• Nenhum resultado encontrado

São Paulo! comoção de minha vida...

Os meus amores são flores feitas de original!... Arlequinal!...Traje de losangos...Cinza e ouro... Luz e bruma... Forno e inverno morno... Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes... Perfumes de Paris... Arys!

Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!... São Paulo! Comoção de minha vida... Galicismo a berrar nos desertos da América!

Mário de Andrade30

A cidade de São Paulo “é lembrada por ter se tornado uma megalópole, pela cor cinza do concreto, da poluição, quase nunca por seus bairros mais bucólicos, ainda com árvores e jardins, tão pouco seu passado é resolvido” (AMBROGI in SCHWARTZ, 2019, p. 223).

Também foi pioneira na história da evolução das bibliotecas públicas brasileiras; e podemos compreender melhor, sobre a escolha da localização do primeiro local que recebe a BMA, retomando uma breve história do desenvolvimento da cidade; pois “a imagem de uma cidade é a lembrança que se constrói ao longo do tempo, evocada pelos sentidos atribuídos a ela” (AMBROGI in SCHWARTZ, 2019, p. 223).

São Paulo dormiu sobre um platô durante pouco mais de dois séculos, acordando e crescendo na segunda metade do século XIX com a velocidade de uma criança que entra na puberdade e atravessa um turbilhão de acontecimentos em um piscar dos olhos. A intensidade do crescimento da cidade fez com que apagassem seus retratos mais antigos[...] A Vila de São Paulo em seus primórdios, adormecia sobre um pequeno platô que podia ser avistada das campinas que a cercavam, sendo os vários campanários das igrejas os elementos mais destacados que delimitavam a sua ocupação[...] (AMBROGI in SCHWARTZ, 2019, p. 224).

Após a Independência do Brasil (7 de setembro de 1822), com as mudanças estruturais na cidade de São Paulo, uma de suas ruas, recebe o nome de “Rua 25 de Março” (Figura 17), em homenagem a data da Constituição de 1824, “ lugar que nesta data havia um pequeno polo comercial que crescia ali, como antigo mercado dos caipiras,

30 “Inspiração” poema publicado em Pauliceia desvairada, 1922 e em Poesias, 1941 (ANDRADE, 2012, p.

entreposto de viveres localizado próximo ao rio Tamanduateí31 (Figura 18) ” (AMBROGI

in SCHWARTZ, 2019, p. 227-8).

A fisionomia amadurece, as arestas se arredondam, as retas se abrandam e o bairro acompanha o ritmo da respiração e da vida dos seus moradores. Suas histórias se misturam e nós começamos a enxergar nas ruas o que nunca víramos, mas nos contaram. Quando a fisionomia do bairro se humaniza pode continuar se transformando e vivendo ou pode ser golpeada de morte (BOSI, 2003, p. 204)

Figura 17_ Rua 25 de Março e Ladeira do Porto Geral (Século XIX).

Fonte: Pinterest (14/6/2020)

Atualmente, a Rua 25 de Março é uma das ruas mais famosas e conhecidas do país; e reconhecemos pela história que, desde o início, seria um ponto importante para o comércio local. O que não poderíamos imaginar, é a transformação total, e como ela se tornaria muito conhecida por pessoas de todas as regiões do Brasil.

Em datas festivas, elas buscam produtos nas lojas comerciais, com valores bem competitivos de mercado, nos diversos setores de consumo, principalmente para vendas no atacado e varejo.

31 Termo de origem Tupi que significa "rio dos tamanduás verdadeiros", através da junção dos termos

tamandûá (tamanduá), eté (verdadeiro) e 'y (rio) (WIKIPEDIA, 2020)

Lade ira Por

to Ge ral

Figura 18_ Antonio Ferrigno Salerno – Itália (1863-1940). Rio Tamanduateí, São Paulo-SP,1894 Pintura à óleo sobre tela (44 x 70 cm).

Fonte: MASP (2020)

Até meados da segunda metade do século XIX, trouxe ao Brasil, mudanças significativas e profundas para à economia; pois, a taxa parcialmente elevada de desenvolvimento atingida, realizou-se devido ao crescimento da demanda de trabalho dos envolvidos em comércio exterior32; e lida com uma província de vocação agrícola de

economia fundada no latifúndio.

Todo o discurso dessas elites traz, na base, um regionalismo ferrenho. Assim, num primeiro momento, trata-se de explicar o sucesso do café pela natureza do paulista: forte, corajoso, empreendedor, desbravador dos interiores, alargador das fronteiras, o Bandeirante encarna aí o ascendente por excelência da população local, formador do verdadeiro caráter paulista, quatro séculos antes (SCHPUN, p.11, 2003).

Em sua capital, habitavam não mais de 20 milhões de pessoas, governadas por lideranças oligárquicas, o café se destaca e lugar principal; promove o surgimento de fortunas, e com elas os símbolos de riqueza e de “civilização”, estradas de ferros, confeitarias, cafés, teatros; “que é impulsionada com a chegada dos estudantes para a recém criada, Faculdade de Direito (1828) [...] passam a trazer novas reivindicações, era

32 O café, introduzido no país desde o século XVIII, até então era cultivado para fins de consumo local,

preciso municipalidade para contornar os percalços, domar as inquietudes” (AMBROGI in SCHWARTZ, 2019, p. 223).

A oligarquia do café ocupa aí uma posição chave. Seu sucesso e riqueza recentes ligam-se intimamente à política imigratória e ao boom demográfico paulistano. Assim, como beneficiários e artífices do processo de urbanização, os membros do grupo enxergam na nova cidade o reflexo por excelência de seu imaginário (SCHPUN, p.12, 2003).

Em 1895, foi criada a Biblioteca Pública do Estado, era administrada por Jerônimo de Azevedo33, modernidade paulista crescia mesmo com a conturbada situação desses

processos; sendo que a sociedade brasileira, estava decidida a construir uma nação moderna, e em especial, São Paulo, se constituiria uma clara expressão desse projeto.

“Acervo de 60 mil volumes, e em 1937 se fundiu com a Municipal pelo decreto 2.839, art. 5º, de 5 de janeiro de 1937, doando-se 40 mil obras. Instalada à Praça João Mendes, nº 9, ao lado da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios; prédio foi demolido para ‘melhoramentos’ urbanos” (REIPERT 1972, p. 16).

Em 1907, a cidade de São Paulo tem cerca de 260.000 habitantes, e sua produção industrial representava 16,5% da produção nacional (NEGÃO, 1979, p. 187); e já apresentava sinais da importância para o cenário da produção nacional; no período da inauguração da segunda sede dessa biblioteca, em 1926, São Paulo já possuía mais de 650 mil habitantes. Atualmente, a capital possui cerca de 11.869.660 habitantes, segundo dados do IBGE de 2020 (Fonte: Agência Brasil, publicado em 20/01/2020).

O processo de urbanização paulistano, por sua velocidade e violência únicas, provocou e inspirou uma profusão de textos e narrativas. Reportagens, crônicas, críticas, ensaios, poemas, contos, romances [...] a nova vida urbana deixou suas marcas nos mais variados vetores discursos dos anos 10 e 20. Isto sem contar as representações visuais: na pintura e no incipiente cinema nascente também encontramos os ecos desse processo (SCHPUN, p.11, 2003). Na década de 20, todo esse desenvolvimento urbano, com o incentivo a exportação de café e prosperidade para a economia; traz um olhar mais acentuado para as diferenciações das classes sociais, em que foram marcadas pelas crises sociais e o nascimento de políticas que buscavam a queda das oligarquias.

No século XX, a cooperação, entre intelectuais, artistas da literatura, artes

plásticas etc. e trouxe para a cidade, a Semana de Arte Moderna, mais conhecida como a semana de 22, que que contava entre seus organizadores, com a presença do bibliotecário

33 Existem relatórios inusitados sobre a sua instalação; ele adota o lema “Saber para prever a fim de prover”,

Rubens Borba de Moraes; “criou-se uma memória em que a Semana de 22 se estabeleceu como um divisor de águas, e tudo o que aconteceu de moderno no Brasil nas primeiras décadas do século XX passou a ser considerado uma espécie de premonição dos temas de 22 (VELLOSO, 2010, p. 22).

A partir da realização da Semana de Arte Moderna , em 1922, o novo conceito para biblioteca pública traz a preocupação para o pensamento mais voltado às questões das necessidades da sociedade, sendo a Biblioteca Mario de Andrade , a primeira a ser baseada no modelo e na escola norte-americana de biblioteconomia, em fevereiro de 1960 (MACHADO ; SUAIDEN, 2015).

Com a retomada da programação cultural no Auditório da BMA, foi um ponto positivo para recuperar seu lugar na agenda cultural da cidade de São Paulo.

Intelectuais como Oswald de Andrade e Mário de Andrade, artistas como Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Victor Brecheret, entre outros, assumiram esse papel; e principalmente os jovens, sentiam a necessitada de corresponder às necessidades dos novos tempos; de abdicar dos modelos mais obsoletos.

Especialmente o inquieto, apaixonado e tomado por sua visão e espírito criador, Mário de Andrade, teria um destaque na expressão dos ideais coletivos desse segmento dos intelectuais paulistanos que buscavam mais liberdade de pensamento e criação, que contava também com a ajuda da elite econômica local.

Já, os objetivos desejados pelos rebeldes,

era passar a limpo o País, acertar-lhe o passo, num esforço para inseri-lo na contemporaneidade universal vigente, sem o sacrifício das peculiaridades características, de seus legítimos valores, através de uma tomada de consciência, em profundidade da realidade nacional e sua possível projeção no campo artístico, cultural e até mesmo político, como seria inevitável (ALMEIDA, 1976, p. 30).

Aracy Amaral (1998, p. 219) descreve que “a movimentação desse punhado que quer revolucionar o ambiente artístico brasileiro, é impossível desvincular o artista plástico do poeta, e este do romancista”.

O objetivo, de cada um, na fase anterior, ou logo após a Semana de 22, é idêntico: “derrubar os passadistas quanto às novas ideias que já impunham em Paris, e trazê-las para o nosso meio intelectual e artístico. É a informação impulsionando a uma forma de expressão mais atual [...] O nacionalismo na primeira fase foi a mola do movimento, não foi de forma alguma um objetivo” (AMARAL, 1998, p. 219).

O Modernismo no Brasil, foi principalmente, um provocador de movimentos, em que alguns deles derivaram em ações políticas; um dos exemplos, foi a criação do Departamento de Cultura de São Paulo (1935), por Paulo Prado.

No Brasil, o internacionalismo, e nacionalismo, foram simultaneamente, as características básicas do movimento modernista ocorrido nas letras e artes a partir de meados da segunda década do século. Mas, o nacionalismo, virá com a decorrência de uma ânsia de afirmação a partir, gradativamente, da implantação da república em 1889, estando implícito o desejo de rompimento da intelectualidade com o século XIX, e a ascendência do academismo nas artes (AMARAL, 1998, p. 21).

Na época, ele era responsável pelo Gabinete da Prefeitura de São Paulo; que elege Mário de Andrade34 para assumir o novo departamento mas no campos das artes, a maior

conquista, foi a da liberdade de pesquisa; “de conseguir uma integração de brasilidade neles inerente por meio de uma linguagem atual do ponto de vista pictórico” (AMARAL, 1998, p. 239).

Por outro lado, Mário de Andrade, afirma que, “naquela época o artista brasileiro tinha uma verdade social, uma liberdade (infelizmente só estética), uma independência, um direito às suas inquietudes e pesquisas”, que não tendo transitado pelo que passaram os Modernistas da Semana de 22, ele nem poderia imaginar que conquista gigante, representa (AMARAL, 1998, p. 239).

De fato, em São Paulo, (1922), o “moderno” ainda inusitado, tentava compreender, dentro do panorama internacional, o movimento surrealista de Breton (1924), após o dadaísta, mas não alterou o evento, pois Paulo Prado dizia que, o importante mesmo era o evento.

Com exceção da música de Villa Lobos e, em poesia, da Pauliceia desvairada de Mário de Andrade, das telas de Anita Malfatti e John Graz, a literatura de 1922 e as obras apresentadas no saguão do teatro Municipal, estavam muito distantes daquilo que se denominaria como “vanguarda” do tempo internacional (AMARAL, 1998, p. 15).

Nos anos 30, a imagem da cidade de São Paulo

é mais uma vez recuperada, num contexto diverso e a serviço de outros objetivos. Ainda que os princípios constitucionalistas, mobilizados contra Vargas, sejam originalmente fruto de tentativas de reconversão das elites, visando a recuperar espaços perdidos de poder, tal ideário chega a se popularizar em São Paulo. O paulista, herdeiro do Bandeirante, aparece então como lutador solitário à frente do País, vanguardista corajoso, pronto a tudo pela conquista de seus ideais, todos de justiça e de democracia. É assim que este rústico desbravador passa, da foice que abre fronteiras físicas, às armas que empurram para longe a ditadura, em benefício da democracia (SCHPUN, p.11, 2003).

34 A preocupação de Mário de Andrade com a questão do nacionalismo, intrinsicamente ligada à sua

2.1. HISTÓRIA

Fundada no ano de 1925, a Biblioteca Municipal, teve sua inauguração somente um ano depois (1926), na época situava-se na Rua 7 de Abril (Figura 19) região central da cidade de São Paulo (REIPERT, 1972, p. 47).

Figura 19_ Biblioteca Pública Municipal (1926), Rua 7 de Abril Arquitetura neoclássica.

Fonte: REIPERT, 1972, p. 20

Em 1925, o Prefeito autoriza o Presidente da Câmara, ao qual estava ligada a Biblioteca da Câmara, fundada em 1907, a mudá-la para lugar adequado, franqueando-a ao público (NEGRÃO, 1979, p. 188); como as bibliotecas são instituições atreladas ao estado, seriam neste caso reprodutoras e legitimadoras da ideologia dominante.

A ata da inauguração (Figura 20) consta impressões de diversas outras personalidades importantes para a história da literatura, artes e outras áreas do conhecimento; “um documento é sempre portador de um discurso que, assim considerado, não pode ser visto como algo direto e transparente [...] Como ensinou Lucien

Lebvre, e sua obras “Rabelais”, os conteúdos apresentam pistas sobre a mentalidade da época [...]” (SCHWARTZ in SCHWARTZ p. 206; 207).

Figura 20_ Ata da Inauguração _ 14/01/1926 (ANEXO IX).

Fonte: Foto autoral (2019)

Exposição: “Entre Memória e Patrimônio: Biblioteca Mário de Andrade” (ANEXO X).

Em 14 de janeiro de 1926 a Biblioteca é instalada à Rua 7 de abril, no centro da cidade, tendo sido nomeado diretor Eurico de Coes, renomado literato da época, que patrocina, após os trabalhos de instalação, intensa atividade cultural na Biblioteca, utilizando para isso as dependências do Teatro Municipal, na falta de auditório no prédio locado (NEGRÃO, 1979, p. 188).

Os estudantes, eram em maior número, frequentadores da biblioteca, e o diretor buscou, através de publicações em jornais, que eles pudessem opinar sobre as suas próprias necessidades, assim, possibilitava a escolha e compras de livros didáticos, que eram , na época, utilizados por eles e requisitados em seus currículos escolares.

Lembramos que, no Brasil, as primeiras bibliotecas foram organizadas pelos jesuítas, e por um longo período detiveram o monopólio da educação (1549-1759); apesar da reforma ocorrida por Pombal, pela expulsão, suas bases não foram totalmente apagadas, deixando sua influência marcada por um estilo e pela sua trajetória em nosso sistema educacional; pois o s livros mantidos naquela época, eram para reproduzir o ideal do colonizador; aproveitando dizer que a população local, em sua maioria era analfabeta (CARVALHO, 1991, p. 24)

A verdadeira dificuldade na educação moderna está no fato de que, a despeito de toda a conversa da moda acerca de um novo conservadorismo, até mesmo aquele mínimo de conservação e de atitude conservadora sem. O qual a educação simplesmente não é possível se torna, em nossos dias, extraordinariamente difícil de atingir. [..] A crise da autoridade na educação guarda a mais estrita conexão com a crise da tradição, ou seja, coma crise de nossa atitude face ao âmbito do passado. Ë sobremodo difícil para o educador arcar com esse aspecto da crise moderna, pois é de seu ofício servir como mediador entre o velho e o novo, de tal modo que sua própria a profissão lhe exige um respeito extraordinário pelo passado (ARENDT, 1972, p. 244)

Além deste fato colaborar com o aumento do acervo, o Diretor da Biblioteca, conseguia manter seu intenso trabalho para divulgação dos serviços oferecidos e realizados.

Os conturbados anos de 1930 a 1932, protagonizaram alguns acontecimentos importantes na as áreas da educação e da saúde, vinculando-se a criação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (ANEXO X)35, escrito em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas; promovendo questões objetivas e modernas.

A Revolução de 30, por ausência de uma proposta pragmática de um peso maior no campo da educação, não resulta em grandes impactos. Mas o vazio deixado pelo governo foi harmonizado pelos inúmeros debates que se intensificaram ao longo do tempo, devido a quantidade de propostas desenvolvidas e formuladas pela sociedade, por meio de entidades e representações dos mais diversos conteúdos [...]Em novembro de 1930, a criação do Ministério da educação e Saúde Publica [...] a parte central dessa reforma constitui-se no estatuto das universidades brasileiras, em que, como regra de organização do ensino superior da república, se adotou o sistema universitário. Cuidou a nome legal, dentre outros dispositivos, de fixar os requisitos mínimos necessários à criação de universidades (MENDES, 2000, p. 79).

A Biblioteca Municipal torna-se em 1932 (oferecia 92 lugares), a biblioteca mais movimentada do país.

Em 1933, Sérgio Milliet reorganiza a Biblioteca da Faculdade de Direito, no Largo São Francisco, contando assim a cidade com 3 bibliotecas de grande porte. Em

janeiro de 1934, Eurico de Góes, já traça os planos de um novo prédio – para a

Biblioteca Municipal, preocupando com sua localização, com o acervo que deveria ter - um livro por habitante - idealizando uma biblioteca com capacidade para um milhão de volumes. O depoimento de Eurico de Góes sobre seu programa da biblioteca, merece um estudo mais prolongado, comparando-o com o prédio atual

da Biblioteca (NEGRÃO, 1979, p. 189).

35 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova consolidava uma visão de um segmento da elite intelectual.

Manifesto lançado em 1932 por um grupo de 26 educadores e intelectuais propondo princípios e bases para uma reforma do sistema educacional brasileiro. Redigido por Fernando de Azevedo, foi assinado entre outros por Anísio Teixeira, M. B. Lourenço Filho, Heitor Lira, Carneiro Leão, Cecília Meireles e A. F. de Almeida Júnior.

Em 1934, ocorre na capital São Paulo, uma significante transformação, pois com a fundação da Universidade de São Paulo, desenvolvem numerosos estudos voltados `a reforma administrativa, proporcionando ênfase ao desenvolvimento sócio cultural local.

Assim, em 1935, o Prefeito Fábio da Silva Prado (primo do Prefeito Antônio da Silva Prado, que fundara a biblioteca em 1907) cria, em janeiro, Departamentos subordinados ao Prefeito, dentre eles o de Cultura e Recreação. Em maio do mesmo ano, é criada a Divisão de Bibliotecas, com duas seções; uma técnica incluindo os serviços de catalogação, referência, revistas e jornais, biblioteca infantil; e uma administrativa, com os serviços relativos a expediente, limpeza, encadernação, zeladoria (Organograma, 1935) (NEGRÃO, 1979, p. 189).

Figura 21_ Impressões de Mário de Andrade (1935)

Fonte: REIPERT, 1972

Quinzenalmente eram publicados nos jornais locais, até nos de língua estrangeira. o movimento de consulentes, a relação de obras e revistas novas recebidas e. de doadores. Assim, sabemos, que em abril de 1932, 4.536 consulentes frequentaram a Biblioteca Municipal e 3.112. a Estadual; as duas coexistiram até 1937. Em fins de 34 é divulgado relatório pela Diretoria Geral de Informações, Estatística e Divulgação do Ministério de Educação e Saúde Pública, relativo ao movimento bibliotecário de 1933, no Brasil, no qual a biblioteca de São Paulo é considerada a melhor no país do tipo municipal (NEGRÃO, 1979, p. 188; 189).

O Departamento de Cultura de São Paulo, que ficou a cargo de Mário de Andrade (Figura 21), deveria ser algo mais abrangente, e não se restringiria somente a manter uma função educativa, mas também deveria incluir divertimento e lazer.

A Biblioteca deveria ser um veículo mais amplo. Para a difusão de informação estava prevista a realização de cursos, conferências etc. estas propostas não tiveram vida longa. Ao Estado Novo regido por uma constituição autoritária conto era a da ditadura de Vargas inspirada no fascismo, não interessava deixar um canal que pudesse gerar alguma pressão social. A oposição não era explícita, mas ao deixar o departamento cultural sem apoio financeiro,

concorreu para afastar do cargo seus idealizadores (CARVALHO, 1991, p. 26).

Figura 22_ Ofício de Mário de Andrade (1935).

Carta escrita por Mário de Andrade, assim que assumiu o Departamento de Cultura (pedido de livros para a Biblioteca Municipal).

Fonte: Foto autoral (2019)

Exposição: “Entre Memória e Patrimônio: Biblioteca Mário de Andrade” (ANEXO X).

Mário de Andrade, o ingressar na política, se depara com contradições que o deixam vulnerável ao processo do exercício de seu cargo. Com um senso de responsabilidade aguçado, ele abraça esse compromisso (Figura 22) com a vontade de buscar e propor novas ações; de agir, refazer, e criticar o meio em que estava.

Em 1935, ao assumir o Departamento de Cultura, Mário de Andrade, deixa suas impressões na ata da Biblioteca Municipal, até este momento não era BMA. Somente em 1960 a Biblioteca Municipal recebe o nome de Biblioteca Mário de Andrade, fato este para homenagear o poeta. São Paulo, 1935, Mário

de Andrade (Figura 22) assume a Diretoria do Departamento, Eurico de Góes a Divisão de Bibliotecas e Sérgio Milliet. a Divisão de Documentação Social e Histórica, afamado pela reorganização da Biblioteca da Faculdade de Direito que empreendera (NEGRÃO, 1979, p. 189; 190).

Ele acreditava que ao combinar arte e funcionalismo público seria algo inédito para sua vida, e nada fácil, principalmente tendo que lidar com uma política autoritária, durante a ditadura getulista. Tinha também que lidar e conviver com o seu amigo Drummond (ministro), que tinha cargo de confiança no Estado Novo; cuja situação de Mário se encontra em muito delicada e desconfortável; resultando, portanto, em seu afastamento36, perdendo assim, o cargo de diretor do Departamento de Cultura de São

Paulo.

O regime imposto pelo golpe de 10 de novembro de 1937 interveio diretamente

Documentos relacionados