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CAPÍTULO 1. BIBLIOTECAS PÚBLICAS

1.3 A BIBLIOTECA NA CONTEMPORANEIDADE

Chartier (1999, p. 148) defende a ideia de que, quanto mais generalizada a revolução eletrônica existir, mais despontarão comportamentos de diferenciação e de exceção; a força da bibliofilia, indiferente à revolução eletrônica, evidencia que o livro persevera uma entidade viva, já que ele passa de mão em mão, e é colecionado.

A leitura do texto existe dentro de uma pluralidade, e depende também, do leitor, de suas competências e práticas e da sua forma; sendo que a biblioteca material, na sua função de preservar as formas sucessivas da cultura escrita, tem também, um futuro

27 Atualmente, o SNBP está sediado na Esplanada dos Ministérios, Bloco B, 3º andar, Brasília, Distrito

necessário.

Com o desenvolvimento estratégico das tecnologias e o advento da internet, o acesso `informações passou a atender não somente aos usuários locais, mas também à a distância. Esta mudança, segundo Santaella (2003), traz reverberações por toda a estrutura social das sociedades capitalistas avançadas; e as novas tecnologias da informação e comunicação estão transformando não apenas os tipos de entretenimento e do lazer, mas potencialmente todas as esferas da sociedade”, do trabalho à educação.

Um bom leitor é alguém que evita um certo número de livros, um bom bibliotecário é um jardineiro que poda sua biblioteca, um bom arquivista seleciona aquilo que se deve refugar ao invés de armazenar [...] A presença do escrito nas sociedades contemporâneas é tal que ela supera toda a capacidade de conservação, mesmo para a maior biblioteca do mundo, que é a do Congresso dos Estados Unidos, que seleciona e envia a outras bibliotecas os materiais que não pode aceitar. Aliás, é preciso pensar não apenas nos livros, mas também os materiais impressos (CHARTIER, 1999, p. 127)

Devido ao rápido movimento dessas estruturas tecnológicas, nos deparamos com alguns desafios para compreender e se inter-relacionar com esses sistemas digitais de rápido acesso.

Se faz necessário, ao público frequentador de bibliotecas, que assimilem cada vez mais o estímulo pelo contato virtual; nos quais os recursos disponibilizados online pela biblioteca, possa se tornar um caminho agradável e de fácil acesso à todos, igualmente; promovendo também a integração dessas mídias, pois a biblioteca tradicional abre espaço para o tecnológico e assim compartilha muito mais que dados intelectuais, mostra um caminho para a aproximação ainda maior do sujeito com o objeto.

O sujeito é aquele que experiência, por meio do seu corpo, fonte de percepção, anterior a juízos predeterminados, tendo a reflexão como momento posterior do ato. A reflexão requer uma frequentação ingênua do mundo, um estar atento ativamente- as coisas passando por dentro do sujeito e o sujeito por dentro das coisas- e não como um espectador, distante da situação, voltado para uma representação ou pensamento. É a reflexão sobre o vivido, através da atenção concentrada, que desvela os significados daquilo que é percebido (MASINI, 2012, p.20,21)

O papel da biblioteca híbrida (Quadro 1) no processo de ensino e aprendizagem, principalmente à distância, promove um impacto na evolução da habilidade de autoaprendizagem, e ao mesmo tempo, amplia as possibilidades de acesso a fontes de informações de fora, não territorial (MIRANDA, 2008, p. 17); um usuário brasileiro, acessando uma biblioteca no exterior, por exemplo. Assim a informação permanece aberta, promovendo maiores recursos à pesquisa.

A palavra biblioteca deixou de ser uma denominação aplicada à instituição encarregada, desde a Antiguidade, de preservar os acervos; há tempos deixou de designar um prédio com vocação específica, para ser um substantivo comum próprio para todo e qualquer conjunto de acervos tangíveis ou virtuais.

Library, na acepção mais generalizada, evoca um coletivo de arquivos ou

coleções de obras ou de dados disponíveis, dependendo da tecnologia ao alcance do público (MIRANDA, 2008, p. 17).

Quadro 1_ Compartilhamento de recursos em bibliotecas híbridas.

Fonte: GARCEZ, 2002, p. 46.

A biblioteca híbrida caracteriza-se por somar tecnologias e fontes diversas; em que há uma busca para a reflexão sobre o objeto que hoje não é totalmente impresso nem 100% digital; e faz do o uso das “tecnologias disponíveis para unir, em uma só biblioteca, o melhor dos dois mundos (o impresso e o digital)”. [...]Os bens e serviços oferecidos aos usuários devem ser integrados (biblioteca híbrida) proporcionando a flexibilização necessária para a oferta de serviços de qualidade, que agreguem valor, adaptados à diversidade de usuários e diferentes locais para viabilizar o produto, com foco no cliente, já que cada pessoa ou grupo tem uma diferente necessidade de informação (GARCEZ; RADOS, 2002, p. 46,47).

A biblioteca deve ser flexível (Quadro 2), ou seja, ter a capacidade de oferecer diversos serviços, buscando satisfazer as necessidades de cada indivíduo. “Quanto maior a habilidade de flexibilização, maior será a satisfação do cliente, uma vez que a biblioteca estará excedendo as suas expectativas” (GARCEZ, 2002, p. 46).

Quadro 2_ Integração de bens e serviços prestados em bibliotecas híbridas.

Fonte: GARCEZ; RADOS 2002, p. 50.

Com o excesso de informações e criações tecnológicas, podemos pensar que, em certos setores da sociedade, há realmente uma contribuição para o desafio de entendermos as condições humanas; ao considerar o sujeito do mundo28, Merleau-Ponty, grifa, a relevância da experiência perceptiva e ensina que o conhecimento emerge do saber latente que ocorre pela experiência corporal de cada pessoa.

O autor descreve que a informatização das sociedades promove o “sonhado” instrumento de domínio, onde a regulamentação do sistema de mercado, englobando até o próprio saber, que atualmente é restrito ao encetamento de desempenho; garantindo ao público, o acesso livre às memórias e aos bancos de dados.

Isso seria uma maneira, dentro desta perspectiva (utópica ou não?), de permitir o uso destas informações completas; surgindo as disputas constituídas por “conhecimentos (ou de informações) e a reserva de conhecimentos ou enunciados de linguagem possíveis é inesgotável. Essa política poderia garantir o respeito ao desejo de justiça.”

O uso da Internet, segundo Blattmann e Rados (2000, p. 87), proporciona diferentes impactos para o usuário; a biblioteca e o bibliotecário. Eles podem ser descritos como as novas maneiras de atendimento eletrônico-digital-virtual; a maior rapidez no acesso à informação; diversidade de serviços; rupturas organizacionais e também traz o desenvolvimento de novas habilidades no manuseio dos dados. No caso da BMA, (Biblioteca Mario de Andrade) ela também disponibiliza o acesso via internet no site da biblioteca.

As bibliotecas brasileiras pertencem ativamente ao universo globalizado à medida que o desenvolvimento ganha uma ampla dimensão na Internet (GARCEZ; RADOS, 2002, p. 44).

As novas perspectivas de atendimento também poderão auxiliar no processo de ensino e aprendizagem nas escolas.

Os sistemas educacionais ainda não conseguiram avaliar suficientemente o impacto da comunicação audiovisual e da informática, seja para informar, seja para bitolar ou controlar as mentes. Ainda trabalha- se muito com recursos tradicionais que não têm apelo para as crianças e jovens. Os que defendem a informatização da educação sustentam que é preciso mudar profundamente os métodos de ensino para reservar ao cérebro humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar, em vez de desenvolver a memória. Para ele, a função da escola será, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente. Para isso é preciso dominar mais metodologias e linguagens, inclusive a linguagem eletrônica (GADOTTI,2000, p. 5).

O compartilhamento de recursos promove um acesso igualitário aos alunos e professores, transformando o conhecimento, que “é o grande capital da humanidade [...]Ele é básico para a sobrevivência de todos e, por isso, não deve ser vendido ou

comprado, mas sim disponibilizado a todos” (GADOTTI,2000, p. 8).

Há armazenagem e busca nas fontes digitais e impressas; posteriormente a distribuição e o acesso é efetuado pelo indivíduo pessoalmente na biblioteca, ou via rede, por envio digital. Portanto, o uso híbrido (físico e/ou digital) impulsiona positivamente o aprendizado.

Segundo Grossi (1995, p. 16), aprender é caminhar sem ter algo traçado de antemão, no qual exige do “aluno”, ou de um sujeito, um passo no escuro, em que requer audácia e entrega. Toda informação adquirida, por meio de outras fontes, é bem-vinda; assim, o aluno poderá tentar obter resultados positivos, dentro de cada potencial individual.

Percebemos a relevância de extrapolar os limites da estratégia convencional, para compreender quantos mecanismos de aprendizagem poderão ser utilizados pelos

estudantes; professores; pesquisadores; pelo homem contemporâneo, beneficiando sua assimilação do conhecimento; inserindo o acesso fácil e rápido pela internet, a bibliotecas públicas híbridas.

Segundo Garotti (200, p. 8) as “indústrias do conhecimento” surgem devido a falta de políticas públicas no setor, danificando uma possível visão humanista, transformando- o em um instrumento de lucro, e de poder econômico.

Desenvolver uma estrutura adequada para se alfabetizar tecnologicamente é fundamental para utilizar os recursos dessas bibliotecas, ou outras; mantendo a qualidade das informações e aprendendo também a filtrar quais as informações devem ser mais importantes para o momento presente da pesquisa, ou uso em salas de aula, como um dos recursos digitais que poderão ser experimentados, por exemplo, ao plano de aula de “literatura” ou outra disciplina.

A flexibilidade de serviços em bibliotecas híbridas, como na Biblioteca Mário de Andrade, é qualificada para agregar diversas tecnologias, e diferentes recursos, ponderando que, atualmente, a BMA não é totalmente uma biblioteca pública digital e/ ou impressa; ela constitui um papel híbrido dentro da sociedade brasileira e também não podemos ignorar o fato de que esta biblioteca em especial, também tem um papel importante dentro do aspecto social para a cidade de São Paulo, acolhendo cada visitante do bairro, do país e de outros países.

As novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos. Cada dia mais pessoas estudam em casa, pois podem, de casa, acessar o ciberespaço da formação e da aprendizagem a distância, buscar “fora” – a informação disponível nas redes de computadores interligados – serviços que respondem às suas demandas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade civil (ONGs, associações, sindicatos, igrejas, etc.) está se fortalecendo não apenas como espaço de trabalho, em muitos casos, voluntário, mas também como espaço de difusão de conhecimentos e de formação continuada. É um espaço potencializado pelas novas tecnologias, inovando constantemente nas metodologias (GAROTTI, 2000, p. 7).

Os diversos tipos de usuários que frequentam a BMA presencialmente; remoto ou

off campus, possuem os direitos preservados quanto ao uso e utilização, para retiradas de

livros, visitação online ou presencial; e atividades.

Gostaria de destacar que podemos considerar o fator tempo, para a obtenção da informação pelos usuários, uma variável importante em termos de acesso “fácil e rápido à biblioteca, seja ela pública ou acadêmica; e certamente para aqueles que já estão habituados ao uso dos recursos digitais, na escola ou no cotidiano familiar, terão maior facilidade de se beneficiarem.

A acessibilidade é um desafio para o cenário atual da educação; o ensino remoto exige que o aluno possa ter acesso aos equipamentos necessários e internet compatível; porém segundo dados apresentados pela pesquisa TIC Educação 2019 (O Globo, 2020): 40% dos alunos de escolas públicas urbanas não têm computador ou tablete em casa. Já, nas escolas particulares, essa porcentagem é bem menor_ 9%.

Esperamos que, em um futuro não muito distante, possamos oferecer com igualdade, os benefícios29 dessas bibliotecas para um número superior de pessoas, principalmente para aquelas que vivem em locais distantes e de difícil acesso à visitação de bibliotecas públicas.

A educação, em particular a educação `a distância, é um bem coletivo e, por isso, não deve ser regulada pelo jogo do mercado, nem pelos interesses políticos ou pelo furor legiferante de regulamentar, credenciar, autorizar, reconhecer, avaliar, etc. de muitos tecnoburocratas. Quem deve decidir sobre a qualidade dos seus certificados não é nem o Estado e nem o mercado, mas sim a sociedade e o sujeito aprendente (GAROTTI, 200, p. 8).

29 Em dezembro de 2019 uma Pandemia por causos do novo SARS-CoV-2, se instala pelo mundo, levando

`a milhares de mortos. Infelizmente ainda não sabemos o que irá acontecer, mas devemos respeitar as novas regras (ANEXO VII) de condutas para bibliotecas públicas estipuladas em 18 de março de 2020. O número de mortes (ANEXO VIII) no Brasil ultrapassa os 43 mil (UOL, 2020) (ANEXO VIII).

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