• Nenhum resultado encontrado

Aspectos Culturais: histórico

No documento Download/Open (páginas 89-92)

Capítulo II – A RELAÇÃO DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS E A

4. A construção de uma identidade nacional

4.1. Aspectos Culturais: histórico

A palavra cultura nem sempre expressou o sentido tal como conhecemos na atualidade. Sua origem expressava a ideia de plantio e campo, mas chegando no século XVIII, em pleno Iluminismo, a palavra que possuía em si, um sentido de cultura da terra, agora passa a adotar o princípio da cultura da mente e do espírito.

Começando como nome de um processo – cultura (cultivo) de vegetais ou (criação e reprodução) de animais e, por extensão, cultura (cultivo ativo) da mente humana – ele se tornou, em fins do século XVIII, particularmente no alemão e no inglês, um nome para configuração ou generalização do “espírito” que informava o “modo de vida global” de determinado povo (WILLIAMS, 2000, p. 10)

Muitas foram as discussões acerca deste tema, levando por muito tempo este sentido da formação ou da educação do espírito em áreas específicas como artes, letras e ciências. Já em 1798, a cultura passa do bojo das áreas específicas, para a distinção dos que possuíam cultura ou não; ou seja, pessoas que não tinham condições de formar seus espíritos, eram consideradas sem cultura. O sentido de cultura, então passa a ser a soma de saberes acumulados, um estado mental desenvolvido.

O termo que sempre fora visto e estudado no singular, no século XIX passou a ser empregado por Herder (1784-91), no plural (WILLIAMS, 2000, p. 10), - e mais tarde a

palavra passou a ser apropriada pela antropologia. Como destaque neste estudo, temos a figura do antropólogo Edward Burnett Tylor, que via a cultura não como uma consequência hereditária, mas como algo adquirido como expressão da vida coletiva social.

Em 1871, Tylor definiu cultura como sendo todo o comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética, como diríamos hoje. (...) Tylor procurou, além disto, demonstrar que cultura pode ser objeto de um estudo sistemático, pois trata-se de um fenômeno natural que possui causas e regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma análise capazes ele proporcionar a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução (LARAIA, 2001, p. 30, 32).

Como oposição à visão evolucionista, ou do método comparativo, temos Franz Boas (1858-1949), nascido em Westfália (Alemanha) e inicialmente, um estudante de física e geografia que mais tarde se transformaria num antropólogo. Franz Boas acreditava numa concepção particularista da cultura. Foi ele quem propôs, ao invés da comparação pura, uma comparação advinda dos estudos históricos das culturas em si e “das condições psicológicas e dos meios ambientes” (LARAIA, 2001, p. 36).

São as investigações históricas — reafirma Boas— o que convém para descobrir a origem deste ou daquele traço cultural e para interpretar a maneira pela qual toma lugar num dado conjunto sociocultural. Em outras palavras, Boas desenvolveu o particularismo histórico (ou a chamada Escola Cultural Americana), segundo a qual cada cultura segue os seus próprios caminhos em função dos diferentes eventos históricos que enfrentou. A partir daí a explicação evolucionista da cultura só tem sentido quando ocorre em termos de uma abordagem multilinear (LARAIA, 2001, p. 36).

Ainda no processo de desenvolvimento da palavra cultura, Alfred Kroeber (1876- 1960), falou sobre a atuação da cultura no ser humano.

O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. No parágrafo seguinte (LARAIA, 2001, p. 47).

Muitos estudiosos ainda dariam grandes contribuições para o conceito de cultura: Richard Leackey, Roger Lewin, Claude Lévi-Strauss, Leslie White, Clifford Geertz, Roger Keesing, Emile Durkheim, dentre outros.

Mais tarde temos o surgimento do termo “indústria cultural” pela teoria crítica da Escola de Frankfurt, na Alemanha. Formada por pensadores, esta escola pontuou a importância dos meios de comunicação como mola propulsora da cultura de mercado e, consequentemente, um novo estilo de vida, o do consumo.

Com a expressão de trabalhos significativos produzidos nesta escola, e como destaque de estudiosos como Theodor Adorno, Max Horkheimer, Hebert Marcuse, Erich Fromm e Walter Benjamin, além da preocupação com o anti-semitismo. Falamos do período da Segunda Guerra Mundial, com trabalhos marcados pelo avanço da cultura de massa e pela luta de classes, e os intelectuais de Frankfurt, inicialmente, juntavam-se a Karl Marx pela condenação do sistema capitalista (WALTZ, 2006, p. 27).

Já nos anos 50, surge na Inglaterra uma forma de analisar a cultura, trazendo-a para o cotidiano. No ano de 1964, fora criado o Centro Contemporâneo para Estudos Culturais (CCCS), na Universidade de Birmingham, com base nas pesquisas de Richard Hoggart, The Uses of Literacy, Culture and Society, de Raymond Williams e de Edward Thompson, The Making of the English Working Class.

Sobre o surgimento do centro e dos textos considerados fontes dos estudos culturais, Carolina Escosteguy comenta:

Ele surge ligado ao English Department da Universidade de Birmingham, constituindo-se num centro de pesquisa de pós-graduação da mesma instituição. As relações entre a cultura contemporânea e a sociedade, isto é, suas formas culturais, instituições e práticas culturais, assim como suas relações com a sociedade e as mudanças sociais, vão compor o eixo principal de observação do CCCS. Três textos que surgiram nos final dos anos 50, são identificados como as fontes dos Estudos Culturais: Richard Hoggart com The Uses of Literacy (1957), Raymond Williams com Culture and Society (1958) e E. P. Thompson com The Making of the English Working-class (1963). O primeiro é em parte autobiográfico e em parte história cultural do meio do século XX. O segundo constrói um histórico do conceito de cultura,culminando com a idéia de que a "cultura comum ou ordinária" pode ser vista como um modo de vida em condições de igualdade de existência com o mundo das Artes, Literatura e Música. E o terceiro reconstrói uma parte da história da sociedade inglesa de um ponto de vista particular - a história "dos de baixo" (ESCOSTEGUY, 2010, p. 1,2).

Dentre os pensadores deste centro temos Hoggart,Williams, Thompson e Stuart Hall. Com contribuições significativas, cada um introduziu focos apropriados para o entendimento dos Estudos Culturais. Hoggart foca sua atenção no que estava sendo desprezado pela cultura popular: os materiais culturais, ou seja, para Hoggart, não existia somente uma aceitação passiva, mas uma possível resistência popular.

A contribuição de Williams, advém da demonstração de que pela cultura é possível conectar a análise literária com a investigação social (ESCOSTEGUY, 2010, p. 2). Já para Thompson, segundo Escosteguy (2010, p. 3), cultura seria algo vivido através de práticas da vida cotidiana, apesar de resistir o “entendimento de cultura enquanto uma forma de vida global. Em vez disso, preferia entendê-la enquanto um enfrentamento entre modos de vida diferentes”.

Com a necessidade da investigação e das práticas de resistências de subculturas, cultura numa perspectiva plural, chegamos em Stuart Hall, que apesar de não fazer parte do trio fundador, substituiu Hoggart na direção do CCCS, e foi de grande importância para este centro.

Embora não seja citado como membro do trio fundador, a importante participação deStuart Hall na formação dos Estudos Culturais britânicos é unanimemente reconhecida.Avalia-se que ao substituir Hoggart na direção do Centro, de 1968 a 1979, incentivou o desenvolvimento da investigação de práticas de resistência de subculturas e de análises dos meios massivos, identificando seu papel central na direção da sociedade; exerceu uma função de "aglutinador" em momentos de intensas distensões teóricas e, sobretudo, destravou debates teórico-políticos, tornando-se um "catalizador" de inúmeros projetos coletivos (ESCOSTEGUY, 2010, p. 3).

Com embasamento em Stuart Hall, trataremos a seguir o tema da construção da identidade nacional, importante para a compreensão da identidade cultural das ADs.

No documento Download/Open (páginas 89-92)