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A campeã de audiência

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Segundo Borelli e Priolli (2000, p. 54), a Rede Globo já alcança a liderança da audiência no final da década de 60, próximo à data de estréia de um de seus mais emblemáticos programas, o Jornal Nacional, que condensa em sua linha editorial e na qualidade de sua produção os paradigmas que seriam seguidos pela emissora: a perfeição técnica, o discurso austero e, aparentemente, isento de opinião, e, finalmente, a padronização estética e de redação, que evitava as cores regionais (BORELLI e PRIOLLI, 2000).

Essas características são fundamentais para as pretensões do então governo, muito preocupado na construção da imagem de um Brasil uno, harmonioso e em franco desenvolvimento – era o Milagre Econômico. Por esse motivo, não bastava veicular ‘boas notícias’, era preciso veiculá-las com a estética adequada, ao gosto da classe média emergente, que passara a consumir eletrodomésticos, carros, bens supérfluos, etc. Era preciso ainda que os programas agradassem a toda família que, unida, assistiria a programação veiculada.

Nessa breve descrição, aparecem os fundamentos do Padrão Globo de Qualidade. Esse padrão se deve, em grande partem a Walter Clark, figura central na história da Rede Globo, responsável

pela maioria dos processos que consolidaram a emissora como líder inconteste da audiência. Foi através dele que se implementou uma das principais estratégias de captação da audiência, em um período em que a segmentação de mercado praticamente inexistia. Foi Clark quem implantou a ‘programação sanduíche’ no horário nobre da Globo, com a fórmula novela-telejornal-novela, grande responsável pela fidelização da audiência e pelo hábito de ver televisão em família. (BORELLI e PRIOLLI, 2000.)

Outra característica importante do discurso da Rede Globo, que interessa particularmente a esse estudo, é a percepção de que sua programação deveria conter aspectos pedagógicos, não apenas com programas especificamente voltados à educação, como as iniciativas dos Telecursos, mas ao longo de toda a programação produzida pela emissora. Assim, “nos anos iniciais de seu funcionamento, o Jornal Nacional buscava sintonizar-se aos apelos correntes de uma função educacional ou culturalista para a programação televisiva” (BORELLI e PRIOLLI, 2000, p.57).

O discurso da Rede Globo, portanto, não era popularesco, não buscava enquadrar-se ao gosto popular. Tinha como missão, ao contrário, educar o público segundo certos padrões, condizentes com a pretendida isenção do texto. Em resumo o que a Globo dizia não deveria soar como opinião, não deveria demonstrar intenções políticas ou ideológicas, deveria ser percebido como a ‘verdade’: a verdade da ciência, a verdade dos fatos. Em outras palavras, a emissora se posicionava como ‘dona da verdade’, ou daquilo que o grupo político então no poder gostaria que fosse visto como verdade.

Para tanto, seu estilo precisava ser limpo, livre de exageros, livre de características que o tornasse pessoal demais ou regional demais, o que impediria a identificação de todos. O design prateado de Hans Donner é um bom exemplo do estilo “platinado” de fazer televisão da Rede Globo.

Dentro desses parâmetros, e também em função da imensa vantagem técnica que a emissora levava sobre as outras, o Padrão Globo de Qualidade solidificou uma espécie de ‘educação pela imagem’. Comentando sobre as características no Jornal Nacional, ainda no início da década de 60, BORELLI e PRIOLLI (2000, p.58) e afirmam: “Educar-se, aqui, passava-se pelo manter-se informado, audiovisualmente informado, pelo acesso a informações ágeis, panorâmicas e sintetizadas”.

Todos esses aspectos se unem para construir um outro, ainda mais marcante, o da Globo enquanto referência cultural inconteste na sociedade brasileira dos últimos 30 anos. A partir da década de 70, a rede Globo se tornou um padrão a ser imitado. Objetivo nunca alcançado pelas outras emissoras e que só a partir da década de 90 começou a mudar, com a penetração de novas cores na

transmissão brasileira, muito em função da segmentação da programação – mais emissoras, TV a cabo – e muito em função de mudanças sócio-culturais que abriram brechas no padrão homogêneo da Globo e que tem permitido a presença de cores e sotaques mais regionais na televisão brasileira, embora esse ainda seja um processo em andamento.

BORELLI e PRIOLLI (2000, p.31) definem muito bem qual o papel construído pela Rede Globo, não só na sociedade brasileira, mas dentro da casa de cada indivíduo:

a Globo conseguiu, ao longo de sua história, consolidar um cast de profissionais, um verdadeiro star system, capaz de mobilizar outras mídias, criar concorrências, romper as fronteiras do espaço público e privado, redefinir os contornos e os sentidos da intimidade, configurar mitologias da cultura de massa e compor imaginários no contexto da vida contemporânea.

Apesar das mudanças vivenciadas a partir dos anos 90, a Globo ainda é a grande referência de informação, entretenimento e até moral da sociedade brasileira. Passados 38 anos de sua fundação, a emissora alcança 99,84% dos municípios brasileiros e recebe 75% das verbas de mídia da televisão (SUCOM, 2003). Suas novelas ainda pautam as conversas entre amigos e de alguma maneira dão continuidade ao principio da educação através da programação. É o caso, por exemplo, do que a emissora chama de ‘merchandising social’, a inserção de temas de utilidade pública nas tramas das telenovelas.

O mais importante no desenvolvimento do Padrão Globo de Qualidade é que ele perpassa todos os produtos da emissora, dos infantis aos jornalísticos, fazendo com que toda sua produção tenha características comuns que se refletem em seu discurso.

A Rede Globo e suas afiliadas utilizam muito pouco um recurso que vem se tornando bastante comum, a ‘venda’ de horário para a veiculação de produções independentes. Isso porque o discurso da Globo precisa ser mantido, hoje muito menos do ponto de vista da oralidade, do que é ‘falado’, mas em seu conjunto: a visualidade, a oralidade e a sonoridade.

A emissora mantém profissionais responsáveis pelo figurino, pela maquiagem e pelos penteados de seus funcionários que aparecem diante das câmeras, não apenas atores, mas também jornalistas, apresentadores e animadores. Seus redatores e jornalistas trabalham sob as regras de manuais de redação e estilo bastante abrangentes e não foram raros os casos de interferência direta da cúpula da emissora no resultado final de suas produções. O caso mais notório é a controversa cobertura do Jornal Nacional do debate das eleições de 1989, quando a emissora foi acusada de utilizar recursos de edição para favorecer Collor de Melo (BORELLI e PRIOLLI, 2000, p.63 e p.70).

2.3 Começa o Show da Vida

O programa Fantástico já é uma demonstração da grande potência na qual se transformara a Globo. Sua primeira transmissão ocorreu no dia 05 de agosto de 1973, sob a direção-geral de Augusto Cesar Vanucci e com a apresentação de Cid Moreira. Dois anos antes, em 1971, a Globo alcançara a liderança entre os dez programas mais assistidos no país e, mais importante, alcançara esse posto com base em seu jornalismo. Nesse ano, o Jornal Nacional era o programa mais visto no Rio de Janeiro e o sexto mais visto em São Paulo. (BORELLI e PRIOLLI, 2000, p.58.)

Em 1972 é possível verificar que a grade das emissoras em geral, muito em particular a da Globo, inicia um afastamento do popularesco. Sinal inequívoco desse movimento é que, nesse ano, 42% de seu orçamento é destinado a programas noticiosos. BORELLI e PRIOLLI (2000. p. 58 e 59) apontam como fatores fundamentais dessa mudança a confiabilidade adquirida junto às agências de publicidade e a expansão do ensino superior no Brasil.

É nesse cenário que surge o Fantástico, um programa de variedades com uma proposta bastante inovadora para a época, já que inventava um formato que tentava unir informação e entretenimento. Nesse sentido, pode-se considerar que, ao menos na intenção, o Fantástico foi uma ponte entre a proposta inicial da radiodifusão no Brasil, representada pelo ideal de comunicação para educação de Roquete Pinto (TAVARES, 1999, p. 51), e a visão mais comercial da comunicação para o entretenimento.

Sua estréia demonstra bem os rumos mais ‘elitistas’ que a emissora vinha tomando, uma vez que substituiu o Chacrinha, um programa de auditório que seguia, como muitos outros programas do início da televisão, os moldes importados do rádio. Foi Chacrinha quem criou alguns dos recursos usados até hoje em programas populares, como os jurados de calouros e as moças dançando como parte do cenário - as chacretes (TAVARES, 1999, p. 221).

A idéia do Fantástico era, basicamente, fazer uma revista para a televisão. Ou seja, não se tratava de um programa exclusivamente de entretenimento, já que era recheado de informação jornalística. Por outro lado, não era um simples telejornal, já que seu formato comportava dramaturgia, humor e espetáculos musicais. Segundo Armando Nogueira (apud OLIVEIRA SOBRINHO, 2000, p. 35), o grande responsável pelo programa que nascia era José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que

baixava de mala e cuia nas acanhadas salinhas da Central Globo de Jornalismo, nos ensinando a moldar forma e conteúdo do lendário programa dominical. Aprendi muito

com o exercício semanal que era juntar realidade e ficção, harmonizadas numa receita que até então só existia na cabeça instigante do Boni.

Fica bastante fácil compreender essa proposta quando paramos para analisar o tema musical do programa, que se tornou um verdadeiro clássico:

Jingle do programa Fantástico Olhe bem preste atenção. Nada na mão nessa também Nós temos mágica para fazer Assim a vida lhe trazer.

Milhares de sonhos, só para sonhar. Dias que não se pode tocar.

Numa fração, de um segundo Qualquer emoção agita o mundo Riso criado por quem é mestre Sexo, sem ele o mundo não cresce. Guerra para matar e morrer Amor que ensina a viver

Poderes do espaço e o mundo em perigo Provando que tudo não passa de um rito É Fantástico,

da idade da pedra ao homem de plástico, o show da vida.

(Transcrito a partir da versão disponível no site do programa, acesso em 2003)

Na primeira estrofe vem o convite: pare para ver o programa porque valerá a pena. De maneira lúdica – mágica – ele lhe trará a vida através do tubo da televisão. Na primeira versão da abertura do programa, durante essa estrofe, aparecia um picadeiro onde entravam duas crianças que, buscando entre véus, encontravam os personagens de um circo.

A partir do momento em que esses personagens eram, literalmente, desvelados, iniciava-se um espetáculo. As luzes se acendiam e começava uma coreografia diretamente relacionada com a letra da música.

A segunda estrofe é um resumo quase perfeito da proposta do programa, haverá espaço para o sonho, mas o mundo continua girando e rápido, assim, numa fração de segundos pode acontecer algo fundamental e, claro, o telespectador ficará sabendo disso no Fantástico, ou seja, diversão e informação não são excludentes.

Há ainda uma exemplificação de temas que, de certa forma, considerando-se a época, mais ou menos indicava que no programa havia espaço para falar de tudo. De Sexo – um tabu para a TV -

Cenas da primeira abertura do Fantástico

porque é parte do desenvolvimento da humanidade; de guerras porque, apesar da proposta de entretenimento, elas acontecem; e até de amor. Numa apanhado geral o tema cita razão e emoção, informação e diversão (ao falar de riso).

A última estrofe, além de reforçar a idéia da amplitude temática do programa, demonstra, implicitamente, o interesse por temas científicos e tecnológicos que tanto interessam a esse estudo. A forma encontrada pelo autor para dizer que havia espaço para falar de passado e de futuro – da idade da pedra ao homem de plástico - diz respeito à ciência, ao que se descobriu sobre o homem e aos caminhos que ele vem criando para si próprio. Isso, aliado ao verso final – O show da vida -, dá a tônica do programa e esclarecem suas pretensões no que diz respeito ao jornalismo científico. Ciência, no Fantástico, não será chata, não será para especialistas, será para o telespectador médio, será para quem se interessa pelo espetáculo cotidiano da vida.

O nome do programa, por sua vez, pode sugerir, por um lado, que esse é o espaço do que é espetacular, do que é fora de série, mas também pode indicar que o espetáculo é cotidiano, que a sempre há coisas fantásticas acontecendo no mundo e é preciso mostrá-las.

Aqui surge um dos primeiros questionamentos desse trabalho, o Fantástico se propõe a divulgar ciência ou se propõe a tratá-la como mera curiosidade, como futilidade?

Essa pergunta será particularmente difícil de ser respondida porque, independentemente do tratamento recebido, os temas científicos são, de fato, uma das atrações do Fantástico. Supõe-se que se foram pautados é porque são interessantes e atrairão a audiência. Por isso, será preciso olhar com mais profundidade para o problema e verificar até que ponto o tratamento que torna as notícias científicas atraentes invalida a informação transmitida.

Essa questão será abordada mais detidamente a continuação, mas é preciso lembrar que, quaisquer que sejam as possíveis respostas, o Fantástico está no ar por três décadas e continua, por um lado, sendo capaz de sustentar sua audiência e, por outro, ainda atrai com freqüência a participação de membros da comunidade científica.

Segundo dados da própria Rede Globo, o Fantástico tem, em média, 28,5 milhões de telespectadores por edição. Número que, em julho de 2003, representava 37 pontos no Ibope, contra apenas 15 do principal concorrente no horário. Isso significa que 59% dos televisores ligados estão sintonizados no programa. Número expressivo por si só, mas que ganha ainda mais importância se considerarmos a grande variedade de opções de canais na atualidade (SUCOM, 2003).

Quanto à participação de cientistas, das 20 matérias selecionadas para esse estudo, apenas em quatro não aparecem pesquisadores ou especialistas e, em algumas delas, há a

participação de vários membros da comunidade científica. Como exemplo, pode-se citar a matéria ‘O cordão da vida’, veiculada no dia 28 de julho de 2002, da qual participam quatro médicos, de 3 instituições diferentes, além de uma farmacêutica bioquímica.

A presença dos cientistas pode ter várias explicações, uma delas é a de que, antes de serem cientistas, são pessoas comuns sujeitas à vaidade de aparecer em um programa de televisão tão conhecido. Mas, nesse caso, sua imagem seria abalada, porque acabariam se encaixando no perfil que OLIVEIRA (2002, p. 49) chamou de “cientista socialite, que quer aparecer a qualquer custo e às vezes mais fala com a imprensa do que pesquisa”. Por isso, ainda que o programa possa ser eventualmente visitado por alguns ‘socialites’, a presença constante de cientistas no programa demonstra que, em alguma medida, ele conseguiu conquistar a confiança da comunidade científica.

Naturalmente esses dois fatores se reforçam mutuamente, a audiência do programa faz com que cientistas, principalmente os preocupados com a divulgação da ciência, se disponham a participar mais facilmente do programa, por outro lado, sua presença é uma parte do atrativo da audiência. É curioso notar, contudo, que a simples presença de especialistas, a princípio, não seria suficiente para conquistar telespectadores - como já citamos anteriormente, os programas de ciência costumam ser escalados em horários de pouco risco (SIQUEIRA, 1999). Contudo, esse parece ter sido um dos ingredientes da fórmula de longevidade do programa.

O formato do Fantástico sempre foi bastante maleável, salvo alguns aspectos mantidos até hoje - como a presença dos apresentadores e a costura de reportagens, entrevistas, e apresentações artísticas - não se pode identificar características rígidas em sua estrutura. O tamanho dos blocos varia e a maneira de iniciá-los e encerrá-los também. Atualmente, um bloco pode começar com a fala dos apresentadores, com o locutor ou mesmo com a participação de algum convidado.

Os quadros que compõem o programa também variam substancialmente, e podem ser criados com duração determinada, por exemplo, o quadro ‘Grávidas’, apresentado pelo Dr. Dráuzio Varela, que teve como objetivo acompanhar o desenvolvimento da gravidez de mulheres de diferentes estados brasileiros e durou até o parto de cada uma delas. Outros quadros são criados e extintos de acordo com outros fatores como popularidade ou contrato dos responsáveis, alguns exemplos recentes desses quadros são ‘Me leva Brasil’, apresentado por Maurício Kubrusly e ‘Repórter por um dia’, apresentado por diferentes atores da emissora.

Essa maleabilidade é, seguramente, outra característica fundamental da longevidade do programa, já que permitiu que ele se adaptasse às novas linguagens da televisão e acompanhasse as evoluções da sociedade. Porém, é importante salientar que ela não implicou em sua descaracterização,

pelo contrário, apesar de tanto tempo no ar, de tantos apresentadores diferentes, o Fantástico sempre foi reconhecido pelos telespectadores como a revista dos domingos, o momento de se divertir e informar. Segundo CURADO (p.17, 2002), ao falar da seleção de notícias para telejornais diários,

O nível de interesse do público pode variar bastante – da simples curiosidade por algum aspecto da vida de uma personalidade conhecida, ou a busca de informações sobre o funcionamento de algum serviço público, aquelas que tratam do direito do consumidor, das relações do cidadão com o Estado.

O Fantástico sempre soube seguir esses e outros parâmetros, como a curiosidade natural pelas novas descobertas da ciência. A comparação entre um programa exibido em 2002 e o primeiro Fantástico é bastante interessante para demonstrar essa constância.

No dia 05 de agosto de 1973 foram ao ar, entre outras matérias, uma reportagem sobre o congelamento de pessoas com doenças incuráveis - para que fossem descongeladas quando fosse descoberta a cura da enfermidade -, uma entrevista com o jogador Tostão, falando sobre o laudo médico que o afastaria do futebol, e uma performance de Sandra Bréa, em homenagem a Marilyn Monroe. Ou seja, curiosidade científica, notícias sobre uma personalidade de destaque e espetáculo artístico. (FANTÁSTICO ON-LINE, 2003)

É possível traçar um paralelo quase perfeito entre esse primeiro programa e o Fantástico exibido em 12 de maio de 2002, no qual, entre outras matérias, encontra-se uma reportagem sobre uma pesquisa científica que investigava os fatores que dificultam a gravidez, uma matéria perguntando com quem a personagem Jade – protagonista da novela das oito – deveria terminar e uma entrevista com o então técnico da seleção brasileira de futebol, Luiz Felipe Scolari.

O que se conclui é que, paradoxalmente, a ‘receita’ de Boni e Vanucci continua funcionando até os dias de hoje graças às mudanças que sofreu. Porém, algumas constantes são fundamentais, dentre elas, a preocupação com a qualidade final do produto e com a inovação tecnológica, características que se confundem com o próprio paradigma da emissora.

Outro aspecto importante é a constância do horário, durante seus 30 anos, a variação do horário do início do Fantástico foi de apenas 30 minutos – no início ele ia ao ar às 20:00 e atualmente vais às 20:30. Além disso, o programa não deixou de ser exibido em nenhum domingo sequer, fator fundamental se considerarmos que, como ressaltam BORELLI e PRIOLLI (2000, p.112.) assistir televisão é um hábito.

Finalmente, ao longo dos anos, o programa manteve certas características em seu discurso, permitindo que o público criasse uma certa familiaridade com ele. Basicamente, o telespectador sabe o que esperar quando sintoniza a Globo num domingo à noite. Ele espera receber um resumo das

notícias mais importantes – do dia e da semana – distrair-se um pouco com algum quadro de humor ou música, e informar-se sobre temas de interesse não tão imediato, como pesquisas científicas ou projeções econômicas de longo prazo. Tudo isso, com uma linguagem menos rígida que a dos telejornais.

Ao contrário do que acontece, ou aconteceu, com o jornalismo mais clássico da emissora, particularmente o Jornal Nacional, a credibilidade não é uma peça fundamental do programa. Não se espera que o telespectador acredite em algo porque ‘deu no Fantástico’. Em seu discurso há espaço para a dúvida, para o não resolvido e o público está consciente disso. A série As copas de Mel, exibida ao longo de 2002, misturava personagens fictícios com fatos reais ocorridos durante as 4 conquistas de campeonatos mundiais de futebol pela seleção brasileira. Essa mistura, entretanto, não causou confusão, as pessoas sabiam que no Fantástico, nem tudo é verdade, que nele cabem brincadeira e coisa séria.

Mais importante ainda é o fato de que, aparentemente, as pessoas sabem distinguir o que é brincadeira do que é coisa séria. Não há relatos de acidentes ou problemas causados pela má interpretação de algum quadro de humor ou dramaturgia do programa. Porém, a grande maioria das empresas que recebem uma avaliação negativa nos testes do quadro ‘Defesa do consumidor’, se apressa em enviar explicações para serem veiculadas na mesma matéria do teste, porque sabe que o consumidor tomará esse teste como parâmetro, ou seja, reconhecerá as informações da matéria como

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