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PARTE II – ASPECTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISES

8. EXPERIMENTO – RESULTADOS E DISCUSSÃO

8.1. Análise

8.1.1. A coerência das categorizações

Uma visão geral do dendograma mostra que a hipótese nula não se confirma em nenhum de seus aspectos. Primeiramente, a possibilidade de ocorrer monossemia no sentido forte foi descartada, uma vez que vários grupos coerentes se formaram em diferentes níveis, isto é, no geral os informantes não consideraram que os usos da

preposição tivessem um só significado. Essa visão seria confirmada caso a maioria dos nódulos tivesse se formado próximo ao ponto “zero” da escala (semelhança máxima).

O oposto, homonímia máxima, também não ocorreu, visto que a maioria dos nódulos não se formou na extremidade máxima da escala, mas distribui-se ao longo desta. Embora não tenha havido nenhum informante que devolvesse todas as sentenças separadas como as recebeu, uma participante as reuniu todas em um único grande grupo. Essa decisão não foi aleatória, entretanto, e o sentido esquemático que ela encontrou para a preposição não foi ‘localização’, como pode ser visto na transcrição de sua entrevista.

Sj15: “Olha, eu agrupei todas as frases em um só grande grupo porque eu acho que toda vez que as... essas palavras sublinhadas aparecem, acontece uma especificação na frase. Como se os elementos da frase estivem dentro de uma categoria.

(...)

Por exemplo, na frase “Joguei os livros na bolsa”. “Na bolsa”. Eu poderia ter jogado os livros no chão ou jogado os livros na mesa.

(...) “Robô em forma de lagarta simula os movimentos do bicho.” É uma especificação do robô: “em forma de lagarta”. O robô poderia ter outra forma.

(...) “Se quiser continuar comigo é nesses termos”. Se continuar comigo nesses... poderia ser em outros termos.

(...) “Cirurgião dentista especialista em dentística restauradora.” Ele poderia ser especialista em... em outra coisa.”

Essa explicação revela que, em sua visão, em possui um valor semântico mais vago de ‘especificação’, um esquema de nível superior, instanciado por usos nos diferentes domínios representados no experimento. Isso não quer dizer que a informante não perceba distinções mais finas (forma, lugar, especialidade etc.), mas apenas que essas não são tão salientes para ela.

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Por fim, a possibilidade de os grupos terem sido constituídos aleatoriamente também não se confirmou, visto que os agrupamentos foram coerentes e, nas entrevistas, todos os participantes apresentaram justificativas igualmente coerentes para suas respostas, baseadas em critérios semânticos. Sj6 e Sj19 usam palavras diferentes para se referirem à noção de localização, mas ambos perceberam esse sentido como uma categoria.

Sj 6: “Ah, tá. O grupo um, é, eu reuni por, por local, com um sentido de, de lugar que... têm essas frases. Você gostaria que eu lesse essas frases?”

Sj 19: “Eu usei o critério de ... é... qual... é... qual a outra palavra que o “em” poderia ser substituído. (...) no grupo quatro, por exemplo, o “em” pode ser substituído pela palavra “onde”. (...) E no dois são... sempre vem com características. É sempre características do...da ... do que foi falado antes. Ouve só: Abajur decorado em porcelana fria. É uma característica da... da decoração.”

Já esta outra informante tenta descrever usos metafóricos da preposição que ela agrupou em uma só categoria, diferente de duas outras que ela havia criado. Percebe-se que ela utiliza o critério de domínio (por exemplo, o tempo) evocado pelo enunciado, mas reserva a noção de localização para usos espaciais. Por outro lado, para os outros casos, ela procura uma categoria “guarda-chuva”, que ela considera capaz de incorporar usos em domínios menos salientes. Além disso, Sj7 apoia-se no marco para realizar sua análise e decidir o tipo de relação que a preposição ajuda a criar a cada vez.

Sj7: “A meu ver, esse aqui já não é nem uma coisa [lugar] nem outra [tempo]. Não tem assim... uma característica que me chama mais a atenção.

(...)

Olha, eles dão mesmo coisas mais vagas. (...) Por exemplo... igual a esse. “Em rede”. Rede é uma coisa muito ampla. Muito... Não é uma coisa específica. Então, eu fiz esse grupo assim, de coisas não específicas. (...) é uma coisa assim... um caso é uma coisa vaga, igual essa outra frase. A 34. Um caso é uma coisa vaga. Entendeu? Então, assim... coisas mais vagas. (...) “Em partes”, “nas palavras”, “termos”, “círculos”, são todas coisas mais vagas. Não é uma coisa precisa.”

A tentativa de formar grupos coerentes também se verifica na análise multidimensional (TAB. 5) e respectivo gráfico na FIG. 19 e em uma tomada geral do gráfico em árvore (FIG. 18). A análise multidimensional revelou sete diferentes grupos, calculados por sua homogeneidade interna comparada à heterogeneidade entre eles. Isso é feito com base em alguma dimensão semântica: o grupo <1>, majoritariamente de ‘localização espacial’, o grupo <2>, majoritariamente de ‘especificação’, o grupo <3>, somente de usos temporais, o grupo <4>, majoritariamente de ‘estado emocional’, o grupo <5>, contendo dois usos de ‘localização mais abstrata – estado final e a metáfora do tubo. Os grupos <6> e <7> possuem um único indivíduo cada, também de usos metafóricos mais vagos – ‘atividade’ e ‘cor’.

TABELA 5

Formação dos agrupamentos pelo método Tocher

GRUPO ACESSOS <1> 22 47 11 6 33 21 16 31 3 4 28 17 14 39 8 30 7 45 2 12 <2> 5 10 37 40 38 41 29 46 36 13 9 20 34 18 <3> 15 48 24 32 43 27 <4> 19 25 42 <5> 23 44 <6> 26 <7> 1

No gráfico em árvore a coerência se manifesta na organização dos grupos. Logo de início se observa uma distinção principal entre usos espaciais e usos metafóricos. Além disso, a grande maioria dos usos espaciais está reunida no alto da FIG. 18, indo de f22 a

f35. Esse grupo é seguido por outro menor, de f15 a f27, que incorpora todos os usos temporais. A seguir, vê-se um grande grupo de usos não-locativos de ‘especificação’, de f9 a f36, que contém como única exceção um uso de estado final em f34. Por fim, aparece outro grupo de ‘localização abstrata’, que vai de f2 a f26, tendo como exceções um uso da categoria ‘cor’ em f1 e o outro uso de ‘estado final’, em f23. Confirma-se, assim, a hipótese de haver coerência na categorização dos significados da preposição pelos falantes nativos.

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