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5 CAPÍTULO IV DAS DETERMINAÇÕES DO SISTEMA AOS (DI)LEMAS DO PROFESSOR: DOIS

5.2 O O LHAR DOS G ESTORES

5.2.5 A capacitação do professor para o uso pedagógico do vídeo e da TV

Não podemos esquecer que a formação dos professores que estão na escola pública, magistério e outras licenciaturas, estavam e estão orientadas, basicamente no sentido das operações com as linguagens verbal ou numérica (...). Enfim, as disciplinas e áreas de formação dos professores têm como referência algarismos, palavras e inevitavelmente, estão formatadas em texto. Ocorre que falamos, agora, também em outras dimensões discursivas muitas delas ancoradas nos códigos imagéticos, portanto em distintos mecanismos de produção de sentidos (2000, p. 31).

Além dos inúmeros problemas enfrentados na escola pública, os gestores deparam-se com a falta de formação dos professores para a utilização didática do vídeo e da TV. Os cursos oferecidos para as escolas, tais como, “Um Salto para o Futuro” e o “TV na Escola e os Desafios de Hoje” atenderam à formação de um pequeno número de professores.

A falta de formação para o uso das tecnologias, das mais simples às mais sofisticadas, pode perpetuar sistemas didáticos conservadores. Como enfatiza Orozco: “Não adianta a tecnologia reforçar o processo educativo tradicional. É preciso, antes de tudo, repensar a

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educação. Repensar a educação a partir dos próprios educandos e, a partir daí, pensar um novo desenho do processo educativo, ver o replanejamento desse processo e verificar para que pode servir a tecnologia” (apud CITELLI, 2000, p. 23).

É preciso considerar os meios como instâncias com um papel estratégico no terreno da cultura, para que esses recursos não se transformem apenas em belas e coloridas formas de repetir práticas tradicionais que se quer superar. Segundo a responsável da escola E, “a maioria dos professores, procuram um vídeo educativo que trabalhe exatamente o assunto que tem no livro, exatamente como ele é dado, explicações, com a locução de uma pessoa mostrando as imagens e explicando tudo como acontece (...)”. Guimarães (2001, p.170) diz que: “(...) o uso das novas tecnologias para transposição ilustrativa significa empobrecer a linguagem, o conteúdo e o meio”.

Esse depoimento expressa o que Ferrés (1998) chama de videolição, uma vez que caracteriza-se como uma aula expositiva, com o diferencial de que o professor é substituído pelo programa de vídeo. Essa estratégia está vinculada à escola tradicional. A opção por esse tipo de utilização do vídeo não representa tanto a intencionalidade de manutenção de práticas tradicionais, mas um indicativo de que o professor necessita de formação para trabalhar de outra forma com essas tecnologias.

A utilização dos recursos tecnológicos exige, além de formação didática, orientação técnica, pois há professores que não têm em sua casa um aparelho de vídeo, devido à sua condição financeira. Aprendemos a operar as tecnologias quando temos contatos diários, ou seja, pelas experiências realizadas ou por meio de cursos de capacitação. A ausência dessas duas possibilidades pode originar práticas inadequadas e também a tecnofobia, conforme declaram os gestores: “Seria bom que tivessem cursos para os professores aprender a

manejar os equipamentos na sala. Geralmente, eles pedem que a gente coloque e tire a fita. A maioria não sabe ou tem medo de mexer no vídeo” (responsável da escola A). “Nós temos até

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hoje aqui na escola, em pleno século XXI, professores que não sabem gravar, que não sabem utilizar de forma correta o vídeo”. Falta formação ao professor, com certeza e como falta!

(responsável da escola B).

Dentre as oportunidades de capacitação para o uso pedagógico do vídeo e da TV, foram destacados pelos entrevistados os seguintes cursos: a série oferecida pelo Programa “Um Salto para o Futuro”, no telesposto da UNISUL, o curso “TV na Escola e os Desafios de Hoje”, coordenado pela UNESC e os cursos do “Salto para o Futuro” realizado na própria escola, em parceria com a Gerência Regional de Educação e Inovação.

Embora tenham ocorrido essas iniciativas, os gestores, de maneira geral, afirmam que diante do contingente de professores que necessitam de formação, os cursos foram poucos e não resolveram as necessidades de formação das escolas. Nóvoa (2001) diz que a formação deve se estender a todos no espaço escolar, pois capacitar uma minoria resulta em uma certa incapacidade para colocar em prática concepções e modelos inovadores. A produção de práticas educativas eficazes só surge de uma reflexão da experiência pessoal partilhada entre os colegas. Essa questão também é reafirmada pela responsável da escola E:

Alguns professores participavam de um telecurso da UNISUL que qualificou para o uso da TV e do vídeo, só que essas vagas eram muito limitadas, normalmente eram oferecidos duas a três vagas. Duas ou três pessoas em uma escola de trinta, quarenta funcionários é um número pouco significativo, (...) quando eles retornam acabam não tendo apoio para implementar uma prática significante.

O curso “TV na Escola e os Desafios de Hoje”, mesmo estando em sua quarta edição, atingiu poucos profissionais. As poucas vagas e a desistência por parte de alguns professores propiciou a situação revelada pelos gestores: “Aqui na nossa escola não tem ninguém fazendo

o curso “TV na Escola e os Desafios de Hoje” que foi oferecido pelo MEC. Somente eu e outra professora fizemos o curso. Os três professores se inscreveram, receberam o material, porém não fizeram o curso. Inclusive, nem se quer devolveram o material” (diretora da escola

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Em relação aos cursos implementados na própria unidade escolar, somente uma escola desenvolveu essa experiência:

Na escola ocorreram duas iniciativas de capacitação. No ano 2000 houve um curso do “Salto” “Prevenir é Sempre Melhor”, reunindo alunos e professores do magistério. O curso foi fruto de um projeto elaborado pela coordenadora do TV Escola da 2ª CRE. Foi desenvolvido um curso de 20 horas em dois blocos (matutino e noturno), pois contou com a participação de 180 participantes. Em 200 a direção realizou um curso com a série do Salto “Arte e Matemática”, também de 20 horas com a participação de 35 professores (diretora da escola E).

As demais escolas deram as seguintes justificativas para não terem desenvolvido capacitações:

Embora a escola tenha autonomia, até o presente momento não organizou nenhum curso para capacitar os professores ao uso do TV Escola. A direção tem consciência disso e considera prioridade. Contudo, o diretor se envolve na execução de tarefas cobradas por órgãos superiores, e questões tão importantes como estas ficam a desejar, não sobrando tempo para sua realização (diretora da escola A).

A responsável da escola D reafirma:

Nunca teve um curso específico voltado ao uso da tecnologia na escola, a gente ouve falar muito, a gente vê, a gente busca a informação por necessidade própria, pessoal. Agora, no coletivo não tivemos. A escola utiliza os programas desenvolvidos pelo TV Escola, pelo MEC, nas reuniões pedagógicas, no aperfeiçoamento dos professores, eles levam as fitas pra casa pra ver, apesar do pouco tempo eles têm, ainda levam as fitas pra casa nos dias de estudo, isso são iniciativas escolares próprias pra facilitar e capacitar o professor.

Segundo as diretoras, a realização de cursos deveria ser de competência da SEI e da GEREI, e realizados de forma que fossem estendidos a todos os profissionais da escola. Com isso, fazem as seguintes sugestões: “serem desenvolvidos em blocos, mesmo sendo telecurso,

seriam trabalhados todos os professores porque, quando atinge todo um coletivo o trabalho fica mais fácil, pois as pessoas falam a mesma linguagem” (responsável da escola D); “fazer curso por disciplina. Deveriam ser chamados os professores de geografia, chamado os professores de matemática, já que é difícil fazer com todos de uma só vez (diretora da escola

B).

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e repensarem a política de formação continuada no sentido de envidarem esforços para que, paulatinamente, os cursos de capacitação atinjam todos os profissionais da escola.

Na escola pública, os professores estão vivendo o dilema da ausência de uma política de formação continuada para o uso dos recursos tecnológicos. Os professores precisam, mais que o incentivo para o uso do TV Escola de cursos de capacitação.

Na ótica dos responsáveis pelo Programa, o papel do diretor limita-se no sentido de dar apoio material, quando dispõe de recursos financeiros, para compra de fitas, assistência técnica e, sobretudo o incentivo à leitura dos materiais impressos e à divulgação do TV Escola. Essa afirmação pode ser comprovada no depoimento da responsável pelo Programa da escola B:

O apoio acontece no sentido do material, da compra de fitas. Enquanto nós estávamos fazendo as gravações, sempre que nós pedíamos para ela comprar fita, ela dava um jeito, mesmo que a escola não tivesse dinheiro. O vídeo quando apresenta algum problema, ela prontamente chama o técnico ou leva, mas se limita nisso. Cursos de formação dos professores na escola, não, ainda não houve, ainda não aconteceu.

Entretanto, as diretoras não estão tendo a iniciativa de solicitar à GEREI ou planejar na própria escola, um curso de formação para o uso do vídeo e da TV. Esse é o ponto de vista da própria diretora da escola B, quando declara que: “Não houve ainda esse apoio por parte da direção, nenhuma programação de curso envolvendo o TV Escola para a formação dos profissionais. O que acontece é convite e divulgação junto aos professores para o uso do TV Escola”.

Por outro lado, se os órgãos superiores (SED e GEREI) priorizassem a formação para o uso dos meios tecnológicos, teriam o respaldo e total apoio de todos os diretores. É o que argumenta a responsável da escola D: “Com certeza se nós formos convidados a participar, tudo que é para o crescimento da escola e, principalmente, eu que sou responsável pelo programa, tenho certeza que receberíamos todo apoio da direção, tanto da atual, quanto aos que já passaram pela escola. Mas, não tivemos essa possibilidade”.

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Existem certas questões na educação que precisam ser revistas; é o caso da formação do professor para o uso dos meios tecnológicos. A formação continuada do professor não depende somente do apoio da direção: é necessária uma política que objetive uma educação de qualidade, que reúna esforços e aplique corretamente os recursos destinados à educação. Por mais que o diretor tenha boa vontade, se não tiver apoio financeiro e pessoas qualificadas para implementar os cursos, os objetivos do TV Escola para a formação do professor continuarão apenas nos discursos de nossos dirigentes.