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A chegada do Pentecostalismo no Brasil

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Capítulo I – A CONSOLIDAÇÃO DA TELEVISÃO NO BRASIL E SUA

2. Como católicos e evangélicos recebem a TV

2.2. Evangélicos e a recepção da televisão

2.2.1. A chegada do Pentecostalismo no Brasil

O referido pentecostalismo, tem suas raízes no ano de 1906 em Los Angeles. Este movimento apesar da falta de homogeneidade doutrinária ficou conhecido pelas “manifestações do Espírito” e pelo “falar em línguas”. Os detalhes desse movimento será visto no segundo capítulo deste trabalho.

Ao analisarmos os primeiros pentecostais vindos ao Brasil, e aqui focaremos no objeto do nosso estudo, os fiéis das Igrejas Assembleias de Deus, ao movimento da Azusa Street, vamos perceber além das bases que regiam as reuniões que ali aconteciam, um isolamento com relação aos demais grupos, uma falta de uniformidade entre todas igrejas pentecostais, e a forma comum de culto muitas vezes alicerçado em torno de uma personalidade (SOUZA, 2008, p. 19).

Em 1910 chega ao Brasil dois jovens suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren. Jovens que haviam experimentado as experiências vividas no movimento da Rua Azusa nos EUA, mas, que posteriormente, entenderiam que Deus estava os enviando para Belém do Pará para darem prosseguimento ao movimento pentecostal, aqui no Brasil. Este empreendimento, por parte de seus fundadores, conota o que mais tarde se tornaria a obra iniciada. Sem qualquer

preparação cultural, conhecimento do idioma, mas com grandes convicções Berg e Vingren partem para o Brasil.

Qualquer “Agência Missionária” moderna exige que o participante faça um curso de missões transculturais, estude a cultura do povo, aprenda o idioma, informe-se sobre as condições climáticas, tenha endereços para onde vai, etc. Mas estes dois suecos chegam ao Brasil sem dinheiro, sem falar uma palavra em português, vindo na terceira classe do navio, não tem nenhum conhecido esperando-os – apenas uma “visão”. Era, aliás, a forma “natural” de se fazer missões no início do século a partir da Rua Azusa. As denominações tradicionais já tinham estabelecido organismos de missões, mas o pentecostalismo é apenas um movimento (ALENCAR, 2000, p. 50,51).

Com uma grande parte da população analfabeta, dentro do movimento pentecostal e mais precisamente dentro das Assembleias de Deus, os leigos ganhavam espaço para cargos de liderança como pastores, diáconos, etc. Com a prerrogativa da Reforma do século XV, que enfatizava o sacerdócio de todos os crentes, os fiéis assembleianos encarnaram tal premissa, considerando tal orientação, não somente ao fato de que cada um possa ter livre acesso a Deus sem a necessidade de intermediários, mas também, a outras esferas da vida.

Participavam ativamente da construção de templos, tinham oportunidades de pregar, oferecer estudos, sem ao menos serem estudados para tal função. Estes mesmos leigos eram os responsáveis pela evangelização, que em grande parte, acontecia de forma pessoal e com grande incentivo para que cada novo crente fosse um ganhador de alma (SUANA, 2006, p.163).

Todavia, algo que nos chama a atenção, era a capacidade inicial desta igreja pelos seus fundadores, em usarem recursos tecnológicos para disseminação do evangelho. A mídia escrita, assim como no protestantismo histórico, foi amplamente utilizada por Vingren e Berg, configurando assim um start alicerçado nos favores da tecnologia.

Voz da verdade foi o primeiro jornal pentecostal a ser impresso no Brasil e era distribuído de forma gratuita (SANTOS, 2008, p. 30,31). Ainda teríamos o jornal Boa Semente, o periódico Som Alegre e ainda, o jornal Mensageiro da Paz. Com a primeira redação do jornal Mensageiro da Paz, temos o nascimento da CPAD, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus, em 1930, mas com oficialização, em 1936.

O seu nascimento está intimamente relacionada com a primeira redação do Jornal o mensageiro da paz fundado em 1930. Mas foi somente na convenção geral realizada na cidade de Belém do Pará em 1936, que o missionário sueco Nils Kastberg explicou aos convencionais os benefícios obtidos a partir da criação de uma casa publicadora. Em 1940 a lei decretada pelo presidente Getúlio Vargas de

controlar a imprensa, fizeram com que Pastores e missionários Suecos se reunissem urgentemente em Salvador Capital da Bahia, fizeram com que esse grupo de irmãos regularizasse a CPAD, do contrário os periódicos da denominação sairia de circulação. Apesar de ser pessoa Jurídica a casa publicadora, só torna-se propriedade da CGADB em 1946 (SOUZA, 2008, p. 33).

Ao que parece, a partir da primeira convenção das Assembleias de Deus, em 1930, na qual o governo desta igreja passa a ser dos pastores nacionais tendo como primeiro presidente autóctone, o Pastor Cícero Canuto de Lima, a igreja passa por uma série de mudanças ligadas ao estilo de trabalho dos missionários suecos.

Sem entrar nos méritos, se a transição de governo da igreja fora algo arbitrário pelos Pastores brasileiros ou vontade própria dos missionários suecos, o que fica evidente, além do fato de que fora os pastores brasileiros que fizera a convocação para tal reunião, fugindo da normalidade, é que os avanços teológico-culturais, tecnológicos e até sociais trazidos pelos missionários, agora foram questionados e muitos alterados, uma vez que o governo da igreja, sofreu alterações.

Estudos formais teológicos foram proibidos, as mulheres que exerciam liderança foram de certa forma neutralizadas, assim como a ordenação de pastores que não fossem casados, mais tarde o rádio e também a televisão seriam proibidos.

A falta de estudos supracitados e também seculares levou a uma equivocada interpretação bíblica de diversos textos, sendo pregado e ensinado, como verdade bíblica muitos aspectos puramente particulares e infundados. Os obreiros se gabavam por serem iletrados, incultos, porém “chamados” por Deus para a execução de uma obra especial. As doutrinas ensinadas e trabalhadas, na maior parte das vezes, eram fundamentadas na dificuldade da assimilação do que era novo, criando doutrinas bastante particulares, com relação aos usos e costumes (vestimentas, adornos, aparelhos tecnológicos e eleição de pecados específicos).

Sendo assim, o veto tanto do rádio como da televisão em solo brasileiro, nada mais era, do que consequências, pela forma que viviam como protestantes pentecostais.

Em especial a televisão e sua chegada, em 1950, proporcionou aos pentecostais uma aversão que somente fora cedida de forma vagarosa, com o passar dos anos, principalmente, na década de 70 (CAMPOS, 2008, p. 12).

Como pudemos observar neste capítulo, a história da televisão no Brasil, também observa como católicos e protestantes buscam construir um contexto midiático que atendam suas necessidades políticas e doutrinárias. Tal contexto religioso/midiático destas igrejas, também possuem desdobramentos bastante particulares que nos ajudam a compreender os

caminhos destas no uso do aparelho, ou no caso da Assembleia de Deus, a negação do uso da televisão, quando a novidade ganha forças no Brasil.

Entender as décadas e os desdobramentos no campo televisivo nos ajudará a verificar posteriormente, dentro das Igrejas Assembleias de Deus, quais os efeitos e consequências que a TV e sua programação causaria aos assembleianos e quais foram as razões que levaram os líderes, de forma veemente e arbitrária, a tomarem a decisão de proibir o aparelho entre os fiéis.

Nos próximos capítulos, veremos mais especificamente, a relação das Igrejas Assembleias de Deus e a televisão. Além disso, analisaremos, por meio de teorias referenciais, a relação das ADs e sua construção midiática, a partir de 1957, bem como aspectos ligados à sua teologia e tradição, os quais norteiam as posições assumidas por esta igreja e as mídias usuais e preferidas dentro da denominação.

Em seguida, serão analisadas as razões da proibição, da aceitação posterior e do avanço televisivo dentro das Assembleias de Deus.

Capítulo II – A RELAÇÃO DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS E A

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