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A origem das Assembleias de Deus

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Capítulo II – A RELAÇÃO DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS E A

1. A origem das Assembleias de Deus

Focar num tema, que evidencia a televisão como dificuldade inicial entre fiéis e liderança assembleiana, é algo que parece ser estranho, olhando por um prisma atual e do grande apreço, como um recurso evangelístico e político que esta denominação tem nutrido por este viés midiático. Contudo, ao analisarmos os caminhos da mídia televisiva dentro das igrejas Assembleias de Deus no Brasil, iremos perceber quão grande, complexa e conflituosa tem sido a ligação da TV com as ADs. Para isso, sublinharemos a importância de uma análise nas origens desta igreja, como ponto de partida para um entendimento mais apurado das veredas comunicacionais deste relacionamento, que tem sido a base deste trabalho.

1.2. O cenário

Atualmente, temos as igrejas Assembleias de Deus fazendo uso, não somente de todo seu contexto religioso, adquirido pela sua teologia e tradição, como também, de todo um aparato midiático disponível. Isto se dá, por intermédio dos seus programas evangélicos, sua força numérica, visto que é a maior igreja pentecostal do mundo, ou seu poder de comunicação em massa, que consequentemente, segmenta uma cultura “nacional”. Este é o contexto das Assembleias de Deus, na atualidade.

Tal cultura comunicacional televisiva, hoje em vigência, foi construída por anos, entre “tapas e beijos”, com a televisão que chega ao Brasil, em 1950. O aparelho, que de início é visto como vilão e acaba sendo proibido, mais tarde, por volta da década de 70 e 80,é aceito como um instrumento à serviço do “Reino de Deus” e, posteriormente, em meados da década de 90. É visto agora, realmente como um meio dado por Deus para proclamação do evangelho.

Obviamente, que toda esta trama tem origem nos primórdios desta igreja, fatores fundacionais, como um cenário que estava sendo montado para esta concepção de identidade televisiva assembleiana na atualidade. Dentre estes fatores, temos a dificuldade dos fundadores (missionários suecos) de se imiscuírem com os negócios desta pátria, uma vez que eram estrangeiros, e pela influência do pensamento escatológico que trouxeram, a supervalorização de leigos na liderança da igreja desde o início (SUANA, 2006, p. 163), a falta e a negação de estudos formais teológicos e também seculares, que levaria a muitas interpretações equivocadas de vários textos da Bíblia, como o que fora expresso no Mensageiro da Paz, do dia 15 de setembro de 1931. “O melhor seminário para o pregador é o de “joelhos” perante a face do Senhor. Ali o Espírito Santo nos transmite os mais belos e poderosos sermões. Aleluia! S. Pedro não foi formado por nenhum seminário” (apud ALENCAR 2013, p.109). Estes e muitos outros elementos, continuados, foram moldando uma concepção restrita e perpetua da membresia assembleiana como comunidade, e consequentemente, a forma destes verem o mundo. Para Robison Cavalcanti, esta trama se estende.

Creio que a influência do pensamento dispensacionalista pré-milenista, pré- tribulacionista do final do século XIX e inicio do século XX teve um peso teológico no isolacionismo político dos pentecostais,e do seu pessimismo quanto as ações cívicas. Outro aspecto foi a ala dos brancos "Assembleia de Deus" e não a ala dos negros "Igreja de Deus" ter vindo ao Brasil, trabalhando com as populações historicamente mais marginalizadas entre nós. Os Pentecostais cresceram numericamente, mas sem estudos e experiência no campo político, uma teologia, uma ética social (CAVALCANTI, 2008).

Ainda poderíamos observar, as doutrinas ensinadas e fundamentadas na experiência estética, ou nas novas formas de interpretação que são afloradas com o tempo, dando novos significados a todo aparato doutrinário e particular dos obreiros (líderes) assembleianos. Com ensinamentos alicerçados em interpretações exclusivas e na dificuldade da assimilação do que era novo, percebe-se a dificuldade destes, no uso ou manuseio de vestimentas, adornos, aparelhos tecnológicos, cinema, elegendo assim, pecados específicos, levando os fiéis a uma catarse coletiva de preceitos originados pela interpretação de poucos (SANTANA, 2013, p.11).

Sem autor declarado, a abordagem acima fica mais clara no artigo Tempo do Homem e Tempo de Deus, escrito no Mensageiro da Paz, do ano de 1960, no qual é expresso que somente algumas atividades já catalogadas como sacras, são permitidas e aconselhadas, do contrário, serão vista como mundanismo.

A verdade é que todos dispõem de tempo para ler jornais e revistas mundanas, e isso requer algumas horas de cada dia, mas não têm tempo, não querem reservar ao menos cinco minutos para ler um capítulo da Bíblia. Há sempre tempo disponível para assistir uma conferência de caráter mundano, para ir ao cinema, onde se aprende a corromper o caráter emanchar a dignidade; há sempre tempo para estar presente nos campos de esporte ou nos prados de corridas de cavalos, a embrutecer o espírito e a corromper o coração, porém não sobra tempo para assistir ao culto divino, na Casa de Deus. Ante essa inversão de valores; ante tal cegueira espiritual, temos que reconhecer que este é o tempo do fim (TEMPO, 1960, p. 1).

Ver a televisão como um instrumento do diabo, foi mais uma das interpretações. Hoje a televisão dentro das igrejas Assembleias de Deus, tem sido algo importantíssimo. Dona de canais e de muitos horários, a denominação religiosa vê a TV como um instrumento aliado, contrariando completamente, o que fora registrado no passado como algo inconcebível para qualquer fiel desta denominação. O que podemos ver na atualidade, é uma grande mistura de preceitos teológicos, que foram usados para negar, mas que hoje servem para favorecer o manuseio do aparelho. Também, mudanças de paradigmas tão bem formatados anteriormente, na mente de muitos, mas que precisaram ser reorientados por seus líderes para novas etapas.

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