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CAPÍTULO 1. BIBLIOTECAS PÚBLICAS

1.2 A ORIGEM DAS BIBLIOTECAS PÚBLICAS NO BRASIL

1.2.1 A Primeira Biblioteca Pública Brasileira

A primeira biblioteca pública brasileira, a Biblioteca Pública da Bahia (Figura 10), foi inaugurada em 1811. Composta pela idealização e pela determinação dos cidadãos, não teve qualquer ajuda ou a iniciativa governamental.

Seu discurso também revela a importância da missão de uma Biblioteca Pública naqueles primeiros anos do século XIX, instituídas, em suas palavras, por "Povos Iluminados". Essas instituições representavam um "ponto de reunião aos Amadores das Artes, e Ciências: conferindo em comum sobre as suas dúvidas, comunicando os seus pensamentos [...]". Era um espaço privilegiado de sociabilidade e de circulação de ideais, onde seus frequentadores "eles fazem progressos, que jamais se poderiam ter conseguido na reclusão dos Gabinetes, e privação de tais socorros (MUNIZ, 1878, p. 50).

“As bibliotecas fundadas anteriormente, como as dos conventos, não eram públicas, e a Biblioteca Real do Rio de Janeiro, já existia em Lisboa, havendo, portanto, apenas ocorrido a transferência de sede” (SUAIDEN, 1995, p. 24).

Figura 11_ Sede da Primeira Biblioteca Pública Brasileira, a partir de 1919.

Pedro Gomes Ferrão de Castello Branco encaminhou um projeto ao Conde dos Arcos, em 5 de fevereiro de 1811, solicitando a aprovação do plano para a fundação da biblioteca. O projeto para o funcionamento da biblioteca, contendo as ideias de Castello Branco, intitulava-se: “Plano para o estabelecimento de uma biblioteca pública na cidade de São Salvador Bahia de todos os Santos, oferecido à aprovação do Ilustríssimo e excelentíssimo Senhor Conde dos Arcos, Governador, e Capitão General desta Capitania”. Ele solicitou ao governador apenas a aprovação do projeto, pois a biblioteca seria mantida através da cooperação de todos os cidadãos que desejassem dela fazer parte. Castello Branco concebeu a biblioteca como uma instituição para promover a instrução do povo; e ele ainda escolhe, em seguida, o local da futura biblioteca e recrutamento dos funcionários. Pediu que fosse escolhido um bibliotecário de boa conduta e que soubesse ler, escrever e contar; que ele tivesse conhecimento das línguas, principalmente do Latim, Francês e Inglês. Também exigiu que o servente e o porteiro soubessem ler, escrever e contar (SUAIDEN, 1995, p. 24; 25).

O Conde dos Arcos aprovou o Plano e, elogiou a iniciativa do autor, deu-lhe “a Direção de todos os objetos, trabalhos intermediários até a perfeição daquele estabelecimento”.

Biblioteca Pública da Bahia, foi criada em 1811, e aberta ao público em 13 de

maio, data de aniversário do príncipe regente. Idealizada por Pedro Gomes Ferrão de

Castello Branco, que doou seu acervo particular e logo foi seguido por cidadãos, a livraria baiana ainda recebeu o apoio do conde dos Arcos, então governador da Bahia

(SCHWARCZ, 2017, p. 281).

O primeiro bibliotecário, que buscou formação e informação na Europa, foi Benjamim Franklin Ramiz Galvão, em 31 de dezembro de 1874, envia um relatório ao Ministério dos Negócios do Império, com observações e críticas relevantes, até mesmo para os dias atuais.

A maioria das bibliotecas públicas foram criadas sem possuírem sede própria e, ocupou diversos locais diferentes sem obedecer `as condições necessárias para guarda do acervo. O Departamento de Bibliotecas Públicas do Município de São Paulo sofreu

reorganizações e mudanças para acompanhar o desenvolvimento econômico e sócio cultural da cidade, desde 1907, quando à princípio, ela possuía somente duas sedes para a Biblioteca Central.

Em 1942. Passou a funcionar no prédio atual da Biblioteca Mário de Andrade, já reformado para permitir que seus serviços continuem até a mudança para a futura sede, a Biblioteca Vergueiro, onde se localizará o novo centro cultural de São Paulo, já em fase inicial de construção. Com o desmembramento da Secretaria de Educação e Cultura, em 1975, a antiga Divisão passa a denominar-se Departamento de Bibliotecas Públicas. Em 1976, novos planos são postos em execução para melhorar andamento dos serviços. Assumindo a Diretoria deste Departamento, em 1977 (NEGRÃO, 1979, p. 186).

Uma lista de estratégias, foi estruturada, para divulgar os serviços prestados pelas bibliotecas, para conquistarem novos usuários; um dos objetivos era promover o uso dos centros de leitura, em que buscavam atualizar o acervo, e até hoje isso acontece, pois o departamento de compras sempre está atento aos novos lançamentos de livros.

Em 1942, São Paulo era uma cidade com 1.500.000 habitantes (NEGRÃO, 1979, p. 187); o último censo (IBGE-2010), da cidade de São Paulo, divulga o número de 41.262.199 pessoas.

Mesmo no século XX, apenas alguns prédios de bibliotecas públicas foram construídos com assessoramento de bibliotecários e, um marco importante para a história das Bibliotecas Públicas, e importante para a biblioteconomia brasileira, foi a inauguração da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, tornou-se um exemplo para a América Latina. Ocupando 15 mil metros quadrados, está localizada no centro de São Paulo, sendo um verdadeiro monumento à cultura.

Sua primeira diretora, Adelpha Silva Rodrigues de Figueiredo (1894- 1966) (Figura 12); iniciou sua vida profissional como professora da Escola Americana de São Paulo, hoje denominada Instituto Mackenzie e participou, em 1948, da fundação da Escola de Biblioteconomia da Faculdade de Filosofia Sede Sapientae da Pontifícia Universidade Católica, e acompanhou de perto os primeiros passos da Associação Paulista de Bibliotecários (diretora de 1947 a 1951).

Figura 12_ Adelpha de Figueiredo.

O seu interesse pela organização de acervos a levou a fazer o curso de biblioteconomia na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e teve a oportunidade de reformular tecnicamente toda a biblioteca da Faculdade de Medicina, local onde fundou, em 1936, a primeira Escola de Biblioteconomia do Estado sob os votos da Prefeitura Municipal de São Paulo, formando a primeira turma em 1938.

Ela tem lugar de destaque na história da biblioteconomia brasileira, pois inovou esta área, ao introduzir novas técnicas para a classificação de materiais, ajustes dos catálogos; cuidou dos registros dos acervos, promovendo o livre acesso dos leitores às estantes; e em 1952, Adelpha publica um artigo, no qual considera a Biblioteca Municipal de São Paulo (atual Biblioteca Mário de Andrade) o mais importante centro de biblioteconomia da América do Sul (NEGRÃO, 1979, p. 187).

Foi uma das fundadoras, e primeiras professoras, do curso de Biblioteconomia da FESP-SP - junto com Rubens Borba de Moraes (1899-1986) (Figura 13), que foi o segundo diretor (1935 a 1943) e, `a ele, deve a Biblioteca sua reorganização, cujo plano foi dividido em quatro pontos: reorganização completa dos serviços técnicos; adoção de esquema de expansão bibliotecária; formação de pessoal habilitado; cooperação com outros institutos (SUAIDEN, 1995, p. 28).

Figura 13_ Rubens Borba de Moraes.

Ele participou, ao lado de Mário de Andrade, Sérgio Milliet (1898-1966) (Figura 14), e Antônio de Alcântara Machado (1901-1935) (Figura 15).

Escritor modernista brasileiro, das discussões para a criação de um Departamento de Cultura da Cidade de São Paulo, sendo o diretor da Divisão de Bibliotecas, quando o mesmo se efetivou; fundou o curso de Biblioteconomia na Escola de Sociologia e Política, em São Paulo, e a Associação Paulista de Bibliotecários.

Em 1945, na abertura do 1º Congresso Brasileiro de Escritores, Milliet inaugura a Seção de Arte da Biblioteca Municipal de São Paulo, formando o primeiro acervo público de arte moderna brasileira.

Figura 14_ Sérgio Milliet.

Figura 15_Antônio de Alcântara Machado

Fonte: Wikipedia (2020)

O terceiro diretor (1943 a 1959) foi o escritor, crítico literário e de arte plásticas Sérgio Milliet, assume a direção da Biblioteca Municipal de São Paulo e promove uma série de atividades culturais, como palestras e mesas-redondas.

As bibliotecas públicas do município, como todas as similares brasileiras, tiveram fases de inúmeras atividades, e de estagnação; algumas delas estabeleceram novos serviços; e outras, de desaparecimento dos mesmos, seguindo o desenvolvimento das cidades nos diversos setores da sociedade, e também desenvolveu o seu papel no cotidiano, durante as crises.

Mas, se um dos sinais do bom funcionamento de uma organização é sua capacidade de subsistir - que no caso da biblioteca pública, depende de sua adaptação às mudanças sociais, desempenhando tarefas pertinentes - podemos dizer que a evolução do Departamento de Bibliotecas Públicas mostra seu desempenho pois, de um serviço anexo à Seção de Arquivo, é hoje unidade orçamentária da Prefeitura de São Paulo (NEGRÃO, 1979, p. 188). Em 1937, o governo brasileiro criou o provisionamento de livros e melhora dos serviços bibliotecários, o Instituto Nacional do Livro, passando este órgão do Ministério da Educação e Cultura, a dar prioridade em seu trabalho, à formação de bibliotecas em todo o território nacional (SUAIDEN, 1995, p. 28,29).

Mário de Andrade (Figura 16),

O Autor de Macunaíma foi um insaciável pesquisador multidisciplinar; literatura, música, artes plásticas, arquitetura, dança e folclore eram as áreas sobre as quais se inclinava, lendo e escrevendo. Nos livros e revistas que reuniu, conheceu obras de todas as artes, autores, artistas plásticos, música, museus e se atualizou quanto às vanguardas europeias (PAULA, 2007, p. 3)

Um dos maiores intelectuais brasileiros, se preocupava em encontrar alternativas para diminuir, por exemplo, o índice de analfabetismo naquela época, pois, em 1940, a população Brasileira (23468 milhões), na faixa de 15 anos ou mais, possuía uma taxa de analfabetismo de 56,1%, ou seja, 13269 milhões não possuíam algum tipo de letramento (Fonte: IBGE, censo demográfico de 1900 a 2000).

Em 2018, segundo a PNDA Contínua, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade foi estimada em 6,8% (11,3 milhões de analfabetos). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, em 28 de agosto de 2019, as estimativas da população. Pela data de referência de 1º de julho de 2019, o Brasil tem uma população total de 210.147.125 de pessoas.

Figura 16_ Mário de Andrade (1933)

Em 1939, Mário de Andrade comenta:

A criação de bibliotecas populares me parece uma das atividades mais necessárias para o desenvolvimento da cultura brasileira. Não é que essas bibliotecas venham resolver qualquer dos dolorosos problemas de nossa cultura, como o analfabetismo ou o da criação de professores de ensino secundário, por exemplo..., mas a divulgação entre o povo do hábito de ler bem orientado criará uma população urbana mais clara, com vontade própria, menos indiferente à vida nacional. Será talvez esse um passo agigantado para estabilização de uma entidade racial que se encontra em extremo desprovida de outras forças de unificação (SUAIDEN, 1995, p. 29, 30).

O Decreto-Lei n° 51.223, de 22 de agosto de 1961(ANEXO IV), criou, no Ministério da Educação e Cultura, o Serviço Nacional de Bibliotecas (SNB); que segundo Suaiden (1995, p. 30), esse órgão teria por finalidade fomentar as diferentes formas de intercâmbio bibliográfico entre as bibliotecas do país, estimular a criação de bibliotecas públicas e, especialmente, de sistemas regionais de bibliotecas, colaborar para a manutenção de sistemas regionais de bibliotecas, promover a criação de uma rede de informações bibliográficas que sirvam em todo o território nacional.

Infelizmente, o Serviço Nacional de Bibliotecas não conseguiu cumprir com o Decreto, por isso, o Instituto Nacional do Livro passou a coordenar a política nacional de bibliotecas, incorporando o Decreto como meta prioritária (SUAIDEN, 1995, p. 30).

Em 1990, no Governo Collor, foi extinto o Instituto Nacional do Livro e passou para a fundação Biblioteca Nacional, a ser responsável pelas atividades exigidas (SUAIDEN, 1995, p. 42).

Em 1971, implementaram a Lei 5.692/71 (ANEXO V), que reformou o ensino de primeiro e segundo graus, convertendo em obrigatória a pesquisa por parte do estudante, ou seja, a reforma tornou o ensino profissional obrigatório.

Em 1971, o governo militar instituiu a Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus, depois de tramitação sumária no Congresso. A Lei 5.692 mudou a organização do ensino no Brasil. Numa alteração radical, o 2º grau passou a ter como principal objetivo a profissionalização. Em curto e médio prazos, todas as escolas públicas e privadas desse nível deveriam tornar-se profissionalizantes. Elas teriam que escolher os cursos que ofereceriam, dentre mais de 100 habilitações, que incluíam formações variadas como auxiliar de escritório ou de enfermagem e técnico em edificações, contabilidade ou agropecuária. O aluno receberia ao fim do 2º grau um certificado de habilitação profissional. (AGÊNCIA SENADO).

Suaiden (1995, p. 31) descreve também que, devido à impossibilidade de manterem bibliotecas em todas as escolas, a biblioteca pública começou a ser vista pelas autoridades com uma maior importância, pois passou a servir aos estudantes e à

população em geral, tornando-se uma instituição indispensável para a formação educativa e cultural da comunidade.

A Cultura é tradição, e ela é aprendida, ela permite a adaptação humana ao seu ambiente natural, e se manifesta em instituições, padrões, de pensamentos e objetos materiais; mas seus usos se diferenciam no decorrer da história (SANTAELLA, 2003, p. 30).

É necessário lembrar que, as bibliotecas públicas, também possuem um papel importante perante o desenvolvimento da indústria editorial, forte e independente, pois é uma das principais instituições que tem condições de formar um público leitor.

Na realidade, o livro permanece um instrumento principal das atividades bibliotecárias, exigindo uma produção e distribuição de livros com cuidado, promovendo a inspiração e informação para os escritores, colocando em contato autores principiantes com as editoras e redes de serviços.

Em 2016 (janeiro a dezembro), a Biblioteca Mário de Andrade registrou 5235 novas matrículas. Durante este mesmo período, foi emprestado aos matriculados na biblioteca, cerca de 66426 mil obras do acervo circulante, sendo que este acervo possui atualmente, aproximadamente 53 mil livros.

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