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5 CAPÍTULO IV DAS DETERMINAÇÕES DO SISTEMA AOS (DI)LEMAS DO PROFESSOR: DOIS

5.2 O O LHAR DOS G ESTORES

5.2.3 A relação do Programa TV Escola com o projeto político pedagógico

Gadotti (1994) diz que a elaboração do projeto político pedagógico (PPP) da escola depende, sobretudo, da ousadia de seus agentes para construir uma escola de qualidade. É o documento que retrata a escola em todas as suas dimensões: pedagógica, administrativa e financeira. As propostas inseridas no PPP devem antever um futuro diferente do presente, que será construído por ações intencionadas com um sentido definido, explícito, sobre o que se quer inovar.

Os relatórios, as revistas e outras obras de órgãos oficiais divulgam os impactos do TV Escola na educação brasileira; entretanto, os dados pesquisados mostram o estado de paralisia da escola para integrá-lo ao PPP: “Até agora não existe uma proposta no projeto político

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pedagógico para o uso do TV Escola. Nunca conversamos sobre isso aí, (...) elaboramos o PPP, mas a gente não lembrou do projeto TV Escola” (responsável da escola A).

A relação do Programa com o PPP é algo inexistente nas escolas pesquisadas, levando em consideração que o fato de ser citado não estabelece nenhum compromisso coletivo com o seu funcionamento. Os profissionais da escola têm consciência que precisam aprender a lidar também com outro tipo de ação, uma ação que corresponda às possibilidades de transformação. A escola não consegue, ainda, assumir isso dentro de um projeto maior, devido, principalmente, ao seu estado de precariedade, perplexidade, desmotivação dos profissionais e falta de credibilidade nas políticas públicas para a área da educação.

O primeiro obstáculo que impossibilita a integração do TV Escola no PPP é que a própria instituição não vê os meios de comunicação e informação como objeto de reflexão em seu universo, embora ele esteja presente no cotidiano tanto dos alunos como dos professores, analisa Nagamin (1997)37. Não se pode perder de vista que discutir o papel da televisão no espaço escolar significa rediscutir o próprio papel de mediador do professor. O segundo obstáculo é que a implementação de uma proposta pedagógica para o uso do Programa exige um esforço coletivo dos professores, inclusive com medidas que dependem de agentes de outras esferas. A escola, por estar mergulhada em um contexto político educacional onde historicamente as leis são burladas e os programas não são cumpridos, desenvolve comportamentos e situações como esta posição relatada pelo gestor da escola:

O escrever é comprometer-se e não podemos nos comprometer com aquilo que nós não temos um amparo maior. Então ele está subentendido, não está explícito, e não está explícito justamente pelo fato de não termos a certeza e a garantia de uma assistência pra esse projeto acontecer(...). Não adianta escrevermos o PPP lindo, maravilhoso e não termos uma prática dele, tudo o que a gente escrever a gente tem que assumir e colocar isso em funcionamento (...). Não temos, justamente, por não confiar que podemos assegurar (responsável da escola D).

Essa fala evidencia que o TV Escola ou os meios de comunicação e informação ainda

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Eliana Nagamini é mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada na USP e professora de Português em São Paulo.

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não se constituem em uma linguagem escolar, e que estão excluídos do PPP justamente porque a escola tem dificuldade para transpor os obstáculos para sua inclusão, sejam eles de ordem interna ou externa.

As seguintes falas resumem a relação do TV Escola com o projeto pedagógico das escolas pesquisadas. ”Uma proposta para o uso pedagógico não, isso não está explícito, isso

nunca foi feito na nossa escola” (responsável da escola B). “A gente deve usar TV Escola. Isso está no PPP, mas uma proposta dizendo como, quando usar e de que forma utilizar não tem” (diretora da escola C). “No projeto político pedagógico temos o projeto da sala de suporte pedagógico, embora não tenha uma proposta específica para o uso do TV, entretanto temos interesse de retomar o documento para viabilizar a mesma” (diretora da escola E). “A escola desenvolve sua prática educativa integrando o TV Escola, porém, ele ainda não está incluído no projeto político pedagógico. Temos como meta retomar o PPP e incluir uma proposta pedagógica para o uso do TV Escola e das demais tecnologias” (diretora da escola

A).

O TV Escola e o PPP poderão estar vinculados na medida em que a escola tiver um conhecimento amplo dessa política e garantias financeiras para cumprir as metas e os objetivos do Programa. Assegurados esses dois elementos, certamente a escola poderá dar seus passos no sentido de elaborar um PPP que contemple os programas educacionais implementados em sua escola.

A escola sabe que não é uma instituição isolada, que é uma unidade educativa inserida num contexto de políticas públicas. É autônoma, mas não é soberana. Portanto, a elaboração do PPP deve considerar as políticas educacionais. A sua autonomia possibilita decidir e planejar os usos do TV Escola, desde que conheça os seus possíveis aproveitamentos na prática educativa e não meramente para cumprir uma meta do MEC.

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contextual (como está o funcionamento do programa, tanto a nível nacional, quanto estadual e escolar); o marco referencial (quais as concepções que os profissionais têm sobre o Programa, quais os limites e possibilidades para educação) e o marco operacional (que se traduz em o que fazer? Por que fazer? Como fazer? Quem vai fazer? Quando fazer? Com que fazer?). Podemos chamar o marco operacional de plano de ação. Esse plano irá operacionalizar e implementar todas as ações planejadas relacionadas ao programa.

A participação coletiva, em um planejamento, amplia as possibilidades de modificar as atuais relações que se estabelecem com os recursos tecnológicos, tornando-as mais competentes em seus usos no espaço escolar.

O TV Escola no PPP pode redimensionar a prática da escola frente ao uso pedagógico do vídeo e da TV, porque irá reunir decisões estabelecidas no diálogo, na compreensão e no consenso, que serão concretizadas com base na ação coletiva de diversos agentes em diferentes âmbitos.

5.2.4 A contribuição dos materiais impressos do Programa TV Escola na formação dos