulgares quais do utilizador (informação sobre a biblioteca, horários, serviços prestados, formas e condições de utilização, contactos, colecções,…) a outros com diferentes graus de complexidade, como o acesso a catálogos automatizados em linha (Web OPACs), ou a recurso de Internet seleccionados e organizados de acordo com as características e necessidades dos potenciais utilizadores, a renovação e reserva de documentos para empréstimo, o acesso a serviços de referência e apoio à pesquisa em linha, o apoio aos trabalhos de casa “.(Nunes, 2003)

A mesma autora assinala também a importância desta forma de difundir e criar informação no sentido de, por exemplo, a biblioteca criar guias sobre autores e livros,

clubes de leitura, fóruns de discussão sobre temas diversos, promovendo a participação e o empenho de todos nas actividades da própria biblioteca.

Paralelamente, a autora sugere que este sítio Web ou portal pode ser a via de acesso a outras bibliotecas maiores e com conteúdos mais vastos, na medida em que pode criar uma listagem de outrossites, de acordo com diversas temáticas, organizando- os para que sejam de mais fácil acesso aos seus utilizadores. Em simultâneo o site da biblioteca escolar, “pode ser utilizado ele próprio como agente educativo, promovendo a formação informal em linha, incluindo nele estratégias de pesquisa e aprendizagem autónoma, no mundo da realidade virtual, como no mundo da realidade real” (Idem, ibidem).

De facto, a biblioteca escolar deve ser aquela que consegue acompanhar o desenvolvimento tecnológico e as necessidades e características dos seus utilizadores, criando estratégias que lhe permitam atingir os seus fins e ocupar um lugar de excelência no curso da educação.

Estas orientações estão patentes no Manifesto da Biblioteca Escolar, na sua versão mais recente de 1999, onde pode ler-se o seguinte:

“ A biblioteca escolar disponibiliza serviços de aprendizagem, livros e recursos que permitem a todos os membros da comunidade escolar tornarem-se pensadores críticos e utilizadores efectivos da informação em todos os suportes e meios de comunicação. As bibliotecas escolares articulam-se com as redes de informação e de bibliotecas de acordo com os princípios do Manifesto da Biblioteca Pública da UNESCO. A equipa da biblioteca apoia a utilização de livros e outras fontes de informação, desde obras de ficção a obras de referência, impressas ou electrónicas, presenciais ou remotas. Estes recursos complementam e enriquecem os manuais escolares e os materiais e metodologias de ensino”.

No entanto, somos confrontados com uma realidade um pouco diferente daquilo que seria de esperar, pois a presença de bibliotecas escolares na Web é um fenómeno pouco frequente, como constata Nunes (E) que, após “uma análise rápida de alguns directórios internacionais sobre sites relacionados com bibliotecas escolares revelou uma realidade ainda muito afastada da utilização plenas das potencialidades da Internet, não só em termos dos totais de presenças na Web, como também ao nível dos conteúdos”. Este parece ser ainda um longo caminho a percorrer que passa, na nossa opinião, por mais formação ao nível das TIC para os responsáveis pelas bibliotecas ou mesmo por apoio de técnicos especializados.

Feita esta reflexão, importa salientar que a biblioteca escolar deve ser vista como um recurso imperiosamente cada vez mais dinâmico, aberto, flexível, propiciador de descobertas, percursor da evolução tecnológica, lugar para onde convergem fluxos de informação que se inter cruzam e se querem transformados em conhecimento. Para Nunes (2006), face às novas exigências dos nossos dias, a biblioteca escolar deve ainda implementar um programa de formação de utilizadores, que pode abarcar diferentes linhas de actuação:

“ - Alfabetização em ferramentas: conhecimento e uso das ferramentas de tecnologias de informação; - Alfabetização em recurso: conhecimento das formas e métodos de acesso aos recursos informacionais; - Alfabetização sócio - cultural: compreensão da situação social e de produção da informação; - Alfabetização investigadora: uso de tecnologias de informação para investigação e os trabalhos escolares; - Alfabetização para a publicação: habilidade para difundir e publicar informação; - Alfabetização nas tecnologias incipientes: capacidade para compreender as inovações em tecnologias da informação e para tomar decisões inteligentes; - Alfabetização crítica: capacidade para avaliar de forma crítica os benefícios e os custos da informação” (Shapiro e Hughes cit. por Nunes, 2006).

A mesma autora defende que “as possibilidades de actuação das bibliotecas através dos seus programas de formação são muito amplas: temos a tecnologia, temos os recursos, temos a base teórica e uma cultura de cooperação. É só questão de imaginar…”. A autora imprime ao processo de actuação das bibliotecas e dos seus técnicos conceitos como qualidade, gestão, mudança e novas tecnologias pois

“impõe-se-nos a todos uma mudança de mentalidade no nosso trabalho que, não esqueçamos, já não é só ser intermediários entre informação e o utilizador, com umas necessidades informativas e umas carências de formação determinadas, mas também criar e gerir informação de valor acrescentado” (idem, ibidem).

O utilizador vai ter um papel activo em todo o processo de formação e que exige por parte do técnico uma actuação não amadorista: a formação de utilizadores sustentada por estes princípios deve constar “num programa de formação documentado, que fixe os objectivos, detecte as carências, estruture os desenhos e as acções, avalie os resultados e estabeleça conclusões estratégicas de melhora” para que as bibliotecas escolares tenham “um efectivo impacto na escola” (Nunes, 2006).

Na verdade, só a biblioteca que contemple todas estes aspectos, se constituirá como um espaço de aprendizagem capaz de contribuir para o desenvolvimento harmonioso da personalidade das crianças e jovens, ao permitir-lhes o contacto com os produtos da imaginação, da criatividade e do engenho humanos e estabelecendo redes de contacto aprazíveis e estimulantes dentro e fora dos muros da escola.