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Possíveis razões na aceitação da televisão pelas ADs

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Capítulo III – DA PROIBIÇÃO, DA ACEITAÇÃO E INCORPORAÇÃO

2. A aceitação da televisão

2.1. Possíveis razões na aceitação da televisão pelas ADs

Analisando as possíveis razões da adesão à TV pelas ADs, contrariando as resoluções do passado, vamos verificar uma mudança de postura teológica gradativa, estimulada, dentre outras coisas, pela vinda de televangelistas, que ao passo que usavam os recursos da televisão no Brasil, abriam um caminho outrora fechado. Também estamos diante de uma igreja que a passos lentos se elitizava.

Os meios tecnológicos ganhavam espaço. A TV com seu grande poder de conquista de pública, precisaria ser repensada, uma vez que também era outra forma de arrecadação Financeira. A própria Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) fora “abençoada” financeiramente por Jimmy Sweaggart, um pregador que usava a TV para cantar e pregar.

Dentre tais tele-evangelistas, o de maior destaque foi Jimmy Swarggart. Parceiro da Assembleia de Deus brasileira, auxiliou financeiramente a editora da instituição - Casa Publicadora da Assembleia de Deus (CPAD). Devido a problemas pessoais, seu programa saiu do ar tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, retornando períodos depois; porém, já sem grande credibilidade (FONTELES, 2007, p.31).

Outro fator para a gradativa mudança, fora o pensamento teológico desta igreja, que em muitas ocasiões se contradizia ao longo dos anos, criando nos fiéis a sensação de que as resoluções supostamente divinas do presente também poderiam não se sustentar no futuro. Para ilustrar a afirmativa, tomamos o artigo do pastor mineiro Antônio L. Cerqueira, publicado pelo Mensageiro da Paz, em 1972, Mensageiro da Paz (CERQUEIRA, 1972, p.3). Apesar da onda dos televangelistas e da evolução da aceitação da TV, o pastor escreve combatendo os males que a mídia estava provocando, apesar do uso considerado correto da mesma. Este pastor, ao buscar fundamentar o que queria afirmar, faz uso de um texto bíblico de Daniel 12.4, "E tu, Daniel, fecha estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará".

Como uma predição profética de acontecimentos escatológicos, de que nos últimos dias a ciência se multiplicaria, o pastor afirma que a televisão, era na verdade um avanço desta ciência, já descrita pela Bíblia Sagrada. Segue o texto do pastor Cerqueira:

Entre os inventos tecnológicos mais adiantados, no presente século, está a televisão. Descrevê-la em si e seu funcionamento não é matéria para o momento. É um progresso da ciência, ou melhor, usando a expressão bíblica, “ciência multiplicada” Dn 12.4. Creio no progresso da ciência para o bem da humanidade e isto é bom. Quem não aprova a energia atômica para fins pacíficos? Por exemplo: Na agricultura, para impulsionar motores de navios, submarinos também para o funcionamento de energia elétrica, etc. Assim a televisão, para fins educacionais, para transmissão do Evangelho de Cristo e até mesmo de acontecimentos de interesse científico, porventura não é uma ótica coisa? Lembro-me da grande repercussão que teve o pastor NehemiasMarien, diante das câmeras da televisão, respondendo perguntas sobre a Bíblia. Foi de fato de uma penetração tremenda. Centenas de lares onde não existia uma Bíblia sequer, passaram a tê-la, onde existia e não era lida e meditada, passara a ler, acompanhando o programa. Sim, vemos com isto o grande poder da comunicação moderna, oxalá continuasse e surgisse centenas de programas iguais ou semelhantes. Infelizmente isso não está acontecendo. Os atuais programas de televisão anunciados em nossos jornais são novelas e mais novelas, filmes um após o outros; esporte, show de artistas e um pouco de notícias. Assim é a atual televisão do Brasil. Pergunto, tais programas são úteis ao homem espiritual? Porventura edificam? Não, creio que não. Então por que tomar o precioso tempo que temos com aquilo que vem nos prejudicar? (...) A XIX Convenção Geral das Assembleias de Deus realizada em Fortaleza (CE) pronunciou-se contra a televisão. (...) em consideração aos efeitos maléficos que os programas de televisão tem causado a comunidade evangélica, principalmente a família. Pergunto, tais efeitos maléficos, já se tornaram benéficos? Porventura há muitos programas evangélicos? Não, não há. Então a posição deve ser a mesma. Meu prezado, não se engane! Esse equipamento que ainda não está a serviço do Evangelho é prejudicial, não tenha dúvidas. O crente salvo, zeloso, que ama e aguarda a vinda de Jesus não deve perder seu tempo com coisas passageiras do mundo (CERQUEIRA, 1972, p. 3,11).

Sendo um órgão oficial das Assembleias de Deus e da CGADB, o Mensageiro da Paz expõe o que se considera ser a maior coerência bíblica, no tange à exegese e hermenêutica bíblica nas igrejas ADs. Porém, essa afirmação vigente no exemplar do Mensageiro da Paz de 1972, dizendo que a frase “a ciência se multiplicaria” do livro de Daniel, trata-se do avanço tecnológico e consequentemente da chegada da televisão, cai por terra também por um instrumento que expressa toda interpretação das Assembleias de Deus, outro órgão oficial da denominação, porém numa outra época.

No ano 2014, a CPAD lança, como tradicionalmente feito, mais uma revista da escola bíblica dominical (EBD), intitulada Integridade Moral e Espiritual, o legado do livro de Daniel para a igreja hoje. Nessa revista o comentarista, pastor Elienai Cabral, ao expor a lição de número 13, O tempo da profecia de Daniel (CABRAL, 2014, p. 93), faz um interpretação bastante diferente da que fora feita pelo pastor Antônio L. Cerqueira em 1972. Segue o texto:

“A ciência se multiplicará”. Muitos pensam que esta expressão é uma profecia sobre os avanços do conhecimento científico e da tecnologia. Todavia, precisamos compreender a completude desse versículo. Estamos diante de um texto que menciona uma ordem expressa de Deus para Daniel: guardar a revelação até o tempo do seu cabal cumprimento. O senhor ainda diz a Daniel que “muitos correrão de uma parte para outra”, em busca da verdade. Entretanto, “a ciência se multiplicará”. O sentido da palavra “ciência”, no texto de Daniel, tem a ver com o saber das coisas, “ser ou estar informado” ou “ter conhecimentos específicos sobre algo”. Por isso, a multiplicação da ciência refere-se ao aumento do conhecimento sobre o conteúdo expresso da profecia de Daniel, não tendo relação alguma com o avanço da ciência formal (CABRAL, 2014, p. 93).

Com tal disparidade hermenêutica em órgãos oficiais da denominação, percebe-se contribuições para que fiéis não se importem, de forma vagarosa, mas constante, com as deliberações de uma igreja que, por diversas vezes, alterou sua forma de pensar sobre diversos assuntos, entre eles o do acesso à TV.

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