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VÍDEO E DA TV

O vídeo surpreende constantemente com novidades cada vez mais sofisticadas que possibilitam novas perspectivas como meio de expressão audiovisual. Sob o enfoque didático, apenas tem-se começado a explorar e a experimentar suas múltiplas possibilidades de aplicação em sala de aula. Não se pode pensar em estratégias fechadas e definitivas.

A proposta taxionômica de Ferrés (1998, p.20) apresenta seis modalidades de uso: a videolição, o videoapoio, o videoprocesso, o programa motivador, o programa monoconceitual e o vídeo interativo.

1. Videolição - é a exposição sistematizada de alguns conteúdos tratados com uma determinada exaustividade. Caracteriza-se como uma aula expositiva, com o diferencial de que o professor seria substituído pelo programa de vídeo. O programa transmite informações e o aluno assiste a ele com a finalidade de compreendê-lo e assimilá-lo. Essa estratégia está vinculada à escola tradicional e aos programas de televisão fechados. Essa modalidade é útil para trabalhos em grupos pequenos e, sobretudo, para o ensino individualizado. Permite que um programa seja visto quantas vezes for necessário, congelando a imagem, alterando o ritmo, retrocedendo ou avançando.

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2. Videoapoio - nessa modalidade de uso didático do vídeo restabelece-se uma interação entre as imagens e o discurso verbal do professor. O professor dá o dinamismo às imagens e essas, por sua vez, acompanham, ilustram, demonstram, matizam ou contemplam o discurso verbal do professor.

A eficácia didática dessa modalidade pode ser superior ao da videolição, já que o professor pode adequar o ritmo de sua exposição ao grau de atenção e ao nível de compreensão dos alunos. É necessário que o professor seja criativo. Assim, o vídeo converter-se-á em um instrumento vivo e a aula será uma experiência gratificante para os alunos, facilitando a aprendizagem.

3. Videoprocesso - é definido como a modalidade de uso na qual a câmara de vídeo possibilita uma dinâmica de aprendizagem em que os alunos se posicionam como criadores ou sujeitos ativos. É uma modalidade na qual os alunos se sentem protagonistas. É o vídeo nas mãos do próprio aluno. A aprendizagem é realizada basicamente por intermédio do processo de produção: busca de informação, elaboração de texto, gravação com a câmara e sonorização. O vídeo converte-se, então, em um estímulo à criatividade, da mesma forma que os pincéis, a pena ou o violão. Portanto, como meio ou como fim. Registra outras formas de expressão artística autônoma: dramatização, dança, expressão corporal. A criatividade concretiza-se na experimentação de possibilidades visuais e sonoras do próprio meio videográfico. O vídeo pode se converter em um brinquedo, um instrumento lúdico que possibilite um treinamento criativo. O jogo pode se transformar em aprendizagem: aprender a criar, aprender a trabalhar em grupos, aprender as regras internas de uma forma de expressão. É uma das formas mais criativas no uso didático do vídeo.

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vídeo, destinado, fundamentalmente, a suscitar um trabalho posterior ao objetivado. Nessa modalidade trabalha-se com um produto acabado. O trabalho didático é realizado precisamente a partir de sua visão, estimulando a participação ativa dos alunos O programa motivador baseia-se na pedagogia do depois. A aprendizagem se realiza basicamente no trabalho de exploração posterior à exibição. O programa motivador converterá em recurso eficaz para aprendizagem, porque é uma forma de expressão audiovisual, quer dizer: coloca em jogo a visão e a audição conjuntamente, mas, principalmente, porque é formulada como um estímulo para a expressão, a discussão, a pesquisa e o trabalho.

5. Programa monoconceitual - trata-se de um programa muito breve, comumente mudo, e que desenvolve de uma maneira intuitiva um só conceito, um aspecto parcial e concreto da realidade e um tema, fenômeno, uma noção ou um fato. O que o define é o fato de limitar-se a um tema muito específico sobre conhecimentos, hábitos ou destrezas, facilitando sua compreensão ou aprendizagem de uma maneira intuitiva. Não excede a quatro ou cinco minutos de duração. Tirar partido dessa classe de programa exige um aproveitamento de todos os recursos técnicos: congelar a imagem, repetir a exibição com outro ritmo, observar reiteradamente alguns planos.

6. Vídeo interativo - nasce do encontro de duas tecnologias de ponta: o vídeo e a informática. Denomina-se vídeo interativo todo o programa de vídeo cuja a seqüência de imagens e a seleção das manipulações estão determinadas pelas respostas do usuário ao seu material. As informações são oferecidas, progressivamente, sempre em função do nível de compreensão e da capacidade de aprendizagem de cada aluno.

O papel fundamental do vídeo nos contextos de aprendizagem está na possibilidade de mostrar a realidade ao aluno de forma indireta, toda vez que não for possível a observação

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direta. Ele não substitui a realidade, mas permite torná-la mais próxima. Essa ferramenta não substitui o professor, mas leva a sair de sala de aula e conhecer outras realidades. Possui capacidade de sedução, possibilita viagens de diferentes ordens, sem sair da sala de aula. Por meio de imagens, o aluno se aproxima de mundos distintos, com múltiplas realidades, ficcionais ou não, do presente, do passado ou até do futuro. Com ele é possível transitar no interior do corpo humano, visualizar o mundo microscópico, observar um beija-flor sugando o néctar da flor, potencializando a percepção que o espectador tem do ambiente.

A incorporação do vídeo à sala de aula, numa metodologia ativa, é um recurso a mais no processo de ensino-aprendizagem. Sua versatilidade também oferece vantagens que não devem ser esquecidas pelo professor. Seus recursos, como variar ritmo (acelerado, normal e lento), condensar ou distender o tempo, ou mesmo congelar a imagem, aumentam as suas possibilidades informativas, ampliando a comunicação de conceitos e conteúdos tratados. Tem a capacidade de descentralização, pois rompe com relações pedagógicas habituais. Professor e aluno são receptores das imagens e, juntos, vivem descobertas. Com ele, o aluno pode observar paisagens, cenas do dia-a-dia em distintas culturas, o crescimento de uma planta, manifestações culturais e históricas de diferentes lugares e épocas.

É o professor que define a escolha das imagens e o uso que dará a elas no processo pedagógico. O vídeo pode ser utilizado em diferentes situações pedagógicas: como elemento motivador, antes de uma atividade ou debate, apoio na explanação oral ou a uma sistematização escrita, fechamento do processo de trabalho para ilustrar e complementar informações já trabalhadas com outros meios. Com essa ferramenta é possível parar a imagem, retroceder ou adiantar a fita, para reforçar ou esclarecer determinadas informações, para complementar uma explicação verbal ou mesmo para atender a alguma curiosidade manifestada pelos alunos. Por tudo isso, deve ser adotado em sala de aula quando puder contribuir significativamente para o sucesso do processo ensino-aprendizagem.

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O ponto de partida para seleção de um determinado vídeo é o objetivo que o professor pretende alcançar com sua utilização. É importante que o professor esteja familiarizado com programa que será assistido para que possa estabelecer mediações suscitadoras de relações com o contexto a ser trabalhado. Por mais rica que seja a imagem do vídeo, será sempre insuficiente para que o aluno elabore o conhecimento. Toda imagem veiculada deve ser trazida à realidade específica do aluno. Mediar tais relações é o papel do professor.

Na década passada, o professor reunia seus alunos em classe para contar as histórias que aprendeu no decorrer de sua formação ou a leitura de livros para transmiti-las por meio da palavra escrita. Atualmente, a TV e o vídeo estão presentes em salas de aula e reúnem crianças e adolescentes para contar, mais uma vez, por meio de imagens e sons.

Na escola, o professor poderá ter a sua disposição o livro e o filme (em vídeo). Pode ler Macunaíma, de Mário de Andrade e assistir ao filme Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. Pode ler um clássico da literatura brasileira “Vidas Secas”, e assistir à produção cinematográfica “Vidas Secas”, ler o menino maluquinho e, mais uma vez, assistir ao filme. Entretanto, o professor deve conhecer que a produção dessas duas obras segue caminhos diferentes. Não se pode cometer o equívoco de que a linguagem audiovisual, por si só, basta ao aluno. As duas linguagens completam-se, a audiovisual (filme) e a literária (livro). O desconhecimento dessa situação pode levar o aluno ao analfabetismo visual. A imagem pode criar a falsa impressão de que é necessário o conhecimento de seu código semântico. O texto suscita imagens e estas, por sua vez, estimulam e provocam palavras.

É importante saber que toda linguagem tem uma lógica interna de composição. A escrita tem uma sintaxe própria e a audiovisual é constituída a partir do livro onde são criados planos, que são as transformações das palavras na linguagem cinematográfica e vão tomar a forma de imagens. Ao educador cabe mediar e preencher os interstícios deixados pelo escritor e as elipses feitas pelo cineasta. A escola deve ensinar a ler os livros e as imagens. A interação

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dessas duas linguagens leva o aluno perceber a especificidade de cada uma e as possibilidades de diálogo entre elas. Nessa perspectiva, a leitura e imagem são consideradas práticas complementares para o desenvolvimento intelectual do indivíduo.

As imagens tornam o universo do telespectador dinâmico, favorecem a gratificação sensorial, possibilitam a experiência por meio de associações e representações concretas da realidade. A informação icônica infiltra-se sem mediações e através do símbolo envolve emocionalmente o sujeito. A televisão tem poder de despertar diversos sentimentos: alegria, tristeza, raiva, indignação e etc. O sujeito aprende pela emoção. É ela que controla o ritmo, o processo e a duração da experiência.

A leitura segue parâmetros de comunicação diferente da televisão. A leitura favorece a reflexão, a imaginação, a abstração de conceitos e idéias, potencializa a capacidade de pensamento linear, possibilitando ao sujeito distanciar-se dos símbolos. O sujeito controla a experiência e o ritmo do processo.

De acordo com Ferrés (1998), a televisão desenvolve sistemas perceptivos diferentes da leitura; a percepção acima da abstração, o sensitivo sobre o conceitual. Isso significa afirmar a primazia do intuitivo e emocional sobre o racional. Diante da televisão, o telespectador tem consciência de que aquilo que está assistindo é ficção, mas vive a sensação como se fosse realidade. E isso ocorre porque ele precisa alimentar a sua fantasia e a sua imaginação. O envolvimento emocional é importante, pois libera seus conflitos internos.

O quadro a seguir sintetiza o papel da leitura e da linguagem audiovisual no desenvolvimento intelectual do indivíduo.

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Tabela 13: Linguagem Literária e Audiovisual

Universo Capacidades Experiência Conceitos Pensamento Respostas Linguagem

Literária Estático Reflexiva Abstração

Passa por múltiplos controles de análise Lógico linear e seqüencial Racionais e intelectuais Linguagem

Audiovisual Dinâmico Sensorial Concreção

Infiltra-se sem mediação Visual intuitivo e global Sensitivas, intuitivas e emocional Fonte: Ferrés, 1998.

Os efeitos da TV na vida das pessoas não são negados. Porém, o receptor é um sujeito ativo e pertence a um contexto sócio-cultural específico. O indivíduo interpreta e incorpora, dá significados de acordo com sua visão de mundo, experiências e valores, de acordo com a cultura em que está inserido. A recepção não se limita a um momento frente à tela, prolonga- se pelos espaços da vida diária e nas diversas situações de comunicação. Diante desse fato, o educador não pode se omitir de seu compromisso. O desenvolvimento integral do ser humano passa pela educação do olhar e é tarefa do educador desenvolver a autonomia de pensamento, para o posicionamento crítico frente a cultura da imagem.

Os filmes documentários são reinterpretações da realidade, da mesma forma como a fantasia humana está inscrita no mundo. Delimitar realidade e fantasia não é tão simples, pois a realidade é pluralista, como também são plurais nossos olhares sobre ela. Isso significa afirmar que um documentário, embora tenha relação direta com a realidade, é resultado do olhar lançado por alguém sobre a realidade.

Os filmes de ficção (supostas mentiras) e os documentários (verdades), têm um papel a desempenhar na formação do aluno, cada um deles a seu modo. Muitas vezes, ao procurar adaptar o filme aos conteúdos programáticos, o professor pode acabar promovendo uma leitura reducionista da obra. É preciso pensar sobre como o autor abordou aquele tema, sem ter o propósito apenas de ilustração dos conteúdos.

Ao escolher um documentário, o professor deve mediar para que o aluno compreenda- o como um gênero televisivo, uma linguagem, assim como: as telenovelas, os filmes, um

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desenho animado, extraindo suas possibilidades informativas e formativas. É importante levar o aluno à compreensão de que um tema pode ser tratado a partir de diferentes gêneros televisivos e que cada um tem as suas especificidades.

A publicidade provoca nas pessoas reações diversas. Para algumas pessoas é considerado o melhor que a televisão tem a oferecer; para outras provoca a rejeição, sendo a oportunidade para o zapping, pois caracterizam-na como nefasta, incentiva o consumo criando necessidades, fazendo com que o supérfluo se torne imprescindível.

A publicidade é o motor do desenvolvimento econômico do sistema capitalista, brinca com o aumento da ansiedade do receptor para oferecer-lhe, como remédio, o produto a ser consumido. Não é basicamente uma atividade informativa, mas sedutora, não convence racionalmente, mas emocionalmente.

A estrutura narrativa tem força comunicativa e persuasiva. Os personagens são pessoas sedutoras que conquistaram o sucesso graças ao uso do produto. São apresentados num contexto (meio físico) cheio de significados e valores. Na publicidade não são vendidos apenas os produtos, mas promessas. Promessas de felicidade, sucesso, liberdade, segurança, aventura, riso, conforto, luxo, elegância, prestígio, poder, juventude, beleza, fama, futuro etc.

A análise crítica da publicidade como atividade desenvolvida nos contextos da escola é importante para que os alunos possam compreendê-la como espelho social interativo, causa e efeito dos valores sociais em voga. A metodologia de trabalho com as propagandas deve contemplar questões que questione a opinião do espectador quanto a seus sentimentos e emoções (gosto ou desgosto); discutir o conhecimento de alguns aspectos do produto e a quem é destinado; refletir a história e valores repassados, incluindo o contexto e os personagens; reconhecer os recursos formais utilizados (imagens, músicas, luz, pessoas, movimentos, planos etc.).

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situacional, leitura fílmica e leitura avaliadora para trabalhar o uso pedagógico do filme em sala de aula. Com a leitura situacional, delimita-se o filme ou a série situando-a em um contexto; a leitura fílmica analisa de forma objetiva as imagens e os sons e a leitura avaliadora pretende emitir um julgamento crítico sobre o filme ou a série.

A leitura situacional diz respeito às informações como: título da obra, época em que transcorre a história, gênero e fatos interessantes da filmagem: gostou da obra, por quê? Do que mais gostou, por quê? Houve entendimento da história?

A leitura fïlmica corresponde a três fases: leitura narrativa, a análise formal e a leitura temática.

Na leitura narrativa são analisados os diversos componentes do relato: detectar o que é tratado amplamente pela história (estrutura narrativa), o que os personagens representam em sentido primário e no contexto da história, do ponto de vista de suas ações (herói ou bandido), do ponto de vista das motivações, (motivos que os fazem agir e fins que eles perseguem) e, do ponto de vista da tipologia, se correspondem a esteriótipos (idade, sexo, classe social profissão etc.), analisar o que representam os heróis dos filmes, os valores que assumem, detectar também, o ambiente físico onde se passa a história. As questões a serem apresentadas devem tratar da reconstrução da história por meio de técnicas diferentes, destacando o protagonista, a situação problema, personagens mais importantes e suas representações, local onde ocorre a história (campo ou cidade, ambiente rico ou pobre).

O tratamento formal corresponde à análise do gênero do filme ou série e a dos recursos formais (visuais e sonoros) utilizados. As questões a serem apresentadas devem destacar a análise dos recursos formais em algum momento significativo da obra, como aparecem as pessoas (pessoas inteiras, da cintura para cima, somente o rosto) e por quê? Movimento da câmara (aproximação e distanciamento), roupas, músicas, efeitos sonoros, imagens, duração da obra, gênero (cômica, melodramática, fantástica, romântica, de terror,

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ação, musical, de suspense).

A leitura temática está relacionada à descoberta das constantes ideologias em torno das quais são organizados os núcleos do filme ou série; dos personagens que admitem um certo grau de simbolismo e interpretação ampla; da formulação do tema, compreendido como a intenção final dos autores (significado implícito, sistema de valores, ideologias transmitida, forma de se compreender as relações humanas); dos efeitos do filme, impressões e emoções causadas. As questões a serem apresentadas devem considerar se o título da obra tem relação com o que ocorre na história, relacionar a história com a vida, comparar os personagens com pessoas da realidade, sintetizá-la em uma frase, considerar se há violência na obra.

A leitura avaliadora consiste em refazer todo o processo realizando uma avaliação, a partir de questões, tais como: gostou dos atores, por quê? Gostaria de ser como alguns personagens? Com quem? Por quê? Imagens e músicas que mais agradaram? Mudaria algo no filme? O quê? Por quê? Aconselharia a alguém? A quem? Por quê? O objetivo do protagonista é positivo? Os meios que usa para alcançá-lo são positivos também? Os problemas poderiam ser resolvidos de outra forma? Qual?

O gênero noticiários é um discurso que se constitui num exercício de expressão de informações espetacularizando a realidade. Informar significa dar forma, formalizar, construir uma realidade a partir de alguns códigos. As informações são transmitas pelos noticiários por meio de histórias conflitantes e dramáticas, sendo desta forma personalizadas. A exploração sensacionalista e mórbida associada às músicas, imagem mais a figura do apresentador é muito utilizada como recurso espetacular, para provocar a emoção e envolver o telespectador.

O interesse das informações também é condicionado por outros fatores, não somente por seu sensacionalismo, mas também por afetarem diretamente o universo psicológico, cultural e geográfico do indivíduo. O noticiário satisfaz as necessidades do espectador e deve ser analisado nessa perspectiva. Por meio dele o espectador satisfaz sua necessidade de

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informação, sua pulsão escópica39, a gratificação sensorial e a curiosidade, provocando efeitos por seus conteúdos: são mobilizadores ou sedativos, estimulam a ação ou a contemplação.

O noticiário não é uma janela aberta para realidade, mas uma tela para realidade com um discurso explícito que oculta parte dela. A subjetividade impõe-se à objetividade. Por trás da notícia está a visão de que seus autores têm da realidade. As informações são veiculadas com nível triplo de subjetividade: é resultado da interpretação da realidade de quem elabora a notícia, da interpretação dos códigos audiovisuais que vão ilustrar e complementar a notícia e da interpretação de quem vai comentar a notícia.

Detectar a dimensão ideológica é tarefa que requer reflexão e análise. Exige a aplicação da fórmula: “como, quando, onde, quem e, sobretudo, do por quê”, para compreender seu sentido. É necessário, também: distinguir entre acontecimentos e comentários, entre representação dos fatos e opinião sobre os mesmos, entre reprodução da realidade e avaliação da mesma, tanto por meio das imagens, trilha sonora e linguagem verbal. “A ideologia não se manifesta somente no que é dito, mas também naquilo que deixa de ser dito” (ibidem, 1998, p.158).

Trabalhar com noticiários na escola requer a elaboração de uma metodologia que contemple questões que tenham, como ponto de partida, a comunicação das reações espontâneas, o conhecimento da estrutura do noticiário, espetacularidade, e de seus efeitos; o reconhecimento de fatos e opiniões, o papel dos recursos visuais e sonoros na formação do sentido da notícia e análise comparativa de noticiários.

A comunicação espontânea diz respeito às reações, sensações e impressões produzidas, ao grau de acessibilidade à compreensão da notícia.

O conhecimento da estrutura está vinculado à identificação do número de notícias apresentadas, divisão de blocos, características (agradáveis, chocantes etc.), estilo (relato ou

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discurso), conflitos, importância, profundidade, ordem cronológica dos fatos, papel da imagem e efeitos sonoros etc.

Para o reconhecimento dos fatos e opiniões é necessário analisar as notícias diferenciando aquelas que traduzem a opinião pública e aquela que cria a opinião pública, responder quem diz o quê, sobre o quê e por quê sobre a notícia; diferenciar testemunhos dos fatos, opinião e avaliação, denotação e conotação, descobrir se é a imagem que cumpre a função de reprodução do acontecimento; analisar as funções cumpridas pelo comentário (discernimento, profundidade, carga emocional), se há equilíbrio informativo (todas as opiniões representadas) e atitudes adotadas diante de assuntos polêmicos; perceber a utilização de esteriótipos, atitudes paternalistas - os especialistas cumprem a função de informação ou formação de opinião; descobrir o que não é dito, o que é omitido, as palavras repetidas dos políticos e a sua significação.

A análise dos recursos visuais e sonoros deve explicar os elementos no contexto da notícia: posição da câmara, o uso dos tempos verbais, diferença de planos, angulação dos